“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” (Paulo Freire).
Devido a muitos questionamentos em relação à importância das ciências humanas neste mundo tomado pelo imediatismo do mercado e buscando também responder a famosa perguntinha: “Para que serve Filosofia e Sociologia?”, lembrei-me de Francis George Steiner, crítico literário, professor na Universidade de Cambridge e Genebra. No livro Linguagem e silêncio, George Steiner, ao referir-se ao Nazismo na Alemanha, nos mostra o paradoxo da época de a Alemanha ter uma filosofia e uma intelectualidade altamente avançada e, ao mesmo tempo, ter aderido ao regime Totalitário.
Steiner expõe que os gritos dos campos de concentração eram ouvidos de dentro das universidades na Alemanha, de forma que o autor ao referir-se a este paradoxo se questiona como aquela nação pode ter aceitado isso.
Outro aspecto referente ao Nazismo apresentado pelo autor diz respeito a um engenheiro de uma empresa metalúrgica muito famosa, existente até hoje, que ganhou uma concorrência para construir uma linha de produção mais eficaz que interligasse fornos crematórios e ao mesmo tempo com o objetivo de aumentar a produtividade que era queimar mais judeus. E este engenheiro justificou pós-guerra que estava simplesmente obedecendo a uma concorrência entre empresas famosíssimas na época.
Até que ponto esta atitude “racional”, “burocrática” ou “técnica” por parte deste engenheiro, pode justificar as aberrações provocadas por estes fornos crematórios nazistas? Tanto a politização excessiva quanto a burocratização inquestionável podem ser bastante perigosas.
Qual o papel da educação? O que é formação? Existe neutralidade científica no processo educativo? Por que o século XX é entendido por grande parte dos pensadores, acadêmicos e os mutilados (sobreviventes dos conflitos) como um século de crise? A ciência tem sido usada a serviço de quem e do que? São questões humanas fundamentais que as ciências humanas nos ajudam a pensar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. 5ª edição. São Paulo: Cortez, 2001.
STEINER, G. Linguagem e Silêncio: ensaios sobre a crise da palavra. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
[1] Sociólogo, Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Educador físico; Professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI, Campus Parnaíba); email: tarcisio19@ig.com.br.