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Ao contrário do que te contaram, a doutrina socialista foi(é) triunfante!

 Ao contrário do que te contaram, a doutrina socialista foi(é) triunfante!*

Por Cristiano das Neves Bodart
 
É comum o argumento simplista de que “o socialismo não deu certo”. Sob certa perspectiva, mais crítica e menos simplista, essa assertiva é equivocada. O socialismo, sob uma perspectiva mais ampla, é uma doutrina triunfante.
 
Alguns argumentarão: mas como é triunfante se não deu certo na Ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (ex-URSS)! Ou ainda dirão: Veja as condições atuais de Cuba e Coréia do Norte! Esses argumentos são simplistas e, por sua simplificação, reduz o socialismo à regimes políticos e práticas de governos ditatoriais que foram colocados em práticas a partir de concepções diferentes (inclusive bem diverso da proposta marxiana), não o compreendendo enquanto doutrina.
 
Olhando o socialismo como doutrina, notamos que este triunfou, não como muitos socialistas desejavam, mas triunfou em questões de grande importância para a classe trabalhadora. Como disse certa vez o sociólogo Antonio Candido, “o que se pensa que é a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele”**.
 
antonio candido
Compartilho com Antonio Candido de que o socialismo são “todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado”.
 
O socialismo, sob essa perspectiva, é, como afirmou Candido, o irmão gêmeo do capitalismo. Surgiram juntos, na Revolução Industrial, e percorreram a história moderna lado a lado. O Capitalismo da Primeira Revolução Industrial deu origem ao operário de fábrica, assalariado, explorado e, muitas vezes, castigado fisicamente. É nesse mesmo contexto de ampliação do sofrimento e exploração do operário, fruto do objetivo genuíno capitalista, que desenvolveu-se as diversas tendências que lutavam contra a exploração e expropriação do trabalhador, o que veio a ser classificado/conhecido como socialismo em suas diversas tendências/tipos.
 
O que hoje se pregoa como “face humana do capitalismo” é o triunfo do socialismo. A face do capitalismo é baseado na mais-valia, na apropriação do trabalho de outrem, da exploração que viabiliza o acúmulo de capital e maximiza as desigualdades sociais. As conquistas sociais e trabalhistas não foram conquistas do capitalismo, mas conquistas socialistas que, com muitas lutas, foram minando parte da estrutura capitalista. Assim, a jornada de trabalho reduziu, instituiu-se um salário mínimo, férias, 13º salário, licença maternidade, justificativa de falta por meio de atestado médico, etc. Eis “elementos socialistas” que minaram o capitalismo. Ou você acredita que são conquistas do capitalismo? Que foram os patrões que desejaram repartir um pouco de seus lucros com seus empregados? Como disse Antonio Candido*,

“O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo.”

As conquistas trabalhistas no interior dos países europeus, por exemplo, deu-se a partir de lutas fomentadas pelos ideais de igualdade, solidariedade e humanismo, as quais são princípios socialistas. Suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas e onde isso não vem ocorrendo de forma mais ampla, as condições de vida da maior parte da população são lamentáveis. O socialismo precisa avançar ainda mais. Não estou me referindo a nos tornar um país de regime socialista (sobretudo destes que têm por aí), mas os ideais socialistas de igualdade devem minar a lógica capitalista rumo a um mundo menos desigual e mais justo. O valor deve estar mais nas pessoas do que nas coisas. O trabalho deve ser humanizador e não desumanizador.
 
Nesse sentido e sob essa perspectiva, o Socialismo vai avançando… vai mimando o capitalismo de tal forma que muitos direitos trabalhistas já são amplamente reconhecidos. Antes clamar por melhores condições trabalhistas era coisa de “comunista”, hoje nem tanto. E o socialismo vai mimando também a percepção da sociedade… quem sabe há uma luz no fim do túnel?
 
 
 
Notas:
 * Texto originalmente publicado em 2016 aqui mesmo no blog Café com Sociologia.
**Entrevista publicada originalmente na edição 435 do Brasil de Fato.

 

 

 
 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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