Aula sobre redação: A importância da aula sobre redação na formação crítica e cidadã
Escrever bem não é apenas uma habilidade escolar: trata-se de uma ferramenta essencial para a vida em sociedade, o exercício da cidadania e o acesso a oportunidades. Nesse sentido, a aula sobre redação cumpre um papel fundamental no desenvolvimento de competências cognitivas, linguísticas e sociais dos estudantes, especialmente quando o foco está voltado para produções dissertativo-argumentativas, como as exigidas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A proposta de redação do Enem parte do pressuposto de que o estudante deve articular conhecimentos diversos, defender um ponto de vista com coerência e coesão e apresentar uma proposta de intervenção social fundamentada e respeitosa aos direitos humanos. Para tanto, a cartilha A Redação do Enem 2023 detalha as cinco competências avaliadas, sendo elas: domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa; compreensão da proposta e desenvolvimento do tema; construção de argumentos; coesão textual e elaboração de proposta de intervenção (BRASIL, 2023).
Nas aulas de redação, é essencial que o estudante compreenda a relevância de cada uma dessas competências. A Competência I, por exemplo, exige o domínio gramatical e ortográfico, assim como a construção sintática adequada. Isso reforça a importância do ensino contínuo da gramática normativa e do uso da língua em diferentes gêneros textuais. Como explica Fiorin (2017), a linguagem é um instrumento de ação no mundo; por isso, o domínio da norma culta possibilita ao sujeito maior inserção nos espaços sociais formais.
Mais do que regras, a redação exige consciência de estrutura e propósito. O texto dissertativo-argumentativo é uma composição organizada logicamente, com introdução, desenvolvimento e conclusão. A Competência II valoriza a capacidade do aluno em compreender o tema proposto e desenvolver sua argumentação com base em repertório sociocultural. Segundo Antunes (2014), a boa escrita nasce de um bom leitor, e, por isso, o desenvolvimento de habilidades leitoras deve estar intrinsecamente ligado ao processo de produção textual.
Além disso, a Competência III do Enem avalia como o estudante seleciona, organiza e interpreta informações e argumentos. Esse é o ponto em que se expressa a originalidade e a autoria, o que pressupõe não apenas repetir conteúdos, mas selecionar ideias pertinentes e desenvolvê-las criticamente. Nesse contexto, o papel do professor de redação é atuar como mediador entre o conteúdo e a prática, incentivando o planejamento do texto, a revisão e a reflexão metalinguística.
O texto deve também apresentar coesão e continuidade temática, aspectos avaliados pela Competência IV. Conforme a cartilha do Enem, espera-se o uso eficaz de operadores argumentativos e pronomes referenciais, garantindo a articulação lógica das ideias. Koch e Elias (2006) destacam que a coesão não é meramente gramatical: ela envolve a construção de sentido e o encadeamento semântico das ideias.
Por fim, a Competência V exige que o estudante proponha uma intervenção social viável e detalhada, respeitando os direitos humanos. Essa é, sem dúvida, uma das marcas mais significativas da redação do Enem, pois requer que o estudante assuma uma postura cidadã diante do problema discutido. Para isso, a escola deve estimular a consciência crítica e o debate sobre questões sociais, promovendo o protagonismo juvenil.
A prática da redação não deve estar restrita aos momentos de avaliação. É preciso desenvolver uma cultura de escrita no cotidiano escolar, com exercícios progressivos, leituras reflexivas e análises de textos-modelo. Como observa Geraldi (1997), ensinar a escrever é ensinar a pensar, pois o ato de escrever demanda organização, clareza de ideias e domínio argumentativo.
Portanto, uma aula sobre redação eficaz deve ser estruturada de modo a contemplar a leitura crítica, o planejamento textual, a escrita e a reescrita. Cada etapa do processo contribui para a formação integral do aluno, desenvolvendo não apenas sua competência linguística, mas também seu senso ético e sua capacidade de intervenção social.
No próximo bloco, aprofundaremos o papel das competências avaliativas do Enem, relacionando-as a práticas pedagógicas eficazes em sala de aula.
Aula sobre redação: As cinco competências do Enem como eixo estruturante
Compreender as cinco competências da matriz avaliativa do Enem é essencial para planejar e conduzir uma aula sobre redação eficaz. Elas não apenas norteiam os critérios de correção da prova, mas também oferecem parâmetros sólidos para o ensino da escrita argumentativa na educação básica. Quando internalizadas pelo estudante, essas competências funcionam como bússolas para a construção de um texto claro, coeso e pertinente.
Aula sobre redação: Competência I: Domínio da modalidade escrita formal
A primeira competência refere-se ao domínio da norma-padrão da língua portuguesa. Esse domínio não se limita ao uso correto da ortografia, da acentuação ou da pontuação, mas estende-se à construção sintática complexa e à escolha adequada do vocabulário. Como afirma Cunha (2011), escrever bem exige não apenas saber as regras, mas saber aplicá-las de modo pertinente ao contexto e à intenção comunicativa.
De acordo com a cartilha do Inep (2023), textos com estruturas sintáticas complexas, boa organização dos períodos e uso adequado da variedade formal da língua são os que mais se destacam nessa competência. Por isso, nas aulas de redação, é recomendável promover atividades que valorizem a prática da escrita formal, como a reescrita de textos, o uso de conectores apropriados e o reconhecimento de desvios gramaticais em produções alheias.
Além disso, é necessário mostrar ao estudante que o erro gramatical não é apenas uma falha de forma, mas pode comprometer o sentido e a credibilidade do texto. Segundo Possenti (2002), a norma culta é um dos códigos que regulam o acesso aos espaços de poder. Assim, dominar a escrita formal é também um ato de empoderamento linguístico.
Aula sobre redação: Competência II: Compreensão da proposta e do gênero textual
A segunda competência exige que o aluno compreenda o tema proposto, aplique conceitos interdisciplinares e respeite a estrutura do texto dissertativo-argumentativo. É aqui que o papel da leitura ganha relevância. O estudante precisa ir além da decodificação dos textos motivadores e ser capaz de formular um ponto de vista próprio, com base em seus conhecimentos de mundo.
A aula sobre redação deve, portanto, incluir práticas de leitura ativa, interpretação crítica dos textos base e exercícios que estimulem a formulação de teses claras. Como ressalta Rojo (2009), a leitura é um processo interativo que envolve o conhecimento prévio do leitor, sua capacidade interpretativa e sua posição crítica diante do texto.
No contexto do Enem, abordar parcialmente o tema pode levar ao tangenciamento, e fugir completamente do recorte temático resulta em anulação da redação. Por isso, o professor precisa ensinar estratégias de análise temática, como a identificação do sujeito do enunciado, do problema social implicado e da intencionalidade discursiva da proposta.
Aula sobre redação: Competência III: Seleção e organização de argumentos
Essa competência está relacionada à capacidade do estudante de defender uma tese por meio de argumentos consistentes e bem organizados. Ela revela o grau de autoria do texto, isto é, o quanto o estudante consegue sustentar sua opinião com base em informações, fatos e dados pertinentes.
Como afirma Koch (2009), a argumentação exige não só lógica e coerência, mas também criatividade e clareza na exposição das ideias. Nas aulas de redação, o professor pode trabalhar com atividades que envolvam a análise de estratégias argumentativas, o uso de repertórios socioculturais produtivos e a elaboração de mapas mentais ou esquemas para planejamento textual.
Importa destacar que a Competência III exige uma progressão argumentativa. Isso significa que os parágrafos do desenvolvimento devem se conectar de forma lógica e cumulativa, e não simplesmente repetir a mesma ideia com palavras diferentes. Como lembra a cartilha do Inep (2023), a presença de um projeto de texto é essencial: o estudante deve organizar antecipadamente o que vai dizer e como vai desenvolver seus argumentos.
Aula sobre redação: Competência IV: Coesão textual
A quarta competência avalia a habilidade do aluno em articular as partes do texto por meio de mecanismos linguísticos adequados. Trata-se da coesão, que pode ser sequencial (com o uso de conectivos) ou referencial (com o uso de pronomes, advérbios e substituições lexicais). É ela que garante a fluidez da leitura e a compreensão global do texto.
Segundo Fávero e Koch (2015), coesão não é sinônimo de uso excessivo de conectores. Um bom texto coeso é aquele que apresenta encadeamento lógico e progressão temática, com recursos que evitam repetições desnecessárias e rupturas abruptas entre as partes.
Nas aulas, atividades práticas como reescrita de trechos truncados, substituição de termos repetidos por pronomes ou sinônimos e exercícios de inserção de conectores podem ser úteis para o desenvolvimento dessa competência. Além disso, trabalhar com textos exemplares – como as redações nota mil disponibilizadas pelo Inep – contribui para que o estudante perceba como os recursos coesivos atuam na construção da argumentação.
Aula sobre redação: Competência V: Proposta de intervenção
Por fim, a quinta competência valoriza a capacidade do aluno em propor uma solução para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. Essa proposta deve ser detalhada, viável, relacionada ao tema e articulada ao restante do texto.
A cartilha (BRASIL, 2023) recomenda que a proposta contemple cinco elementos: a ação, o agente, o modo de execução, a finalidade e um detalhamento complementar. Isso significa que não basta dizer “é necessário combater o problema”; é preciso indicar quem o fará, como fará e com que objetivo.
Do ponto de vista pedagógico, essa competência estimula o protagonismo estudantil e a visão crítica sobre as questões sociais. Trabalhar com estudos de caso, análise de políticas públicas e elaboração de propostas concretas em sala de aula são estratégias eficazes para desenvolver essa habilidade.
Como reforça Freire (1996), a educação deve formar sujeitos críticos, capazes de intervir no mundo com consciência e responsabilidade. A proposta de intervenção é, nesse sentido, a expressão mais visível dessa dimensão formativa da redação no Enem.
Aula sobre redação: Estratégias práticas para a construção da redação em sala de aula
O êxito de uma aula sobre redação depende não apenas da transmissão de conteúdos teóricos, mas sobretudo do envolvimento do estudante em atividades significativas que despertem seu senso crítico, sua capacidade argumentativa e sua autoria textual. Nesse sentido, é fundamental que o ensino de produção textual seja planejado como um processo contínuo, que articule leitura, análise, escrita e reescrita.
Etapa 1: Leitura crítica e interpretação temática
Antes de iniciar a produção escrita, o estudante precisa compreender com clareza o tema proposto. Essa etapa vai além da simples leitura dos textos motivadores. Como orienta a cartilha do Enem (BRASIL, 2023), o participante deve ser capaz de identificar o recorte temático, a situação-problema e os elementos centrais da proposta.
Em sala de aula, uma estratégia eficaz é realizar rodas de conversa e debates interpretativos sobre temas de relevância social. A leitura de reportagens, ensaios curtos, gráficos e infográficos também amplia o repertório sociocultural do aluno e desenvolve sua capacidade de análise crítica.
Outro recurso útil é a produção de mapas conceituais com os principais conceitos e campos semânticos relacionados ao tema. Essa ferramenta favorece a visualização das relações entre ideias, o que contribui diretamente para a clareza argumentativa na redação.
Etapa 2: Construção da tese e do projeto de texto
Definir um ponto de vista claro e coerente é a base para um bom texto dissertativo-argumentativo. Essa tese deve ser explícita logo na introdução e sustentada ao longo de todo o texto. Como ensina Menegassi (2010), a clareza argumentativa exige planejamento. A escrita improvisada, sem organização prévia, tende a resultar em textos incoerentes ou repetitivos.
Por isso, é essencial que o professor incentive o uso de esboços de redação antes da versão final. Um modelo produtivo é o chamado “roteiro T.A.P.E.F” (Tese, Argumentos, Proposta de intervenção, Exemplos, Finalização), que permite ao aluno planejar o conteúdo de cada parágrafo de forma estruturada.
Nessa etapa, também é possível trabalhar com exercícios de reformulação de teses confusas, identificação de ideias centrais e secundárias em exemplos reais e simulações de organização lógica do texto.
Etapa 3: Desenvolvimento dos argumentos
A argumentação é o coração do texto dissertativo. Ela deve ser construída com base em fatos, dados, exemplos, analogias e repertórios relevantes. É importante que cada parágrafo do desenvolvimento tenha uma ideia central clara, articulada com a tese e aprofundada por meio de justificativas.
Para desenvolver essa competência, o professor pode utilizar estratégias como:
Estudo de casos sociais reais: análise de reportagens e documentários que exemplificam o problema abordado;
Aplicação de repertórios socioculturais: introdução de conceitos de filósofos, sociólogos e pensadores, como Bauman, Foucault, Paulo Freire, Simone de Beauvoir, entre outros, adaptados ao nível de ensino;
Produção de argumentos em duplas: cada grupo propõe um argumento e os demais devem apontar falhas ou reforços, promovendo o aprimoramento coletivo.
Essa prática ajuda os estudantes a perceberem que o argumento não é apenas um enunciado de opinião, mas uma construção lógica sustentada por raciocínio crítico.
Etapa 4: Coesão textual e fluidez
A fluidez do texto está diretamente ligada à capacidade do aluno em conectar as ideias de forma orgânica. É aqui que entra a importância da coesão textual. Segundo Neves (2002), a coesão se dá por mecanismos de referência, substituição, elipse, conectores e sequências lógicas, que devem ser aplicados com intencionalidade e clareza.
Em aula, o professor pode trabalhar com trechos desorganizados de textos para que os alunos reescrevam com coesão, bem como propor atividades de substituição lexical e inserção de conectores. Outra prática eficiente é o “texto sem conectores”: o estudante recebe um parágrafo sem nenhum operador argumentativo e deve inserir os conectores adequados, justificando suas escolhas.
Além disso, é possível fazer oficinas de reescrita, nas quais os alunos analisam redações reais (como as disponíveis nas cartilhas do Enem) e identificam os recursos coesivos empregados.
Etapa 5: Elaboração da proposta de intervenção
A proposta de intervenção é um diferencial da redação do Enem e exige atenção especial nas aulas. Segundo a cartilha (BRASIL, 2023), a proposta deve conter cinco elementos: agente, ação, modo de execução, efeito e detalhamento.
Para praticar essa competência, é útil aplicar o exercício do “P.A.M.E.D” (Pessoa, Ação, Meio, Efeito, Detalhe), que ajuda o estudante a estruturar sua proposta de forma completa. Por exemplo:
Pessoa (agente): Ministério da Saúde
Ação: promover campanhas educativas
Meio: veiculadas nas mídias sociais e escolas públicas
Efeito: reduzir o preconceito sobre saúde mental
Detalhe: com o apoio de psicólogos e influenciadores digitais
Outra atividade interessante é a comparação entre propostas bem e mal formuladas. O professor pode apresentar duas versões de intervenção e pedir que os alunos identifiquem qual atende aos critérios exigidos e qual não o faz, explicando os motivos.
Além disso, é essencial reforçar a importância de respeitar os direitos humanos na proposta. Propostas que incitem violência, intolerância ou discursos de ódio, mesmo que não explícitos, podem levar à anulação da redação.
Etapa 6: Reescrita e avaliação colaborativa
A escrita é um processo. Por isso, o estímulo à reescrita é fundamental. O estudante precisa perceber que revisar e refazer fazem parte do processo de aprimoramento textual. Como destaca Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), a reescrita favorece a aprendizagem efetiva porque permite refletir sobre o próprio texto e sobre os critérios que orientam sua produção.
A correção colaborativa – com grupos de estudantes analisando produções uns dos outros – também é uma excelente estratégia. A socialização das produções escritas, seguida de feedback orientado, promove a autonomia e o senso crítico.
Aula sobre redação – Práticas avaliativas e organização do ensino de redação
Uma aula sobre redação eficaz deve integrar momentos de aprendizado, produção, correção, revisão e avaliação contínua. Isso significa abandonar a lógica da redação como “produto final” e assumi-la como um “processo formativo”. Assim, ao longo do ano letivo, o estudante precisa ser acompanhado com regularidade, por meio de devolutivas construtivas, intervenções pedagógicas e estratégias que o auxiliem a avançar em cada uma das competências exigidas no Enem.
Aula sobre redação – Avaliação diagnóstica e contínua
A primeira etapa para um planejamento bem-sucedido das aulas de redação é a aplicação de uma avaliação diagnóstica. Esse instrumento permite identificar as principais dificuldades da turma e traçar metas de aprendizagem específicas. Com base nos dados coletados, o professor pode estabelecer prioridades: se muitos alunos têm dificuldades com a estrutura argumentativa, por exemplo, o foco inicial poderá ser a construção do projeto de texto.
Durante o ano, avaliações periódicas (mensais ou bimestrais) devem ser realizadas para monitorar o progresso dos estudantes. O ideal é que essas avaliações não se limitem à atribuição de notas, mas venham acompanhadas de uma análise criteriosa da redação, com destaque para pontos fortes, aspectos a melhorar e sugestões de reescrita. Conforme Dolz et al. (2004), a avaliação formativa transforma o erro em oportunidade de aprendizagem.
Aula sobre redação – Correção comentada por competência
Uma das formas mais eficazes de avaliação é o uso das rubricas da cartilha do Enem (BRASIL, 2023), que discriminam os níveis de desempenho em cada uma das cinco competências. Ao apresentar essas rubricas aos alunos, o professor favorece a compreensão dos critérios e estimula a autonomia dos estudantes na autoavaliação.
Durante a devolutiva, é recomendável que o professor aponte a nota estimada para cada competência, explique os motivos e sugira reescritas parciais. Uma prática enriquecedora é a correção comentada em sala, com leitura de trechos exemplares e discussão coletiva sobre como melhorar a coesão, aprofundar a argumentação ou tornar a proposta de intervenção mais concreta.
Essa prática estimula o pensamento metacognitivo do aluno, isto é, sua capacidade de refletir sobre o próprio processo de produção textual. Segundo Scallon (2008), uma avaliação de qualidade é aquela que informa, orienta e desafia o estudante a avançar em sua trajetória.
Aula sobre redação – Portfólios e autoavaliação
Outra estratégia valiosa é a construção de portfólios individuais. O portfólio é uma coletânea de redações produzidas pelo aluno ao longo do ano, acompanhadas por registros reflexivos. Nele, o estudante pode observar sua evolução, identificar seus padrões de erro e perceber sua progressiva apropriação das competências exigidas.
O portfólio permite ao professor e ao aluno uma visão longitudinal da aprendizagem, favorecendo intervenções mais precisas e personalizadas. Além disso, promove o protagonismo discente, pois valoriza o esforço e a superação, e não apenas o desempenho imediato.
Paralelamente, a autoavaliação deve ser incentivada. Ao revisar sua própria produção com base em uma matriz ou checklist, o aluno se torna mais consciente do que já domina e do que precisa melhorar. Essa prática fortalece o papel ativo do estudante no processo de aprendizagem.
Aula sobre redação – Simulados e redações com tempo controlado
Em preparação ao Enem, é essencial que os estudantes sejam expostos a simulações reais da prova. A redação sob tempo cronometrado (1h a 1h30) ajuda a desenvolver estratégias de planejamento textual, controle de ansiedade e tomada de decisão rápida.
Além disso, simular a situação de prova permite avaliar se o aluno está conseguindo cumprir todos os elementos exigidos, como:
Tese clara na introdução;
Dois ou mais parágrafos argumentativos bem articulados;
Proposta de intervenção completa;
Uso adequado da norma-padrão e dos recursos coesivos.
Após os simulados, é fundamental oferecer devolutivas rápidas e detalhadas, para que os estudantes consigam revisar e aprender com suas produções. A prática frequente com simulações contribui diretamente para a melhoria do desempenho e da autoconfiança.
Aula sobre redação -proposta de cronograma anual de ensino da redação
Abaixo, segue uma sugestão de cronograma didático para um ano letivo de ensino médio, considerando uma aula semanal de redação com carga horária de 50 a 100 minutos:
Mês | Conteúdo principal | Atividades sugeridas |
---|---|---|
Fevereiro | Diagnóstico e introdução ao texto dissertativo | Redação diagnóstica, leitura de temas, rodas de conversa |
Março | Estrutura do texto: introdução, desenvolvimento e conclusão | Aulas expositivas, mapas mentais, produção de parágrafos |
Abril | Argumentação e repertório sociocultural | Análise de textos exemplares, debates temáticos, redações parciais |
Maio | Coesão e coerência textual | Oficinas de conectores, reformulação de parágrafos, reescritas |
Junho | Proposta de intervenção | Exercícios com a estrutura P.A.M.E.D, análise de propostas incompletas |
Julho | Simulado I | Redação completa com tempo cronometrado, correção comentada |
Agosto | Temas contemporâneos e interdisciplinaridade | Produção orientada com temas variados, uso de dados e citações |
Setembro | Avaliação formativa e revisão de competências | Autoavaliação, construção de portfólios, debates sobre direitos humanos |
Outubro | Simulado II | Redação completa, com matriz de correção, discussão de estratégias |
Novembro | Intensivo de redação: temas anteriores do Enem | Produção de redações com foco em repertório e organização textual |
Dezembro | Avaliação final e apresentação do portfólio | Apresentação de progresso individual, plano de estudos para revisão |
Este cronograma é flexível e pode ser adaptado conforme a realidade escolar, o calendário letivo e o nível da turma. O mais importante é manter a constância e a progressividade, criando um ambiente de escrita contínua e significativa.
Considerações finais: formar escritores, formar cidadãos
A aula sobre redação ultrapassa os limites da gramática normativa ou da estrutura textual. Trata-se, em sua essência, de um espaço pedagógico privilegiado para o exercício da reflexão, da empatia, da escuta e da crítica. Ensinar a escrever é também ensinar a pensar, a argumentar, a se posicionar no mundo – e, por isso, está no cerne da formação cidadã.
A redação exigida no Enem, com seu formato dissertativo-argumentativo e sua proposta de intervenção social, reforça a importância de um ensino comprometido com os valores democráticos, com os direitos humanos e com a formação de sujeitos ativos e conscientes. Como destaca a cartilha (BRASIL, 2023), a redação não é apenas uma prova de língua portuguesa, mas uma avaliação de competências cognitivas, sociais e éticas.
A escrita como construção coletiva
A prática da escrita deve ser compreendida como um processo em constante construção. Ao longo da vida escolar, o estudante precisa ser estimulado a escrever com regularidade, a ler criticamente, a planejar seus textos, a argumentar com fundamento e a revisar suas próprias produções. Esse percurso formativo exige a mediação do professor, mas também a criação de uma comunidade de aprendizagem em que todos os sujeitos possam interagir, dialogar e crescer juntos.
Como defendem Bakhtin e Volochinov (2006), todo ato de linguagem é um ato social. Assim, o texto não nasce isolado, mas em meio a uma rede de discursos, valores, ideologias e sentidos. A aula sobre redação, portanto, deve ser um espaço dialógico, em que o estudante aprenda a ouvir e a ser ouvido, a reconhecer os múltiplos pontos de vista e a defender o seu com responsabilidade.
O papel do professor: mediador e formador
O professor de redação é mais do que um corretor de textos: é um mediador de sentidos, um formador de consciências. Sua atuação exige conhecimento técnico, sensibilidade pedagógica e compromisso com a aprendizagem significativa. Cabe a ele criar condições para que o aluno se aproprie das competências necessárias à produção textual, mas também para que compreenda o papel social e político da escrita.
Nesse processo, a escuta ativa e a valorização das trajetórias dos estudantes são fundamentais. Muitos chegam ao ensino médio com insegurança diante da escrita, associando-a ao erro, à punição ou à exclusão. Por isso, o professor precisa construir uma relação Fortune Tigerde confiança e encorajamento, mostrando que escrever é um direito, e não um privilégio de poucos.
A construção de uma didática da redação que seja inclusiva, crítica e emancipadora passa, também, pela valorização das diferentes vozes presentes na sala de aula. É preciso reconhecer os saberes dos estudantes, suas vivências, suas referências culturais e suas formas de expressar-se. Como lembra Paulo Freire (1996), ensinar exige respeito aos saberes dos educandos.
Redação como ferramenta de transformação
Ao escrever, o estudante organiza seu pensamento, ressignifica experiências, interpreta o mundo e projeta possibilidades de ação. A proposta de intervenção, exigida na redação do Enem, é uma metáfora potente para esse gesto de transformação: é quando o aluno, ao final de sua argumentação, se pergunta o que pode ser feito para mudar a realidade que analisa.
Esse exercício de pensar soluções, de propor alternativas e de imaginar novos cenários é, sem dúvida, um dos maiores ganhos da aula de redação. Ele mobiliza a criatividade, a empatia e a cidadania. E é justamente por isso que a escola não pode tratar a produção textual apenas como um treinamento para o vestibular, mas como parte integrante da formação integral do ser humano.
Caminhos para fortalecer o ensino da redação
Para que as aulas de redação sejam, de fato, transformadoras, algumas ações podem ser destacadas como prioritárias:
Integração entre leitura, escrita e oralidade: trabalhar a produção textual em articulação com atividades de escuta, debate, interpretação e análise crítica de discursos.
Formação continuada dos professores: investir na atualização docente sobre as exigências do Enem, metodologias ativas, avaliação formativa e competências socioemocionais.
Ambientes de escrita colaborativa: criar oficinas, blogs escolares, jornais, murais e outras plataformas para que os alunos publiquem e socializem suas produções.
Valorização do processo, e não apenas do produto: reconhecer o esforço, a evolução e a autoria dos estudantes em vez de focar unicamente na nota da redação.
Trabalho interdisciplinar: relacionar temas da redação com conteúdos de história, sociologia, filosofia, geografia e ciências, ampliando o repertório e o pensamento crítico.
A aula sobre redação é, portanto, uma poderosa ferramenta de humanização, expressão e emancipação. Ao dominar a palavra escrita, o estudante ganha voz, ganha espaço e ganha poder. E, como educadores, cabe-nos o desafio e o privilégio de guiá-los nesse caminho.
BAKHTIN, Mikhail; VOLOCHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A Redação do Enem 2023: cartilha do participante. Brasília: Inep/MEC, 2023.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.