Toda instituição tem personagens, tal qual uma peça teatral, alguns destes tem maior prestígio social que outros e isso faz parte do que se chama protagonismo institucional, que é a relevância socialmente adquirida de um personagem em relação aos demais. Neste texto discorreremos brevemente sobre quem é o protagonista na escola.
Na modernidade, há uma tendência na especialização de instituições. O hospital para atendimento de saúde, a defensoria para o atendimento advocatício, EMBRAPA para consultoria técnica etc. Quando pensamos nos principais personagens dessa instituição fica fácil identificar. Diante do imaginário social é fácil apontar os protagonistas dessa instituição. Do hospital, o médico. Da Defensoria pública, o Advogado defensor público. Da EMBRAPA? O Engenheiro. Raramente uma decisão desses profissionais é questionada, o reconhecimento quase faz da opinião deles um dogma. Mesmo que haja outros personagens entre profissionais de “suporte” e público atendidos, o protagonismo geralmente vai estar associado a esses profissionais, prova disso é a propaganda que mostra jaleco e beca e capacete e um agradecimento direcionamento ao profissional.
E o protagonismo da escola? Essa instituição é um campo de batalha e está cada vez mais difícil identificar o protagonista. Por mais que o discurso busque melhor valorização para o professor, na prática o professor tem perdido seu protagonismo. Especulo algumas razões para que isso ocorra.
Os novos paradigmas educacionais enxergam o professor como um facilitador de aprendizagem e tira a centralidade do ensino do mestre. O aluno muitas vezes passa a ser o começo, meio e fim do processo. Esse passa a ser o centro da instituição e muitas vezes tal concepção faz com que os discentes se vejam como sujeito de diretos, nada de deveres. O aprendizado deles deixa de ser o foco para que seja atendidas as suas vontades. Eles são incumbidos muitas vezes de responsabilidades as quais ainda não estão preparados, tudo por uma suporta nova pedagogia.
Devido a grande desvalorização social do professor, que vai desde a questão salarial até ao excessivo questionamento de um pai da interpretação do professor sobre uma questão de prova que é estopim da reprovação do filho; outros personagens na instituição se vêm no direito de ter o mesmo protagonismo que os professores, o que muitas vezes gera conflitos. Os demais servidores de uma instituição educacionais, embora tenham uma importância muito grande para o funcionamento da escola, muitas vezes reivindicam igual ao do professor, partindo do entendimento de que ensina indiretamente. Se é indiretamente, então não é tão protagonista assim.
É preciso pensar nos princípios e objetivos da escola de modo tal que todos trabalhem para atingi-lo. Os objetivos devem estar acima de qualquer conflito de protagonismo. O objetivo primordial da escola é ensinar. Os técnicos administrativos ensinam? Claro que sim, mas seu objetivo primordial é dar suporte na relação professor-aluno. Os alunos aprendem sozinhos? Também, Mas levam muito tempo e se desgastam muito para fazê-lo. Agora, o professor é condição sine qua non para que a escola seja uma instituição de excelência, reconhecer o seu protagonismo é buscar uma educação de excelência.
É preciso repensar o protagonismo na escola, esse protagonismo nada tem a ver com utilitarismo porque no final das contas todos os personagens são interdependentes. Estabelecer adequadamente o protagonismo e a importância dos sujeitos é reconhecer socialmente a responsabilidade que cada um tem nesse sistema, para isso, além de uma boa gestão é necessário que os sujeitos se coloquem no lugar do outro.
Por fim, embora o protagonismo seja de um personagem isso não exclui os demais do processo democrático. É necessário que todos os interessados participem democraticamente das decisões para construir uma escola melhor para que esta avance no seu objetivo: ensinar com excelência com o cuidado de do protagonismo não criar uma ideia nos professores de que estes são sujeitos de “pleno direitos” e nada de deveres.