Arte e Sociologia na Encruzilhada
“Por exemplo, o baiano Manuel Botelho de Oliveira, em um dos sonetos de seu livro Música do Parnaso, de 1700, escreve que “A serpe é maio errante de torcida flores”. Ao produzir a metáfora, Botelho de Oliveira aproxima o conceito de /réptil/, “serpe”, e o de /tempo/, “maio”, definindo um pelo outro: “A serpe é maio errante de torcidas flores”. A ideia dominante no século XVII é a de que esse efeito é agudo porque a relação que estabelece entre duas coisas conhecidas, réptil e mês de maio, é, como disse uma relação inesperada e desconhecida que dá prazer ou que maravilha o ouvinte ou o leitor, que tem de traduzir a imagem para fruí-la. Evidentemente, será também muito agudo o leitor/ouvinte capaz de entender que Botelho de Oliveira compara “serpente” e “tempo” por meio da comparação entre duas outras ideias, “movimento físico” e “movimento temporal”, ou seja, capaz de entender que ele aplica uma analogia de proporção do tipo a:b::c:d, pela qual se a “serpente” tem movimento e desliza e se o mês de maio, porque é tempo, passa, pode-se dizer que a serpente é como o mês de maio e, portanto, que a serpente é maio.O leitor/ouvinte será um discreto, no caso, será um tipo superior na hierarquia dos valores, mesmo se institucionalmente for um plebeu.Caso não entenda a metáfora, será um vulgar, um néscio, um tipo que se espanta com os efeitos, mas que não é capaz de entender os modos como são obtidos.”
*Camillo César Alvarenga é estudante do bacharelado em Ciências Sociais na UFRB. Escreve com frequência em Scombros.