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Moda a partir da perspectiva sociológica de Max Weber

Conceito de ação social em charge

ação social

Moda é imitação? Discutindo o conceito de ação social em Weber

Por Cristiano das Neves Bodart*

 

Como sugestão para discutir a temática ação social weberiana, mais especificamente sua diferença com o conceito de imitação, indicamos ler o texto a seguir e depois trabalhar com as propostas que o sucede.

 

Ter personalidade é só para quem pode copiar os outros

Por Cristiano das Neves Bodart*

 

Ao acordar me preparo para ir ao trabalho. Abro a janela e noto que o tempo está nublado, com grande possibilidade de chuva. Como está frio, aproveito a oportunidade para colocar ao redor do pescoço um cachecol que comprei; não era um adorno qualquer, era lindo e super na moda! Comprei-o após assistir uma cena na novela das oito (aquela que passa as nove). Comprei por um por um preço salgado, mas valeria à pena, pois me daria personalidade. Arrumei meu cabelo conforme o penteado do ator que usava o cachecol. Certamente estava pronto para receber elogios e admirados olhares, afinal, eu estava um verdadeiro galã das oito.

Ao sair de casa, não deixo de levar comigo o guarda-chuva, sobretudo naquelas condições meteorológicas. Experiências passadas me alertavam para a sua importância. Nada pior do que se arrumar e ver tudo indo, literalmente, por água abaixo.

Caminho pela calçada, rumo ao trabalho, o qual fica à poucos quarteirões. A chuva começa a cair como pedras; sem hesitar abro de imediato meu salvador guarda-chuva. Todos que estavam na rua sob a chuva fazem o mesmo, como em uma grande coreografia. Cena bonita de se ver. Salvo meu estilo da torrente de água e continuo o meu caminho.

Chego no trabalho certo de que valeria a pena imitar o galã da TV, a final, era um traje da moda. Olho ao redor e noto que diversos outros colegas usam o mesmo adorno ao redor do pescoço. Fico apreensivo quanto a receptividade do meu traje, já que não era exclusivo naquele ambiente. Confesso que tive minhas expectativas abaladas.

Passando o primeiro impacto, para minha surpresa, todos me elogiaram. Falaram muito bem e com muito entusiasmo do meu cabelo e do meu cachecol. Me senti o galã da novela das oito; por mais dicotômico que pareça, me percebi dotado de personalidade.

Fim do dia. Fui para casa pensativo. Algumas questões afloraram a partir daquela experiência. Como a moda nos cria uma expectativa de promover uma identidade pessoal e originalidade se ela nos torna exatamente o oposto disso, iguais? Como mesmo nos homogeneizando nos proporciona centralidade das atenções de olhares? Como ela me proporciona personalidade? Sendo já nove horas, deixei as questões de lado e fui assistir a novela das oito. Quem sabe encontro nela novos elementos que me dê personalidade?

Fim da novela, me lanço à cama. Preciso descansar para trabalhar, afinal, ter personalidade é só para quem pode copiar os outros, e isso demanda dinheiro.

***

Discutindo o texto…

A partir do texto acima, é possível discutir diversas questões envolvendo “moda”, “imitação” e “personalidade”. As indagações do personagem pode ser um caminho frutífero para uma discussão coletiva. Contudo, proponho apresentar caminhos que venham a instrumentalizar o professor a uma discussão do texto a partir das contribuições de Max Weber para diferenciar imitação de moda, assim como para classificar um e outro como sendo ou não uma ação social.

Geralmente as pessoas entendem que moda e imitação são ações sociais. Atestamos que para Weber que nem toda imitação é uma ação social. A imitação só será uma ação social quando não é uma ação meramente reativa, como abrir o guarda-chuva. Ainda que todos, no texto, abram o guarda-chuva, essa ação não é social, embora coletiva. Trata-se de uma reação a um agente externo, a chuva. Assim, “não pode ser considerada uma ação especificamente ‘social’ quando é puramente reativa, sem orientação própria pela alheia quanto ao sentido” (WEBER, 1999, p.14).

Para demonstrar que nem sempre uma imitação é uma ação social, bastamos observar como os macacos podem imitar um outro para sobreviver. Inclusive usar objetos para se resguardarem da chuva ou do frio.

A moda é uma imitação dotada de sentido em relação aos outros indivíduos. O personagem usa o cachecol e penteia os cabelos esperando que os demais percebam seu uso e o considere belo ou algo do tipo, tratando-se de uma “ação social”, isso por considerar os sentidos dado pelos outros. Nota-se que a moda é ima imitação, mas nem toda a imitação será uma ação social. Na verdade, Weber diferencia “simples imitação” de “moda”. Para ele a simples imitação se limita em ações sem sentido em relação ao outro, não podendo ser comparado, por exemplo, a ação social tradicional, a qual seria uma imitação dotada de sentido social.

Referência bibliográfica

WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe barbosa; revisão técnica de Gabriel Gohn – Brasília, DF: Editora UNB: 1999.

 

***

 

* Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Docente do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Licenciado em Ciências Sociais. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Editor do Blog Café com Sociologia. E-mail: cristianobodart@hotmail.com 

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

2 Comments

  1. Se considerarmos que ele também abre o guarda-chuva para não “desmanchar” a produção que ele havia feito, ou seja, ele está levando em consideração o que os outros vão pensar, se, afinal, ele chegasse todo molhado, tendo um guarda-chuvas em mão. Por ele também estar dotando de sentido essa ação de abrir o guarda-chuva, não seria possível considerá-la como uma ação social?

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