Brincando de sociólogo!!?? Símbolos, Status e Papéis Sociais

Hoje li um post no blog https://im-postura.blogspot.com/ que me chamou atenção. Abaixo segue a postagem:

“Vamos agora brincar um pouco de sociólogos…

De uns tempos pra cá, virou moda neguinho ficar usando cordão de prata ou de ouro, no pescoço. Essa mania, para quem pensa para além do que os olhos vêem, pode ser o resultado de outras manias e pode revelar facetas ocultas do comportamento contemporâneo das grandes cidades.
Antigamente, quando eu era adolescente, essa era uma mania exclusiva dos bandidos. Cheguei a jogar futebol num morro aqui da Tijuca e os caras que passavam com cordões no pescoço eram logo designados: “Olha lá.. aquele é o bandido tal”. Ninguém que não fosse do grupo dos “foras-da-lei” usava os tais cordões…
Passou-se o tempo. E a pergunta que fermenta essa pequena reflexão é a seguinte: os cordões foram salvos de sua simbologia malfeitora ou foram as pessoas, no geral, que ficaram mais “bandidas”?… Respostas para a redação…” (Marcelo Henrique Marques de Souza, Rio de Janeiro, RJ, Brazil, Escritor, professor e blogueiro).

Meus Comentários referente ao post acima:

Para “brincar de sociólogo”, parto das seguintes questões:
1. Objetos sempre foram usados como símbolos de poder e;
2. Os símbolos são mutáveis no tempo/espaço.
 
Se os cordões deixaram de ser símbolos de poder no tráfico não sei precisar, mas que os mesmos continuam apresentando-se como um símbolo de poder, especialmente nas periferias, isso é bem provável. Ao usar um desses, o indivíduo busca demonstra que tem poder… de consumo… de acesso à moda … de sedução… tudo dependendo do ambiente.
 
Nos bailes funk, por exemplo, tais cordões são objetos de desejo por parte de muitos jovens. Talvez por estar ainda ligado ao poder do tráfego, ou ao poder que possuem alguns traficantes… é uma possibilidade.
Mas por que fora do “morro” o tal objeto vem sendo utilizado?  Acredito que o motivo esteja na ampliação do domínio dos antigos usuários de tais cordões – que ainda os usam – sobre a indústria cultural, seja ela “pirata” ou legal. 
Cantores que vieram desse contexto de poder, hoje estão na mídia, vendendo suas músicas e seus estilos. Aí, acredito, está o motivo de tantos jovens estarem usando esse “símbolo do poder”. Usam não mais como símbolo de poder de “dono do morro”, mas dono de um poder de consumo supostamente existente, espelhado no seu ídolo musical ou em algum jogador de futebol que tem suas origens nesse “mundo”.

Convido, você leitor do Café com Sociologia, a brincar de sociólogo. Deixe sua reflexão nos comentários.

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

3 Comments

  1. Hoje parece “normal” garotas usarem tatuagens, mas quando se trata de alguem do sexo masculino usar tatuagem, é difícil não não ser preconceitoso com ele. Acho que é um estereotipo de piratas, bandidos, encarcerados.

  2. Dr. Cristiano Bodart, admiro como a sociologia nos ensina o valor do uso dos simbolos(não é necessário dizer”sociais, pois são uma caracteristia humana) como representativos dos valores tanto de grupos quanto da sociedade em geral.

  3. Gostei de sua análise do post acima, pois serviu para minha reflexão a propósito dos símbolos de que eles não se referem apenas a valores como tambem a objetos :a cruz( religião) a bandeira(união nacional) etc.PS. gostaria que o Sr.comentasse minha reflexão, pra que eu possa saber se falo coisas certas ou “besteira”

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