Existem muitas leituras equivocadas sobre o papel do indivíduo no marxismo. A principal e mais difundida é que o homem é visto apenas como um sujeito moldado pelas estruturas sociais e econômicas, com pouca margem para uma leitura marxista para subjetividade. Entretanto, trazemos nesse texto a leitura de de Adam Shaff sobre esta questão.
Em primeiro lugar é preciso situar que a leitura que o marxismo tem sobre o mundo é pautado no materialismo histórico-dialético. O que significa dizer que a realidade objetiva é o elemento que vai situar o sujeito no conjunto de relações. Além disso, o referido método compreende que as coisas não são ideais e nem estáticas, elas estão em movimento. Isso significa dizer que o homem que vive hoje é diferente do homem que viveu na década passada, embora tal sujeito compartilhe de muitas semelhanças que foram superadas nesta perspectiva do movimento. Assim, a relação entre o sujeito e a realidade que ele vive é dialética. Tanto o homem modifica a realidade quanto é modificado por ela.
O ser humano está em relação dialética com outros sujeitos, portanto, não se pode compreender o ser humano sem levar suas múltiplas dimensões, sociais, culturais, econômicas, etc. Assim, o ser humano, o indivíduo, só existe na sua relação dialética com outros sujeitos e vice-versa. A espécie humana é eminentemente social porque precisa ensinar as próximas gerações como se comportar e lidar com os problemas oriundos da existência material e espiritual. Espiritual, na perspectiva do marxismo é um termo comumente utilizado para se referir à ideias e nada tem a ver com o sobrenatural.
Afinal onde está a subjetividade no marxismo? A realidade é objetiva e dada, nos é imposta e precisamos transformá-la para satisfazer nossas necessidades. Tal transformação é mediada pelo trabalho e o conjunto de instruções que recebemos para lidar com tais desafios se dá pela educação. A partir do momento que aprendemos sobre nossa realidade concreta, seja por intermédio dos outros ou seja por si próprio, tal realidade é processada pela nossa consciência que vai agregar ao assinto a nossa visão pessoal sobre o que sabemos. Tal visão pessoal sobre o assunto é comumente chamada de sentido. Assim, o conhecimento que chega que até nós não é refletido como um espelho em si mesmo, ele ganha novas conexões com instrumentos que são particulares de cada um de nós, de acordo com nossa vivência. Se a realidade fosse refletida no sujeito tal qual um espelho, não seria necessário ciência porque essência e aparência seriam a mesma coisa e nem existiria nenhuma coerência com a dialética proposta por Marx.
Referências
SCHAFF, Adam. A concepção marxista do indivíduo. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.