Goffman e o interacionismo-simbólico: teoria social que destaca a importância das interações face a face para os significados sociais. Erving Goffman foi um renomado sociólogo canadense que se destacou por suas contribuições no campo da interação social e da análise da dramaturgia social. Nascido em 1922, Goffman desenvolveu o conceito de “teatro social”, argumentando que nossas interações cotidianas são como performances em um palco, onde cada um de nós assume papéis sociais específicos.
Por Cristiano Bodart
Erving Goffman ficou mais conhecido pela metáfora do teatro, que foi sua primeira etapa de desenvolvimento acadêmico.
atores agem em função do sentido que os indivíduos dão à ação, a qual é reciprocamente orientada; O sentindo nunca é independente da interação; As interações ocorrem por meio de uma lógica própria.
Obras em questão:
1967 – “Os ritos de interação”.
1971 – “Relações em Público”.
Goffman utiliza-se em sua obra “Os ritos de Interação”, o conceito de cerimônias – ritos. Para ele cada situação é coordenada por cerimônias, que seria o respeito a face (valor social reivindicado pelo valor social, pela linha de ação).
Goffman afirma que é necessário que o ator demostre amor próprio e respeito pelo outro (agir por consideração). Ou seja, preservação da própria face e consideração pela face do outro. Um ato qualquer de desrespeito ao ritual pode profanar e injuriar a si, ao outro e a/ou a todos. (destruindo seu amor próprio e o respeito pelo outro).
Na ideia de “face” não há dimensão psíquica. Esta depende da representação e da interpretação dos atores. A face também não está na superfície (também não está no interior), ela emerge das interpretações e das representações.
“A identidade está à flor da pele, à flor da pele dos outros” – é aquilo que aparece a partir do fenômeno da interpretação, dependendo sempre do outro.
Afirma que é a partir dos jogos das insinuações (de aparências) que “identificamos” a face do outro.
Para ele, o jogo só ocorre se existe o engajamento (investimento de energia) dos atores que permitem a interação. É possível ter um maior ou menor engajamento na interação de co-presença.
Interações não-focalizadas: encontro fortuito, entre pessoas desconhecidas – não há um grande engajamento dos indivíduos, embora possa a vi, a posterior, ter um engajamento. Por não haver um nível de engajamento, a regra não é tanto o amor próprio e o respeito, mas a “desatenção civil” (essa marcada por diversas técnicas). Seria a desatenção civil como uma indiferença (uso de uma técnica para não se engajar, havendo o reconhecimento do outro).
Quando ocorre um incidente (o ato de atrapalhar a interação), é preciso reestabelecer a ordem. Assim, torna-se necessário “as trocas reparadoras”, tornando-se necessário o reconhecimento da ofensa, que é uma espécie de acordo. Geralmente se repara quando o ofensor demostra o apreço à regra, buscando demostrar o reconhecimento do erro e a exaltação da regra (retomando sua adesão à regra).
Para Goffman, a interação social estaria baseada nas cerimônias de preservação da face e trocas reparadoras .
A proximidade do Goffman com o Durhkeim:
- Num mundo sacramentalizado o indivíduo passa a ser o elemento último – sacramentação do indivíduo (nesse contexto o indivíduo pelo ser profanado – ritos que corromperiam a sacramentado).
- Goffman, seguindo Durhkeim, dá um peso muito grande ao indivíduo.
Obra em Questão: “Frame Analysis: An Essay on the Organization of Experience” (1974)
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Nessa obra os quadros passam a ser objetos de estudo de Goffman – os fenômenos ocorrem dentro do quadro (Frame).
As experiências cotidianas são entendidas como construções da realidade – enquadramento e a vida social entendida como um conjunto de enquadramentos. É uma dimensão cognitiva e social.
Para compreender a realidade torna-se necessário compreender o quadro. O quadro estrutura o modo de interpretação e de engajamento.
Os indivíduos precisam compreender o quadro para não agir de forma que venha dessacramentar a face do outro.
O quadro seria uma forma interior que organiza a experiência – aponta um compromisso com a estrutura. A realidade não surge do nada. Goffman faz, nesse sentido, uma concessão à importância da estrutura.
Obra:
“A ordem da interação” (L’ordre de l’interation)
Tece um crítica aos interacionistas simbólicos. Apresenta um quadro síntese de suas teorias. Insiste que a Sociologia deve investir nos estudos das relações face a face.
Retoma os dispositivos evidentes e não evidentes, as vulnerabilidade do indivíduo na interação, mas por outro lado, as interações nos permitem receber afetos transmitidos por parte dos outros. Existe fatores (frames) que nos levará a agir de uma dada forma, caso queiramos participar da cerimônia de interação.
Trabalha a questão da performace, as ocasiões sociais que podem ter micro-ocasiões dentro da ocasião maior. As ocasiões direcionariam as ações dos indivíduos.
Trabalha o ordem de interação e sua relação com a ordem social (a ordem da interação pode criar riscos à ordem social). O micro não determina o macro, nem este determina aquele. O que há é uma inter-relação entre as duas dimensões. Desta forma, tece uma crítica a etnometodologia (por ignorar a ordem social).
Ele defende a ideia de que podemos tomar as situações – vida cotidiana – (micro-sociologias) como objeto de análises. Aquelas que são estão postas como obvias, porém marcadas por uma ordem da ação complexa.
Publicado inicialmente em: 16 de set de 2012 às 03:00