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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • Ciências do Espírito e Ciências da Matéria: Concorrentes?

    Ciências do Espírito e Ciências da Matéria: Concorrentes?

    Antagonismo ciências naturais e humanas

    Por Roniel Sampaio Silva
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    Certamente em algum momento da sua vida você já deve ter sido abordado por alguém com alegação de que seu curso tem menos importância para a humanidade do que o dele. Minha segunda especulação é que esse alguém possivelmente enxerga de maneira dicotômica as ciências humanas e ciências naturais, as quais batizei nesse texto de ciências do espírito e ciências da matéria. Diante desta situação cabe uma pergunta: Quais dos dois conjuntos de conhecimentos são mais importantes para
    a humanidade?

     

     

    Antes de chegar nesse ponto, gostaria de esclarecer sobre os conceitos utilizdos aqui de ciências do espírito e ciências da matéria. A primeira por está relacionada à análise científica espírito humano, não no sentido místico, mas no sentido social, cultural, histórico, filosófico, político e simbólico e seus desdobramentos. A segunda, relacionada às reflexões igualmente científicas, relacionada à matéria e a natureza. Embora essa taxinomia seja reducionista e imprecisa ela bastará para a análise que irei fazer.
    Para pensar sobre as duas proposições, em um cenário em que uma exclui a outra, devemos fazer um pequeno exercício de imaginação.
    Primeiro imagine num cenário em que as ciências do espírito sejam supervalorizadas e as ciências naturais totalmente despreteridas – o que acho pouco provável numa sociedade evoluída socialmente – há uma grande probabilidade de nosso convício social ser bem melhor; entretanto, padeceremos nesse planeta de forma a atrasarmos nossa desenvolvimento tecnológico e ficaremos a mercê de catástrofes internas ou cósmicas que tem dada para acontecer nos próximos milhares ou milhões de anos. Certamente seremos destruídos.
    Segundo imagine um cenário em que as ciências da matéria sejam supervalorizadas e as ciências do espírito desvalorizadas. Nesta sociedade a tecnologia evolui absurdamente, todavia grande parte dessa evolução tecnológica é restrita para um luxo de um grupo seleto. As relações sociais caminham para a destruição das pessoas e a tecnologia serve para potencializar tal destruição. Esta sociedade está fadada às catástrofes que elas próprias criam. Certamente caminhamos neste cenário para destruição.
    Em suma, hoje penso que os dois grupos de conhecimento são complementares e não concorrentes. Existem diferenças epistemológicas uma vez que as ciências da natureza são paradigmáticas e as ciências humanas são pré-paradigmáticas (Kunh, 1970)[1]. Os métodos e técnicas se adptam aos objetos de estudo e portanto a forma de ver a realidade é diferente. A grande semelhança é que ambos os grupos de conhecimentos estão para fazer a humanidade melhor, uma para fazer com que a convivência seja melhor, a outra para na estejamos preparados para lidar com as eventualidades da natureza.
    Por fim penso que elas estes dois grandes grupos de conhecimento como duas asas de um avião, parafraseando uma metáfora do Dalai Lama, dentre os quais é preciso haver um equilíbrio uma vez que uma precisa da outra. Tais conhecimentos se entrelaçam, se completam, e buscam superar suas próprias limitações para nos levar ao caminho da esperança diante da imensidão do cosmos.
    PS: Os maiores gênios das ciências da matéria eram exímios também em humanidades. Só pra citar alguns exemplos, Einstein, Sagan e Tesla tinham posicionamentos para além das ciências naturais e se posicionavam em favor de uma humanidade menos desigual num contexto que a educação ainda continua muito elitizada.

    [1] KUHN, T. S. The Structure of Scientific Revolutions. 2 ed., enlarged. Chicago and London: University of Chicago Press 1970.

  • Terras Brasilis: tese, antítese e síntese? Olhando pelo “retrovisor”

    Terras Brasilis: tese, antítese e síntese? Olhando pelo “retrovisor”

     

    Por Cristiano Bodart
    Terras Brasilis
    A título de provocação e sem pretensões explicativas, lanço algumas questões com o objetivo fomentar a reflexão… um fitness intelectual.
    Olhando os passos do Brasil pelo “retrovisor” penso que Marx e Engels, se defendessem a ideia da Dialética da História em programa de doutoramento no Brasil, poderiam ter algumas indagações e refutações ameaçadoras pelos avaliadores em sua banca.
    O argumentado de que uma tese em face de uma antítese gera uma síntese em terra brasilis parece ser de difícil aplicação. Diria que em uma tese em face de uma antítese geraria, talvez, não uma síntese, mas uma metástese. Parece que o que surge das antíteses em terra brasilis é sempre um “novo” com raízes  do velho (se é que dá para chamar isso de novo). Por isso que a obra “Raízes do Brasil”, de Sérgio de Holanda, explica tão bem muitos fenômenos sociais atuais.
    Terras Brasilis
    Metástese: surgimento de”nova” célula composta das características da célula original
    De posse do “retrovisor” olhando as ressurreições, a “independência”, “a abertura democrática” é difícil vermos uma síntese, uma nova realidade, uma revolução… vemos readequações da tese e, em alguns casos, seu fortalecimento.
    O fim da escravidão não acabou com a exploração pré-capitalista, antes consolidou o capitalismo sob novos formatos exploratórios. A independência do Brasil não foi um ato de quebra dos grilhões, antes um deslocamento de cela. A proclamação da República, longe de uma revolução, promoveu condições para que o coronelismo se perpetuasse. A “revolução” burguesa, foi antes de tudo, uma “revolução conservadora” (se é que dá para juntar esses dois termos como substantivo e adjetivo).
    Olhando para um passado quase presente, vemos as manifestações de junho e julho de 2013 pelo país à fora. Mais uma vez a síntese parece não ter vindo… mais uma metástese? Marx e Engels seriam aprovados na banca? Quais refutações seriam apresentadas? Fiquei, no mínimo, curioso…
  • Conselho de Classe: uma análise sociológica do ritual secreto

    Conselho de Classe: uma análise sociológica do ritual secreto

     

    Por Lisandro Lucas de Lima Moura[1]
    Conselho de Classe

    Para quem não sabe, o Conselho de Classe é um ritual secreto e soberano que acontece ao final do período letivo das escolas. É quando nós, professores, munidos de documentos, planilhas, números enigmáticos, classificações diversas, nos reunimos para decidir a vida escolar, profissional e afetiva de jovens adolescentes matriculados na escola. Nesse caso, o poder do cerimonial serve para legitimar o professor como o indivíduo mais poderoso da hierarquia dessa micro-sociedade que é a escola. Por isso nós somos os únicos habilitados a participar do Conselho de classe. Esse mérito advém de algumas provas iniciáticas pelas quais passamos em nossa trajetória profissional.

    Assim, sob as influências mágicas do ritual e do recital de Notas, podemos avaliar secretamente a trajetória acadêmica dos alunos e proferir algumas palavras depreciativas ou elogiosas de acordo com o desempenho do neófito. Raramente temos sucesso nas nossas evangelizações ou missões educativas, mas exigimos o máximo do aluno. Este é considerado um ser sem luz, aquele que não sabe, enfim, um bárbaro a quem devemos educar em troca de dádivas substanciais (também chamadas de salário). Educar significa, aqui, inculcar valores normatizantes provenientes dos saberes especializados da divindade superior chamada Ciência. Esses saberes são reorganizados pelo Ministério da Educação, uma espécie de divindade inferior, e transmitidos aos iniciados pelos professores, por meio de “aulas” ou slides em Power Point. Todo o ritual é protegido e garantido pelo Deus Instituição, a quem servimos com muita devoção. Todo professor que afronta o poder das divindades Instituição, Ciência e/ou Ministério, sofrerá algumas sanções. Por isso obedecemos e somos fiéis.

     

    Normalmente, no Conselho de classe, sentamos em forma de círculo sagrado, de portas fechadas, e evocamos o nome do aluno para, com a ajuda dos computadores, classificá-los de acordo com valores morais: bom, ruim, fraco, forte, preguiçoso, interessado, participativo, inteligente, querido, chato, burro, bonito, sujo, e assim por diante. Classificamos também de acordo com os modos de agir, além de critérios psicologizantes: “tem dificuldade”, “problemas de atenção”, “não consegue aprender” etc.

    Nossa arma simbólica e sagrada, a mais poderosa de todas, chama-se Reprovação Escolar. Ela corresponde ao nosso Totem. Quando alguém anuncia a reprovação de um neófito, nosso olho brilha, nosso poder aumenta, pois essa arma é a única que nos assegura algum tipo de status frente à completa falta de autoridade social que o nosso clã enfrenta na atual sociedade. Queremos que o nosso Totem vire Tabu, pois ele nos protege diante da genialidade dos estudantes, que resistem ao sistema de todas as formas. A violação do interdito provocaria um castigo divino. Por isso, a Reprovação é a nossa única garantia para nos mantermos na hierarquia superior do processo de ensino, diante dos poderes influentes da vida lá fora, que também educa.

    A Reprovação é, hoje, a única razão de existência e de reconhecimento desses profissionais do Ministério da Educação, que servem ao Deus Instituição, contra as forças emergentes dos jovens estudantes. Estes estão cada vez mais bem sintonizados com o fluxo da vida contemporânea, e são possuidores de habilidades sociais refinadas e de muita sensibilidade. Esses jovens também são chamados de Rebeldes, Futuro do país, Índigos, Cristal, Geração Y, Z etc. Mas nós, professores, preferimos dizer “bárbaros”. Estudamos muito para chegarmos até aqui. Mas nosso salário (ou dádiva) não condiz com o importante trabalho que fazemos para a Nação e para o povo. Eis a nossa crença.

     

     

     

    [1] Professor de Sociologia do IFSul Câmpus Bagé. Graduado em Ciências Sociais pela UFRGS e Mestre em Educação pela UFPel.

  • As cotas de vagas em universidades federais e a verdade adjetivada da Revista Veja

     

    Por Cristiano Bodart

     

    A Revista Veja trouxe uma reportagem marcada por falácias que objetivam claramente atacar os programas de cotas em universidades federais para alunos de escolas públicas. Os argumentos utilizados são repletos de contradições.

    A referida revista, em seu site, trouxe a manchete “O drama de estudantes – e famílias – afetados pelas cotas”. O título traz uma verdade, o problema está na forma como buscam “pintar” essa verdade. Abaixo da manchete continuou a expor outras verdades: “Reserva de vagas a alunos da rede pública não afeta só a vida de beneficiados: altera também planos e sonhos de jovens – ricos e pobres – que disputam um lugar nas universidades federais, mas estudam em escolas privadas”.

    Tanto o título como a parte destacada pela referida revista são verdades. O problema está na qualificação dessas verdades. Que as cotas para alunos de origens de escolas públicas afetam os demais isso é óbvio; é justamente para isso que foi criado: afetar o status quo, mudar a estrutura desigual da sociedade brasileira.

    Dentre os afetados há pobres? Claro. Em uma população tão grande de jovens, há pobres que tiveram acesso a boas escolas particulares – geralmente por meio de programas sociais privados ou públicos, ou ainda por iniciativa de alguns indivíduos que se compadecem de suas condições educacionais. Mas isso ocorre em um volume significante? Não, mas é possível a referida revista encontrar pelo menos um cidadão para expor como exemplo (prática comum no jornalismo brasileiro). Não conheço políticas públicas nacionais que não tenham alguns efeitos pequenos colaterais. Faz parte, infelizmente.

    Vamos a um trecho da reportagem: “A família de Monique Silveira, de 15 anos, tem uma renda mensal de 3.000 reais. Graças a uma bolsa de estudos, a jovem cursa o 1º ano do ensino médio em uma escola privada no município de Formiga (MG), onde vive a família. Luciana, mãe de Monique, sempre viu a bolsa como uma chance de a filha escapar da má formação oferecida pelo sistema público e, assim, chegar a uma universidade federal”. Nota-se claramente que a intenção da Veja é tentar induzir o entendimento de que a referida família é podre. Ou o jornalista não sabe o que é ser pobre (prezado, com renda mensal de 3 mil reais, tal família enquadra-se na “Nova Classe Média”) ou está de má fé. Como efeito colateral da intenção da revista, fica claro, no trecho destacado, que quem estuda em escola pública dificilmente entra na universidade federal. A mãe da jovem ainda emendou: “foi a má qualidade da rede pública que me obrigou a buscar uma alternativa”. Nota-se que, para a mãe quem estuda em escola pública não possui alternativa.

    Em outro trecho da reportagem, a Veja afirma que “[…] há famílias de parcos recursos que usam tudo o que têm para manter os filhos em uma escola privada, numa tentativa de escapar do desastre do ensino público”. Se por um lado é verdade que alguns (poucos) pobres são afetados negativamente com o programa de contas, o trecho deixa evidente (a contra gosto da revista) uma verdade: os que estão na rede pública de ensino médio vivem um desastre! (Claro que há algumas poucas exceções de jovens que conseguem se livrar dele).

    Reporto para cá mais um caso contraditório da reportagem: “Investir na educação dos filhos sempre foi prioridade para a funcionária pública Vivian Seabra, de 48 anos, e ela não poupou esforços nesse projeto. Colocou os gêmeos Lucas e Felipe, ambos de 20 anos, em um conceituado colégio de São Paulo. Em valores atuais, os doze anos do ensino básico saem por cerca de 250.000 reais por aluno. Lucas, disputa pela terceira vez uma vaga no curso de medicina. Ele já chegou a ser aprovado em uma faculdade particular, mas recusou-se a ingressar na instituição porque preferiu realizar novo vestibular para a faculdade federal, sinônimo de qualidade”.

    Nota-se que: 1. Quem estuda em um conceituado colégio de São Paulo não é pobre (nem mesmo da “Nova Classe Média”); 2. Quem pode pagar, em 12 anos, 250 mil reais em estudo não tem os mesmos problemas com educação básica precária; 3. Quem me dera se a população pobre de nosso país pudesse ter o capricho de escolher a partir do critério “qualidade”.

    O Lucas, aluno de colégio conceituado, com investimento de 250 mil reais em sua formação básica, ainda completou: “Empenhei anos da minha formação estudando duro. A lei desequilibra a competição”.

    Fica claro que embora a revista apresente uma verdade, nota-se a pretensão de adjetivar essa verdade como depreciativa, o que não procede. Ao Lucas deixo uma pergunta: antes da lei havia equilíbrio na competição? Já à Veja, apenas… (re)Veja. A final, o que mais esperar da Veja?

  • Democracia, corrupção e omissão: texto e atividades

    Democracia, corrupção e omissão: texto e atividades

    A corrupção é um problema que afeta muitos países, incluindo aqueles com governos democráticos. A corrupção na democracia se refere à ilegalidade ou má conduta por parte de funcionários públicos ou políticos que abusam de suas posições de poder para beneficiar a si mesmos ou a outros, geralmente em troca de dinheiro ou outros benefícios.

    Corrupção na democracia

    A dica de leitura e reflexão (ou ainda, dica de uma aula) é ler o fragmento do texto sobre Corrupção na democracia, de Marcia Tiburi, e a partir dele refletir algumas questões importantes.

    Segue fragmento do texto e sugestões de questões para reflexão:

    Por que somos corruptos?

    A máxima “o poder corrompe” é a bandeira que cobre o caixão no qual velamos a política. Ela é primeiro desfraldada por aqueles que pretendem evitar a partilha do poder que constitui a democracia. Ela é aceita por todos aqueles que se deixam levar pela noção de que o poder não presta e, deste modo, doam o poder a outros como se dele não fizessem parte. Esquecem-se que a falta de poder também corrompe, mas esquecem sobretudo de refletir sobre o que é o poder, ou seja, ação conjunta.
    Democracia é partilha do poder. É o campo da vida comum, a vida onde todos estamos juntos como numa mesma embarcação em mar aberto. Partilhamos o poder querendo ou não, mas podemos fazê-lo de modo submisso ou democrático, omisso ou presente. Estamos dentro da democracia e precisamos seguir suas conseqüências. Democracia é também responsabilização pelo contexto em que vivemos: pelo resultado das eleições, pela miséria, pelo cenário inteiro que produzimos por ação ou omissão. Mas não nos detivemos em escala social para entender o que a democracia é e, por isso, falta-nos a reflexão que é capaz de orientar o seu sentido, bem como o sentido do poder e da política.
    […] É nosso dever hoje reavaliar a experiência brasileira diante da política. A compreensão da política como campo da profissão, por definição, corrupta, é ela mesma corrompida e corrupta. Ela destrói a política, cujo significado, precisamos hoje, refazer. Esta é a ação política mais urgente. Acostumamo-nos ao pré-conceito de que política é apenas governabilidade e deixamos de lado a ideia fundamental de que a política é projeto de sociedade da qual participam todos os cidadãos. Reclusos em nossas casas, acreditamos que a esfera da vida privada está imune ao político. Esquecemos que o pessoal é também político, não como espetáculo, mas como lugar de relação e modelo da esfera macroscópica da sociedade. […] Na omissão praticamos a anti-política. Toda anti-política que seja omissão e não crítica é corrupção da política por ser corrupção da ação. A mais urgente das ações políticas na atualidade, além da punição dos que transformaram nossa governabilidade em prostituição da ação, é refazermo-nos como políticos no verdadeiro sentido.
    Este artigo é fragmento do artigo que foi publicado em Zero Hora de 30 de abril de 2006, na Coluna Tema para Debate.

    Questões para reflexão:

    1.   1.  Quais as consequências do desinteresse da sociedade pela política?
    2.  É possível não nos envolvermos com a política?

    3. Corrupção existente hoje na política brasileira é culpa apenas dos políticos profissionais?

     

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  • 7 de setembro: Hoje é feriado. E daí?

    7 de setembro: Hoje é feriado. E daí?

    Por Cristiano Bodart

    Hoje é feriado… e daí?

    Unknown

    Quantos brasileiros sabem o porquê
    hoje é feriado? Maior parte dos brasileiros não possui condições para refletir sobre
    isso. Os motivos são variados. Dentre eles destaco a desinformação, falta de acesso à cultura e o cansaço
    físico. Isso mesmo, cansaço físico! Além de termos uma educação de baixa
    qualidade, de vivemos em uma sociedade que pouco valoriza o conhecimento, estamos imerso em uma sociedade voltada para o
    consumo (esse sendo o novo deus, tendo o shopping Center como o principal local
    de culto) e, consequentemente, voltada para o trabalho.

    O feriado surge no imaginário
    popular apenas como um dia de descanso. Seu sentido se perde em meio a
    ignorância e ao desejo de um dia de alforria, longe dos olhos de seu senhor.

    Ao me referir à “ignorância”
    não estou pensando apenas no fato de não saberem que trata-se do dia da “Proclamação da República”. Me refiro ao motivo de termos tal dia. Me refiro à
    falta de percepção
    de que é, em grande medida, uma data marcada por uma “ideologia positivista” e elitista e que, em
    parte, irreal. Ignorância por não saber que tal data é reflexo da alternância do
    poder, esse longe (e coloque longe nisso) das mãos do povo brasileiro. A ideia de Republica (res pública, em latim), designando a forma de Governo eleito pelo povo ainda me parece uma quimera. Vejo que nossos governantes são escolhidos pelas grandes corporações que adotam seus representantes em época de campanha e eles, os “nossos” governantes, governam não “a coisa pública”, mas aquilo que já foi privatizado por meio dos financiamentos milionários de campanha eleitoral. A ideia de que tais representantes do povo possuem tempo limitado no poder parece igualmente ilusório quando tiramos o foco sobre o indivíduo e olhamos para os grupos… esses nos “representando” de longa data… bem mais que quatro anos.Ainda
    creio que teremos um marco histórico que, de fato, represente nossa independência.
    Por ora, vamos chorar…
    Para refletir um pouco sobre essa
    questão, convido-o a ler e ouvir a música “É pra rir ou pra chorar?”, de
    Gabriel, o Pensador. Segue:

     

    O Brasil proclamou sua independência, mas o
    filho do rei é que assumiu a gerência.
    O povo sem estudo não dá muito palpite, e a nossa
    república é só pra elite.
    (E quem faz greve o patrão ainda demite).
    É pra rir ou pra chorar?
    O Brasil aboliu a escravidão, mas o negro da senzala
    foi direto pra favela.
    Virou um homem livre e foi pra prisão.
    Só que a tal da liberdade não entrou lá na cela.
    (E a discriminação ainda é verde e amarela).
    É pra rir ou pra chorar?
    O Brasil foi parar na mão dos militares, que calaram o
    povo no tempo da ditadura.
    Torturaram e prenderam e mataram milhares, mas ninguém
    foi condenado pelos crimes de tortura.
    (E tem até torturador lançando candidatura).
    É pra ri ou pra chorar?
    O Brasil conseguiu as eleições diretas, mas a gente
    que vota ainda é semi-analfabeta.
    O Collor foi eleito e roubou até cansar.
    O povo deu um jeito de cassar o marajá.
    Mas ele não foi preso e falou que vai voltar!
    É pra rir ou pra chorar?
    O Brasil tem mais terra do que a china tem chinês, mas
    a terra tá na mão dos grandes latifundiários.
    A reforma agrária, ninguém ainda fez.
    Ainda bem que os sem-terra não são otários.
    (E tudo que eles querem é direito a ter trabalho).
    É pra rir ou pra chorar?
    O Brasil tem miséria mas tem muito dinheiro, na mão de
    meia dúzia, no banco suíço.
    O rico sobe na vida feito estrangeiro, e o pobre só
    sobe no elevador de serviço.
    (E você aí fingindo que não tem nada com isso?)
    É pra rir ou pra chorar?
    O Brasil tem um povo gigante por natureza que ainda
    não percebe o tamanho dessa grandeza.
    Sempre solidário no azar ou na sorte, um povo
    generoso, criativo e risonho.
    Poderoso, e tem um coração batendo forte que põe fé no
    futuro do mesmo jeito que eu ponho.
    E vai ter que ser independência ou morte. Um por
    todos, e todos por um sonho.
    É pra rir ou pra chorar?
    É pra ir ou pra voltar?
    Pra seguir ou pra parar?
    Pra cair ou levantar?
    É pra rir ou pra chorar?
    Pra sair ou pra ficar?
    Pra ouvi ou pra falar?
    Pra dormir ou pra sonhar?
    É pra ver ou pra mostrar?
    Aplaudir ou protestar?
    Construir ou derrubar?
    Repetir ou transformar?
    É pra rir ou pra chorar?
    Pra se unir ou separar?
    Agredir ou agradar?
    Pra torcer ou pra jogar?
    Pra fazer ou pra comprar?
    Pra vender ou pra alugar?
    Pra jogar pra perder ou pra ganhar?
    Dividir ou endividar?
    Dividir ou individualizar?
    É pra rir ou pra chorar?!
  • O homem nasce bom e a sociedade o corrompe ou o contrário?

    O homem nasce bom e a sociedade o corrompe ou o contrário?

    O homem nasce bom e a sociedade o corrompe ou o contrário?

    Por Cristiano das Neves Bodart

    Versão em PDF AQUI

    O debate

    Thomas HobbesUma discussão bem antiga, mas que sempre “vem à tona” é aquela que discute se “o homem nasce bom e a sociedade que o corrompe” ou se “o homem nasce mau e a sociedade que o torna bom”.

    Dentre os estudiosos que levantaram tal questão estão Rousseau e Hobbes; ambos defendo uma perspectiva distinta. Grosso modo, Rousseau defendia que o homem nasce bom, mas em contato com a sociedade que é má, tornam-se igualmente maus. Essa perspectiva dialoga bem com a visão cristã, onde as crianças seriam tidas como puras e tornam-se pecadoras à medida que começam a perceber os males do mundo, os quais as envolvem. Por outro lado, Hobbes defendeu que o homem nasce mau, com instintos de sobrevivência, e que devido a tais instintos é capaz de fazer qualquer coisa. Para Hobbes, a sociedade tem o papel de educá-lo, de humanizá-lo, de torná-lo sociável.

    O homem nasce bom? O que está certo?

    A essa altura você, leitor, já deve ter pensado em concordar com uma das duas perspectivas, assim como deve estar esperando um posicionamento do autor desse texto em relação a um dos dois lados, o que não vai acontecer; isso por eu ter uma terceira perspectiva a respeito dessa problemática, a qual quero compartilhar com você. Antes um trecho de uma música que já diz muita coisa:

    Quem foi que disse que amar é sofrer?
Quem foi que disse que Deus é brasileiro,
Que existe ordem e progresso,
Enquanto a zona corre solta no congresso?
Quem foi que disse que a justiça tarda mas não falha?
Que se eu não for um bom menino, Deus vai castigar! (Zé Ninguém, de BIQUINI CAVADÃO).

    O homem não nasce nem bom, nem mau. Nascemos em uma sociedade marcada por regras historicamente construídas, inclusive definidora do que é bom ou ruim. Quando nascemos somos moldados de acordo com tais regras. A metáfora da “folha em branco” nos ajudará a pensar essa perspectiva. Segue:

    O homem nasce bom? A folha em branco?!

    HobbesNascemos como “uma folha em branco”. Não temos história, apenas nossos instintos. Ao longo da vida vamos passando por experiências sociais, como se fossemos amassados. Isso seria as nossas experiências sociais. Por mais que buscamos desamassar uma folha, permanecerá nela marcas, umas mais profundas, outras menos.

    Assim são nossas experiências sociais; a “vida” nos marca e são essas marcas que ficam registradas em nosso consciente e subconsciente, as quais nos propiciam predisposições para nossas ações. O fato é que, a folha inicialmente é lisa e só depois de amassada possuirá marcas, sejam elas feias ou bonitas; isso quem vai julgar é o “medidor” social que varia de sociedade para sociedade, assim como de tempo em tempo. Desta forma, acredito que a classificação bom ou mau não está ligado ao homem, mas a ideia de mau e bom que cada sociedade possui.

    E você, o que pensa a esse respeito? O homem nasce bom?

     

    Outro elemento importante para pensarmos essa questão é o papel da cultura na formação do indivíduo. A cultura, como sistema simbólico que organiza valores, normas, crenças e práticas, é fundamental para a construção daquilo que consideramos certo ou errado, justo ou injusto, moral ou imoral. Assim, o julgamento do que é “bom” ou “mau” não pode ser analisado fora do contexto cultural em que o sujeito está inserido. O que é considerado uma virtude em determinada sociedade pode ser visto como um desvio em outra. A ideia de “bom” e “mau”, portanto, está menos na essência do ser humano e mais na forma como ele é inserido e interage com o mundo social.

    Nesse sentido, é possível recorrer à contribuição de Émile Durkheim, para quem os fatos sociais são exteriores ao indivíduo e exercem sobre ele um poder coercitivo. Isso significa que, antes mesmo de nascermos, já existem normas, regras e valores que irão orientar nossas ações. Quando uma criança nasce, ela já encontra um mundo pronto, que espera dela determinadas condutas. Essa socialização, como destaca Durkheim, é o que molda o indivíduo. E, assim, o “bom” ou o “mau” que se imprime nessa pessoa é, na verdade, o reflexo de sua adequação (ou não) às normas estabelecidas socialmente.

    Pierre Bourdieu também contribui para essa reflexão ao introduzir a noção de habitus: um sistema de disposições duráveis e transponíveis que orientam as práticas sociais. O habitus é formado na interação entre o indivíduo e o mundo social, em especial nas primeiras experiências com a família, a escola e os grupos de convívio. Ou seja, não somos apenas moldados passivamente pela sociedade, mas internalizamos suas estruturas, que passam a orientar nossas escolhas, gostos, atitudes e até mesmo o que consideramos bom ou ruim. Portanto, não se trata de nascer com uma essência má ou boa, mas de como somos formados dentro das estruturas simbólicas que compõem nossa realidade social.

    Outro autor relevante é Norbert Elias, ao mostrar como os processos de civilização foram moldando o comportamento dos indivíduos ao longo do tempo. A sociedade passou a exigir o autocontrole dos impulsos e a regulação das emoções. Isso nos ajuda a entender que o “homem mau” de Hobbes talvez fosse uma representação de um indivíduo ainda não disciplinado pelos mecanismos sociais que, com o tempo, foram sendo naturalizados. O que Hobbes via como selvageria talvez fosse apenas a ausência de um processo civilizatório mais refinado, como apontado por Elias.

    Portanto, quando dizemos que alguém é “bom” ou “mau” ou “O homem nasce bom”, estamos, na verdade, fazendo um julgamento a partir de padrões culturais que nos foram ensinados. Isso nos leva à reflexão de que tais conceitos são historicamente determinados, e que o ser humano, mais do que uma essência, é um processo contínuo de construção social. Somos, como dizia Paulo Freire, seres de relações e de transformações. Não nascemos prontos; tornamo-nos. E nos tornamos a partir das experiências, dos aprendizados, dos afetos e das contradições do mundo em que vivemos.

    Forma de citar este material:

    BODART, Cristiano das Neves. O homem nasce bom e a sociedade o corrompe ou o contrário?. Blog Café com Sociologia, Maceió/AL, p.1-6, ago. 2020. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/o-homem-nasce-bom-e-sociedade-o/>.

  • Com tantas atrocidades acontecendo no mundo, será que estamos mesmo evoluindo?*

    Com tantas atrocidades acontecendo no mundo, será que estamos mesmo evoluindo?*

    A humanidade está em evolução?

    Por Maria Helena Barbosa**
    * Texto originalmente publicado pelo nosso parceiro “Causas Perdidas” 
     
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    Vários acontecimentos marcaram profundamente o ano de 2013 e ainda faltam dois meses para o ano acabar. O ano começou com fatos como a renúncia do Papa Bento XVI e a eleição de um Papa argentino, algo não muito importante para alguns, mas fundamental para grande parte da cristandade. Além disso, acompanhamos o trágico incêndio da boate Kiss em Santa Maria que ceifou a vida de tantos jovens, a maioria com um futuro brilhante pela frente, quase todos com famílias atenciosas e presentes que os mantinham numa vida tranquila e sem grandes choques. Quando falo em choques, refiro-me aos milhões de brasileiros que enfrentam diariamente um único problema: sobreviver, manter-se a salvo, quer seja da violência urbana ou familiar, quer seja apenas conseguir um teto ou uma alimentação decente para o dia. Nada trará de volta a vida dos mortos de Santa Maria, mas muito pode ser feito pelos que estão suplicando silenciosamente por uma chance, por um mundo melhor. Presenciamos também casos como o ataque químico à Síria ou o caso do menino de 13 anos que (não) matou os pais. São tantas tragédias, algumas anunciadas, que chega a ser complicado selecionar qual chama mais a atenção.
    É impressionante como a mídia brasileira que tanto fala na Copa do Mundo ou nas Olimpíadas não se dedique com tanto afinco a mostrar os milhares de problemas que o Brasil enfrenta na realidade do seu cotidiano. Provavelmente isso não daria ibope. Porém, o autoexame de consciência repentina do Jornal O Globo sobre o apoio à ditadura militar não pode passar despercebido… qual seria a jogada dele, afinal? O caso da família de policiais que “apareceu” morta deu Ibope e virou notícia nacional e internacional. Não podemos esquecer também da notícia da vinda dos médicos cubanos (na verdade os médicos não são apenas cubanos, são de outras nacionalidades – todos foram rotulados de cubanos)… Importante ressaltar o fato de que para quem não tem nenhum atendimento especializado, o médico pode ser coreano, australiano, cubano, desde que atenda e não diga que um joelho quebrado é uma virose, tá valendo. Não podemos esquecer que em nossos hospitais públicos as filas de espera são imensas, da mesma forma que a espera por um exame é tão grande que provavelmente quando a pessoa o fizer, ou já terá sarado ou terá morrido, das duas uma.
    Tenho visto inúmeras críticas nas redes sociais principalmente a respeito de programas como Big Brotherou A Fazenda com a justificativa que o tal programa incita o sexo e desrespeita a moral. Mas o que dizer de um país que é conhecido mundialmente pelo carnaval (leia-se: mulher de bumbum de fora e lavagem de dinheiro no jogo do bicho), pelo futebol (leia-se: jogadores com salários astronômicos) e o pior de tudo, pelos casos de corrupção que não dão em nada. Brasil, o país do jeitinho, onde tudo se arranja, onde a tudo se dá “um jeitinho”. O país da pizza.
    O problema não está neste ou naquele programa de televisão, está na aceitação do povo, que não vê problemas em tudo isso ou, se vê, finge que não entendeu, como se todos no país soubessem sambar, ignoram o fato de que um operário trabalha o mês todo por um salário medíocre enquanto alguns jogadores de futebol anunciam que sua lancha custou alguns milhões, ou que um deputado embriagado matou com seu caríssimo carro na madrugada curitibana jovens não tão ricos quanto. Um país onde o Ministério da Cultura investe milhões de reais em shows da Claudia Leite enquanto escolas e hospitais estão sendo sucateadas.
    Este semestre, uma professora de língua portuguesa foi assassinada a facadas aos 27 anos por um aluno de 33 anos do curso de EJA na qual ela lecionava em SP. Um aluno de 14 anos foi morto por um celular no interior do PR e outro aluno matou a tiros um colega do ensino médio dentro do pátio da escola. Provavelmente se dará um jeitinho para resolver o “problema” das vidas que se perderam no incêndio com alguma indenização às famílias ou um ou dois indivíduos culpados sejam presos, mas os descasos, o descuido com a população vai continuar acontecendo e o povo vai continuar dando um “jeitinho”. Afinal, somos o país do carnaval do futebol e do jeitinho.
    Estamos evoluindo?
    O ser humano inventou a roda e depois disso tudo ficou mais fácil; criou formas de voar e conseguiu chegar à lua. Também conseguiu aperfeiçoar formas de matar, com bombas químicas e nucleares que matam milhares de pessoas de uma vez… Há evolução quando a vida de um ser humano vale menos que um alvará? Ou quando um ciclista é atropelado e o motorista joga seu braço que foi arrancado pela janela do carro? Quando um astro do futebol confessa que mandou matar a amante e dar de comer aos cães? Quando, em um ato de retaliação, bombas químicas são jogadas sobre civis e milhares de pessoas morrem asfixiadas, entre elas, mulheres, crianças e idosos? Pergunto mais uma vez: estamos mesmo evoluindo?

    ***Maria Helena Barbosa formada em História pela Unioeste e especialista em EJA/PROEJA pela UTFPR, leciono História, Sociologia e Ensino Religioso na rede pública do PR e na rede privada. Adoro ler, sou fã de Guerra dos Tronos, vício que herdei do filho. Gosto mais de ler do que gosto de chocolate.Ando perdendo a fé na humanidade.

  • Poder ter poder… poderia ou podaria? Reflexões em torno dos conceitos de poder

    Poder ter poder… poderia ou podaria? Reflexões em torno dos conceitos de poder

     

    Por Cristiano Bodart
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    Quando mais novo eu queria possuir o poder… eu queria ter poder! Se poder eu tivesse, eu poderia… se eu o possuísse eu iria poder… ter coisas que me dariam poder, para assim poder possuir mais poder… ingênuo parece que eu era!
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    Acreditava que o poder estava apenas na riqueza econômica; na posse dos bens de produção. Aprendi isso “lendo” Karl Max, sobretudo seus [péssimos] comentaristas. Com Max Weber, comecei a entender que existiam outras fontes de poder, tal como o carisma e a tradição.
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    Depois, tentando entender Pierre Bourdieu, comecei a perceber que o poder também está nos símbolos e que esses são socialmente estruturados, assim como são estruturantes. Percebi que eu, macho, detinha poder sobre a fêmea… foi aí que comecei a não desejar o poder. Percebi que eu, um aspirante de intelectual, tinha poder sobre meus amigos “não estudados”, sobre meu pai quase iletrado… não quero mais o poder…
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    Pensei em deixar todos os simbolismos que me proporcionavam tal “heresia intelectual”… depois, encontrei Foucault. A partir desse momento parece que percebi que minha perspectiva estava “desfocada”… faltava uma pitada de Foucault/foco.
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    Parece que percebi que o poder estaria impregnado em toda parte… em todo o canto. Comecei a perceber que sendo eu um ser cultural em toda a minha vida, para além dos instintos, sou vitimado pela microfísica do poder… parece que voltei à estaca inicial… Tenho o poder que outrora desejava? Nem sei mais se quero poder. Não tenho pod

    er sobre mim mesmo… sou vítima direta e constante dele: do poder. Ah! Queria poder desmontar, desfigurar, destruir, destituir o poder. Poderia? A tal microfísica do poder permitiria? Acho que seria podado.

    Tipos de poder

  • A sedução e o corpo da mulher através dos séculos*

    A sedução e o corpo da mulher através dos séculos*

    A representação do corpo da mulher como objeto de analise sociológica

    Por Gabriel Barbosa Rossi**
    * Texto originalmente publicado pelo nosso parceiro “Causas Perdidas”
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    Temos uma visão bem clara do corpo feminino como uma das maiores maravilhas da natureza. Tudo que parte de uma mulher é belo. A vemos como mãe, companheira, amiga. Sabemos que a beleza da vida começa ali, naquele corpo que é capaz de, por nove meses, carregar outra vida e trazê-la ao mundo.
    Além de tudo isso, também temos padrões de beleza, impostos pela mídia, propagados de boca a boca e ideia a ideia. Mulheres são discriminadas por estarem a cima do peso ideal. Ideal pra quem? Por ter um cabelo de tal tipo que não considerado bonito. Bonito pra quem? Vê-se, assim, como a sociedade tenta impor ao indivíduo, algo que foi construído coletivamente por um padrão individual. Apesar de tantas advertências, preconceitos e julgamentos, a mulher sempre se fez bela, nasceu bela, e ninguém pode tirar isso dela.
    O que entendemos hoje por sedução e o que podemos chamar de libertinagem?
    Voltando séculos atrás. Quando a igreja/religião cobriu o corpo da mulher, o pudor se acentuou; deixando então a mulher longe do próprio corpo, ela própria começa a se rejeitar e a se ver como objeto de pecado puro. Nesse ponto, o sexo é demonizado, a vagina só tem uma finalidade: reprodução. O verdadeiro tesouro da natureza e o símbolo da maternidade (seios, só depois), não pode ser relativo a prazer. A mulher foi criada para gerar outra vida, ela não pode usar dessa experiência para satisfação própria. Prazer é pecado e pecado é igual a inferno.
    O útero tinha como principal característica pelos ditos “médicos” da época, ser algo amável e que conseguia atrair para si o prazer masculino, aproximando-se do pênis por um movimento precipitado, extraindo então sua semente para que a procriação fosse concebida. Com essa metáfora, uma bela e romântica visão da penetração, até faz parecer que essa ideia de sexo apenas para procriar, seja absolutamente linda.
    Entretanto, nem todas as ideias era semelhantes essa, existiam comparações entre mulheres e animais, no caso fêmeas, óbvio – comparações que diziam que as fêmeas dos animais fugiam após o coito, já as mulheres não, pois elas aderiam a pratica para o deleite próprio, e não em beneficio da natureza e da propagação da espécie. Assim, a igreja identifica as mulheres como o mal sobre a terra, desde Eva.
    O corpo feminino era considerado impuro. Veja: fluxo menstrual, placenta, líquido amniótico, secreções e dores do parto, pêlos púbicos. O que era mais ridículo, mas se formos considerar o pensamento da época, não dá pra falar muita coisa.
    A depilação na época considerada algo apenas para pessoas consideradas descentes, assim. Ter pêlos púbicos era considerado erótico, era pecado. Depilar-se tirava todo o erotismo das partes íntimas, na época pentear e cachear (por incrível que pareça) os pêlos púbicos era algo apenas para prostitutas, afinal elas precisavam enfeitar o que era considerado mercadoria. Ou seja, para sedução, nada de depilação.
    A mulher também foi considerada um grande mal apenas por sorrir, não há nada mais belo que um sorriso feminino. O homem sempre buscou descobrir qual era a causa de seu sofrimento, desde Eva, ele acredita que a culpa é da mulher, e agora, como não desconfiar de algo, ou ser, cujo maior perigo, consistia num belo sorriso?
    Em 1559 temos uma descoberta fascinante feita por Renaldus Colombo: O clitóris. Segundo Colombo, ele havia descoberto a fonte do prazer feminino, porém, sempre porém, o clitóris na época, não foi considerado isso não. O clitóris foi considerado um “mini pênis”, o que só indicou para os fantasiosos e cientistas do período que a mulher e o homem tinham também os mesmo genitais – “comprovando”, por algum tempo, os estudos do século II de Galeano, que indicavam que a mulher não passava, no fundo, no fundo, de um homem com problema na formação dos órgãos genitais.
    Assim, a vagina era um pênis ao avesso, o útero uma bolsa escrotal, ovários eram testículos. Ou seja, homossexualidade não existe, afinal somos todos apenas um sexo. Claro, segundo a lógica de Galeano.
    A mulher de antigamente se cobria ao máximo. Isso tornava qualquer parte do corpo exposta um belo ponto erótico, até mesmo um tornozelo. A mulher se faz bela, se ninguém permite isso, a sociedade, mesmo não querendo, permitirá, como no caso do tornozelo. Os olhares mudam, a sedução aparece em vários lugares mínimos.
    Quando aparecem as maquiagens, embelezamentos do rosto com pós e tintas brancas e vermelhas, com os cuidados da beleza do rosto, começa a história da higiene e por fim as roupas dentro do conceito da moda e do erotismo. Por que insistem em cobrir o que de fato é o maior objeto de desejo masculino? Por sedução. O pudor só aumentava a sedução; o pudor é a sedução.
    Referência: Mary Del Priore
    **Gabriel Barbosa Rossi é Idealizador e Administrador do Causas Perdidas. Cursa História pela UNIOESTE; Colaborador no Literatortura, Enciclopédia ambulante das crônicas de gelo e fogo. Afirma que não sabe todas as datas, também que historiador não é calendário. Na verdade nem se importa muito com isso. https://www.facebook.com/barbosarossi