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Questões de gênero: proposta de abordagem pedagógica

Questões de gênero: proposta de abordagem pedagógica

Adriely Paiva Parreira da Silva[1]

Jamílly Taina do Carmo Silva[2]

Walace Ferreira[3]

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Conteúdo: Questões de gênero

Público: estudantes do ensino médio

Competências Gerais/BNCC: 1 e 9

Competências Específicas de C.H.S: 5

Habilidades: EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504

Objetivos: Apresentar aspectos preliminares sobre papéis de gênero, divisão sexual do trabalho, violência contra as mulheres e a cultura do estupro. Trata-se de material de apoio didático a ser trabalhado em turmas do ensino médio, estimulando a reflexão e a superação dos preconceitos e das desigualdades de gênero.

Papéis de gênero

O conceito de gênero tem a função de classificar o masculino e o feminino nas sociedades humanas com base em uma construção social. As concepções de gênero já solidificadas e naturalizadas são reproduzidas através da socialização. Desde crianças, meninas e meninos aprendem a lidar com o mundo através da socialização, incorporando aspectos de gênero nas suas atividades cotidianas. As brincadeiras são uma demonstração da reprodução desses papéis desde a primeira infância, bem como as cores definidas para meninas e meninos e atitudes esperadas de cada criança devido ao seu sexo de nascimento. Essa separação termina por determinar comportamentos sociais tradicionais, tal como subentendido a partir da tirinha a seguir:

Devemos observar que as relações de gênero são também relações de poder dentro de uma cultura e a própria construção social das características de cada gênero reflete isto. Nas sociedades ocidentais, por exemplo, enquanto racionalidade, potência e força são características relacionadas ao masculino; docilidade, delicadeza, passividade, altruísmo, amor incondicional e “instinto materno” estão culturalmente vinculados ao universo feminino. Um estudo mais aprofundados sobre diferentes culturas ao longo da história demonstra que nem sempre foi dessa forma.

Divisão sexual do trabalho

O papel de subordinação da mulher se estende pela divisão social do trabalho, tendo em vista que geralmente as ocupações femininas são marcadas pela baixa remuneração e pouco prestígio social. O sistema de produção capitalista inclui as mulheres, porém estas encontram-se abaixo na estratificação social em termos de retorno salarial. Além disso, o corte de gênero aumenta a margem de sua exploração, já que muitas daquelas que entram para o mercado de trabalho passam a desempenhar dupla ou tripla jornada: estão sucumbidas pela subordinação no mercado de trabalho, no papel de serviçal nas tarefas domésticas e na criação dos filhos.

 

Violência contra as mulheres

No Brasil, uma mulher é assassinada a cada 2 horas, segundo o Atlas da violência de 2020 (IPEA, 2020). Além das variadas formas de desigualdade de gênero, há diversos tipos de violência contra a mulher, dentre elas: violência física, violência sexual, violência psicológica, violência patrimonial, violência obstétrica, violência moral etc.

No que se refere ao feminicídio, o número de homicídios de mulheres por homens persiste e têm aumentado a cada ano. “Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970 com o fim de reconhecer e dar visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua forma mais aguda, culmina na morte. Essa forma de assassinato não constitui um evento isolado e nem repentino ou inesperado; ao contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, físicos e sexuais, como o estupro, e diversas formas de mutilação e de barbárie” (MENICUCCI, 2015, p. 1).

A seguir destacamos a imagem de uma reportagem sobre o feminicídio no estado do Rio de Janeiro, quando mãe e filho foram mortos por um ex-namorado da jovem.

 

A lei do feminicídio (n° 13.104) que pune o assassinato de mulheres por razões de gênero surge no Brasil em 2015. Na América Latina existem mais 14 países com leis semelhantes. E embora exista no Brasil desde 2006 a Lei Maria da Penha, estudos mostraram que essa lei não foi suficiente para reduzir a mortalidade feminina, reforçando a necessidade de abordarmos o tema e trabalharmos no sentido mudarmos os condicionantes culturais que geram esse drama.

Cultura do Estupro

O termo cultura do estupro vem sendo utilizado desde a década de 1970 pelas feministas norte-americanas, revelando o quanto a violência contra a mulher é normalizada pela mídia e pela cultura popular. Indica também como a sociedade apresenta comportamentos que culpam as vítimas pelo ataque sofrido e normalizam os abusos praticados por homens contra as mulheres. Cantadas, gestos e linguagens obscenas, abraços, beijos e contatos físicos inadequados sem consentimento, e o estupro, fazem parte da cultura do estupro.

Recomendações

  • Livro Mulheres, raça e classe (Angela Davis);
  • Livro A Criação do Patriarcado (Gerda Lerner);
  • Série Maid (Netflix);
  • Vídeo Explicando o feminicídio em 2 minutos (https://youtu.be/Dwp-m31qUz).

Proposta de atividade

Apresente aos estudantes notícias jornalísticas referentes a diferentes tipos de violência contra a mulher (violência física, violência sexual, violência psicológica, violência patrimonial, violência obstétrica, violência moral, dentre outras), de modo que cada grupo fique responsável por uma reportagem. Solicite que os grupos debatam as origens daquele tipo de violência e elaborem propostas de enfrentamento. Cada grupo deve colocar suas conclusões de forma lúdica numa folha ou num cartaz. Ao final do tempo destinado para atividade, cada grupo deve apresentar suas conclusões aos demais estudantes, favorecendo o diálogo e uma discussão em torno da construção de uma proposta de tolerância e respeito. Se possível, exponha os produtos na sala de aula e/ou no ambiente escolar.

Referências bibliográficas

IPEA. Atlas da violência 2020. Relatório institucional. 2020.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e Educação: uma perspectiva pós estruturalista. 6. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1997.

MACHADO, Igor José Renó; AMORIM; BARROS; Celso Rocha de. Sociologia Hoje. 1. Ed. São Paulo: Ática, 2014.

MENICUCCI, Eleonora. Íntegra do discurso da ministra Eleonora Menicucci na cerimônia de sanção da lei do feminicídio. Publicado em 09/03/2015.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Nova York, Columbia University Press, 1989.

SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. 2. ed, São Paulo: Moderna, 2016.

Como citar este texto:

PARREIRA, Adriely Paiva; SILVA, Jamílly Taina do Carmo; FERREIRA, Walace. Questões de gênero. Blog Café com Sociologia, jun. 2022.

 

 

Notas:

[1] Graduanda em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: adrielypparraiera@gmail.com

[2] Graduanda em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: jamillytaina@gmail.com

[3] Doutor em Sociologia (IESP/UERJ). Docente do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silva (CAp-UERJ). E-mail: walaceuerj@yahoo.com.br

 

 

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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