Por Roniel Sampaio Silva
No primeiro dia de aula de um certo ano letivo me deparei com uma turma de alunos a qual estava ansiosa para iniciar o ano letivo. Enquanto eu me apresentava, conhecia os alunos eu explicava qual era meu papel. Na ocasião fiz uma afirmação inicialmente impactante: “Sou aqui ora carcereiro, ora chaveiro”. Explico.
Olhem ao redor, repare que a sala de aula nada mais é que uma jaula de concreto. Quem impede você de sair? Esse que vos fala, o professor. Somos, portanto, carcereiros na medida em que vocês alunos cumprem uma “pena”, cujo tempo corresponde a duração do curso. A disciplina é algo inicialmente doloroso e externo, porém que se estende ao indivíduo e lhe dá oportunidade de crescimento.
Se inicialmente usamos nossas chaves para manter cativo nossos alunos é por meio delas que lhes ensinamos a abrir as portas das oportunidade. É neste sentido que os ensinamentos compartilhados pelos professores nos torna chaveiros.
Somos pessoas que ensinam nossos alunos a usar essas mesmas chaves para abrir certas portas as quais eles teriam muita dificuldade para abrir sozinhos.
Basicamente somos carcereiros e chaveiros. Carcereiros porque ora confinamos os alunos espacialmente, temporalmente e temporariamente dentro de uma sala de aula. Chaveiros porque paradoxalmente é dessa privação temporária de liberdade que o aluno se disciplina e aprende a se torna mais livre para desenvolver a sua autonomia intelectual. É neste sentido que para o professor é uma grande satisfação quando ele sai da condição de carcereiro para chaveiro.
Publicado originalmente em 19 de janeiro de 2017