Trabalho de campo” é uma técnica de pesquisa comumente utilizado nas Ciências Sociais, especialmente na Antropologia, que exige o contato direto do pesquisador com situações, cenários, fenômenos, práticas, pessoas, grupos e/ou sociedades que se deseja estudar. Durante o trabalho de campo, é necessário que o pesquisador seja inserido na comunidade, para que ele possa acompanhar, observar e, nalguns casos, participar das rotinas, fenômenos e/ou rituais que serão estudados.
O que é trabalho de campo?[1]
Leandro José Santos[2]
As técnicas do trabalho de campo foram sistematizadas, pela primeira vez, no livro Argonautas do Pacífico Ocidental, escrito por Bronislaw Malinowski. Ao descrever a metodologia empregada em seu estudo, o autor defendeu que ela não se resume apenas em observar a vida das pessoas. Também é necessário que o pesquisador viva com o grupo, que observe o seu cotidiano, que aprenda a sua língua, enfim, é preciso que o pesquisador consiga se envolver com a rotina da comunidade.
Para Malinowski (1984), o antropólogo deve obedecer a três princípios fundamentais:
a) possuir objetivos claros e conhecer os valores e critérios em pregados pelo conhecimento científico. Munido de um quadro teórico consistente, o pesquisador estará preparado para formular a estrutura básica de funcionamento dos grupos e sociedades que estuda;
b) assegurar as boas condições de trabalho, o que significa, basicamente, viver entre os sujeitos estudados e criar as possibilidades de acompanhar os costumes, as cerimônias, as transações econômicas e outros aspectos da vida do grupo estudado repetidas vezes, obtendo as categorias, os conceitos e teorias de como são, como vivem e como pensam as pessoas;
c) saber aplicar métodos especiais de coleta, de manipulação e registro dos traços, complexos e padrões culturais. O que se pretende em campo é identificar as regularidades dos fenômenos e da vida dos grupos estudados. Por isso, busca-se coletar dados concretos sobre todos os fatos observados e, a partir deles, formular inferências gerais.
Em campo, o antropólogo deve ser capaz de saber a diferença entre os atos públicos e os privados, como também deve saber distinguir entre um fato corriqueiro e um fenômeno extraordinário, além de saber quando as pessoas estão brincando ou sendo sinceras (SANTOS, 2021).
Algum tempo após a publicação dos Argonautas, Clifford Geertz (1989) reelaborou as contribuições de Malinowski, argumentando que, ao realizar o trabalho de campo, o pesquisador deve analisar os sentidos dos comportamentos humanos e determinar a sua importância em contextos específicos. Para esse autor, o que se realiza em campo é uma descrição densa, por isso, não se pode perder de vista que o comportamento humano é sempre uma ação simbólica e, como tal, é repleta de significados.
Para Geertz, o antropólogo precisa saber situar-se em campo e, estando lá, ele precisará saber conversar com as pessoas, o que exige pactos de cumplicidade, reciprocidade e que o pesquisador saiba penetrar no universo da ação simbólica e compreender os significados dos objetos e ações.
Isso quer dizer que o entendimento antropológico só pode acontecer mediante a familiarização com o universo cognitivo e imaginativo dos indivíduos em campo. Entendido desta forma, o trabalho de campo exige que adentremos e compreendemos o universo conceitual e o ponto de vista das pessoas que estão sendo estudadas. Daí, já se supõe que o bom pesquisador não é aquele que se adapta facilmente às situações vivenciadas em campo, pois o trabalho de campo não se encerra com a interação e seleção de informantes nem na transcrição de entrevistas ou escrita de um diário. Não são as técnicas e os procedimentos que determinam o bom andamento da pesquisa etnográfica, pois o que está em jogo são os mecanismos que permitem ao antropólogo perceber, pensar e sentir o mundo como as pessoas que estão sendo estudadas o faz. Ou seja, não é necessário ao pesquisador ser – nem querer ser – o outro, basta tentar compreender a cultura a partir do ponto de vista das pessoas que a vivem.
Referências Bibliográficas
SANTOS, Leandro José Santos. O que é trabalho de campo? In: BODART, Cristiano das Neves (Org.). Conceitos e categorias fundamentais do Ensino de Antropologia. Maceió: Editora Café com Sociologia, 2021. pp.125-127.
GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura. In: GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989, p. 13-41.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
Como citar este texto:
SANTOS, Leandro José. O que é trabalho de campo? Blog Café com Sociologia. julho. 2021. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/o-que-e-trabalho-de-campo/>.
Notas
[1] Texto derivado de “O que é trabalho de campo?”, publicado em “Conceitos e categorias fundamentais do ensino de Antropologia” (2021).
[2] Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande. Professor de Sociologia do Instituto Federal da Paraíba (IFPB-Campus João Pessoa).
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