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O que é trabalho na Sociologia? Texto com dica de atividade pedagógica

O QUE É O TRABALHO PARA A SOCIOLOGIA?

Mariana Taranto Reynier de Abreu[1]

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Contextualizando[2]

O que é trabalho?Na Antiguidade e na Idade Média, o trabalho manual (ou braçal) era visto como inferior e degradante em relação ao trabalho contemplativo (ou intelectual), que envolvia a filosofia, a arte e a política. A inferioridade do trabalho manual condizia com a estrutura da sociedade estamental, composta pelo 1º estado (clero, cuja função é rezar), pelo 2º estado (nobreza guerreira) e pelo 3º estado (burguesia/camponeses/trabalhadores manuais, responsáveis pela produção). Já na idade moderna o trabalho manual ganha maior destaque na organização social. O produto do trabalho passa a ser visto com a prova de que o homem é capaz de dominar a natureza e ganha aspecto edificante. Somado a isso, o protestantismo faz uma releitura do trabalho (WEBER, 2005), sendo apontado como dignificante do homem, semelhante de Deus que trabalhou e descansou no sétimo dia.

Uma sociedade se organiza de acordo com a maneira como o trabalho é dividido. O mercado de trabalho é o conjunto dos modos sociais por meio dos quais o trabalho é comprado e vendido. Com a ascensão da indústria nos séculos XVIII e XIX o trabalho deixa de ser um meio através do qual as pessoas trocam produtos e se torna, ele mesmo, uma mercadoria a ser vendida em troca de um salário.

Após a Revolução Industrial as formas de organizar a produção se modificaram, havendo pelo menos três modelos que se destacam: Taylorismo (1911), Fordismo (1913) e Toyotismo (1970). O Taylorismo trouxe a racionalização da atividade produtiva em nome da produtividade e do lucro e monitoração do trabalho segundo o tempo estipulado para a produção. O fordismo intensificou essa lógica implementando a linha de montagem automatizada com esteira rolante. Já o Toyotismo implementou a fabricação sob demanda.

As formas de conhecimento refletem as preocupações e necessidades dos homens de seu tempo. Os três autores clássicos da sociologia, Karl Marx (1818-1883), Max Weber (1864-1920) e Émile Durkheim (1858-1917), escreveram suas teorias pouco depois da Revolução Industrial que produziu mudanças profundas na sociedade europeia, em especial no trabalho e suas relações. Em consequência disso, o trabalho está muito presente em suas teorias, levantando perguntas como: o que é o trabalho na sociedade capitalista? Como ele interfere nas relações sociais?

Conceituando o trabalho

Para Durkheim (1977), o trabalho é um fato social presente em todas as sociedades e a divisão social que ele gera é o que possibilita a coesão social, ou seja, ele é responsável pelos indivíduos viverem em sociedade após a ascensão do sistema capitalista. Assim, o trabalho possui significados diferentes nas sociedades pré-capitalistas e pós capitalistas. Na última, o trabalho é especializado, criando uma interdependência entre os indivíduos que precisam das funções desempenhadas uns pelos outros. Essa união devido a divisão social do trabalho nas sociedades capitalistas é nomeada por ele de solidariedade orgânica.

Weber (2004) analisa o conceito de trabalho pela perspectiva religiosa, apontando que ele tem significados diferentes para católicos e protestantes. Antes da reforma protestante na Inglaterra, o trabalho era visto como uma penitência para aqueles que não eram escolhidos por Deus e o lucro era condenado. Depois o trabalho se torna uma vocação divina, como uma forma de glorificação de Deus e por isso essencial. A lógica do trabalho orientava o comportamento das pessoas, que deveria ser pragmático, metódico e racional.

Por fim, para Marx (1998) o trabalho é a atividade em que o ser humano emprega sua força para produzir os meios para seu sustento. Essa capacidade de criar ferramentas e técnicas para modificar a natureza é justamente o que distingue o ser humano do resto dos animais. Assim, ao trabalhar o homem altera a natureza e a si mesmo. Porém, diferente de Durkheim, Marx acreditava que a forma de organização do trabalho no capitalismo é justamente o que gera os conflitos, manifestando-se na luta de classes. Nesse contexto, o trabalhador se aliena, participando apenas de parte do processo de trabalho, ficando alheio ao resultado final. Se o trabalho que torna a pessoa em ser humano, quando afastado do produto deste, é desumanizado.

O conceito de trabalho na atualidade cotidiana

O que se entende por trabalho tem se modificado ao longo do tempo e tem significados diferentes dependendo do lugar. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), criada em 1943 no governo Vargas, representou um grande avanço para os direitos dos trabalhadores no Brasil. Porém, atualmente cresce a quantidade de contratos que não são CLT, precarizando as relações trabalhistas. Com a pandemia, este processo se intensificou e agora os trabalhadores informais representam 40% (IBGE, 2021) da população ocupada. A chegada de empresas com o Ifood, Uber e Amazon também colaboraram com este processo.

Muitos trabalhadores destas empresas reclamam das más condições de trabalho e da falta de garantias e direitos. Assim, se cria uma nova classe de proletariados que vende sua força de trabalho e tem seu trabalho alienado. Este modelo de contrato é muito recente e polêmico, havendo greves dos trabalhadores desses aplicativos constantemente e dia primeiro de abril de 2022 os trabalhadores da Amazon comemoraram a criação de seu primeiro sindicato. Dessa forma, as relações de trabalho e os direitos dos trabalhadores estão em disputa e têm levantado debates e manifestações, por isso, é importante utilizar a imaginação sociológica para analisar este contexto de mudanças atuais.

Referências bibliográficas

ABDALA, Vitor. Taxa de informalidade no mercado de trabalho sobe para 40%, diz IBGE: Entre 86,7 milhões de pessoas ocupadas, 34,7 milhões eram informais. Agência Brasil, [s. l.], 30 jul. 2021. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-07/taxa-de-informalidade-no-mercado-de-trabalho-sobe-para-40-diz-ibge>. Acesso em: 18 mai. 2022.

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 1998.

REIS, Patricia. Trabalho e relações sociais. Apresentação de Power Point. 20 slides. Rio de Janeiro: P&B, 2022.

SILVA, Afrânio et al. Sociologia em Movimento. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2016.

WEBER, Max. Ética protestante e o “espírito” do capitalismo. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Dicas de leitura

SILVA, Afrânio et al. Trabalho e sociedade. In: SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2016. cap. 9, p. 214-231.

Dicas de filmes

Tempos modernos (1936)

Documentário Vidas Entregues (2019)

Dicas de músicas

Construção (Chico Buarque)

Comportamento Geral (Gonzaguinha)

 

Dica de atividade pedagógica

Debata com os estudantes alguns tipos de profissões (como professor, médico, engenheiro, enfermeiro, etc.) e contratos existentes (CLT, PJ, MEI). Em seguida, peça para eles, em grupos, escolherem uma profissão e pesquisarem sobre ela, respondendo as questões abaixo e devolvendo na próxima aula. Um debate coletivo sobre as pesquisas realizadas também deverá ocorrer de modo a socializar os resultados.

Questões sobre a profissão escolhida:

  • No que consiste
  • Por que escolheu essa profissão
  • Remuneração (desenvolver se é justa ou não a partir da perspectiva do aluno)
  • Tipos de contratos possíveis e no que consiste o contrato
  • Alguma notícia no jornal que envolva essa profissão
Como citar este texto:

ROCHA, Marianne da Silva. O que trabalho para a Sociologia? Blog Café com Sociologia. mai. 2022. Disponível em:

Notas:

[1] Licencianda em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: marianaataranto@gmail.com

[2] Estrutura baseada na coleção Conceitos e categorias fundamentais do ensino de Ciências Sociais.

 

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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