images

Estudos culturais & hermenêutica: labirintos, linguagem e a crítica da percepção na atualidade

Por Camillo César Alvarenga*

 

Clifford Geertz em sua Antropologia prescreve um fazer etnográfico enquanto uma ciência interpretativa num regime de análise dos símbolos em clima de uma descrição densa em plano de profundidade na busca pelo significado. Seu conceito de cultura tem muito de Weber, como a noção de ver o homem socialmente emaranhado a uma teia-labirinto de significados, onde este realiza uma ação social dotada de sentido na qual se busca compreender os símbolos usados e o objetivo racionalmente visado.
images
Num exercício de superação da aparência da realidade e suas contingências a atividade epistemológica rege-se pela compreensão do mundo como um texto, numa intelecção de um duplo movimento de desvelamento e decifração do código simbólico visto enquanto chave de sentido para o mundo moderno enquanto mundo suprassensível da cultura, sob a forma de um mundo inteligível das estruturas socioculturais. Para melhor o entendermos, aludimos a James Clifford e sua noção de autoridade etnográfica, bem como ao debate entre Literatura e Antropologia num possível jogo entre as linguagens postas em função da interpretação e descrição.
Assim, a compreensão dos símbolos remete a uma explicação de como a consciência pode em meio a ideologia romper com a alienação e produzir um sentido social historicamente determinado e de um ponto de vista crítico moralmente situado entre as questões de dominação e subalternidade. Nesse meandro, a formação cultural frente à hegemonia, tão discutida por gente como Gramsci, R. Williams ou S. Hall nos faz saltar da interpretação da cultura para a noção mais bem lúcida de crítica cultural.
De forma que, a fertilização da subjetividade moderna com o adubo da tragédia já desde o Expressionismo demonstra o estado alienado, em que o drama é a tônica que define a condição humana na modernidade. Desde a virada dos anos 60, como exemplo o pensamento de Guy Debord e dos Situacionistas, a arquitetura foi tomada como forma última da realidade. Jameson e Sennet analisam as condições de trabalho no capitalismo tardio nos forçando a desenvolver a capacidade de deixar o passado para trás e aceitar a fragmentação enquanto sujeitos culturais que incorporam as formas de poder nas relações sociais no contexto da luta de classes no bojo da cultura dominante.
Nesse sentido, as narrativas ou o próprio mito, se revelam espaços para a autodeterminação subjetiva do ser social na luta contra a mercadificação do cotidiano. Num misto de práticas, representações e discursos – nos planos material e simbólico – a realização de uma abstração verossímil enfrenta a fantasmagoria da alienação que busca a comoditização da subjetividade do sujeito, posto nesse complexo de estruturas e sentidos, enquanto um ator, encenando a vida real.

*Camillo César Alvarenga é Bacharel em Ciências Sociais (UFRB) e atualmente é Mestrando em Sociologia (PPGS/CCHLA- UFPB).

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

Deixe uma resposta

Categorias

História do Café com Sociologia

O blog foi criado por Cristiano Bodart em 27 de fevereiro de 2009. Inicialmente tratava-se de uma espécie de “espaço virtual” para guardar materiais de suas aulas. Na ocasião lecionava em uma escola de ensino público no Estado do Espírito Santo. Em 2012 o Roniel Sampaio Silva, na ocasião do seu ingresso no Instituto Federal, tornou-se administrador do blog e desde então o projeto é mantido pela dupla.

O blog é uma das referências na temática de ensino de Sociologia, sendo acessado também por leitores de outras áreas. Há vários materiais didáticos disponíveis: textos, provas, dinâmicas, podcasts, vídeos, dicas de filme e muito mais.

Em 2019 o blog já havia alcançado a marca de 9 milhões de acessos.

O trabalho do blog foi premiado e reconhecido na 7º Edição do Prêmio Professores do Brasil e conta atualmente com milhares de seguidores nas redes sociais e leitores assíduos.

Seguimos no objetivo de apresentar aos leitores um conteúdo qualificado, tornando os conhecimentos das Ciências Sociais mais acessíveis.

Direitos autorais

Atribuição-SemDerivações
CC BY-ND
Você pode reproduzir nossos textos de forma não-comercial desde que sejam citados os créditos.
® Café com Sociologia é nossa marca registrada no INPI. Não utilize sem autorização dos editores.

Suporte 952
Previous Story

O Marco Civil da internet: muito adjetivo e pouca leitura

O contrabandista de ideias
Next Story

O contrabandista de ideias – Crônica Roniel Sampaio

Latest from Sem categoria

Lado yang?

Por  Karla Cristina da Silva* Eu não quero ser Yin muito menos Yang… Tirar a paz? Desequilibrar o mundo? Tanto faz… Foi Pandora quem abriu
Go toTop

Don't Miss