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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • Historiador? Só com diploma – Resposta a Fernando Rodrigues

    Historiador? Só com diploma – Resposta a Fernando Rodrigues

    Me deparei com um texto de opinião do jornalista Fernando Rodrigues que é de chamar atenção. Não por sua qualidade, mas pela aparente incapacidade analítica do autor. O texto, cujo título é Historiador? Só com diploma”, tem duas dimensões: noticiar um projeto de lei aprovado no Senado e tecer uma crítica a esta aprovação.

    A referida Lei trata-se da regulamentação da profissão do historiador. O jornalista em questão escreveu em tom de alarde: “a nova lei impedirá que pessoas sem diploma de história possam dar aulas dessa disciplina”. Num primeiro momento poderia pensar: é lamentável ver que indivíduos bem formados, como o jornalista, não tenham consciência da necessidade de preparo intelectual para a prática do ensino. Porém, continuando a leitura do texto as questões que envolvem a opinião do jornalista tornam-se mais claras. O senhor Rodrigues nos dá uma pista quando assim afirma: “Ignora que médicos, sociólogos, economistas, engenheiros, juristas, jornalistas ou cidadãos sem diploma possam acumular conhecimentos históricos sobre suas áreas de atuação. Terão todos de guardar para si o que aprenderem”. Sr. Rodrigues, o projeto de Lei de modo algum ignora a capacidade dos indivíduos aprenderem conteúdos históricos, na verdade, isso nem está em jogo. Igualmente o projeto de Lei não impede que o conhecedor de conteúdos históricos os transmita. O senhor está ignorando os demais espaços de troca e transmissão de conhecimento.Historiador? Só com diploma

    Há sim dois problemas na referida lei. Uma que o senhor parece não ter tido condições de perceber, certamente por não lhe interessar, e outra que afeta aos que não são formados em História, esta amplamente denunciada pelo senhor, talvez por tirar o “bico” de alguns de seus colegas jornalistas, não sei se é seu caso. “Bico”, por não terem como profissão principal. Também com o salário que tem os professores hoje, não é? (ops: esse sim seria um bom tema para seu próximo texto!? Fica a sugestão).

    Senhor jornalista, o senhor repetiu uma frase (chiste, na sua opinião) de José Sarney, o qual teria dito: “Você quer me impedir de escrever sobre a história do Maranhão”. Onde na Lei está o impedimento de qualquer cidadão escrever seja o que for?

    O senhor ignora que para dar aula de História não basta apenas saber História. É necessário ter habilidades/conhecimentos pedagógicos e didáticos.

    O senhor realmente acredita que é benéfico para a educação que pessoas inabilitadas deem aula? Pessoas que têm o ensino como um “bico” extra-turno? Ser professor é muito mais que saber a história do Maranhão ou de qualquer outro lugar. É muito mais do que escrever um livro. É nessa direção que está o erro, ao meu ver, da Lei. Achar que bacharel e licenciado é a mesma coisa. Aquele dotado de conhecimento da História, treinado e habilitado a atuar como Historiador, como técnico, este como professor/educador. Nesse sentido os senadores caminharam para o mesmo erro de percepção que o senhor: achar que saber é sinônimo de habilidade pedagógica.

    Caso tenha que republicar seu texto em outro espaço, tenho uma sugestão de título para iniciar sua reflexão: Acabaram os “bicos” na educação. “Professor” tem agora que ser professor!

    Historiador? Só com diploma!

    Por Cristiano Bodart Nota: esse texto foi encaminhado ao referido jornalista via e-mail

     

  • Violência Urbana

    Violência Urbana

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    Por Cristiano Bodart

    Uma aluna me fez uma pergunta que acredito não ter uma resposta conclusiva: “Por que de tanta violência urbana no país?”

    Como o tempo para respondê-la era muito curto, pedi que visitasse posteriormente meu blog para ler, não uma resposta, mas alguns apontamentos necessários para a compreensão do problema. Outro motivo de aqui postar tais apontamentos está no fato de possibilitar um debate aberto com os leitores, especialmente com aqueles que constantemente têm deixado registrado suas perspectivas sobre as questões colocadas por mim. Vamos aos apontamentos:
    Primeiramente julgo necessário delimitar o fenômeno em pauta. Violência urbana é o conceito do fenômeno social de comportamento deliberadamente agressivo e transgressor exercido por indivíduos ou coletividades nos limites do espaço urbano, sendo ela determinada localmente por valores sociais, culturais, econômicos, políticos e morais de uma sociedade, podendo variar no tempo e no espaço.
    Existem diversos fatores para a existência de tanta violência urbana. Podemos começar citando a
    influência da globalização que disseminou pelo mundo comportamentos violento, como aqueles originários nos Estados Unidos e na Europa (gangues de rua, a pichação de prédios). O mal funcionamento dos mecanismos de controle jurídicos colaboram para a disseminação da violência de todas as espécies. A falha no exercício da coerção é um dos fatores mais apontados como causadores de condições para o exercício da violência.
    Ao contrário do que comumente ouvimos em conversas informais, a violência não tem sua causa na pobreza. Se fosse correto essa afirmação, o continente africano seria o mais violento, assim como seria aqui as Regiões Nordestes e Norte, perspectivamente as mais violentas. O que constatamos é que a violência tem estado relacionada à desigualdade social (veja os níveis de violência na América Latina, assim como na Região Sudeste). A imposição do modelo de consumo capitalista não tem sido condizente com as condições para obtê-lo. Muitos por não conseguirem “ser alguém” (ler-se consumidor em potencial) por meios legais, acabam buscando outras vias (é claro que não é apenas um fator isolado o motivador de tais práticas ilegais).
    O Brasil possui características propiciadoras de violência urbana, como a existência de instituições frágeis (entre elas a família), profundas desigualdades sociais e uma tradição cultural violenta (embora camuflada pelo “tipo cordial”). Outra questão importante é a aceitação de condutas ilegais, que dependendo da gravidade é classificada pelos próprios indivíduos como “jeitinho brasileiro”. O brasileiro aceita facilmente o rompimento com as normas jurídicas, seja por parte do Estado (por exemplo, o uso de tortura ao pobre como meio de punição de criminosos ou de investigação), como por parte da sociedade civil (ocupação de espaços públicos por camelôs; infrações de trânsito; desrespeito ao consumidor; empregador que não paga os direitos dos empregados, etc.).
    Somado a tais fatores soma-se a exclusão política e o baixo desempenho do sistema educacional de nosso país. Em fim, realizo esses breves apontamentos para reflexão. Não creio que seja uma resposta (o que não é o objetivo), mas um caminho para a reflexão do fenômeno.
  • 10% do PIB PARA EDUCAÇÃO

    10% do PIB PARA EDUCAÇÃO

     

     
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    Valdemir Pires.

     

    Perdoem-me os que estão comemorando, mas, neste 1/4 de século em que atuo como professor, não vejo mais do que demagogia e falta de conhecimento da situação educacional na proposta de “irrigar” o setor educacional com mais dinheiro público.

     

    Não há recurso financeiro que possa modificar o quase-menosprezo mútuo que foi se acumulando nas relações professores-alunos, tornando-os quase-inimigos hoje em dia.

    Não há grana que possa tapar o buraco profundo cavado pela subordinação da escola quase que exclusivamente à busca de emprego (da parte dos alunos) e de avanços tecnológicos altamente lucrativos (da parte dos atores que, indevidamente, assumiram, por meio de “laranjas” ilustrados, o controle de parte significativa das verbas disponíveis).

    Não há moeda que possa promover o resgate de instituições e práticas pedagógicas cujas características defasadas em relação à cultura, à economia e à sociedade aceleradamente mutantes são nostalgicamente defendidas pelos indivíduos, acriticamente, sem perceber as contradições estruturais e conjunturais envolvidas.

    Dinheiro pode melhorar infraestrutura? Sim. Pode levar à remuneração mais digna dos professores? Sim. Pode viabilizar à melhora da capacitação dos agentes e gestores educacionais? Sim. Mas isto, só, não basta, embora ajude. Qual o papel que a educação formal ainda joga na sociedade atual? Para cumprir este papel, que projetos educacionais (nacionais, estaduais, municipais e em cada unidade educacional) são necessários? Qual deve ser o perfil dos professores? E dos alunos? O que é necessário fazer, e onde, para que alunos e professores adquiram o perfil próximo do ideal para, ao se relacionarem, produzirem as transformações esperadas das trajetórias formativas? Até que ponto a Educação pode auxiliar a sociedade a suprir suas necessidades de capacitação para os fazeres e de difusão de valores para a convivência?

    Educação rima com chavão, mas só rima, não combina. É preciso debater seriamente e com compromisso. Mas parece que já não sabemos discutir e esquecemos o que é compromisso.

    Desculpem-me pela acidez, inevitável diante de tanto alarde otimista, quando, quotidianamente o que se vê são retrocessos inimagináveis há uma década.

  • O Antônio Conselheiro do Parque Universitário

    O Antônio Conselheiro do Parque Universitário

    Por Roniel Sampaio Silva
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    Em Teresina o assunto da ordem do dia é a profecia do morador do Parque Universitário que se diz mensageiro de Deus. A imprensa local e os citadinos têm procurado ultimamente oxigenar as conversas se referindo ao caso, no mínimo, curioso. É comum a crítica ao sujeito, responsabilizando-o individualmente pelo episódio.

    O discurso generalizado é voltado a adjetivá-lo de fanático religioso, maluco ou desocupado. Uma indagação parece ser necessária para a compreensão da situação: Por que o “profeta” tem tamanha adesão? Por que justamente o palco do é o bairro Parque Universitário? Tal fato não deve ser visto compreendido tendo como foco apenas as “profetadas”.
    A situação pode ser o ápice dos resultados regrados pelo abandonado do local pelas autoridades, as quais têm se organizado de forma velada em torno de um paupericídio. Isso mesmo, um massacre de pessoas sem oportunidade, sem renda e sem escolaridade, as quais se
    viram obrigadas a invadir terras da União para que pudessem ter onde morar.
    É possível fazer uma releitura desse fato destacando semelhanças com o caso Canudos. O Senhor Luís Pereira, profeta do Parque Universitário representa uma situação sintomática no bairro. Faltam ali políticas públicas: falta iluminação pública; falta água quase todos os dias em horário programado. Será que seria para que os moradores das áreas nobres adjacentes possam encher suas piscinas? Talvez seja.
    O local abriga um nicho de consumo de drogas e de violência. Boa parte dos jovens não tem oportunidade de trabalho e acabam entrando no mundo das drogas. E sabem o porquê isso não vai ser feito? A suspeita é que seja propositalmente para que tais jovens ingressem na criminalidade e acabem matando uns aos outros. Assim suas mães, desesperadas, teriam que vender suas casas para especuladores de plantão.
    O bairro existe desde 2004 e nunca houve regularização efetiva. Apenas promessas de campanhas. A gestão pública municipal, seja a anterior ou a atual, ainda não chegou a um acordo efetivo com União a fim de garantir o direito de propriedade das milhares de família que moram no local. O que houve foram meras ações eleitoreiras a fim de garantir votos. Várias autoridades procuram o bairro em época de campanha e depois simplesmente desaparecem.
    Desta maneira é possível concluir que o, “Antônio conselheiro do Parque Universitário” pode até ser um desvairado, mas leva toda culpa que não é sua. O Canudos de Teresina é um lugar tão abandonado quanto o Canudos de Conselheiro, isso para que um grupo privilegiado “tire” votos dos desesperados e para que outro grupo se aproprie das terras que hora está sendo ocupada por um “bando” de moradores, cuja dignidade tem sido paulatinamente negada pelas autoridades.  Seguramente a profecia acontece desde 2004 e o profeta chegou atrasado. O mundo daqueles dos moradores mais pobres daquele bairro parece ter já acabado há muito tempo. O mais curioso é que a data do fim do mundo, revelada pelo Antônio Conselheiro de Parque Universitário, está marcada para o dia das crianças. Simbolicamente o mundo termina quando as crianças dali já não têm oportunidade.
  • A culpa deve ser desse tal de Max Weber

    A culpa deve ser desse tal de Max Weber

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    ALEXANDRIA, Israel. , Salvador, 1997.

    Por que muitos agem da forma representada pela charge? O que a Sociologia tem a dizer a esse respeito?
    Mais uma vez, vamos usar a Sociologia para “brincar” com as interpretações possíveis de nosso cotidiano.
    Em uma situação como apresentada na charge, caso você faça o mesmo, diga a sua mãe que a culpa não é sua, mas sim de seus irmãos.
    Possivelmente ela mandará você se explicar. Diga a ela que…
    Mãe, nós somos seres integrados na sociedade e como tal, disse um cara chamado Max Weber, agimos a partir das ações dos outros. Ou seja, o que faço, faço a partir dos outros; no caso, de meus irmãos.  Quando comi todo o bolo, não o fiz pensando só em mim. Pensei na ação dos meus irmãos para projetar minha ação. Se meus irmãos não comessem bolo eu certamente não comeria todo o bolo de uma vez. Logo é culpa da ação futura dos meus irmãos, a qual me induz a projetar minhas ações. Max Weber chamou isso de “Ação Social Racional” (pensar, planejar antecipadamente o comportamento de acordo com os outros). Essa tal ação social racional pode ser motivada por valores, ou por fins. Por valores seria a ação da senhora que julga valorativamente que meus irmãos devem também comer do bolo. Já minha ação é motivada por fins (pelo objetivo final de comer tudo sozinho antes que meus irmãos façam o mesmo), isso porque a senhora nos ensinou que os jovens devem ter objetivos na vida.
    Viu como (se Max Weber estiver certo) a culpa é de meus irmãos!
    Dito isso, se eu estiver errado, reclame com o tal de Max Weber e não comigo. rsrsrs
    Visite também os blogs  Mangue Sociológico e Ciência Social Ceará
  • Rio +20. Texto do Professor Sirio Lopez Velasco

    Segue um texto apresentado na Mesa no IV EDEA (Encontro e Diálogos com a Educação Ambiental) e V CPEASUL (Colóquio de Pesquisadores em EA da Região Sul), na FURG pelo professor Sírio Lopez Velasco. Boa leitura.

    NOTAS SOBRE O DOCUMENTO FINAL DA “RIO + 20” E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PERSPECTIVA ECOMUNITARISTA Prof. Dr. Sirio Lopez Velasco  (PPGEA-FURG, [email protected])

    RESUMO Neste trabalho nos propomos apresentar inicialmente uma breve panorâmica da “Rio + 20” para depois fixar o foco nas considerações dedicadas à educação no documento final dessa Conferência, intitulado “O futuro que queremos”, e estabelecer a nossa visão da educação ambiental crítico-transformadora em perspectiva ecomunitarista.

    Palavras chave: Rio + 20, educação ambiental ecomunitarista

    Breve panorâmica da “Rio + 20”

    A “Rio + 20” (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável) foi um megaevento organizado pela ONU no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho de 2012, para comemorar os 20 anos da “Rio 92”, e que culminou com uma declaração de 49 páginas assinada pelos 193 países participantes, intitulada “O futuro que queremos”. No evento participaram 120 Chefes de Estado e mais de 17 mil delegados; a delegação brasileira contou com 300 representantes governamentais e mais 300 convidados; na parte da delegação sob responsabilidade do Ministério da Educação, vários docentes universitários representaram a Educação Ambiental, dentre eles os professores doutores José Vicente de Freitas, Vanessa Hernandez Caporlíngua, Elisabeth Brandão Schmidt e Sirio Lopez Velasco, do Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (PPGEA) da FURG (Universidade Federal do Rio Grande). A parte oficial do evento aconteceu no Riocentro, fora da cidade. Ali, antes da inauguração da parte que contou com a presença dos Chefes de Estado realizaram-se os “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável”; em uma das suas sessões os delegados oficiais e representantes da sociedade civil indicaram mediante votação aos Chefes de Estado três sugestões: 1) incluir os danos ambientais como valores negativos no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) e apreciar os projetos pelo seu índice de desenvolvimento social, 2) promover pela educação (ambiental) um entendimento holístico do desenvolvimento sustentável, tendo em mente os aspectos ambientais, econômicos, políticos e sociais, e, 3) que os Governos façam as suas compras considerando os padrões de sustentabilidade dos respectivos produtos. Na inauguração oficial do evento (em 20/06) destacaram-se as falas dos representantes dos grupos de trabalho das mulheres, jovens, indígenas, camponeses e das ONGs; nelas apontaram-se as carências do documento oficial final assinado pelos Chefes de Estado no que diz respeito a objetivos, metas, prazos e recursos financeiros (que deveriam vir principalmente dos países ricos) para se resolver graves questões sócio-ambientais como a miséria, a pobreza, a desigualdade entre países, classes e gêneros (reivindicando-se os direitos da mulher, incluindo os reprodutivos), o desarmamento nuclear de todas as nações, a segurança alimentar baseada na agricultura orgânica familiar-cooperativa, o respeito ao direito de cada povo ao uso dos seus recursos naturais, as ocupações dignas e verdes, e o combate à devastação e à poluição que ameaçam muitas espécies e a qualidade da terra, das águas e do ar. A parte oficial incluiu, além das falas antes citadas e aquelas dos representantes de cada país participante, a realização de dezenas de mesas de debate sobre diversos aspectos da sustentabilidade. Paralelamente à parte oficial aconteceram no Parque dos Atletas e em diversos pontos da cidade muitas atividades de grande repercussão que contaram com muito público. A mais concorrida delas foi a “Cúpula dos Povos por justiça social e ambiental em defesa dos bens comuns”, realizada no Aterro do Flamengo. Ali, milhares de jovens de muitos países e várias etnias (muitas delas indígenas) e ocupações (professores, estudantes, camponeses, trabalhadores) expuseram suas propostas, lutas, experiências e produtos sustentáveis, e protagonizaram muitas mesas de debate (dentre outros temas, sobre os direitos dos povos indígenas, a agricultura familiar, as energias limpas e o ecossocialismo) e também diversas passeatas em defesa de uma sociedade sustentável libertada do capitalismo (isto é, livre da exploração entre os seres humanos e caracterizada por uma convivência respeitosa- cuidadosa entre eles e o restante da natureza). Nos armazéns do porto (um deles rebatizado para a ocasião “Armazém da Utopia”) realizou-se uma exposição dedicada às inovações sustentáveis, patrocinada pela FINEP; nela foram mostrados muitos produtos brasileiros que ajudam na construção de uma sociedade sustentável (como, dentre muitos outros, um barco solar para o transporte escolar na Amazônia e um ônibus misto elétrico-etanol); a FURG teve nessa exposição um estande dedicado ao uso da anchoita para a merenda escolar. Num anexo desmontável ao Forte de Copacabana aconteceu a exposição “Humanidade 2012”, a qual com a ajuda de muitos recursos audiovisuais e sensoriais familiarizou os visitantes com a aventura humana sobre a terra, mostrando os seus impactos sócio-ambientais e lançando perguntas-desafios direcionadas para uma sociedade sustentável. Outros pontos da cidade (como o Jardim Botânico, a Assembléia Legislativa e o Museu de Arte Moderna) acolheram diversos eventos paralelos. Por sua vez, o Parque dos Atletas (vizinho ao Riocentro) abrigou uma grande exposição sobre projetos sustentáveis desenvolvidos por Municípios, Estados e instituições públicas brasileiros; muitos países também montaram ali cada um o seu estande (às vezes com caráter meramente empresarial-turístico). O último dia da Conferência esteve marcado pela mobilização da UNASUL (União das Nações Sulamericanas) para apoiar o Presidente Lugo e a jovem democracia paraguaia confrontados a um Golpe de Estado branco. Passada a “Rio + 20” fica claro que é nos milhares de jovens que participaram das suas atividades oficiais e paralelas, nos outros milhares de escolares que frequentaram as diversas exposições, e nos milhões de cidadãos que no Brasil e no mundo aprofundaram seu compromisso com a construção de uma sociedade sustentável, que está a garantia de que haverá consequências duráveis e transformadoras da Conferência. O impacto que a mesma teve no mundo através da mídia e de muitos eventos simultâneos realizados em todos os continentes, reforça a esperança de um mundo sustentável. Na construção desse futuro (o futuro que queremos) caberá uma grande tarefa à educação ambiental (que segundo as Diretrizes Nacionais de Educação Ambiental recentemente aprovadas no Brasil, deve permear todos os níveis e modalidades de ensino); ali residem novos e grandes desafios para todos os cursos da FURG (e em especial para as licenciaturas e o PPGEA).

    Para ler o texto completo, Clique aqui

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  • Falar de amor, de flores?

    Poema de Luciana Maximo

    Na verdade eu queria falar de amor,
    das flores,
    do sol nascendo,
    se ponto,

    da praia deserta, do cais,
    mas a dor da sociedade é tão gritante
    e os disparates tão rompantes,
    que encarna mim
    um pouco de Gregório
    e eu fico com a Boca do Inferno
    em forma de poesia,
    marginal,
    e sem rima
    e em versos desarticulados e tortos
    observo de rabo de olho o sussurro tímido,
    assustado da minha gente que pede, implora,
    emprego, comida, dignidade
    um pouco de respeito nessa sociedade!

  • Vontade

    Vontade
    Poema de Luciana Maximo (clique aqui para ouvir o áudio)


    Minha vontade é espalhar outdoor pela cidade
    dizer em sete segundos de frase
    Você e eu vamos morrer
    Então, 

    para com essa ganância
    com essa arrogância
    com essa insensatez
    com essa mania de achar que vai eternizar no pódio,
    que o povo o concedeu
    para, para logo,
    amanhã podes ser nada numa caixa de madeira
    e bichos roerem seu podre cadáver…
    o poder é de Deus
    aqui, somos apenas estagiários
    de um plano inacabado, secundário…
  • Pão e Circo: realidade política de muitos municípios brasileiros

    Pão e Circo: realidade política de muitos municípios brasileiros

    PÃO E CIRCO” NA ROMA ANTIGA. EM KENNEDY, O “PÃO” JÁ BASTA[1].
    Segue um artigo que embora se remeta a uma cidade particular, apresenta elementos que se repetem em muitos municípios brasileiros:

    O termo “Pão e Circo” foi criado pelo poeta romano Juvenal, que viveu na Roma Antiga, por volta do ano 100 d.C. A expressão foi usada para denunciar a política do imperador romano e a falta de (in)formação política do povo, o qual, sendo ludibriado, se preocupava apenas com a comida e o lazer.

    A prática da “Política do Pão e Circo”, praticada naquela época, parece ainda ser eficiente para manipular a sociedade atual. No início do primeiro século, a pobreza e o desejo por lazer foi administrado pelo imperador com o intuito de obter o apoio do povo, mesmo cometendo atrocidades. Na época, por conta da miséria e consequentemente do perigo de revoltas populares, o imperador romano proporcionava gratuitamente espetáculos de gladiações (onde pessoas e animais eram forçados a lutarem até a morte), distribuía pão à população como forma de tirar a atenção de seus atos malévolos e controlar as multidões, assim como, transmitir uma imagem de “bom governante”.

    Hoje, soma-se à pobreza dois elementos que já existiam na época, porém maximizados em nosso tempo: o desinteresse pela coisa pública e o individualismo extremo. Presidente Kennedy parece ser um exemplo emblemático dessa lamentável realidade. Por lá, o “pão” já basta! A população não tem, de forma significativa, acesso ao lazer, mas as supostas “políticas sociais” da gestão de Reginaldinho (PTB) parece ter atingido muito bem os objetivos da “Política do Pão e Circo”. Por lá, as práticas clientelistas renderam a esse político um apoio muito forte da população, especialmente dos mais pobres e desinformados. Na Roma Antiga era distribuído gratuitamente pão aos famintos e ofertado eventos de lazer. Em Kennedy a política parece ser ainda mais sofisticada: eram concedia cestas básicas, transporte público gratuito, construção de casas populares entre outras coisas. Em um primeiro momento parecem ações legítimas, não fosse a realidade do município. Kennedy vem tendo a maior receita per capita do Espírito Santo (mais de 21 mil reais, em 2011). Sua receita total é superior a 224 milhões de reais; mais de 30 milhões acima do que teve Guarapari no mesmo ano, cuja população é do tamanho de quase 11 municípios como Presidente Kennedy. À tamanha riqueza dos cofres públicos, contrasta-se a miséria da população local. A cidade possui diversas fossas à céu aberto, mais de 73% da população não tem acesso a rede de esgoto, muitos moradores da zona rural não tem água tratada, como aqueles que residem nas redondezas da Praia das Neves.

    Após a prisão de Reginaldinho, e mais 27 pessoas supostamente envolvidas em uma fraude pública de carca de 55 milhões, parte significativa da população foi as ruas para reivindicar. Pasmem! Não contra a corrupção, mas contra o Ministério Público por ter prendido o então prefeito. A lesão aos recursos públicos parece não incomodar esses; o sentimento individualista, maximizado pela pobreza (social e cultural) e, consequentemente, a busca pela sobrevivência, os levam a estar mais preocupados com as cestas básicas que recebiam do que com o bem coletivo e com um desenvolvimento social efetivo. Nota-se que parte significativa da população tende a apoiar cegamente aquele que lhe dá esmola, ainda que essa “dádiva” nunca venha retira-los da situação de miséria e dependência de assistência pública.

    A política do pão e circo do petebista parece tem atingido seu objetivo: produzir eleitores dependentes e cegamente apoiadores de suas práticas paliativas. É Juvenal, Reginaldinho daria inveja ao imperador romano! Lamentamos a ignorância de parcela da população que não percebe que está sendo “lançada às arenas na miséria” para espetáculo da turma do Reginaldo.

    Cristiano Bodart, cientista social, doutorando em Sociologia/USP.

     

    [1] Originalmente publicado no jornal “Espírito Santo
    Notícias”. Nº 23, 15 de setembro de 2012. P. 7.