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Gênero e Sexualidade: Tabus e realidade social

Usos de canções no ensino de Sociologia

Gênero e Sexualidade: Tabus e realidade social

Sergio Marques Salgueiro[1]

Tema: Gênero e sexualidade.

Recursos didático-pedagógicos: Música “Toda forma de amor”, de Lulu Santos; cartolina; canetinhas hidrocor.

Público: 3º ano do ensino médio.

Duração: 1 aula de 50 minutos.

Competências Gerais da BNCC: 1, 6, 9 e 10.

Competências Específicas de C. H.S: 1, 5 e 6.

Habilidades: EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS605, EM13CHS606.

Apresentando o tema

A sociedade estabeleceu ao longo do tempo um conjunto de comportamentos sociais que obedece a lógica binária, e determina como forma coercitiva atitudes como masculinas e femininas. Os modelos de conduta são construídos socialmente, e são transmitidos entre as gerações sob formas culturais de existência como homens e mulheres. Papéis sociais são ensinados e esperados diferentemente entre os gêneros. O binarismo produz diferenças entre homens e mulheres que extrapolam características físicas, e consequentemente provoca desigualdades. Outro efeito produzido pelo binarismo sexual determinado por características biológicas é o não reconhecimento da diversidade sexual existente na população LGBTQIAPN+, que provoca diversos processos de desigualdade e violência.

Ser homem ou ser mulher em nossa sociedade está diretamente associado com a determinação biológica. O sexo biológico é determinado geneticamente e polariza os corpos em macho e fêmea. O arquétipo físico do macho é definido pela presença do pênis e da mulher por possuir vagina, e outras características sexuais produzidas por hormônios presentes nas existências físicas desses corpos. O termo sexo associa-se a estrutura dos corpos e seus mecanismos de reprodução, mas há o caso dos indivíduos “intersexo” em que está presente no mesmo corpo características físicas masculinas e femininas.

Já a sexualidade extrapola a ideia do sexo como determinação biológica. Está relacionada as diferentes formas de prazer presentes nas sensações experienciadas pelo toque no seu corpo, além da atração por outras pessoas do sexo oposto e do mesmo sexo. As orientações sexuais são as múltiplas formas de vivência da sexualidade, e expressam comportamentos sexuais e sociais influenciados por fatores culturais e genéticos. O binarismo sexual não dá conta de explicar as múltiplas possibilidades de relação com o corpo e com outro no exercício da sexualidade.

Os padrões de condutas sexuais e sociais esperados para homens e mulheres são restringidos pela construção social da sexualidade determinada pelo sexo anatômico, estabelecendo limites comportamentais no mundo masculino e feminino. Mas, esse binarismo imposto pela heteronormatividade exclui diversas pessoas que não se enquadram nessa forma pré-determinada e rígida de existência pessoal e social, e dessa exclusão surgem outras possiblidades de identidade de gênero.

“A orientação sexual é um termo empregado para o entendimento sobre a sexualidade e que se refere à direção ou à inclinação do desejo afetivo e erótico de cada pessoa. Sabemos que não existe apenas uma forma de expressar a sexualidade” (RIBEIRO; THIENGO, 2019, p. 28). A orientação sexual não é definida de forma absoluta no nascimento, pois ao longo da vida é possível aprender e identificar diversas formas de vivenciar seus desejos. De forma resumida, a orientação sexual de uma pessoa pode ser atribuída em função do desejo afetivo e erótico direcionado ao outro: heterossexual, desejo pelo sexo oposto; homossexual, desejo pelo mesmo sexo; e bissexual, desejo por ambos os sexos. Mas, existem outras possiblidades de orientação sexual, como: pansexual, em que o indivíduo sente desejo sexual por toda e qualquer orientação sexual; assexual, que não sentem desejo sexual pelo outro. E há ainda outras muitas possibilidades de existência sexual e afetiva.

A identidade de gênero demonstra a forma como uma pessoa expressa socialmente a sua sexualidade tendo como referências o ideário construído sobre a masculinidade e a feminilidade, não se limitando pelo seu sexo biológico de nascimento e pela sua orientação sexual. Há duas definições sobre a identidade de gênero: transgeneridade, expressa na possibilidade do indivíduo se identificar com um gênero diferente do sexo atribuído no momento do nascimento; e a cisgeneridade, quando o indivíduo se identifica com o seu gênero de nascença. E há ainda outras possibilidades: bigênero, quando a pessoa se identifica com ambos os gêneros; gênero neutro, quando não acontece a identificação por nenhum dos gêneros; demigênero, quando há identificação parcial com outro gênero; gênero fluido, quando as pessoas fluem entre as concepções binárias de gênero.

Outro tema essencial para ser abordado é a transexualidade. As pessoas transgênero vivem a condição de se identificar com gênero diferente do atribuído a elas no nascimento. Os transmasculinos são aqueles que foram identificados com o gênero feminino no nascimento, mas que possuem condição de existência própria do gênero masculino. E os trasnfemininos são aqueles que tiveram o gênero masculino atribuído a si, mas na realidade existem intimamente e no mundo como pessoas do sexo feminino. Importorta referir-se à essas pessoas reconhecendo suas reais condições de existência como homens e mulheres trans. É muito comum as pessoas transgênero sofrem formas variadas de violência nas escolas por não seguirem os padrões de comportamento estabelecidos pelo binarismo sexual e pela heteronormatividade

É fundamental e urgente falar sobre gênero e sexualidade na escola pois grande parte das ocorrências de violência verbal, física e virtual praticadas estão relacionadas à intolerância de sexualidade e de gênero. A homofobia é uma realidade nas escolas brasileiras e precisa ser combatida e não ignorada.

Apresentando o recurso didático-pedagógico

Importa ressaltar que, ao trabalharmos com músicas nas aulas de Sociologia, devemos incentivar uma leitura crítica, de modo a potencializar nossa prática pedagógica para formar cidadãos conscientes e capazes de, a partir de colaborações da Sociologia, melhor interpretar a sociedade em que vivemos. A seguir, a canção proposta nesta atividade, “Toda forma de amor”, de Lulu Santos:

Eu não pedi pra nascer

Eu não nasci pra perder

Nem vou sobrar de vítima

Das circunstâncias

Eu tô plugado na vida

Eu tô curando a ferida

Às vezes eu me sinto

Uma mola encolhida, hey!

Você é bem como eu

Conhece o que é ser assim

Só que dessa história

Ninguém sabe o fim

Você não leva pra casa

E só traz o que quer

Eu sou teu homem

Você é minha mulher

E a gente vive junto

E a gente se dá bem

Não desejamos mal

A quase ninguém

E a gente vai à luta

E conhece a dor

Consideramos justa

Toda forma de amor, hey!

Eu não pedi pra nascer

Eu não nasci pra perder

Nem vou sobrar de vítima

Das circunstâncias

Você não leva pra casa

E só traz o que quer

Eu sou teu homem

Você é minha mulher

E a gente vive junto

E a gente se dá bem

Não desejamos mal

A quase ninguém

E a gente vai à luta

E conhece a dor

Consideramos justa

Toda forma de amor

Ô-ô-ô-ô!

Ô-ô-ô!

Ô-ô-ô-ô!

Hey! Hey! (Hey! Hey…)

A atividade também deverá envolver cartolinas rosa e azul, além de canetinhas hidrocor rosa e azul.

Etapas da atividade

1) Promova uma discussão sobre papéis atribuídos aos gêneros feminino e masculino. Permita que a turma se organize para a realização da atividade, e que definam a forma que executarão os registros que resultarem da discussão. Segue os passos para a realização da atividade:

  1. a) Fixar uma cartolina rosa e uma cartolina azul em suporte ou na parede;
  2. b) Disponibilizar canetinhas hidrocor rosa e azul para a turma;
  3. c) Pedir aos(às) alunos(as) que descrevam comportamentos que consideram femininos e outros que considerem masculinos, e que façam os registros nas cartolinas;
  4. d) Será uma tendência natural que direcionem os registros sobre os comportamentos que consideram como femininos na cartolina rosa e os masculinos na cartolina azul, seguindo uma construção cultural que naturaliza essa distribuição de cores para cada gênero. Pedir que leiam os registros após finalizá-los, e iniciar o debate com as seguintes questões:

Por que registram atividades que consideram como femininas na cartolina rosa, e as masculinas na azul?

Vocês concordam com essas diferenças de papéis entre os gêneros? Caso sim, por que essas diferenças existem? Caso não, como acreditam que a sociedade deve se comportar quanto a liberdade dos gêneros fazerem o que desejar?

Tempo de duração desta parte da atividade: 20 minutos.

2) Oriente que os alunos se sentem em círculo e ouvirão a música “Toda forma de amor”, de Lulu Santos, e distribua a letra impressa para que acompanhem. Após ouvirem a música, inicie a discussão, tendo como base as seguintes questões:

  1. a) Você se identificou em algum sentido com a letra da música?
  2. b) Você acha importante as pessoas se sentirem livres para viverem seus afetos conforme desejam, e não como as pessoas esperam que façam?
  3. c) Já observou alguém ser vítima de qualquer tipo de agressão por ser identificada como alguém da população LGBTQIAPN+?
  4. d) Você acredita que a escola é um espaço de acolhimento à população LGBTQIPAN+?

Tempo de duração desta parte da atividade: 15 minutos.

3) Para encerrar as discussões, peça que a turma se divida em 3 grupos, e expressem seu entendimento sobre o que foi dito e percebido do assunto.

  1. a) um grupo fará um poema sobre a desigualdade de gênero;
  2. b) um grupo fará uma cena sobre a música utilizada na atividade 2, ou outra música que conheçam sobre a temática LGBTQIAPN+;
  3. c) um grupo fará um desenho em que expresse como seria a sociedade se existisse igualdade de gênero.

Tempo de duração desta parte da atividade: 15 minutos.

Dicas de leitura

1) Vermelho, branco e sangue azul. Autora: Casey Mcquiston;

2) Este livro é gay. Autor: James Dawson;

3) O conto da aia. Autora: Margaret Atwood.

Outras dicas didático-pedagógicas

1) Filme “Hoje eu quero voltar sozinho”;

2) Filme “Minha mãe é uma peça”;

3) Filme “Adoráveis mulheres”;

4) Série “Glee”.

 

Referência

RIBEIRO, Guilherme Augusto Maciel. THIENGO, Edmar Reis. Discutindo gênero e sexualidade na escola: um guia didático-pedagógico para professores. Vitória: Instituto Federal do Espírito Santo. 2019.

Como citar este texto:

SALGUEIRO, Sergio Marques. Gênero e Sexualidade: Tabus e realidade social. Blog Café com Sociologia. ago. 2023. Disponível em: https://cafecomsociologia.com/?p=18562&preview=true

Nota:

[1] Graduando em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

 

Versão desta postagem em PDF AQUI

 

 

Dica de livro para professores de Sociologia – AQUI

 

 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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