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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • As Ciências Sociais no império da opinião (Ciência pra quê?)

    As Ciências Sociais no império da opinião (Ciência pra quê?)

    Por Joyce Miranda Leão Martins

    “O diabo pode usar as escrituras quando isso lhe
    convém” (Shakespeare, O Mercador de Veneza).

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    O processo de revolução dos meios de comunicação, e a preponderância destes nas formas de sociabilidade, inaugurou novas formas de ação, moldadas pelo acesso aos mais variados tipos de informação. A Idade Mídia (RUBIM, 2000), com seu cardápio informacional, propiciou o surgimento de um novo sujeito: o “opinador“, visibilizado pelas tecnologias de mídia. Enquanto o cientista leva horas do dia e anos da vida estudando um mesmo assunto, o “opinador” é capaz de falar da formação das nuvens à organização das sociedades no Egito antigo. Um feito extraordinário?

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    Estudos de Psicologia vêm mostrando que processamos informação através de “atalhos cognitivos”, esquemas que auxiliam nossas escolhas sem a necessidade de uma reflexão profunda sobre assuntos determinados. Entre esses atalhos, encontram-se os estereótipos e os papéis sociais. De acordo com as teorias do comportamento eleitoral, também é assim que votamos, através de “atalhos cognitivos” (ai que dó). Beaudoux entre outros (2005) dizem que: “los seres humanos tratamos de invertir el menor esfuerzo posible en la busqueda de la información”.
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    Nesse sentido, o conhecimento costuma exigir mais esforço e cuidado do que a mera opinião: vai pelos caminhos longos, buscando fugir dos atalhos. A racionalização, premissa básica de todo método que se pretenda científico, leva ao desencantamento, de modo que o cientista, muitas vezes, chega a informações não tão confortáveis.
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    Se conseguimos viver apenas com a informação, processando-a através de atalhos (geralmente pra confirmar o que já se pensa), poderíamos nos perguntar: Ciência pra quê? Não chegamos em um momento da história em que uma Ciência do social é completamente desnecessária?
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    O mundo de informações ao qual temos acesso e a autocracia da opinião pessoal levariam a crer que sim. E justamente, por isso, faz-se mister a Ciência. Umberto Eco disse, uma vez, que “informação demais é pior do que a falta de informação”. As condições de emergência da assertiva remetem ao contexto contemporâneo, no qual as informações são amplamente partilhadas, via mídias novas e tradicionais. Voltando a Eco, não seria a ignorância, em si, um mal maior? 
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    A dúvida surge porque o excesso de informação impede de ver que ele não afasta, necessariamente, da ignorância: pode ser usado para difundir inverdades, imprecisões, obscurecer versões da história que não conseguiram o status de notícia. Muita informação, às vezes, pode significar pouco conhecimento. 
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    Vale lembrar que a mídia tem uma linguagem e gramática próprias, portanto, nem tudo é exatamente noticiável. E, apesar da interação permitida pelas redes sociais, estas não deixam de ser, também, instrumentos de reprodução das mídias tradicionais. Ademais, a retórica, essa “loba em pele de cordeiro” dos debates públicos, anda ousada com o advento da internet: defende a redução da maioridade penal, afirmando que é preciso haver punição contra os crimes praticados (como se essa punição não existisse nem fosse prevista na nossa lei); quer a destruição dos partidos políticos (ocultando o fato de que isso é próprio das ditaduras); prega a redução de direitos falando em bondade. Como lembra Shakespeare, em O Mercador de Veneza, “o diabo pode usar as escrituras quando lhe convém”. 
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    Dito isto, cabe afirmar que o cientista social tem um papel ainda maior na “Idade Mídia”: mostrar que o conhecimento não se reduz à informação (e, muito menos, não se reduz à informação não questionada). 
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    Julgo importante ressaltar quatro papéis fundamentais das Ciências Sociais: 1)Permitir o acesso ao conhecimento da realidade social; 2)Escapar do determinismo; 3)Ampliar a possibilidade dos indivíduos; 4)Soltar-nos das amarras da aparência. Sobre esses papéis, importa dizer:
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    1) A Ciência permite sair da mera opinião, dos pré-conceitos e preconceitos. O questionamento do que é naturalizado, a busca da “história social dos problemas” (BOURDIEU, 1989), permite a ruptura com o senso comum: mostra que a realidade é sempre mais complexa do que nossas abstrações. Contrastar os dados da realidade social e o resultado de pesquisas empíricas com a nossa opinião é um modo poderoso de escapar dos perigos do “achismo”. 
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    2) O estudo das causas históricas e sociais dos problemas, deixou, a partir dos clássicos da Sociologia, uma importante herança para a produção de sociedades mais igualitárias: o social é construção. Escapar do determinismo é uma forma também de escapar de estereótipos e do que nos é imposto como papel social.
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    3) Se da desigualdade de classes aos papéis de gênero, tudo é construção social, somos relativamente livres para elaborar novas sociedades com menor opressão.
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    4) Esse item se refere à importância do levantamento de dados e à busca de teorias que capacitem o olhar para entendê-los. As informações divulgadas pela mídia permitem chegar até os dados levantados por cientistas, mas é a Ciência que leva aos “como” e aos “porquês”, ou seja, à compreensão. Um conhecimento científico leva à busca de outro, à necessidade de um “referencial teórico”. Não se deixa estagnar por convicções. 
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    O quarto e último dos papéis das Ciências Sociais, elencados aqui, o qual retroalimenta os outros, é o sentido de existir de todas as ciências. Em resumo, a Ciência é necessária porque nossos sentidos são ardilosos: lembram do caso recente da cor do vestido? Nesses dias de império da opinião, recordo a famosa frase de Marx: “se a aparência e a essência das coisas coincidissem, toda ciência seria supérflua”.
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    Referências
    BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
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    BEAUDOUX,  Virginia García; D’ ADAMO, Orlando; Gabriel, SLAVINSKY. Comunicación política y campañas electorales – Estrategias en elecciones presidenciales. Barcelona: Gedisa, 2005.
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    ECO, Umberto. Informação demais faz mal. Entrevista à Revista Época. Ver: https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/07/bumberto-ecob-informacao-demais-faz-mal.html
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    RUBIM, Antonio. Albino. Canelas. Contemporaneidade como Idade Mídia. Interface _ Comunicação, Saúde, Educação, v.4 , n.7, p.25-36, 2000.
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    Joyce Miranda Leão
    Martins
    Socióloga
    e mestre em Sociologia pela UFC. Doutora em Ciência Política pela UFRGS.
    Pesquisadora-visitante na Universidad Complutense de Madrid (UCM).
    Email:[email protected]
















  • O professor e os limites impostos pela prática cotidiana

    O professor e os limites impostos pela prática cotidiana

    O professor e os limites impostos pela prática cotidiana

    Por Cristiano das Neves Bodart

     

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    Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)

    Ao longo de 15 anos lecionando no Ensino Básico me deparei com diversas limitações a minha prática docente; algumas foram superadas, outras apenas mitigadas ou mesmo mostraram-se permanentes. Frente aos limites existentes na prática cotidiana, é comum professores se sentirem frustrados ou impotentes. O fato é que existem limites à prática docente, sobretudo considerando as condições cotidianas das escolas e dos professores. Reconhecer essa existência é um passo importante para evitar a decepção e frustração profissional.

    Limites à atuação do professor

    Os limites da ação do professor variam de acordo com o profissional e com as condições objetivas da escola e de seu entorno. No contexto escolar, os limites são delimitados de acordo com a formação do professor, com os recursos pedagógicos disponíveis, a infraestrutura existente, o reconhecimento dado pela escola à disciplina, a carga-horária da disciplina e a jornada de trabalho do professor, considerando o número de alunos, de turmas e de escola, etc.

    No contexto maior do sistema educacional, os limites são delimitados de acordo com o currículo e o modelo de educação estabelecido. Tomar ciência disso é um importante passo inicial. Temos um modelo de Educação voltado aos princípios neoliberais (destacando-se o utilitarismo), e gerido – na maioria das vezes – por políticos1ou empresários ávidos por lucros. Assim, a Educação é pensada:

    i) sob uma lógica que desmotiva os alunos a valorizarem o conhecimento se não verem nele utilidade imediata;

    ii) como dados estatísticos a serem usados em campanhas eleitorais, o que fomenta aprovações “automáticas”, desvalorizando todo o trabalho do professor e desmotivando os alunos que se dedicam para obter boas notas e/ou;

    iii) como uma prestação de serviço a clientes que têm sempre razão (no caso de instituições privadas)3.

    Essas visões afetam diretamente o desempenho do professor, lhe impondo dificuldades e limites a sua prática cotidiana.

    Outros limites estão relacionados a formação social dos alunos. Temos alunos de origens diversas e com interesses diferentes. Alguns não irão se interessar pela aula e isso precisa estar claro. Cabe ao professor busca motivar (dar motivo) aos estudos, sabendo que estará disputando com toda uma socialização que o aluno adquiriu e continua adquirindo. Ora será vitorioso, ora suas tentativas se mostrarão ineficientes. Mesmo assim, não deixe de tentar. Lecionar é um ato de militância.

    Os limites não são fixos

    Ainda que entendemos algumas situações como “limites”, estes não são fixos e nem delimitados da mesma forma aos diferentes professores e contextos escolares.

    Os limites à prática docente podem se mover “para frente” ou “para traz”, a depender: i) das condições materiais disponíveis ao professor e; ii) do engajamento do professor na sua formação e prática docente.

     

    Alargando as possibilidades e movendo os limites

    É importante entender que há limites e que não resolveremos em sala de aula todos os problemas da educação. Cientes disso as sensação de frustação será menos frequente e a possibilidade de planejarmos ações com objetivos atingíveis se ampliará.

    Podemos entender os limites como barreiras que impedem o avanço rumo a um horizonte desejável. Contudo, essas barreiras podem ser movidas, tornando os objetivos mais próximos; ainda que inalcançáveis em sua plenitude, é algo a ser comemorado.

    Há dois caminhos para mover as barreiras/limites. Um deles não depende do professor: melhores condições materiais para a prática docente. Contudo, um outro caminho – embora difícil – é possível: o professor investir em sua formação.

    Investir não se limita a participar de cursos ou realizar novas leituras. Investir é também dar-se um pouco mais a sua prática docente. Dedicar-se ao planejamento das aulas, transmitir e emitir paixão pelo que faz!

    Buscar uma formação científica/teórica e pedagógica é um passo importante para mover “para frente” os limites impostos aos resultados pelo sistema educacional e pela sala de aula. Um professor bem formado em conteúdo específico e pedagógico terá maior facilidade de “reinventar” estratégias de ensino e planejar boas aulas, bem como entusiasmar os seus alunos com o conhecimento transmitido.

    Nós professores devemos evitar a improvisação em sala de aula. Ter didática não é o mesmo que ser criativo. Ter didática é possuir um stock de habilidades baseadas em estudos de práticas de ensino. É necessário que o planejamento seja baseado em saberes científicos, indicando aos alunos caminhos interpretativos diferentes de fenômenos ou objeto estudado e transmitido de forma inteligível e que desperte o interesse dos alunos. É necessário tratar cada tema com o rigor necessário, mostrando aos alunos que a ciência não é feita de opiniões baseadas no senso comum. Contudo, dê aos alunos o respeito devido, sendo lhes o exemplo. Ensine-os a respeitar visões diferentes, o que não significa que terão que concordar com elas. Explique-os que os saberes exigidos na aula/escola não devem estar baseados em suas crenças3, mas em ciência. Ensine-os que em esferas diferentes da vida (casa, igreja, escola, etc.) os tipos de conhecimentos valorizados são igualmente diferentes – eles precisam aprender diferenciar esses espaços e os valores ali estabelecidos.

    Evite conflitos interpessoais, o conhecimento não se dá por oposição, mas por diálogo e reflexão. Se não há esses dois ingredientes, em vão será suas explicações. Respeite o saber dos alunos e use-o como ponto de partida rumo a um ponto de chegada científico. Para tanto, é necessário boa formação (específica e pedagógica) para enfrentar os desafios presentes no espaço escolar e no sistema educacional como um todo.

    Lembre-se, existem limites à prática docente e reconhece-los é um passo importante para buscar superações, assim como evitar as decepções e frustrações profissionais. Nem tudo está nas suas mãos.

     

    Notas:

    1Secretarias Municipais/Estaduais e Ministério são cargos comissionados.

    2Na lógica do mercado os clientes não devem ser contrariados.

    3Ainda que essas tenham seu valor reconhecido.

     

    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. O professor e os limites impostos pela prática cotidiana. Blog Café com Sociologia, 2018. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/o-professor-limites/ >. Acesso em: dia, mês e ano.

  • A “Escola sem Partido” é possível?

    A “Escola sem Partido” é possível?

    Escola sem partido: algumas reflexões

    Cristiano das Neves Bodart e Roniel Sampaio-Silva

     

    Temos presenciado um discurso em torno de um projeto de escola ou de prática educacional denominado Escola sem Partido. Buscamos neste texto responder o seguinte questionamento: O projeto Escola sem Partido é viável/realizável? Convidamos você, leitor, a nos acompanhar em algumas reflexões em torno da questão.

    liberdade ensinoO que é “Escola sem Partido”?

    Grosso modo, trata-se de um movimento com, ao menos, duas vertentes: i) a que defende que o professor deva se portar obrigatoriamente nas aulas de forma neutra, sem emitir juízos valorativos e nem expor abordagens supostamente partidárias (de esquerda) e; ii) a que defende que o professor deva obrigatoriamente apresentar/expor aos alunos todas as perspectivas teóricas-metodológicas-conceitual-descritivas possíveis sem emitir juízo de valor, apresentando suas virtudes e perversidades.

    É possível ensinar de forma neutra?

    Em ambos os casos afirma-se que o professor não pode ter intencionalidade que não seja aquela que representa os interesses dos pais dos alunos (como se existisse consenso entre pais de 30 a 50 alunos de uma única sala de aula) ou expondo aos alunos em escala valorativa igualitária todas as abordagens/temas/métodos existentes/conhecidos.

    Antes, nos parece necessário destacar que na educação há duas dimensões ou tipos: i) a educação formal e; ii) a educação não-formal. A educação informal dar-se em todas as esferas da vida (ou campos sociais) ao longo da trajetória dos sujeitos, não envolvendo planejamento, sistematização e finalidades claras. Por outro lado, a educação formal dar-se em um espaço delimitado no tempo e no espaço (as instituições de ensino). Caracteriza-se pela intencionalidade planejada e dar-se de forma sistemática a fim de alcançar um objetivo e um projeto de sociedade que se deseja. Repetindo: a educação formal (escolar e universitária) exige objetivos, intenção e finalidade; logo é orientado para um projeto de ser humano. Se há uma orientação em direção a um projeto de sociedade e de humano, logo é ideológica. Assim, a educação é um processo puramente ideológico. Talvez um dos mais ideológicos de todos. Tentar dizer que uma prática educativa é neutra é ignorar o conceito básico de educação.

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    Liberdade de cátedra faz parte dos valores do mundo capitalista liberal

    O ensino e o currículo demandam escolhas, e essas são sempre políticas/ideológicas. O currículo é, antes de tudo, um espaço de disputas ideológicas. É no currículo que se define “como” e “o que” olhar no mundo.

    Se a educação e o currículo (em particular) são marcados por disputas é possível neutralidade? Para tornar mais claro: neutralidade existe? Existe uma posição a se colocar que não é posição? Existe leituras do mundo que não são leituras? A resposta a essas indagações são categoricamente “não!”

    A escola formal que conhecemos hoje surge com objetivos claros (atender a sociedade capitalista que se desenvolvia) e desde então passou a ser palco de disputas curriculares. A concepção de liberdade de cátedra não é um ideal socialista ou comunista, como afirmam defensores da Escola “sem Partido”. Trata-se de um princípio iluminista, baseado na liberdade.

    Autonomia dos professores impulsiona boas experiências educacionais

    Os professores precisam ter liberdade de cátedra para ensinar. Precisam ter autonomia para escolher os melhores métodos e conteúdos baseados no Projeto Político Pedagógico da escola. Se observar os países com melhores indicadores educacionais, verá que os professores têm plena liberdade de posicionamentos e escolha de recursos didáticos. É isso que enriquece o processo educativo. Isso garante aos alunos o acesso a uma ampla gama de possibilidades de posicionamentos. Quanto mais diverso, mais rico é o processo. Temos que estimular a diversidade e não combater os professores como sugere os principais defensores desse programa.

    camuflagem ideológicaCamuflagem ideológica

    A vertente da Escola “sem Partido” que defende a exposição imparcial de todos os conteúdos ignora que não é desejável apresentar faces que não existem, tais como uma suposta virtude da escravidão, do nazismo, do fascismo, da homofobia, etc. Nesses casos os professores estariam cometendo crimes contra a humanidade. Por isso, é necessário se posicionar; julgar valorativamente.

    No fundo, o que deseja o projeto Escola “sem Partido” é combater as ideias da esquerda na própria escola a fim de facilitar a disputa política partidária em outros espaços e num futuro próximo. Os idealizadores desse projeto usam a escola para transmitir um tipo de projeto societário que acreditam, logo é ideológico. Se a escola e a universidade tivesse sido “dominada” pela esquerda, certamente o resultado da última eleição seria diferente.

    A estratégia que se valem é uma suposta neutralidade ideológica a fim de combater todas as ideologias que não são do seu interesse. Assim, sobrará apenas uma única ideologia invisível para aqueles que só enxergam como ideológico apenas os aspectos que vão contra seus posicionamentos partidários. Portanto, combatida a diversidade de posicionamentos que dispõe o conjunto plural de professores,  a escola se tornará finalmente o reduto de um único partido, ocultado pelos seus defensores.

    https://www.instagram.com/p/BqnGHp7l7im/

    Recomendações de leitura

    FRIGOTTO, Gaudêncio. “Escola sem partido”: imposição da mordaça aos educadores. e-Mosaicos, v. 5, n. 9, p. 11-13, 2016.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Editora Paz e Terra, 2014.

    LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval; SANFELICE, José Luís. Capitalismo, trabalho e educação. Autores Associados, 2002.

    WEBER, Max. O sentido da “neutralidade axiológica” nas ciências sociais e econômicas. Metodologia das ciências sociais. SP: Ed. Cortez, v. 1, 1995.

    ŽIŽEK, Slavoj (Ed.). Um mapa da ideologia. Contraponto, 1996.

     

    Roteiro de atividade/aula

    1. Solicite aos alunos (em grupos de 4) que escolham um dos temas a seguir e preparem um “aula” (de 15 minutos) nos termos da proposta da “Escola sem Partido”.
    • Ditadura Militar e direitos humanos;
    • Racismo e mercado de trabalho;
    • Desigualdade social no Brasil;
    • Lei Maria da Penha e a violência doméstica;
    • Diversidade cultural e minorias étnicas.
    1. Após a aula (apresentação dos alunos) dos alunos, questionem a eles o que não foi possível abordar e se essa ausência é benéfica para o desenvolvimento intelectual dos alunos.
    2. Conclua a aula retomando a importância da liberdade de cátedra.

     

     

  • Fábula da ratoeira: ensinando política as crianças

    Fábula da ratoeira: ensinando política as crianças

    Fábula da ratoeira: uma reflexão sobre omissão e solidariedade

    As fábulas têm um incrível poder de fazer com que a gente reflita de forma desarmada sobre situações que passamos em nosso cotidiano. Nesta fábula podemos refletir sobre como nossas omissões e nossa falta de sensibilidade política podem nos prejudicar.

     

    Um rato olhando pelo buraco da parede, viu o fazendeiro e a mulher abrindo um pacote.

    Ao descobrir que era uma ratoeira, ficou aterrorizado. Correu ao pátio advertindo a todos:- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!

    A galinha disse:- Desculpe – me, Sr. Rato. Eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

    O rato foi até o porco e lhe disse:

    – Há uma ratoeira na casa!

    – Desculpe – me, Sr. Rato, disse o porco. Mas, não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo. O senhor será lembrado em minhas preces.O rato dirigiu – se, então, à vaca. Ela, num muxoxo, disse:

    – Uma ratoeira? Isso não me põe em perigo…

    Então, o rato, cabisbaixo, voltou para a casa para encarar a ratoeira. E naquela noite, ouviu – se um barulho!

    Meu Deus, era a ratoeira pegando sua vítima! A mulher do fazendeiro correu para ver o que estava lá. No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher…

    O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre.

    E para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal.

    Como a doença da mulher continuava, os amigos vieram visitá-la. Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.

    A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente foi ao funeral. Para alimentar todo aquele povo, o fazendeiro, então, sacrificou a vaca.

    Fábula da Ratoeira – Moral da História 

    Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre – se que, quando há uma ratoeira em casa, toda a fazenda corre risco!

    Ou seja, em uma comunidade, o problema de um é problema de todos.

  • Donald Trump e o mundo de ponta-cabeça!

    Donald Trump e o mundo de ponta-cabeça!

    Republican presidential candidate Donald Trump addresses delegates at the end of the last day of the Republican National Convention on July 21, 2016, in Cleveland, Ohio. / AFP PHOTO / Timothy A. CLARY
    Donald Trump na Republican National Convention, em 21 Julho de 2016, em Cleveland, Ohio. / Foto: Timothy A. CLARY.

    Donald Trump e o mundo de ponta-cabeça!

    Taylan Santana Santos[1]

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    Taylan Santana Santos e adepto da causa Palestina

    A humanidade está de cabeça para baixo. Creio que este é o sentimento generalizado entre os intelectuais que estudam a nossa contemporaneidade. Compreender a sociedade e os seus múltiplos fenômenos sociais tem sido um dos nossos espinhosos desafios para o tempo presente. O avanço do conservadorismo, em escala mundial, representa um desses fenômenos marcantes, tanto no campo cultural, econômico e na política internacional. A eleição de Donald Trump nos EUA, em 2016, reitera a tendência global de retrocesso social que se manifesta por meio do crescimento da extrema-direita e suas bandeiras ideológicas típicas da barbárie humana.

    Um fato histórico é comum nos períodos de crises mundiais: o fortalecimento do reacionarismo, que se caracteriza pela exacerbação de ideias nacionalistas, pensamentos e posturas preconceituosas e intolerantes. Assim como o contexto de crise no entreguerras (1918-1939) fomentou o surgimento do nazi-fascismo europeu, o nosso período marcado pela crise neoliberal, pós-2008, tem propiciado a ofensiva daquilo que se constitui como o mais retrógado: o neo-nazifascismo, o qual busca se desenvolver enquanto política de Estado em nome da “família e dos bons costumes” e  nesse contexto, contrariamente aos negros, gays, mulheres, imigrantes, muçulmanos e demais minorias são cada vez mais ameaçadas pelo conservadorismo.

    O discurso de posse de Donald Trump, na sexta-feira (20/01), como o presidente mais impopular na história dos EUA, configurou-se enquanto uma fonte oral do neo-fascismo, através da reprodução de ideais reacionários que se desenvolvem, não apenas como um jogo de palavras, mas como uma política nacional simbolizada nos EUA e seguida por diversos países, inclusive com as representações de Michel Temer, João Dória e dos “Bolsonaros” no Brasil. O discurso de Donald Trump foi dividido entre as suas críticas à globalização, à defesa de sua política de governo ultraconservador, além do conjunto de preconceitos propagados pelo presidente empossado. Ademais, seu discurso foi um verdadeiro show de horrores, em especial no que se refere as incoerências e contradições características de sua personalidade e típico de discursos conservadores como os seus.

    Sob o ideal de reconstrução nacional, Trump defendeu a transferência do poder político para o povo. Mas de qual “povo” ele se refere? O mesmo responde tal questão ao defender sua política de governo: o investimento à indústria nacional e o fortalecimento das forças armadas nacionais. Ou seja, empresários e militares estadunidenses fazem parte do único povo beneficiário da política Trump. Por conseguinte, as minorias populares e marginalizadas fazem parte de uma grande parcela excluída do processo político e reprimidas pelo Estado. Como um líder neo-fascista, Donald Trump apela para uma pseudo-popularidade, através da apologia a uma dita unificação dos EUA que acentua um dos princípios do reacionarismo: homogeneizar a sociedade, combatendo o “diferente”.

    O discurso econômico de Donald Trump se estrutura em uma velha e fracassada tática liberal para a contenção das crises capitalistas: o protecionismo do capital nacional pelo Estado. Trata-se de uma guinada econômica em que Trump não é pioneiro (vide o caso Brexit do Reino Unido), e que reflete o aspecto conservador de sua proposta neo-fascista. O protecionismo das fronteiras estadunidenses não é apenas contra as economias estrangeiras, mas também contra todos os desviantes do tipo ideal da família americana. Assim, se estabelece uma política conservadora, chauvinista, xenofóbica e etnocêntrica. A tão propagada promessa de extermínio do “terrorismo” por Trump revela o seu combate aos diferentes, apenas por serem diferentes. Aqui se enquadra a islamofobia, o preconceito e intolerância árabe-muçulmana, cuja cultura tem se tornada inimiga deEstado, assim como as mulheres, os negros, os trabalhadores e outras minorias.

    Diante dessa conjuntura de ofensiva conservadora, para nós que nos posicionamos do outro lado da trincheira, urge a retomada da reação! O contra-ataque ao neo-nazifascismo deve ser radical contra toda forma de opressão. Se o establishment de Hillary Clinton não representa uma saída para os trabalhadores e minorias, então o que nos cabe é a unidade classista. Somente a unidade internacional na luta antifascista pode derrubar Trump e as demais forças conservadoras no mundo. Portanto, o acirramento da luta de classes no contexto atual reafirma o conclame de Karl Marx, cientista social do século XIX,: “Trabalhadores de todo o mundo, Uni-vos!”.

    Nota:

    [1] Historiador graduado pela UEFS, e mestrando em História pela UNEB. Leitor assíduo do blog “Café com Sociologia”.

    Como citar esse texto:

    SANTOS, Taylan Santana. Donald Trump e o mundo de ponta-cabeça! Blog Café com Sociologia.com. 2017. Disponível em: <colocaraquiolinkdapostagem>. Acessado em: dia, mês, ano.

  • Feliz dia do Professor ou “Vamos à luta Professor!?”

    Feliz dia do Professor ou “Vamos à luta Professor!?”

    Dia do Professor

    Feliz dia do Professor ou “Vamos à luta Professor!?”

    Por Taylan Santana Santos[1] e Milena Oliveira da Costa[2]

    O dia 15 de outubro é convencionalmente lembrado como “dia do Professor”. A despeito da importância de tal lembrança, e para além do costumaz “feliz dia do professor!”, se faz mais oportuno refletirmos o lugar dos professores e professoras no centro do furacão na atual crise da educação brasileira.

    Uma crise tanto estrutural, intensificada pelos violentos cortes dos recursos à educação, assim como superestrutural, motivada pelo avanço da perseguição política-ideológica aos professores/professoras que lutam por uma educação crítica, reflexiva e emancipadora. Conforme nos ensina o pensador Darcy Ribeiro, “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto. ” Nesse sentido, diversos projetos vêm sendo aprovados que por si só representam um conjunto de ataques à educação, e, por conseguinte, aos nossos docentes. Trata-se da PEC/55 que contingencia investimentos educacionais durante 20 anos, cujos males desse projeto já se refletem em um quadro geral de sucateamento da educação pública, vide o caso catastrófico em que se encontra a UERJ e demais instituições de ensino em todo país.

    Por sua vez, a reforma trabalhista aprovada visa precarizar ainda mais o trabalho docente, seja com a ampla terceirização, como também com o fim da seguridade do emprego; inclusive no setor público. Ademais, a presente ofensiva conservadora em nossa sociedade nos tem legado um projeto fascista como a “Escola sem Partido”, que na prática representa a defesa do monopólio do partido do capital, além da criminalização de professores e professoras de esquerda direcionados por uma educação libertária.

    Diante dessa crítica conjuntura que historicamente permeia a educação brasileira, cabe nos questionarmos: o que de fato vale em um “Feliz dia do Professor” proferido muitas vezes pelos mesmos algozes dos professores e professoras do Brasil? Parece-nos que consiste em uma mera convenção social de uma sociedade que precisa de tal dia e de sua lembrança para assim se eximir, ainda que momentaneamente, da opressão em que são submetidos os nossos professores e professoras.

    Se um sincero “Feliz dia do professor” é importante, mais ainda é o engajamento dos trabalhadores e trabalhadoras na luta por uma educação pública, popular e de qualidade, que perpassa imprescindivelmente pela valorização do professor. Assim, a defesa de uma educação classista voltada para a emancipação dos filhos da classe trabalhadora é o único caminho para a superação da crise docente fomentada pela crise do capital.

    Portanto, nesse dia e em todos os demais, reivindicamos de nossos estudantes e companheiros/companheiras trabalhadores a seguinte convocação: vamos à luta, Professores! Lutemos por uma educação socialmente referenciada no processo de conscientização de classe do nosso povo, sem a qual, nada muda, nada mudará.

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    Notas

    [1] Historiador; Educador Popular; Mestrando em História pela UNEB.

    [2] Educadora Popular; Graduanda em Física pela UEFS.

  • Revolucionário de vitrine?!

    Revolucionário de vitrine?!

    Revolucionário

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    Revolucionário de vitrine?

    Por Cristiano das Neves Bodart

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    Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)

    Parece incoerente o título dessa pequena reflexão, mas acredito “caber como uma luva” em muitos casos que tenho visto nos últimos dias*. Soa como devaneio relacionar “revolucionário” com algo bastante típico do Capitalismo – de fato, espero que seja devaneio meu e que eu esteja errado; embora acredito ser improvável…

    Tenho me deparado no facebook – isso por várias vezes – com jovens se manifestando em prol ou contrários à “n-coisas”. Ora usando no perfil sobrenomes indígenas, ora compartilhando pensamentos revolucionários; outras vezes postando vídeos em defesa ao “rolezinho”; demonstrando indignação contra a pobreza, a corrupção e as desigualdades sociais. Isso é sinal que as coisas estão mudando, porém “nem tudo são flores”.

    À primeira impressão é que temos uma sociedade repleta de pessoas críticas, sobretudo jovens. Embora isso possua um caráter político-pedagógico bastante significativo, observando de forma atenta e pensando um pouco mais sobre a questão me vem à incerteza… a preocupação. Será que todos eles, ou a maioria, sabe de fato o que querem? Entendem a realidade social brasileira? Essas perguntas surgem devido ao fato de termos uma sociedade que não lê; onde Educação não é prioridade, onde cursos “para inglês vê” estão por todos os lados e em todos os níveis. A descrença (ainda que não por completa) nessa “onda de jovens revolucionários” está na minha desconfiança de que a maioria deles não conhece nem mesmo as obras básicas para a compreensão da sociedade brasileira. Jovens que não sabem quem foi Caio Prado Junior, Sérgio Buarque de Holanda” (não confundam com o filho, que é o cantor), Gilberto Freire, e outros. Muito menos leram Marx, Weber, Bourdieu; embora seus perfis sejam repletos de frases destes grandes pensadores dos séculos XIX e XX.

    A impressão que tenho é que temos um número grande de jovens que erguem bandeiras anarquistas, marxistas, feministas etc., sem nunca ter lido uma única obra dessas vertentes. Falam de discriminação racial, mas nunca leram “A integração do negro na sociedade de classes”, de Florestan Fernandes, ou outro trabalho substancial sobre o tema. Se intitulam marxistas sem nunca terem lido nem mesmo o Manifesto Comunista. Se considerarmos a incoerência que existe entre o que postam em seus perfis no facebook e o padrão de consumo em que se imergem vemos o quanto não passam de uma criação de um “produto” exposto na vitrine. Se perguntar-lhes sobre o “fetichismo da mercadoria” muitos poderão responder com uma indagação corriqueira: o que é isso?

    Parece que ser de esquerda (seja lá o que isso significa para cada um) está na moda entre os “semi-intelectualizados”. Criticam os que se intitulam “reacionários”, chamando-os de “coxinha” (em seu sentido pejorativo), para assim “vender” a imagem de revolucionários. “Interpretam” e julgam as posições dos outros como “revolucionários” ou “reacionários”, em outros termos, “preto” ou “branco”, como se entre essas duas cores não existisse uma infinidade de escalas de cinzas.

    Temo que tenhamos produzido jovens que, ao invés de verdadeiros revolucionários, são meros indivíduos que “seguem à onda”, à tendência… à moda. Jovens que estão mais preocupados em expor-se na vitrine do que mudar o mundo.

    Corremos o risco de termos criado e multiplicado “jovens produtos”. Daqueles que pensam apenas em se expor, seja na vitrine das redes sociais ou da TV. Daqueles que compram a camisa de Ernesto Che Guevara com a mesada do pai. Que adora ir ao shopping, mas nunca entrou na livraria para escolher um bom livro. Verdadeiros “revolucionários” de vitrine.

    Como disse Boaventura Sousa Santos, precisamos de revolucionários competentes.

     

     

    Notas:

    * Não tenho nenhuma pretensão de generalização. É certo que temos muitos jovens conscientes de suas realidades sociais e conhecedores de suas causas e com grande repertório teórico interpretativo.

    Como citar esse texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Revolucionários de vitrine?! Blog Café com Sociologia. 2017. Disponível em: colocar <aquilinodaposagem>. Acessado em: mês, dia, ano.

  • Florestan Fernandes: A  crise liberal-democrática da cultura*

    Florestan Fernandes: A crise liberal-democrática da cultura*

    Florestan Fernandes: A crise da cultura e o liberalismo*

    Florestan Fernandes

    O tema do momento é a crise de cultura no ocidente. Artigos, ensaios e profundas análises sociológicas têm sido escritos sôbre os aspectos e as graves consequências da mudança; poucos autores, entretanto, viveram tão de perto o drama da transição como Karl Mannheim, que conheceu na Alemanha totalitária o rebento espúrio do liberalismo e viu pessoalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos outro lado do desenvolvimento da sociedade liberal-democrática. Por isso tem especial interesse para nós um de seus ensaios (“As Causas da Crise Contemporânea da Cultura”, in Libertad y Planificación”), em que analisa a crise da cultura nas sociedades liberais-democráticas, partindo de dados fornecidos pela sociologia.

    democracia liberal

    Há uma estreita dependência entre sociedade e cultura, entre estrutura social e vida intelectual (Mannheim toma o termo neste sentido restrito), de modo que qualquer modificação ou transformação sofrida pela primeira, reflete-se nas esferas da segunda. Ora, a sociedade liberal-democrática do ocidente está em crise; ela passou ou está passando de seu estado de sociedade liberal-democrática de minorias para o de massas. Em consequência, os fatores sociais que agiram nessa transformação vão também agir sôbre a vida intelectual: a produção e a utilização (consumo, diz Mannheim) da cultura e as relações entre o autor e o público, que dependem estreitamente de certas condições sociais se transformam à medida que aquelas condições se modificam. Porisso, a vida intelectual também está ameaçada pelos dois princípios, mutuamente antagônicos, o liberal “laissez- faire” e a regulamentação, que lutam no campo econômico. Êle se arrisca a todos os perigos que decorrem do funcionamento sem nenhuma direção das sociedades democráticas de massas, que se tornam mais graves e agudos quando as formas liberais são substituidas por formas ditatoriais de regulamentação.

    Numa sociedade democrática, sabemo-lo, a cultura depende de “normas peculiares de uma ordem social não regulamentada”. Há apenas um mínimo de organização artificial, aparecendo essas sociedades, à primeira vista, como “um conjunto casual e inarticulado”. Uma análise mais profunda, todavia, mostra que mesmo nas esferas não econômicas há processos similares ao da livre-concorrência, com um ajustamento automático entre a classe que produz e a que assimila a cultura, através de atividades inorganizadas e privadas.

    elite

    Uma análise da cultura, encarada sob êste ponto de vista, deve começar, está claro, por aquêles que criam a cultura, isto é, os intelectuais e por sua posição dentro da sociedade, considerada como um todo. Verificamos, então, que os intelectuais se constituem, na sociedade liberal-democrática da minoria em “élites” reduzidas, cuja missão essencial consiste não só em criar a cultura, mas em lhe dar uma forma, um significado social e institucional. Elas estimulam o desenvolvimento do conhecimento objetivo e as tendências à introspecção, à contemplação e à reflexão. Quando estas “élites” são destruidas ou encontram obstáculos à sua organização, as condições sociais necessárias ao aparecimento da cultura e sua manutenção desaparecem. A crise contemporânea da cultura se explica justamente a partir dos obstáculos aparecidos na seleção das “élites” criadoras em consequência da transição da sociedade liberal-democrática de minorias para a de massas: “a crise da cultura na sociedade liberal-democrática é devida em primeiro lugar ao fato de que os processos sociais que antes favoreciam o desenvolvimento das minorias seletas criadoras, agora produzem o efeito contrário, isto é, chegam a ser obstáculo à formação das “elites”, porque seções mais amplas da população, ainda que se achem em condições sociais desfavoráveis, tomam uma parte ativa nas atividades culturais” (pgs. 78-79). Aí se apresentam os processos de “democratização negativa”, de “seleção negativa”, etc., que resultam da democratização da cultura, a qual deu amplas oportunidades para um número muito grande de indivíduos que procuraram se orientar preferencialmente, para êsses grupos seletos e criadores.

    À medida que êsse fenômeno se firma, vemos a história dramática da sociedade democrática do ocidente repercutir no desenvolvimento de sua vida intelectual. As minorias seletas aumentam em número, devido ao crescente afluxo de indivíduos, e perdem grande parte de seu poder, tendendo a exercer cada vez menos suas funções e suas influências diretoras. Paralelamente, o público organizado que se punha entre o autor e a minoria como intermediário, desaparece, ficando o autor sujeito, bruscamente, à influência direta das massas, que aumenta de importância. Este público _ um público _ massa, desintegrado, reunindo-se em função de estímulos sensoriais – não influe no autor como aquele outro que, selecionado em grupos estáveis, tinha determinados gostos e tipos de reação. E assim, uma excessiva democratização da cultura e a consequente ascensão de indivíduos e grupos que não estão educacionalmente preparados para ocupar aquelas funções intelectuais, faz com que seus valores predominem e haja uma consequente queda no nivel cultural médio.

    Êsses processos sociais, porém, apresentam dois aspectos distintos: na primeira fase de transição os resultados sempre foram favoráveis e positivos (por exemplo: indivíduos provenientes de outras classes sociais levavam às “élites” novos interêsses e pontos de vista, ampliando seu horizonte cultural; serviam de intermediários entre aquelas minorias e a maioria, reajustando a cultura à sociedade, etc.). Mas, o mecanismo liberalista não permite parar aí o processo _ êle ampliou-se demasiadamente e sem orientação, ganhando continuamente em massa e perdendo em qualidade.

     

    Desintelectualsas facilidades de aquisição da cultura resultou uma proletarização da “inteligentsia”, aparecendo no mercado de trabalho intelectual mais oferta do que procura. O significado desta proletarização seria a perda do valor social das profissões liberais e consequente atribuição de menor importância a essas atividades por parte da opinião pública. Diminuido o valor do intelectual, é lógico que também diminuisse o valor do produto de seu trabalho _ a cultura. Isto não aconteceu imediatamente após a passagem da sociedade aristocrática para a liberal-democrática porque esta, em seu primeiro período, apareceu sob a forma de minorias seletas (a riqueza era condição indispensável para a vida intelectual). Mas, passou-se para a sociedade de massas e com a democratização da cultura aparecem aspectos novos nos processos de formação e de seleção das “élites” que, apresentando inicialmente ótimos resultados culturais, acabaram por levar às suas consequências negativas inevitáveis.

    Restam duas perguntas, que Mannheim procura resolver: por que só agora a cultura adquiriu seu caráter de massas e não quando apareceu o proletariado? Por que a decadência cultural se tornou visível só quando a democratização da cultura afetou as classes não proletárias? A mentalidade de uma classe, diz Mannheim, depende de sua situação frente à produção econômica. Porisso o proletariado, que deve a sua existência ao progresso da industrialização e à racionalização técnica, procura desenvolver a sociedade de massas nesse sentido. A classe que ficou com o poder, nas sociedades liberais-democráticas de massa pertence à burguesia _ aos seus mais baixos estatus: pequenos funcionários, homens de negócios pouco importantes, pequenos lavradores e comerciantes, etc. Ora, o invento técnico, a racionalização, a produção em grande escala são seus inimigos naturais e por êles são combatidos incondicionalmente, com a finalidade de impedir o aparecimento das grandes fábricas, das grandes emprêsas, etc.; mas, nada se pode alterar numa das esferas da sociedade sem alterar as demais esferas sociais, e qualquer tentativa de regressão social e econômica a uma éra precapitalista precisa ser acompanhada de uma modificação da mentalidade existente também para formas precapitalistas. Essa classe média procurará resolver o impasse agindo artificialmente sôbre a racionalização técnica, esforçando-se por atenuar a industrialização, a organização em grande escala e impedir a proletarização crescente nas sociedades democráticas de massa. Isso não se efetua por si mesmo, automaticamente, mas só pela interferência da fôrça ou de um plano: o desenvolvimento da sociedade liberal-democrática desorganizada culmina na ditadura, implicando todos aquêles inconvenientes da substituição de formas livres por outras impostas artificialmente.

    É claro que essa é uma etapa do desenvolvimento social das sociedades modernas que sem dúvida, vencendo a crise, acabarão por modelar seus elementos em formas culturais estáveis. Contudo _ e a crítica de Mannheim é contra isto _ aplicamos atualmente os processos de seleção a suas correlatas instituições de um modo inadequado, já que não visamos mais a seleção limitada de intectuais. Êste e outros defeitos de funcionamento da sociedade liberal-democrática podem levar ao naufrágio da civilização; mas, a ditadura, de forma alguma pode ser oposta a estas tendências negativas do liberalismo, porque ela mesma “nasce da atuação negativa das fôrças da democracia de massas, e não é mais que uma tentativa violenta para estabilizar uma etapa do desenvolvimento da sociedade liberal que por sua natureza era transitória”.

    * Publicado na Folha da Manhã, quinta-feira, 16 de março de 1944.  Neste texto foi mantida a grafia original. Especial para a “Folha da Manhã”. Publicado originalmente no site da Folha de São Paulo.

     

  • Como surgiu o dinheiro? uma breve provocação à teoria convencional e ao mito do escambo

    Como surgiu o dinheiro? uma breve provocação à teoria convencional e ao mito do escambo

    Como surgiu o dinheiro?

    David Deccache

    Por David Deccache*

     

    A resposta mais usual para essa pergunta complexa é extremamente simples. E errada. Vejamos:

    No Manual de Macroeconomia elaborado pela equipe de professores da USP a resposta é: “O surgimento da moeda decorre do progresso econômico, com a especialização dos indivíduos em produções isoladas, que não são capazes por si só de atender ao conjunto de todas as suas necessidades. Para a satisfação destas, devemos recorrer cada vez mais aos demais agentes para obter, por meio de troca, os produtos que necessitamos. As trocas podem ser feitas de forma direta, o escambo, ou de forma indireta, pela intermediação da moeda.”

    A mesma história contada acima é encontrada em praticamente todos os manuais de economia. De maneira resumida, o argumento padrão é mais ou menos assim: era uma vez o escambo, um sistema que requer uma dupla coincidência de desejos, ou seja, se alguém produz pregos e deseja sapatos, tem que encontrar algum produtor de sapatos que esteja disposto a adquirir pregos. Como o escambo era um sistema muito difícil, as pessoas inventaram o dinheiro, ou seja, escolheram uma mercadoria de aceitação geral que passa a ser utilizada para liquidar as transações. Além disso, normalmente, as mercadorias escolhidas como moeda não poderiam ser perecíveis, ou seja, deveriam armazenar seu valor ao longo do tempo, nesse sentido, carne, por exemplo, não seria uma boa moeda, já o ouro e outros metais seriam ideais. A mercadoria para ser moeda também deveria ser facilmente mensurável e divisível (fácil de pesar e dividir – tipo o ouro). Daí que se deriva as funções clássicas da moeda: meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. Eis o reino da fantasia do escambo. E é assim que quase todo economista tem seu primeiro contato com a economia monetária.

    A história acima até que é bem amarrada, intuitiva, criativa. Convence mesmo. Mas isso ainda não quer dizer muita coisa. A história da terra plana também foi aceita por muito tempo (pasmem, tem gente que ainda acredita nisso até hoje). O criacionismo, dada a sua simplicidade, também é bem mais popular que a teoria da evolução. Enfim, para todo problema complexo, há uma resposta simples, intuitiva, didática e … errada.

    O grande problema da história acima é que ela não passa de um mito. E o mito, como muito bem explica João Sayad, se opõe a história: “A história procura desvendar o que aconteceu realmente no passado. O mito é uma história, ou melhor, uma estória que não aconteceu realmente.”

    Segundo David Graeber, professor da London School of Economics com doutorado em Chicago e um dos maiores antropólogos do dinheiro da atualidade, há quase um século os antropólogos já desmontaram o mito do escambo. Não há, em toda a antropologia do dinheiro, nenhum indício de que um dia, em qualquer lugar do universo conhecido, existiu uma sociedade como a apresentada nos livros introdutórios de economia. Porém, ainda de acordo com Graeber, há numerosos indícios sugerindo que isso nunca aconteceu.

    A grande antropóloga Caroline Humphrey, da Universidade de Cambridge, após décadas de pesquisa, é enfática: “Nunca foi descrito nenhum exemplo puro e simples da economia do escambo, muito menos de que o dinheiro tenha surgido do escambo; toda a etnografia existente sugere que esse tipo de economia nunca existiu.” Anne Chapman reafirma de maneira ainda mais incisiva a posição de Humphrey ao afirmar que não há evidências de nenhum sistema puro de escambo na história da humanidade (David Graeber).

    A construção desse mito, obviamente sem qualquer seriedade científica, sustenta toda a teoria econômica convencional: os seres humanos possuem uma propensão natural à troca e, a partir disso, organizam sociedades baseadas no escambo que evoluem – naturalmente e graças ao aprofundamento da divisão do trabalho – para sociedades capitalistas de mercado no qual a moeda serve como mera mercadoria escolhida para facilitar as trocas. Sendo assim, o mito do escambo deriva de um outro mito acerca da natureza humana (mas que não é assunto para um texto de Facebook). Essas coisas, ao menos no campo da Economia, surgem com Adam Smith, que na época, obviamente, não tinha acesso aos estudos arqueológicos e antropológicos que temos hoje. Tudo isso tem implicações importantes na teoria econômica e nas políticas concretas, uma delas é a de que o Estado realiza os seus gastos retirando o dinheiro que surge de maneira espontânea nos mercados.

    E se o mito do escambo, desculpem a redundância, é um mito, qual seria a explicação correta para o surgimento da moeda?

    Ao contrário dos economistas que elaboram uma resposta simples, didática e totalmente ofensiva à boa ciência, os antropólogos não possuem um relato simples para a origem do dinheiro. Nem mesmo possuem uma teoria única e isenta de grandes debates acadêmicos. O dinheiro é algo complexo, seu surgimento, mais ainda. Comparar o mito do escambo que sustenta a teoria monetária convencional com as teorias científicas do surgimento do dinheiro é como comparar o criacionismo com a teoria da evolução e suas dezenas de polêmicas e debates internos. Por isso vou focar em apenas uma das muitas hipóteses sérias que buscam responder a questão que abre o texto.

    De maneira breve, uma das teoria sólidas e com boa comprovação teórica (o que não a torna inquestionável), é a teoria cartalista da moeda, ou seja, a teoria da moeda como criatura do Estado. Basicamente, o Estado estabelece o que aceita como pagamento de tributos e o que ele determinar como moeda as pessoas buscarão obter para liquidar suas obrigações tributárias. Se ele determinar como meio de pagamento uma moeda que ele possui o monopólio da emissão, as pessoas (em um primeiro momento) terão que oferecer bens e serviços ao Estado soberano em troca de moeda para liquidar suas obrigações tributárias. Os outros agentes econômicos privados buscarão barganhar com as pessoas que possuem moeda estatal para também fazer frente às suas obrigações. É assim que a moeda é imposta. O mais importante disso é notar que, ao contrário da teoria convencional do setor público baseada no mito do escambo, o Estado não arrecada para depois gastar. É justamente o contrário: o Estado gasta para poder arrecadar. A tributação é uma forma do Estado impor a demanda pela moeda que ele mesmo emite.

    David Graeber mostra que os mercados aparecem, geralmente, ao redor dos antigos exércitos (foi assim para o Arthasastra, de Kautilya; o círculo da soberania sassânida e para os “discursos de sal e ferro” chineses). Uma história padrão para simplificar os casos acima, é a seguinte: se um Rei da antiguidade quisesse manter um grande exército em determinada região seria necessário mobilizar os recursos regionais em torno da manutenção dos soldados na região. Seria necessário comida, abrigo, roupas e afins. Se o Rei simplesmente entrega moeda para os soldados e exige que cada família da região devolva uma quantidade equivalente de moeda como pagamento de tributos, toda a economia regional seria transformada, de uma só vez, em uma máquina de provisão de recursos necessários à manutenção dos soldados. O poder do Estado, que se manifesta através da moeda estatal, criaria e organizaria o mercado em torno dos objetivos traçados pelo Rei. Aqui há mais uma conclusão importante: apesar da teoria liberal convencional colocar Estado e Mercado como entes antagônicos, há fartas evidências históricas que comprovam o contrário: Estado e Mercado se associam em um processo simbiótico, ou seja, sociedades sem Estado tendem a não ter mercados.

     

    *David Deccache é Economista com Mestrado em Economia em andamento pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Lecionou, como tutor, as disciplinas de Macroeconomia e Introdução à Economia no curso de Administração Pública oferecido UFF em parceria com o CEDERJ

  • Família(s), alteridade e etnocentrismo

    Família(s), alteridade e etnocentrismo

    Etnocentrimo 
    Cristiano bodart perfil
    Cristiano Bodart, doutor em Sociologia pela USP. Professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal)

    Tenho notado que o tema família vem sendo recorrente na sociedade atual; quase sempre os discursos envolvem etnocentrismo.

    Antes de mais nada, tenho notado que o tema família vem sendo recorrente na sociedade atual; quase sempre os discursos envolvem ideologias. Grosso modo, vemos dois polos opostos: os que dizem defender uma ideia de família tradicional e; os progressista. É claro que há uma multiplicidade de variações discursivas, no entanto, duas se destacam por estarem mais presentes na grande mídia e nas redes sociais.

     
    Nesses discursos quase sempre falta alteridade e sobra etnocentrismo. Isso de ambos os lados.
    É justamente os conceitos de alteridade e de etnocentrismo que nos ajudam a compreender esse embate ideológico e nos possibilitar caminhar rumo a uma sociedade melhor, uma coexistência respeitosa.
     

    Os discursos

    Em síntese, os dois discursos temos algo próxima a:
     
    Defesa da família tradicional, a qual vai do discurso religioso ao “moralista” = “devemos preservar a família como Deus criou”; “Família só se constitui com reprodutores (homem + mulher)”; Sem um parâmetro de pai e mãe a criança fica desorientada”.
     
    Defesa de novos modelos de família, que vai desde o discurso progressista, passando pelas liberdades individuais e indo ao discurso “militante” = “Família é um grupo primário de afeto, independente de gênero”; “Família não necessariamente precisa ter função reprodutora, mas acolhedora”; quem determina a constituição de uma família deve ser os indivíduos livres e não a sociedade e sua tradição”.
     
    Assim, de um lado grupos que defendem a manutenção da “tradição ocidental cristã” e de outro os que buscam reformulações das regras e valores sociais que hoje estão estabelecidos. O problema está no fato de que muitos acreditam que um aniquila o outro. Tal problema tem entrado no campo político institucional. Um exemplo disso foi uma enquete criada pela Câmara dos Deputados para averiguar a opinião dos cidadãos manifestantes na enquete (como se isso competisse ao Estado) e a PL – 6583/2013 (ver aqui) que “dispõe sobre o Estatuto da Família e dá outras providências”. Enfim, além das discussões nas redes sociais e na vida cotidiana, tal “embate” tem sido objeto de discussões institucionais igualmente marcadas por etnocentrismo.
     

    A alteridade

    A alteridade passa pela aceitação do outro, o que em meio a discursos e posturas militantes tende a não acorrer. Alteridade implica em coexistência respeitosa, em aceitação do outro, do diferente.
     
    Um problema notório está na “confusão” entre aceitar e concordar. Vejamos: eu posso aceitar algo e não concordar com ele. O que chamo de aceitação demanda respeito e coexistência. Concordar passa pelo consenso, pelo comum acordo, o que acredito ser impossível em muitos casos e temas e nem por isso devemos nos confrontar (sobretudo de forma etnocêntrica) em cada um deles.
     
    Para que não sejamos etnocêntricos, julgando o comportamento cultural dos demais a partir de nossos valores e crenças, é necessário diferenciar o “aceitar” de “concordar”. Uma mãe, por exemplo, pode aceitar que seu filho faça uma determinado curso superior, mas não concordar, sem contudo deixar de respeitar a escolha dele.
     
    Assim, sem aceitação não há concórdia, mas é possível aceitar, sem contudo, abrir mão de seus valores e crenças.

    O que realmente importa

    O importante é praticar o respeito e a coexistência pacífica, tendo ciência que não somos iguais e temos o direito de pensar diferente, mas não de atacar e desrespeitar tais diferenças ou os diferentes.