O colorismo é um fenômeno social que se manifesta na valorização e na discriminação de pessoas com base na cor de sua pele. Embora seja frequentemente associado à discriminação racial, o colorismo não se limita a questões de raça e pode ser encontrado em muitas comunidades em todo o mundo. Este trabalho tem como objetivo discutir o colorismo em uma perspectiva histórica, utilizando a literatura de Devulsky (2011), Nogueira (1985) e Munanga (1986) para entender como essa questão se desenvolveu ao longo do tempo.
Por Roniel Sampaio-Silva
Devulsky (2011) argumenta que o colorismo tem suas raízes na história de colonização e escravidão. Durante a era colonial, a cor da pele era usada como um indicador de status social, com os colonizadores brancos no topo da hierarquia e os povos indígenas e africanos na parte inferior. A discriminação baseada na cor da pele foi então perpetuada durante a era da escravidão, quando os escravos de pele mais clara geralmente recebiam tratamento preferencial em relação aos escravos de pele mais escura. Essa hierarquia de cor continuou a ser reforçada na sociedade pós-abolição, com as pessoas de pele mais clara sendo favorecidas em relação às pessoas de pele mais escura.
Nogueira (1985) destaca que essa hierarquia de cor também foi reforçada pela ciência e pela medicina durante o século XIX. A teoria da inferioridade das raças negras, baseada em conceitos pseudocientíficos como o craniometria, reforçou a ideia de que as pessoas de pele mais escura eram menos evoluídas e mais propensas a comportamentos violentos e criminosos. Essas ideias racistas foram amplamente difundidas e influenciaram as políticas públicas em muitos países, incluindo o Brasil.
Munanga (1999) destaca que o Brasil é um país em que o colorismo é particularmente prevalente. A história de escravidão e colonialismo no país deixou um legado de desigualdade racial que é ainda evidente hoje. As pessoas de pele mais clara geralmente ocupam posições mais privilegiadas na sociedade, enquanto as pessoas de pele mais escura são relegadas a empregos menos qualificados e sofrem mais discriminação. Munanga argumenta que a ideologia da “democracia racial”, que sugere que o Brasil é uma sociedade sem racismo, é usada para negar a existência do colorismo e reforçar a discriminação.
O colorismo também é evidente em outros contextos, como nos Estados Unidos. Devulsky (2011) destaca que o movimento pelos direitos civis dos anos 60 trouxe à tona a questão da discriminação baseada na cor da pele. Embora a discriminação racial tenha sido proibida por lei, o colorismo persistiu como uma forma sutil de discriminação. Por exemplo, a discriminação contra pessoas de pele mais escura em empregos e em relacionamentos interpessoais é comum nos Estados Unidos.
Nogueira (1985) destaca que o colorismo também pode ser encontrado em outras comunidades, como na Índia, onde a discriminação baseada na cor da pele é conhecida como “casta da pele”. Nesse contexto, as pessoas de pele mais clara geralmente ocupam posições mais altas na hierarquia social, enquanto as pessoas de pele mais escura são marginalizadas e discriminadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, o colorismo é um fenômeno social complexo que tem suas raízes na história de colonização, escravidão e racismo. Embora muitos países tenham proibido a discriminação racial por lei, o colorismo persiste como uma forma sutil de discriminação que afeta muitas comunidades em todo o mundo. A literatura de Devulsky, Nogueira e Munanga destaca como o colorismo tem sido perpetuado ao longo do tempo e como a ideologia da “democracia racial” é usada para negar sua existência. Para combater o colorismo, é necessário um esforço coletivo para desafiar as hierarquias de cor e promover a igualdade racial em todas as esferas da vida.
Como observado por Nogueira, “a eliminação do preconceito racial e do racismo é um processo longo e gradual que exige uma transformação profunda na estrutura da sociedade” (NOGUEIRA, 2007, p. 72). Isso significa que é necessário um compromisso sustentado com a mudança e a justiça racial. Devemos reconhecer e desafiar as hierarquias de cor, ampliar nossa compreensão das experiências de pessoas de diferentes cores de pele e trabalhar juntos para criar uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
REFERÊNCIAS
DEVULSKY, F. R. N. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Vozes, 1984.
MUNANGA, K. Negritude: usos e sentidos. São Paulo: Ática, 1986.
NOGUEIRA, O. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo social, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 67-86, 2007.
RAMOS, S. S. O negro brasileiro e o cinema. In: GOMES, J. (Org.). O negro no cinema brasileiro. São Paulo: Fundação do Cinema Brasileiro, 1987. p. 5-23.
SANTOS, J. M. T. L. Identidade negra, discriminação e educação. In: GOMES, N. L. (Org.). A cor do saber. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 231-252.