Antagonismo ciências naturais e humanas
a humanidade?
[1] KUHN, T. S. The Structure of Scientific Revolutions. 2 ed., enlarged. Chicago and London: University of Chicago Press 1970.
Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.
A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.
Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo. Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .
Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.
[1] KUHN, T. S. The Structure of Scientific Revolutions. 2 ed., enlarged. Chicago and London: University of Chicago Press 1970.
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Metástese: surgimento de”nova” célula composta das características da célula original |
Para quem não sabe, o Conselho de Classe é um ritual secreto e soberano que acontece ao final do período letivo das escolas. É quando nós, professores, munidos de documentos, planilhas, números enigmáticos, classificações diversas, nos reunimos para decidir a vida escolar, profissional e afetiva de jovens adolescentes matriculados na escola. Nesse caso, o poder do cerimonial serve para legitimar o professor como o indivíduo mais poderoso da hierarquia dessa micro-sociedade que é a escola. Por isso nós somos os únicos habilitados a participar do Conselho de classe. Esse mérito advém de algumas provas iniciáticas pelas quais passamos em nossa trajetória profissional.
Assim, sob as influências mágicas do ritual e do recital de Notas, podemos avaliar secretamente a trajetória acadêmica dos alunos e proferir algumas palavras depreciativas ou elogiosas de acordo com o desempenho do neófito. Raramente temos sucesso nas nossas evangelizações ou missões educativas, mas exigimos o máximo do aluno. Este é considerado um ser sem luz, aquele que não sabe, enfim, um bárbaro a quem devemos educar em troca de dádivas substanciais (também chamadas de salário). Educar significa, aqui, inculcar valores normatizantes provenientes dos saberes especializados da divindade superior chamada Ciência. Esses saberes são reorganizados pelo Ministério da Educação, uma espécie de divindade inferior, e transmitidos aos iniciados pelos professores, por meio de “aulas” ou slides em Power Point. Todo o ritual é protegido e garantido pelo Deus Instituição, a quem servimos com muita devoção. Todo professor que afronta o poder das divindades Instituição, Ciência e/ou Ministério, sofrerá algumas sanções. Por isso obedecemos e somos fiéis.
Normalmente, no Conselho de classe, sentamos em forma de círculo sagrado, de portas fechadas, e evocamos o nome do aluno para, com a ajuda dos computadores, classificá-los de acordo com valores morais: bom, ruim, fraco, forte, preguiçoso, interessado, participativo, inteligente, querido, chato, burro, bonito, sujo, e assim por diante. Classificamos também de acordo com os modos de agir, além de critérios psicologizantes: “tem dificuldade”, “problemas de atenção”, “não consegue aprender” etc.
Nossa arma simbólica e sagrada, a mais poderosa de todas, chama-se Reprovação Escolar. Ela corresponde ao nosso Totem. Quando alguém anuncia a reprovação de um neófito, nosso olho brilha, nosso poder aumenta, pois essa arma é a única que nos assegura algum tipo de status frente à completa falta de autoridade social que o nosso clã enfrenta na atual sociedade. Queremos que o nosso Totem vire Tabu, pois ele nos protege diante da genialidade dos estudantes, que resistem ao sistema de todas as formas. A violação do interdito provocaria um castigo divino. Por isso, a Reprovação é a nossa única garantia para nos mantermos na hierarquia superior do processo de ensino, diante dos poderes influentes da vida lá fora, que também educa.
A Reprovação é, hoje, a única razão de existência e de reconhecimento desses profissionais do Ministério da Educação, que servem ao Deus Instituição, contra as forças emergentes dos jovens estudantes. Estes estão cada vez mais bem sintonizados com o fluxo da vida contemporânea, e são possuidores de habilidades sociais refinadas e de muita sensibilidade. Esses jovens também são chamados de Rebeldes, Futuro do país, Índigos, Cristal, Geração Y, Z etc. Mas nós, professores, preferimos dizer “bárbaros”. Estudamos muito para chegarmos até aqui. Mas nosso salário (ou dádiva) não condiz com o importante trabalho que fazemos para a Nação e para o povo. Eis a nossa crença.
[1] Professor de Sociologia do IFSul Câmpus Bagé. Graduado em Ciências Sociais pela UFRGS e Mestre em Educação pela UFPel.
A Revista Veja trouxe uma reportagem marcada por falácias que objetivam claramente atacar os programas de cotas em universidades federais para alunos de escolas públicas. Os argumentos utilizados são repletos de contradições.
A referida revista, em seu site, trouxe a manchete “O drama de estudantes – e famílias – afetados pelas cotas”. O título traz uma verdade, o problema está na forma como buscam “pintar” essa verdade. Abaixo da manchete continuou a expor outras verdades: “Reserva de vagas a alunos da rede pública não afeta só a vida de beneficiados: altera também planos e sonhos de jovens – ricos e pobres – que disputam um lugar nas universidades federais, mas estudam em escolas privadas”.
Tanto o título como a parte destacada pela referida revista são verdades. O problema está na qualificação dessas verdades. Que as cotas para alunos de origens de escolas públicas afetam os demais isso é óbvio; é justamente para isso que foi criado: afetar o status quo, mudar a estrutura desigual da sociedade brasileira.
Dentre os afetados há pobres? Claro. Em uma população tão grande de jovens, há pobres que tiveram acesso a boas escolas particulares – geralmente por meio de programas sociais privados ou públicos, ou ainda por iniciativa de alguns indivíduos que se compadecem de suas condições educacionais. Mas isso ocorre em um volume significante? Não, mas é possível a referida revista encontrar pelo menos um cidadão para expor como exemplo (prática comum no jornalismo brasileiro). Não conheço políticas públicas nacionais que não tenham alguns efeitos pequenos colaterais. Faz parte, infelizmente.
Vamos a um trecho da reportagem: “A família de Monique Silveira, de 15 anos, tem uma renda mensal de 3.000 reais. Graças a uma bolsa de estudos, a jovem cursa o 1º ano do ensino médio em uma escola privada no município de Formiga (MG), onde vive a família. Luciana, mãe de Monique, sempre viu a bolsa como uma chance de a filha escapar da má formação oferecida pelo sistema público e, assim, chegar a uma universidade federal”. Nota-se claramente que a intenção da Veja é tentar induzir o entendimento de que a referida família é podre. Ou o jornalista não sabe o que é ser pobre (prezado, com renda mensal de 3 mil reais, tal família enquadra-se na “Nova Classe Média”) ou está de má fé. Como efeito colateral da intenção da revista, fica claro, no trecho destacado, que quem estuda em escola pública dificilmente entra na universidade federal. A mãe da jovem ainda emendou: “foi a má qualidade da rede pública que me obrigou a buscar uma alternativa”. Nota-se que, para a mãe quem estuda em escola pública não possui alternativa.
Em outro trecho da reportagem, a Veja afirma que “[…] há famílias de parcos recursos que usam tudo o que têm para manter os filhos em uma escola privada, numa tentativa de escapar do desastre do ensino público”. Se por um lado é verdade que alguns (poucos) pobres são afetados negativamente com o programa de contas, o trecho deixa evidente (a contra gosto da revista) uma verdade: os que estão na rede pública de ensino médio vivem um desastre! (Claro que há algumas poucas exceções de jovens que conseguem se livrar dele).
Reporto para cá mais um caso contraditório da reportagem: “Investir na educação dos filhos sempre foi prioridade para a funcionária pública Vivian Seabra, de 48 anos, e ela não poupou esforços nesse projeto. Colocou os gêmeos Lucas e Felipe, ambos de 20 anos, em um conceituado colégio de São Paulo. Em valores atuais, os doze anos do ensino básico saem por cerca de 250.000 reais por aluno. Lucas, disputa pela terceira vez uma vaga no curso de medicina. Ele já chegou a ser aprovado em uma faculdade particular, mas recusou-se a ingressar na instituição porque preferiu realizar novo vestibular para a faculdade federal, sinônimo de qualidade”.
Nota-se que: 1. Quem estuda em um conceituado colégio de São Paulo não é pobre (nem mesmo da “Nova Classe Média”); 2. Quem pode pagar, em 12 anos, 250 mil reais em estudo não tem os mesmos problemas com educação básica precária; 3. Quem me dera se a população pobre de nosso país pudesse ter o capricho de escolher a partir do critério “qualidade”.
O Lucas, aluno de colégio conceituado, com investimento de 250 mil reais em sua formação básica, ainda completou: “Empenhei anos da minha formação estudando duro. A lei desequilibra a competição”.
Fica claro que embora a revista apresente uma verdade, nota-se a pretensão de adjetivar essa verdade como depreciativa, o que não procede. Ao Lucas deixo uma pergunta: antes da lei havia equilíbrio na competição? Já à Veja, apenas… (re)Veja. A final, o que mais esperar da Veja?
Hoje é feriado… e daí?
Quantos brasileiros sabem o porquê
hoje é feriado? Maior parte dos brasileiros não possui condições para refletir sobre
isso. Os motivos são variados. Dentre eles destaco a desinformação, falta de acesso à cultura e o cansaço
físico. Isso mesmo, cansaço físico! Além de termos uma educação de baixa
qualidade, de vivemos em uma sociedade que pouco valoriza o conhecimento, estamos imerso em uma sociedade voltada para o
consumo (esse sendo o novo deus, tendo o shopping Center como o principal local
de culto) e, consequentemente, voltada para o trabalho.
O feriado surge no imaginário
popular apenas como um dia de descanso. Seu sentido se perde em meio a
ignorância e ao desejo de um dia de alforria, longe dos olhos de seu senhor.
***Maria Helena Barbosa formada em História pela Unioeste e especialista em EJA/PROEJA pela UTFPR, leciono História, Sociologia e Ensino Religioso na rede pública do PR e na rede privada. Adoro ler, sou fã de Guerra dos Tronos, vício que herdei do filho. Gosto mais de ler do que gosto de chocolate.Ando perdendo a fé na humanidade.