Convido-o a refletir (sem muito compromisso com o rigor científico) uma questão social com o auxílio da Sociologia…
Os dois lados (embora existam vários) da moeda do programa de tv “Esquenta”.
O programa exibido na TV aberta, chamado “Esquenta”, parece ter uma proposta de criar uma aproximação entre artistas e a população de menor poder econômico, assim como colocar a cultura destes na maior vitrine do país: Rede Globo.
Hoje, almoçando na companhia agradável de duas amigas conterrâneas (embora estávamos em um restaurante paulistano – contatos sociais que São Paulo nos proporciona) chamou-me a atenção o referido programa por ter como convidado um grupo de garis vestido com uniformes de trabalho. Possivelmente o produtor do programa teria como objetivo valorizar esses profissionais tão importantes, o que parece, a princípio, ser legítimo. Mas uma questão precisa ser posta em mesa: tal ação não estaria colaborando para a naturalização das desigualdades sociais? Não me refiro apenas a presença dos garis, mas ao formato do programa Esquenta.
Ao exaltar a vida cotidiana das pessoas em condições de exclusão social, não estaria
levando-os a aceitar suas condições sociais de [quase sempre] subcidadania?
levando-os a aceitar suas condições sociais de [quase sempre] subcidadania?
Por um lado há claramente uma tentativa de reduzir o preconceito em relação as “comunidades” dos morros e de áreas mais carentes das cidades brasileiras, mas por outro, parece que há uma naturalização velada da pobreza. Ao mesmo tempo que busca reduzir a discriminação, pode estar criando um sentimento de satisfação e acomodação com a vida cotidiana – muitas vezes sofrida. O argumento de que é importante valorizar o ser humano independente de sua classe social, não [em minha percepção] se enquadra na presente questão. Valorizar o ser humano não é convidá-lo a ir no programa com seu uniforme de trabalho, como se esse indivíduo se reduzisse apenas a um único papel social, o de gari. Antes de ser gari, ele é pai, amigo, cidadão…
O orgulho de ser um subcidadão pode ser perigoso a essas próprias pessoas, uma fez que podem ser acomodar com as suas situações sociais. Uma pergunta poderia aqui ser feita: mas qual o problema de eu ser gari? A resposta que eu daria seria a seguinte: o problema não está na profissão, mas nas condições salariais e de qualidade de trabalho, e gostaria que seus sonhos o lançasse mais ao horizonte promissor.
Pense: Nossos sonhos são o impulso motivacional para maiores conquistas, além daquelas que estão próximas de nossos olhos. A naturalização pode significar o sepultamento ou o aborto desses sonhos.
Nota: O Esquenta! é um programa apresentado por Regina Casé e tem direção de núcleo de Guel Arraes, direção de Monica Almeida e criação de Hermano Vianna e Regina Casé.