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Goffman e o interacionismo simbólico

Goffman e o interacionismo-simbólico: teoria social que destaca a importância das interações face a face para os significados sociais. Erving Goffman foi um renomado sociólogo canadense que se destacou por suas contribuições no campo da interação social e da análise da dramaturgia social. Nascido em 1922, Goffman desenvolveu o conceito de “teatro social”, argumentando que nossas interações cotidianas são como performances em um palco, onde cada um de nós assume papéis sociais específicos.

 

 

Por Cristiano Bodart

Goffman e o interacionismo simbólico

Erving Goffman ficou mais conhecido pela metáfora do teatro, que foi sua primeira etapa de desenvolvimento acadêmico.

O termo Interação simbólica foi criado por Hebert Blumer, cuja teoria tem como ênfase a simbologia da interação.
 
Os Pontos principais do interacionismo simbólico (mais geral)são: os
atores agem em função do sentido que os indivíduos dão à ação, a qual é reciprocamente orientada; O sentindo nunca é independente da interação; As interações ocorrem por meio de uma lógica própria.
 
Nessa teoria, a “sociedade” é mais um processo do que estrutura –  as regras da estrutura social não determinam as ações –  apontando para uma microssociologia.
 uma atenção na “ação/interação” e não na ordem social, ou seja, presa pelo estudo da ordem da interação, sendo as relações face à face privilegiadas.
 
Para essa teoria cabe a sociologia estudar (procedimentos) os arranjos que os indivíduos usam para se colocarem em interação.
 
Grosso modo, o interacionismo simbólico caracteriza-se como uma abordagem que busca se distanciar da análise que use qualquer entidade coletiva.
 
Goffman, contrariamente a ideia de Blumer, acredita que as estruturas influenciam sim as ações sociais, embora não seja um ponto central em sua obra. Para dar conta dessa observação desenvolveu posteriormente a ideia de “quadros”.
 
Contrariamente, na etnometodologia, desenvolvida por Harold Garfinkel, entende que não existe nenhuma influencia da estrutura nas relações sociais. Acredita que é possível explicar a realidade social pela observação da interação (ver “a clausula da reticência” de Garfinkel, onde a fala tem a função de manter a comunicação e não necessariamente trocar informação).
 
Goffman se afasta do interacionismo simbólico por acreditar que há uma pré-figuração nas ações sociais, marcada pela estrutura. Existe, para ele, duas ordem: a ordem social e a ordem da interação.
 
Para o Garfinkel a ordem da interação independe da ordem social. Goffman, embora afirme que a sociologia deveria focar na ordem da interação, acredita que esta está em parte configurada pela ordem social. Para Garfinkel são as ações que determinam a estrutura e não o inverso. 
O Goffman reconhece que o foco deve estar na ordem da interação, mas que não se pode descartar a ordem social, buscando compreender que tipo de relação há e cada caso (Quadro da Interação – as situações não são sempre iguais, pois os quadros não são sempre os mesmos – os quadro faz com que haja um pré-agenciamento).
Exemplo: os indivíduos ao participarem de uma reunião sabem, por experiências anteriores, qual o quadro  (estrutura, regras… pré-existentes) existente. Assim projetam suas ações. Claro que muitas vezes ocorrem fenômenos novos e não esperados, os quais se sobrepõem ao quadro.
Assim como no teatro existem toda a estrutura previamente construída e os atores buscam seguir o scrípt, mas que a cada apresentação alguns elementos novos inesperados acabam aparecendo.

Obras em questão: 

1967 – “Os ritos de interação”.

1971 – “Relações em Público”.

Goffman utiliza-se em sua obra “Os ritos de Interação”, o conceito de cerimônias – ritos. Para ele cada situação é coordenada por cerimônias, que seria o respeito a face (valor social reivindicado pelo valor social, pela linha de ação).

Goffman afirma que é necessário que o ator demostre amor próprio e respeito pelo outro (agir por consideração). Ou seja, preservação da própria face e consideração pela face do outro. Um ato qualquer de desrespeito ao ritual pode profanar e injuriar a si, ao outro e a/ou a todos. (destruindo seu amor próprio e o respeito pelo outro).

Na ideia de “face” não há dimensão psíquica. Esta depende da representação e da interpretação dos atores. A face também não está na superfície (também não está no interior), ela emerge das interpretações e das representações.

“A identidade está à flor da pele, à flor da pele dos outros” – é aquilo que aparece a partir do fenômeno da interpretação, dependendo sempre do outro.

Afirma que é a partir dos jogos das insinuações (de aparências) que “identificamos” a face do outro.

Para ele, o jogo só ocorre se existe o engajamento (investimento de energia) dos atores que permitem a interação. É possível ter um maior ou menor engajamento na interação de co-presença.

Interações não-focalizadas: encontro fortuito, entre pessoas desconhecidas – não há um grande engajamento dos indivíduos, embora possa a vi, a posterior, ter um engajamento. Por não haver um nível de engajamento, a regra não é tanto o amor próprio e o respeito, mas a “desatenção civil” (essa marcada por diversas técnicas). Seria a desatenção civil como uma indiferença (uso de uma técnica para não se engajar, havendo o reconhecimento do outro).

Quando ocorre um incidente (o ato de atrapalhar a interação), é preciso reestabelecer a ordem. Assim, torna-se necessário “as trocas reparadoras”, tornando-se necessário o reconhecimento da ofensa, que é uma espécie de acordo. Geralmente se repara quando o ofensor demostra o apreço à regra, buscando demostrar o reconhecimento do erro e a exaltação da regra (retomando sua adesão à regra).

Para Goffman, a interação social estaria baseada nas cerimônias de preservação da face e trocas reparadoras .

A proximidade do Goffman com o Durhkeim:

  • Num mundo sacramentalizado o indivíduo passa a ser o elemento último – sacramentação do indivíduo (nesse contexto o indivíduo pelo ser profanado – ritos que corromperiam a sacramentado).
  • Goffman, seguindo Durhkeim, dá um peso muito grande ao indivíduo.

Obra em Questão: “Frame Analysis: An Essay on the Organization of Experience” (1974)


Nessa obra os quadros passam a ser objetos de estudo de Goffman – os fenômenos ocorrem dentro do quadro (Frame).

As experiências cotidianas são entendidas como construções da realidade – enquadramento e a vida social entendida como um conjunto de enquadramentos. É uma dimensão cognitiva e social.

Para compreender a realidade torna-se necessário compreender o quadro. O quadro estrutura o modo de interpretação e de engajamento.

Os indivíduos precisam compreender o quadro para não agir de forma que venha dessacramentar a face do outro.

O quadro seria uma forma interior que organiza a experiência – aponta um compromisso com a estrutura. A realidade não surge do nada. Goffman faz, nesse sentido, uma concessão à importância da estrutura.

Obra:
“A ordem da interação” (L’ordre de l’interation)

Tece um crítica aos interacionistas simbólicos. Apresenta um quadro síntese de suas teorias.  Insiste que a Sociologia deve investir nos estudos das relações face a face.

Retoma os dispositivos evidentes e não evidentes, as vulnerabilidade do indivíduo na interação, mas por outro lado, as interações nos permitem receber afetos transmitidos por parte dos outros. Existe fatores (frames) que nos levará a agir de uma dada forma, caso queiramos participar da cerimônia de interação.
Trabalha a questão da performace, as ocasiões sociais que podem ter micro-ocasiões dentro da ocasião maior. As ocasiões direcionariam as ações dos indivíduos.

Trabalha o ordem de interação e sua relação com a ordem social (a ordem da interação pode criar riscos à ordem social).  O micro não determina o macro, nem este determina aquele. O que há é uma inter-relação entre as duas dimensões. Desta forma, tece uma crítica a etnometodologia (por ignorar a ordem social).

Ele defende a ideia de que podemos tomar as situações – vida cotidiana – (micro-sociologias) como objeto de análises. Aquelas que são estão postas como obvias, porém marcadas por uma ordem da ação complexa.

Publicado inicialmente em: 16 de set de 2012 às 03:00

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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