fim do mundo

A sociologia do apocalipse: uma sociologia para entender o fim

A sociologia do apocalipse parece ser um termo espantoso, porém é essa definição que faço para um conjunto de teorias sociológicas que abordam uma eventual e possível destruição da humanidade. O assunto da ordem do dia foi o desaparecimento total da humanidade e a destruição do planeta. E o que a sociologia tem a dizer sobre o fim do mundo?

Embora o mundo não tenha acabado como muitos professaram está cada vez mais recorrente a ideia do fim da existência humana. Se pararmos pra pensar sociologicamente sobre isso, poderemos apresentar um outro olhar sobre o tema.

sociologia do apocalipse

Preliminarmente, devemos analisar a frequência desta profecia a qual tem se remontado cada vez mais aos anos recentes, sobretudo à última década. É fato que muitas religiões e culturas falam no mundo, da humanidade e até dos deuses. A exemplo disto, na cultura cristã este período é conhecido como Apocalipse; na mitologia nórdica como Ragnarok; Quiyamat para o islã. Muitas destas crenças falam em sinais do fim dos tempos. É possível que haja alguma relação entre estes “sinais” a uma série de mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais. Tais mudanças dão mais força a tese e isso pode está dando uma comoção generalizada e global em razão das mudanças sociais também serem globais.

Nos anos 2000 tal burburinho relacionado ao fim do mundo tem ganhado mais força: 2000, 2002, 2006, 2008 e 2011 e por fim 2012. Pensando sociologicamente sobre o caso, podemos suspeitar que alguma coisa tem sido reforçada nos anos 2000 para que esta crença se fortalecesse. Confesso que não sei precisar exatamente qual ou quais causas tem reforçado mas podemos recorrer a algumas pistas.

Particularmente, a ideia de fim do mundo pelo que eu chamo de “sociologia do apocalipse” remontada aos episódios recentes pode está associada à simbologia da mudança de ciclo, ingresso no novo milênio e etc. Além disso, há interesses financeiros e sensacionalistas chancelados pela mídia e pelo que chamo de “indústria do risco” a qual tira proveito da sensação de insegurança das pessoas para beneficiar-se financeiramente. Ou ainda a explicação para o fim do mundo pode está associada à insatisfação das pessoas as desigualdades, guerras e catástrofes atuais, bem como uma série de problemas de ordem social.

Recorrendo a ajuda do sociólogo britânico Antony Giddens, através da sua obra “Consequências da modernidade” podemos analisar o fenômeno do fim do mundo como fenômeno social em razão de haver um padrão na expectativa em relação ao fato, caracterizando assim um comportamento social. Sobretudo o autor procurar fazer uma análise do período em que vivemos com base na ideia de desencaixe. A final o que seria desencaixe e que qual sua relação com o fim do mundo?

 

Para Giddens a modernidade proporcionou um momento em que a “tradição genuína” foi sendo gradativamente suplantada por uma “tradição inventada”, isso fez com que a percepção sobre risco, confiança e segurança fossem alterados em razão do “desemcontro” ou, como ele mesmo chama de “desemcaixe” de novas e velhas instituições sociais.

 

Exemplificando isso, este choque de tradições pode ser ilustrado na crença de que o casamento gay seria um indicador do juízo final. Outro exemplo que remonta a insegurança em relação às novas e velhas instituições está no fato de no mundo atual podemos a qualquer momento sermos extintos por uma guerra nuclear global; as alterações climáticas continuam a causar grandes catástrofes ou ainda, podemos ser aniquilados por uma pandemia global, embora não pareça, analisando cuidadosamente podemos perceber que todos estes aspectos tem alguma relação com o social.

Portanto, a sociologia de Antony Giddens pode nos auxiliar a compreender que a ideia que temos de fim do mundo pode ser associado ao ele chama de “desencaixe”, provocado pelo surgimento da modernidade. Noutras palavras, velhas e novas instituições sociais criam novos padrões sociais que muitas vezes são contraditórios. Todo este cenário reforça a crença que do ponto de vista social um mundo contraditório é um mundo em destruição.

A sociologia do apocalipse está cada dia mais necessária com os recorrentes ensaios do fim da nossa espécie.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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