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O que é Anomia social?

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O que é anomia social? é um termo utilizado por Émile Durkheim para descrever a falta de normas ou de regulamentação social em uma sociedade. Segundo Durkheim, a anomia pode ocorrer em situações em que há uma quebra nas normas e valores tradicionais que guiam o comportamento humano, o que pode levar a uma sensação de desconforto e incerteza. A anomia também pode ser gerada por mudanças rápidas nas condições sociais, econômicas ou políticas de uma sociedade, que podem deixar as pessoas sem saber como se comportar e o que é esperado delas. Durkheim argumentou que a anomia pode levar a comportamentos anti-sociais e a uma diminuição da solidariedade social.

Por Cristiano das Neves Bodart
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o que é anomia social?
[Assista a explicação desse conceito em vídeo AQUI]

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O que é anomia social? Noções premilinares.

O conceito de anomia foi, na Sociologia, cunhado por Émile Durkheim nas obras “Da Divisão Social do Trabalho” (1893) e “Suicídio” (1897) e depois utilizado na obra “A Educação Moral” (1902), onde abordou o papel da moral no combate ao estado anômico. Para esse sociólogo, a anomia é uma situação social produzida pelo enfraquecimento dos vínculos sociais e pela perda da capacidade da sociedade regular o comportamento dos indivíduos, gerando, por exemplo, fenômenos sociais como o suicídio. Trata-se de uma ausência de um “corpo de normas sociais” capaz de regular o convívio social marcado pelasolidariedade.
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Para Durkheim a anomia é uma etapa temporária, produto das rápidas transformações sociais, perda da fé (em seu sentido mais amplo) e das tradições. Essa etapa, para ele, é superada a partir do momento que grupos de interesses determinam novas regras a fim de regulamentar o que encontra-se “desajustado” na sociedade, assim como afirmar novas tradições ou refortalecer as já estabelecidas. Nesse sentido, anomia seria um mal crônico das sociedades modernas, marcada pelas rápidas transformações sociais, as quais levam a situações de desajustes sociais causadas pela crise (ou ausência) de uma forte consciência coletiva”.
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No contexto de uma situação anômica, os limites sociais se encontram frágeis ou não existem, não estando claro o que é justo ou injusto, legítimo ou ilegítimo; perde assim, os indivíduos, as referências sociais. Essa situação gera um sentimento de frustração e mal-estar, parecendo que não existem normas e imperar o “tudo pode”.

A anomia social é um conceito essencial dentro da sociologia clássica e encontra em Émile Durkheim um de seus principais elaboradores. Trata-se da ausência ou fragilidade das normas sociais, o que leva a uma desregulação das condutas e, consequentemente, ao enfraquecimento da coesão social. Para compreender profundamente esse conceito, é fundamental analisá-lo a partir da obra “Da Divisão do Trabalho Social” (Durkheim, 1999), em que o autor o desenvolve em sua dimensão moral e funcional.

O que é anomia social? A ordem e o papel das regras sociais

Durkheim parte do princípio de que toda sociedade precisa de regras para funcionar. Essas normas, tanto jurídicas quanto morais, regulam as relações entre os indivíduos e entre os grupos. Elas impõem limites e direcionam comportamentos, não apenas por meio de sanções, mas pela internalização do que é considerado justo e adequado. Quando essas normas não existem, estão enfraquecidas ou não são reconhecidas como legítimas, instala-se a anomia.

Segundo Durkheim (1999), a anomia é particularmente observada na vida econômica, onde, por vezes, não há regulamentação moral eficaz para conter o conflito entre empregadores e empregados, nem entre concorrentes comerciais. A ausência de uma moral profissional estruturada faz com que os indivíduos ajam guiados apenas por interesses próprios e momentâneos, o que gera disputas constantes e instabilidade nas relações sociais. Como ele afirma: “toda essa esfera da vida coletiva é, em grande parte, subtraída à ação moderadora da regra” (Durkheim, 1999, p. VII).

O que é anomia social? A anomia como doença social

Durkheim não vê a anomia como uma condição normal ou aceitável, mas como um fenômeno patológico — uma doença social. Ela representa o fracasso da sociedade em impor limites e garantir um equilíbrio entre as partes. Em situações anômicas, “as forças em presença […] tendem a se desenvolver sem termos e acabam se entrechocando” (Durkheim, 1999, p. VII), o que cria um ambiente de conflito permanente, instabilidade e insegurança.

Mais do que a ausência de leis formais, a anomia se expressa na falta de autoridade moral coletiva capaz de organizar os desejos individuais e impedir que a “lei do mais forte” se torne regra. Assim, a anomia está profundamente ligada à fragilidade da solidariedade social — um conceito central na obra de Durkheim.

O que é anomia social? A solidariedade e a crise moral

Durkheim observa que a divisão do trabalho, própria das sociedades modernas, deveria gerar coesão e interdependência entre os indivíduos — o que ele chama de solidariedade orgânica. No entanto, quando essa divisão ocorre de maneira desordenada, sem vínculos morais claros entre os que desempenham diferentes funções, surgem desequilíbrios que favorecem o egoísmo e a ruptura das conexões sociais.

Nesses contextos, a anomia se instala não apenas como um problema econômico, mas como um sintoma de crise moral generalizada. A falta de sentido, de dever e de pertencimento leva os indivíduos a agir sem considerar o bem comum, o que fragiliza a própria estrutura da vida coletiva.

Durkheim alerta que “a ausência de qualquer disciplina econômica não pode deixar de acarretar uma diminuição da moralidade pública” (Durkheim, 1999, p. IX). Isso afeta a confiança entre os indivíduos, a previsibilidade das ações e a legitimidade das instituições.

O que é anomia social? O papel dos grupos profissionais como resposta à anomia

Como saída para a anomia, Durkheim propõe a organização de grupos profissionais — associações que não apenas regulem as relações econômicas, mas também produzam um ethos coletivo, ou seja, um conjunto de valores e normas que guiem o comportamento dos seus membros. Esses grupos, segundo o autor, teriam a capacidade de gerar coesão moral, pois reuniriam indivíduos com funções semelhantes, promovendo solidariedade, identidade e um senso de dever mútuo.

Ele defende que somente grupos dotados de certa permanência e representatividade podem elaborar e impor regras eficazes para regular as relações dentro da esfera econômica. Assim, a anomia pode ser superada não apenas com leis estatais, mas com o fortalecimento de instâncias intermediárias, como sindicatos, conselhos e corporações profissionais (Durkheim, 1999, p. XII).

Considerações finais

A anomia social, na perspectiva de Durkheim, é um fenômeno central para entender os desafios morais das sociedades modernas. Ela revela o quanto a coesão não depende apenas de laços jurídicos ou econômicos, mas da construção de um sistema compartilhado de valores. Em tempos de instabilidade, desemprego, desigualdade e fragmentação social, o conceito de anomia permanece atual, desafiando-nos a repensar os modos de organização coletiva, a função das instituições e a importância de normas legítimas e respeitadas.

Reconhecer a anomia como um mal social não significa desejar um retorno à rigidez normativa do passado, mas compreender que a liberdade só se realiza plenamente quando existe um arcabouço moral que a sustente. Nas palavras de Durkheim, “as paixões humanas só se detêm diante de uma força moral que elas respeitam” (Durkheim, 1999, p. VII).


Referência bibliográfica:

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2. ed. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Se quiser, posso expandir esse texto para artigo, adaptá-lo para post, slide de aula, roteiro de vídeo ou resumo didático. Deseja isso?

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

6 Comments

  1. Acredito que a situação econômica em que os desempregados têm se deparado está levando as pessoas a agir inconscientemente ou de forma doentia.

  2. Olá, professor. Você acredita que o terrorismo, ou melhor, a violência perpetrada pelo Estado Islâmico se configura como um tipo de anomia aos moldes de Durkheim? De que forma?
    Obrigada.

  3. Olá, professor. Você acredita que o terrorismo, ou melhor, a violência perpetrada pelo Estado Islâmico se configura como um tipo de anomia aos moldes de Durkheim? De que forma?
    Obrigada.

  4. A anomia é um estado de falta de objetivos e regras e de perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno

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