O que são paradigmas, conceitos, categorias, temas e teorias?

O que são paradigmas?

O que são paradigmas, conceitos, categorias, temas e teorias*

Roniel Sampaio-Silva[1]

Cristiano das Neves Bodart[2]

Neste texto veremos duas coisas correlacionadas: a) a diferença entre Ciências Físicas e Ciências Humanas no que diz respeito a paradigma e; b) os elementos constituintes das abordagens da Ciência, com exemplificações relacionadas às Ciências Sociais.

Assim como a Física tem seus recursos para a compreensão da realidade natural, as Ciências Sociais também os têm, sendo estes bases para a produção de conhecimento. Contudo, partem de uma lógica diferente de paradigma.

Mas o que são paradigmas?

Paradigmas são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência (KUHN, 1991, p.13). Ou seja, são concordâncias sobre determinados pontos de vista. O paradigma heliocêntrico, que demonstra que a terra gira em torno do sol, é bom exemplo.

Desta maneira, pegamos, por exemplo, um fenômeno físico: a gravitação universal. A força gravitacional é um conceito que representa um fenômeno natural e, por isso, é simplificada pela expressão matemática F=M.A. Trata-se de um conceito “fechado”. O modelo de explicação da realidade é consenso entre todos os cientistas; um corpo que cai de um prédio, vai ter um “comportamento” que pode ser explicado a partir essa expressão matemática.

E o comportamento das pessoas? É certo que também existe tendências, entretanto, as variáveis que influenciam nosso comportamento são bem complexas: a individualidade, a economia, a política, a cultura, as relações sociais etc. Isso faz com que existam muitas visões teóricas para determinados comportamentos. Tais visões geralmente não formaram um consenso universal, ou seja, um paradigma como nas Ciências físicas. As Ciências Humanas são pré-paradigmáticas, isso porque elas nunca conseguirão consolidar um paradigma no sentido apresentado por Tomas Kuhn e aplicado as ciências “duras”.

Elementos constituintes das abordagens das Ciências

A complexidade de elementos constituintes das abordagens científicas pode ser agrupada em conceitos, categorias, temas e teorias. Mesmo havendo discordância entre os sociólogos, antropólogos, cientista políticos etc., m torno dos pré-paradigmas, os estudiosos precisam delimitar seus objetos de estudo para permitir uma comunicação eficiente com seus pares (mas não só). É por isso, que independentemente da área existem categorizações, sendo eles: conceitos, categorias, temas e teorias.

Conceitos

Os conceitos são unidades que servem para delinear melhor um objeto de estudo. Eles “indicam algum objeto real pela determinação de alguns dos seus aspectos” (BERNARDES, 2011). Por esta razão são mais “precisos”, porém limitados a determinado recorte. Assim, o conceito é uma tentativa de definição do objeto através da linguagem. Seu uso facilita o diálogo entre os cientistas (mas não só) por simplificar em um termo um conjunto de aspectos que constitui o fenômeno em questão. Por exemplo, o conceito de “Exército de reserva” simplifica, grosso modo, o fenômeno que se manifesta como o excedente de mão de obra qualificado (desempregados) causado pela lógica capitalista que visa achatar os salários dos trabalhadores e garantir que os patrões possam ter maiores condições de “negociar” valores e condições de trabalho com seus assalariados. Assim, ao invés de explicar todo esse fenômeno, bata dizer “exército de reserva” que o interlocutor saberá exatamente do que está sendo falando. Nota-se que o conceito é algo bem definido e pontual, voltado a um fenômeno particular. Contudo, um conceito pode ser adaptado para fenômenos análogos, desde que “refeita” a exposição dos elementos ou dos fenômenos que o constitui.

Categorias

Quando se agrupa um conjunto de coisas a partir de aspectos previamente definidos, temos uma categoria. Mas não é um agrupamento qualquer. É fruto de aspectos conceituais ou teóricos, sendo organizado a partir do diálogo entre esses. Como os conceitos são limitados para explicar uma determinado fenômeno social se usa uma categoria para se referir a um conjunto destes conceitos. Por exemplo, o trabalho é uma categoria porque além de ser um conceito tem outros “sub-conceitos” os quais se articulam entre si. Trabalho escravo, trabalho doméstico, trabalho docente são conceitos que se agrupam em categorias. Para fazer uma analogia, observamos que motos, carros, caminhões são conceitos diferentes que, no entanto, se enquadram na categoria de veículos automotores.

Temas

Temas são elementos sem um recorte definido de tempo e espaço. Por isso, são mais abrangentes do que conceitos e categorias. Esses costumam ser apropriadas mais facilmente pelo senso comum por se menos complexo e exigir menos rigor conceitual, categórico ou teórico. A violência, por exemplo, é um assunto amplo e genérico que, sem um tratamento adequado, acaba se tornando vazio, mas ainda sim continua sendo um tema. A Sociologia usa destes temas como ponto de partida, para a partir deles fazer recortes mais específicos e com descrições mais pontuais e passíveis de discussões mais aprofundadas – o que se faz a partir de delimitações conceituais, categóricas ou teóricas.

Teorias

As teorias são pontos de vistas resultantes de reflexões e observações empírico-teórica-metodológicas amplas, envolvendo um conjunto de conceitos e/ou categorias. É uma forma de ver o mundo que adota conceitos, categorias e (às vezes) métodos próprios. As teorias são resultantes de um conjunto de conceitos e/ou categorias que são mobilizados de forma interrelacional, a fim de explicar uma realidade ou fenômeno. É importante contextualizar historicamente cada teoria, já que essas são criadas a partir de uma realidade ou fenômeno que envolvia o teórico. Como exemplo, podemos mencionar a Teoria Disposicionalista de Pierre Bourdieu, que a partir de vários conceitos (habitus, campo, capital simbólico, illusio, senso prático etc.) visa explicar os fatores nas ações sociais.

Referências Bibliográficas

KUHN, Thomas. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1991.

BERNARDES, Antonio Henrique. Quanto as categorias e os conceitos. Formação (Online), v. 2, n. 18, 2011.

Como citar este texto:

SAMPAIO-SILVA, Roniel; BODART, Cristiano das Neves. O que são paradigmas, conceitos, categorias, temas e teorias. Blog Café com Sociologia. dez. 2020. Disponível em:< https://cafecomsociologia.com/conceito-categoria-tema-teoria/> Acessado em: dia mês ano.

 

Notas:
  • Originalmente publicado aqui em 23 de dezembro de 2020.

[1] Mestre em Educação (UNIR) e professor do Instituto Federal do Piauí. Editor do Blog Café com Sociologia.

[2] Doutor em Sociologia (USP) e professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) e do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Editor do Blog Café com Sociologia.

 

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Conheça essas obras de conceitos e categorias das Ciências Sociais:

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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