Rio +20. Texto do Professor Sirio Lopez Velasco

Segue um texto apresentado na Mesa no IV EDEA (Encontro e Diálogos com a Educação Ambiental) e V CPEASUL (Colóquio de Pesquisadores em EA da Região Sul), na FURG pelo professor Sírio Lopez Velasco. Boa leitura.

NOTAS SOBRE O DOCUMENTO FINAL DA “RIO + 20” E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PERSPECTIVA ECOMUNITARISTA Prof. Dr. Sirio Lopez Velasco  (PPGEA-FURG, lopesirio@hotmail.com)

RESUMO Neste trabalho nos propomos apresentar inicialmente uma breve panorâmica da “Rio + 20” para depois fixar o foco nas considerações dedicadas à educação no documento final dessa Conferência, intitulado “O futuro que queremos”, e estabelecer a nossa visão da educação ambiental crítico-transformadora em perspectiva ecomunitarista.

Palavras chave: Rio + 20, educação ambiental ecomunitarista

Breve panorâmica da “Rio + 20”

A “Rio + 20” (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável) foi um megaevento organizado pela ONU no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho de 2012, para comemorar os 20 anos da “Rio 92”, e que culminou com uma declaração de 49 páginas assinada pelos 193 países participantes, intitulada “O futuro que queremos”. No evento participaram 120 Chefes de Estado e mais de 17 mil delegados; a delegação brasileira contou com 300 representantes governamentais e mais 300 convidados; na parte da delegação sob responsabilidade do Ministério da Educação, vários docentes universitários representaram a Educação Ambiental, dentre eles os professores doutores José Vicente de Freitas, Vanessa Hernandez Caporlíngua, Elisabeth Brandão Schmidt e Sirio Lopez Velasco, do Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (PPGEA) da FURG (Universidade Federal do Rio Grande). A parte oficial do evento aconteceu no Riocentro, fora da cidade. Ali, antes da inauguração da parte que contou com a presença dos Chefes de Estado realizaram-se os “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável”; em uma das suas sessões os delegados oficiais e representantes da sociedade civil indicaram mediante votação aos Chefes de Estado três sugestões: 1) incluir os danos ambientais como valores negativos no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) e apreciar os projetos pelo seu índice de desenvolvimento social, 2) promover pela educação (ambiental) um entendimento holístico do desenvolvimento sustentável, tendo em mente os aspectos ambientais, econômicos, políticos e sociais, e, 3) que os Governos façam as suas compras considerando os padrões de sustentabilidade dos respectivos produtos. Na inauguração oficial do evento (em 20/06) destacaram-se as falas dos representantes dos grupos de trabalho das mulheres, jovens, indígenas, camponeses e das ONGs; nelas apontaram-se as carências do documento oficial final assinado pelos Chefes de Estado no que diz respeito a objetivos, metas, prazos e recursos financeiros (que deveriam vir principalmente dos países ricos) para se resolver graves questões sócio-ambientais como a miséria, a pobreza, a desigualdade entre países, classes e gêneros (reivindicando-se os direitos da mulher, incluindo os reprodutivos), o desarmamento nuclear de todas as nações, a segurança alimentar baseada na agricultura orgânica familiar-cooperativa, o respeito ao direito de cada povo ao uso dos seus recursos naturais, as ocupações dignas e verdes, e o combate à devastação e à poluição que ameaçam muitas espécies e a qualidade da terra, das águas e do ar. A parte oficial incluiu, além das falas antes citadas e aquelas dos representantes de cada país participante, a realização de dezenas de mesas de debate sobre diversos aspectos da sustentabilidade. Paralelamente à parte oficial aconteceram no Parque dos Atletas e em diversos pontos da cidade muitas atividades de grande repercussão que contaram com muito público. A mais concorrida delas foi a “Cúpula dos Povos por justiça social e ambiental em defesa dos bens comuns”, realizada no Aterro do Flamengo. Ali, milhares de jovens de muitos países e várias etnias (muitas delas indígenas) e ocupações (professores, estudantes, camponeses, trabalhadores) expuseram suas propostas, lutas, experiências e produtos sustentáveis, e protagonizaram muitas mesas de debate (dentre outros temas, sobre os direitos dos povos indígenas, a agricultura familiar, as energias limpas e o ecossocialismo) e também diversas passeatas em defesa de uma sociedade sustentável libertada do capitalismo (isto é, livre da exploração entre os seres humanos e caracterizada por uma convivência respeitosa- cuidadosa entre eles e o restante da natureza). Nos armazéns do porto (um deles rebatizado para a ocasião “Armazém da Utopia”) realizou-se uma exposição dedicada às inovações sustentáveis, patrocinada pela FINEP; nela foram mostrados muitos produtos brasileiros que ajudam na construção de uma sociedade sustentável (como, dentre muitos outros, um barco solar para o transporte escolar na Amazônia e um ônibus misto elétrico-etanol); a FURG teve nessa exposição um estande dedicado ao uso da anchoita para a merenda escolar. Num anexo desmontável ao Forte de Copacabana aconteceu a exposição “Humanidade 2012”, a qual com a ajuda de muitos recursos audiovisuais e sensoriais familiarizou os visitantes com a aventura humana sobre a terra, mostrando os seus impactos sócio-ambientais e lançando perguntas-desafios direcionadas para uma sociedade sustentável. Outros pontos da cidade (como o Jardim Botânico, a Assembléia Legislativa e o Museu de Arte Moderna) acolheram diversos eventos paralelos. Por sua vez, o Parque dos Atletas (vizinho ao Riocentro) abrigou uma grande exposição sobre projetos sustentáveis desenvolvidos por Municípios, Estados e instituições públicas brasileiros; muitos países também montaram ali cada um o seu estande (às vezes com caráter meramente empresarial-turístico). O último dia da Conferência esteve marcado pela mobilização da UNASUL (União das Nações Sulamericanas) para apoiar o Presidente Lugo e a jovem democracia paraguaia confrontados a um Golpe de Estado branco. Passada a “Rio + 20” fica claro que é nos milhares de jovens que participaram das suas atividades oficiais e paralelas, nos outros milhares de escolares que frequentaram as diversas exposições, e nos milhões de cidadãos que no Brasil e no mundo aprofundaram seu compromisso com a construção de uma sociedade sustentável, que está a garantia de que haverá consequências duráveis e transformadoras da Conferência. O impacto que a mesma teve no mundo através da mídia e de muitos eventos simultâneos realizados em todos os continentes, reforça a esperança de um mundo sustentável. Na construção desse futuro (o futuro que queremos) caberá uma grande tarefa à educação ambiental (que segundo as Diretrizes Nacionais de Educação Ambiental recentemente aprovadas no Brasil, deve permear todos os níveis e modalidades de ensino); ali residem novos e grandes desafios para todos os cursos da FURG (e em especial para as licenciaturas e o PPGEA).

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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