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  • Por um Crescimento Regional Endógeno

    Por Cristiano Bodart
    O novo PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) apresenta avanços significativos para a questão do planejamento nacional. Seu objetivo, embora tenha a mesma finalidade dos PND anteriores (desenvolvimento do interior do país), está relacionado a um desenvolvimento homogêneo e endógeno. Esse aspecto é justamente a sua principal diferença dos modelos de desenvolvimento regional.
    Os modelos desenvolvimentistas de outrora baseava–se na industrialização da região, acreditando que a indústria proporcionaria os impactos esperados. A busca de uma descentralização urbana era, nas décadas passadas, a solução para a falta de desenvolvimento das regiões mais distantes do coração econômico do Brasil. Essa busca proporcionou grandes despesas, o que se converteu na ampliação da dívida pública, principalmente na dívida externa, pois o cenário era propício para a oferta de empréstimos (principalmente após a crise se 73 e o plano de Marcha forçada do desenvolvimento nacional). Os governos dos militares viam o desenvolvimento do interior como uma forma de reafirmar o espaço nacional. Muitos projetos foram realizados e outros pararam pelo caminho. A criação de superintendências de desenvolvimento talvez tenha sido o ponto máximo daquela política de desenvolvimento urbano. Dois PND foram desenvolvidos com as bases aqui apresentadas e seus resultados não se ampliaram às classes mais pobres. Aprendemos que a indústria de outrora não proporcionou emprego para a população local, pois essa não era apta para as tarefas exigidas; habitualmente os impostos eram minimizados, como forma de incentivos.
    O presente PNDR (Plano Nacional de Desenvolvimento Regional) apresenta traços novos: busca-se um desenvolvimento baseado na potencialização das atividades tipicamente regionais, aquelas a qual parte da população já está inserida, porém apresentando baixo rendimento (devido a diversos fatores como, a dificuldade de escoamento da produção, a falta de incentivos fiscais, programas de créditos). Sua maximização proporciona o aumento dos rendimentos da PEA e amplia a margem de oferta de emprego local. O foco é a capacitação profissional e promover uma organização produtiva dos membros das comunidades menos desenvolvidas.
    O novo PNDR tem como foco as áreas mais pobres ou que apresentam uma estagnação econômica. Desta forma, os recursos são canalizados aos epicentros problemáticos de desenvolvimento. Maximiza-se o desenvolvimento, minimizando (comparado aos planos passados), os gastos. Minimizar não no sentido de um Estado mínimo, como querem os neoliberais, mas trabalhando com prioridades, diminuindo gastos desnecessários. Busca-se agora um crescimento endógeno e inclusivo, o inverso do verificado nos planos de outrora. Resta saber se o novo PNDR sairá do papel ou ficará emPACado como outros projetos.
  • Compras pela internet

    Compras pela internet

    venda online
    Imagem: https://www.blogbrasil.com.br

    Hoje recebi um e-mail de um leitora do blog, a  Karina, me fazendo uma pergunta muito interessante: De que maneira essa nova forma de compra (compra pela internet) afeta a sociedade?
    Embora não seja meu campo de estudo venho por meio do blog levantar algumas questões iniciais para que aqueles que se sentirem a vontade colaborarem por meio de comentários.
    Primeiro gostaria de dizer que trata-se de um tema muito interessante.
    Segundo, acredito que deveria delimitar melhor a dimensão dos impactos sobre a sociedade, pois de outra forma fica muito amplo e consequentemente sujeito a muitas análises e ao mesmo tempo corre o risco de deixar outras questões passarem desapercebidas.
    Mas tentarei delimitar alguma coisa.
    Aspectos culturais:
    O acesso a produtos anunciados pela rede mundial de computadores colabora, juntamente com

    outros fatores do processo de globalização, tem contribuído para a (re)criação uma cenário cultural marcado por maiores trocas culturais. Produtos de várias regiões do globo são espalhados com maior facilidade. Tal realidade cria três situações aparentemente antagônicas: i) a homogeneização da cultura, via os produtos destinados a massa (uma vez que produtos vendidos em esfera planetária tendem a ser produzido em massa, propagandeado, vendido e consumido); ii) a possibilidade de reafirmação das identidades locais, ao buscarem projetar seus produtos tipicamente locais sobre o restante do mundo; iii) a criação de novas características culturais (novas configurações identitárias) propiciadas pela fusão de culturas (contatos culturais).

    Aspectos econômicos:
    Os impactos econômicos sobre a sociedade se manifestam de diversas formas (maior dificuldade de fiscalização referente aos impostos, origem dos produtos, etc.). Dentre elas gostaria de citar uma em particular: há uma redução nos preços (final) dos produtos ofertados os consumidores. A Internet possibilita reduzir custos com o setor de vendas, propicia uma maior oferta de produtos e reduz os custos de acesso (transporte e tempo) para aqueles que não têm oferta desses produtos próximos a suas casas.
    Um aspectos negativo é a ampliação de desrespeito aos direitos dos consumidores (produtos de qualidade inferior aquela propagandiada, a não entrega dos produtos, etc.).
    Aspectos de sociabilidade:
    Há uma redução nas relações sociais. A prática de sair ao mercado e (re)encontrar pessoas ou até passear com a família se esvazia. A relação passa a ser reduzida a homem e máquina.
    Migração da confiança. O vendedor ao não ter contato direto com o comprador avalia-o com base em seu cartão de crédito: a confiança na pessoa é reduzida nesse contexto 
    Aspectos Políticos:
    O comércio é um ato político. De um lado o vendedor buscando maximizar seus ganhos e do outro o consumidor buscando reduzir seus custos. 
    No comércio online não existe a possibilidade da disputa política intrínseca ao modelo tradicional de comércio. O preço é fixo, não havendo a possibilidade de negociação.
    Aos leitores deixo alguns breves apotamentos… quais suas colaborações a essa discussão (comente se desejar).
  • Explorando o ensino de Sociologia – Baixe gratuitamente

    Explorando o ensino de Sociologia – Baixe gratuitamente

    explorando o ensino de sociologia

    Explorando o ensino de Sociologia é uma boa opção de livro didático de Sociologia é o livro organizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)

    O livro foi lançado deplo Ministério da Educação.

    O livro “Explorando o ensino de Sociologia” está disponível para download no site da ABA.

    A Coleção Explorando o Ensino tem por objetivo apoiar o trabalho do professor em sala de aula, oferecendo-lhe um materialcientífico-pedagógico que contemple a fundamentação teórica emetodológica e proponha reflexões nas áreas de conhecimento dasetapas de ensino da educação básica e, ainda, sugerir novas formasde abordar o conhecimento em sala de aula, contribuindo para aformação continuada e permanente do professor.Planejada em 2004, no âmbito da Secretaria de Educação Básicado Ministério da Educação, a Coleção foi direcionada aos professoresdos anos finais do ensino fundamental e ensino médio e encaminhada às escolas públicas municipais, estaduais, federais e do DistritoFederal e às Secretarias de Estado da Educação. Entre 2004 e 2006foram encaminhados volumes de Matemática, Química, Biologia,Física e Geografia: O Mar no Espaço Geográfico Brasileiro. Em 2009,foram cinco volumes – Antártica, O Brasil e o Meio Ambiente Antártico, Astronomia, Astronáutica e Mudanças Climáticas.Agora, essa Coleção tem novo direcionamento. Sua abrangência foi ampliada para toda a educação básica, privilegiandoos professores dos anos iniciais do ensino fundamental com seisvolumes – Língua Portuguesa, Literatura, Matemática, Ciências,Geografia e História – além da sequência ao atendimento a professores do Ensino Médio, com os volumes de Sociologia, Filosofiae Espanhol. Em cada volume, os autores tiveram a liberdade deapresentar a linha de pesquisa que vêm desenvolvendo, colocandoseus comentários e opiniões.Coleção Explorando o Ensino8A expectativa do Ministério da Educação é a de que a ColeçãoExplorando o Ensino seja um instrumento de apoio ao professor,contribuindo para seu processo de formação, de modo a auxiliar nareflexão coletiva do processo pedagógico da escola, na apreensãodas relações entre o campo do conhecimento específico e a propostapedagógica; no diálogo com os programas do livro Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e Programa Nacional Bibliotecada Escola (PNBE), com a legislação educacional, com os programasvoltados para o currículo e formação de professores; e na apropriação de informações, conhecimentos e conceitos que possam sercompartilhados com os alunos.Ministério da Educação

     

    Baixar o livro aqui.

    ou aqui

  • Piso salarial do professor e as horas destinadas ao planejamento

    Caros leitores, no dia 17/07/2008 foi publicada a Lei Federal 11.738/2008 referente ao piso salarial do magistério.
    No artigo 2º foi fixado o piso nacional do magistério (atualmente em R$ 1.187,00).
    No § 4o foi determinado que o Professor trabalhasse em sala de aula no máximo 2/3 (dois terços) de sua carga horária, ou seja, um Professor com carga de 25 horas tem o direito de trabalhar no máximo 16 horas em sala de aula e as outras 9 horas em planejamento, sem prejuízo no salário.
    O problema é que essa determinação não está sendo comprida em vários estados brasileiros, como ocorre no Espírito Santo.
    E POR QUAL MOTIVO A LEI NÃO ESTÁ SENDO CUMPRIDA? Ocorre que vários Estados impetraram uma ação direta de inconstitucionalidade em 2008, visando derrubar o artigo 2º e seu § 4o editado na lei federal, por isso ficou a norma suspensa e os governos estaduais e municipais não obrigados a cumpri-la. 
    O QUE MUDOU AGORA? O Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 27/04/2011 que as normas (artigo 2º e seu § 4o) constantes na lei federal 11.738/2008 estão valendo, logo, a redução da carga horária em sala de aula e o piso do magistério também estão valendo. 

    É HORA DE FAZERMOS ALGUMA COISA. REPASSANDO ESSA NOTÍCIA JÁ É O PRIMEIRO PASSO.
  • 6º Encontro Nacional de Política Social

    6º Encontro Nacional de Política Social acontecerá em Vitória/ES entre os dias 28 e 30 de setembro.
    O Programa de Pós-Graduação em Política Social da UFES realizará, no período de 28 a 30 de setembro de 2011, no campus da Universidade Federal do Espírito Santo, o 6º Encontro Nacional de Política Social (ENPS). O tema do evento, “Política social no mundo contemporâneo”, ancora-se na necessidade de consolidar o ENPS como um espaço de intercâmbio e reflexão acerca da realidade mundial, especialmente num momento em que emergem movimentos e governos que contestam a hegemonia norte-americana e o capital financeiro no mundo.

    Este tema instiga pesquisadores do mundo inteiro a refletir sobre as dificuldades e obstáculos impostos pela conjuntura mundial (e particular de cada país), num contexto em que se destacam a mundialização dos processos econômico-sociais, a força do neoliberalismo na condução de políticas sociais (das quais o Estado busca desresponsabilizar-se) e as extremas desigualdades sociais postas, entre outros fatores, pela divisão internacional, regional e social do trabalho e pela precarização das condições e relações laborais. O tema central expressa ainda os desafios com os quais se defrontam os pesquisadores e profissionais envolvidos com a questão. No atual contexto brasileiro, latino-americano e mundial, as forças sociais de esquerda se reorganizam em torno de alternativas de enfrentamento das contradições e desigualdades econômicas, culturais, políticas e sociais. Os altos níveis de desigualdade e a persistência de um sistema de proteção social de caráter focalizado, territorializado e marcado por políticas de transferência de renda não produzem alterações sobre os determinantes da miséria e da pobreza e, portanto, ampliam a necessidade de pensarmos o existente e de construirmos estratégias econômicas, políticas e sociais para sua superação.
    Estão previstas conferências, mesas-redondas e apresentação de trabalhos científicos. Entre os convidados internacionais e nacionais, teremos a presença confirmada de: Carlos Soto Iguarán (França); Cesar Giraldo (Colômbia); Berenice Rojas Couto (Brasil); Dimitris Milonakis (Grécia); Fred Goldstein (EUA); George Labridinis (Grécia); José Paulo Netto (Brasil); Laura Acotto (Argentina); Mamdouh Habashi (Egito); Olga Pérez Soto (Cuba); Potyara Amazoneida P. Pereira (Brasil); Paul Bywaters (Reino Unido); Peter Abrahamsom (Dinamarca) e Vishanthie Sewpaul (África do Sul).

    Link do site: https://enps.com.br/capa

  • Teoria dos Jogos, cooperação social e ganhos subótimos: a experiência de moradores de Piúma/ES

    Artigo completo:
    Teoria dos jogos, cooperação social e ganhos subótimos

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    Slides síntese do artigo:
    Teoria dos jogos, cooperação social e ganhos

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    Esses slides busca sintetizar o artigo que estarei apresentando no I Seminário Nacional de Ciências Sociais do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, a ocorrer no decorrer de toda esta semana.

  • Democracia brasileira

    Democracia brasileira

    A democracia brasileira é um tema complexo e que tem sido alvo de debates e reflexões constantes no campo da ciência política. Desde a redemocratização do país na década de 1980, a democracia brasileira tem passado por diferentes momentos e desafios, como a construção de instituições democráticas, a participação popular, a representatividade política, entre outros. Neste texto, abordaremos a democracia brasileira a partir da análise de cinco autores renomados no campo da ciência política.

    Robert Dahl, em seu livro “A Poliarquia”, propõe uma visão mais ampla de democracia, além do tradicional conceito de democracia representativa. Para ele, a democracia é um sistema político em que os cidadãos têm oportunidades iguais para influenciar as decisões políticas e competir pelo poder político. Nesse sentido, a democracia não é apenas a realização de eleições livres e justas, mas também a garantia de direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, associação e protesto. No contexto brasileiro, a realização de eleições periódicas e a ampliação do acesso aos direitos políticos são importantes avanços, mas ainda há desafios em relação à igualdade de oportunidades e a ampliação da participação popular nas decisões políticas.

    A democracia brasileira é um tema complexo e que tem sido alvo de debates e reflexões constantes no campo da ciência política. Desde a redemocratização do país na década de 1980, a democracia brasileira tem passado por diferentes momentos e desafios, como a construção de instituições democráticas, a participação popular, a representatividade política, entre outros. Neste texto, abordaremos a democracia brasileira a partir da análise de cinco autores renomados no campo da ciência política.

    Robert Dahl, em seu livro “A Poliarquia”, propõe uma visão mais ampla de democracia, além do tradicional conceito de democracia representativa. Para ele, a democracia é um sistema político em que os cidadãos têm oportunidades iguais para influenciar as decisões políticas e competir pelo poder político. Nesse sentido, a democracia não é apenas a realização de eleições livres e justas, mas também a garantia de direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, associação e protesto. No contexto brasileiro, a realização de eleições periódicas e a ampliação do acesso aos direitos políticos são importantes avanços, mas ainda há desafios em relação à igualdade de oportunidades e a ampliação da participação popular nas decisões políticas.

    Boaventura de Sousa Santos, em seu livro “Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade“, aborda a questão da democracia participativa e da importância da diversidade cultural na construção de uma democracia mais inclusiva. Segundo o autor, a democracia representativa, baseada no modelo liberal, é insuficiente para atender às demandas dos cidadãos e promover a justiça social. É necessário ampliar a participação popular nas decisões políticas, fortalecendo a democracia participativa. Além disso, é importante reconhecer a diversidade cultural e promover a inclusão de diferentes grupos sociais no processo democrático.

    Roberto Mangabeira Unger, em seu livro “Política: visão e perspectivas”, propõe uma crítica ao modelo de democracia liberal e defende a construção de uma democracia radical. Para o autor, a democracia liberal é limitada e não atende às necessidades dos cidadãos. É necessário ampliar a participação popular e promover a democratização da economia e da sociedade. A democracia radical deve ser capaz de transformar a sociedade, promovendo a justiça social e a igualdade de oportunidades.

    Por fim, Sérgio Abranches, em seu livro “A era dos governos pós-democráticos: o neoliberalismo e a desdemocratização”, destaca os desafios que a democracia brasileira enfrenta em um contexto de avanço do neoliberalismo e da desigualdade social. Segundo o autor, o neoliberalismo tem sido um obstáculo para a construção de uma democracia mais inclusiva e participativa, promovendo a concentração de poder e recursos nas mãos de elites econômicas e políticas. Além disso, a desigualdade social e a exclusão de diferentes grupos sociais do processo político são problemas estruturais que dificultam a consolidação da democracia no país.

    A partir desses autores, podemos perceber que a democracia brasileira é um tema complexo e multifacetado, que requer uma análise crítica e aprofundada. A realização de eleições livres e justas é um importante avanço, mas é preciso ir além e promover a participação popular e a construção de uma cultura política democrática. Além disso, é necessário enfrentar os desafios impostos pelo neoliberalismo e pela desigualdade social, promovendo a justiça social e a inclusão de diferentes grupos sociais no processo político.

    Referências:

    ABRANCHES, Sérgio. A era dos governos pós-democráticos: o neoliberalismo e a desdemocratização. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2019.

    CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

    DAHL, Robert. A Poliarquia. São Paulo: EdUSP, 2005.

    MANGABEIRA UNGER, Roberto. Política: visão e perspectivas. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.

    SOUSA SANTOS, Boaventura de. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2013.

    Vídeo para discutir democracia brasileira

    Esse vídeo foi postado no Yotube por Filipe Santoro em 2007. Ótimo vídeo para a promoção de um debate em torno do tema “DEMOCRACIA BRASILEIRA”.

     

  • Redistribuição de Renda


    Roseli Coelho, professora-doutora e cientista política, docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
    Nesse vídeo ela faz uma análise sobre a questão das políticas públicas de redistribuição de renda à luz dos 15 anos do Plano Real.

  • Brasil, corrupção e postura ética

    Belo poema abordando a postura ética e a corrupção generalizada que tem marcado o Brasil.
    Só de Sacanagem

    Composição : Elisa Lucinda
    Na voz de Ana Carolina

    Meu coração está aos pulos!
    Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
    Por quantas provas terá ela que passar?

    Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
    Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
    Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
    Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
    É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
    Meu coração tá no escuro.
    A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
    ” – Não roubarás!”
    ” – Devolva o lápis do coleguinha!”
    ” – Esse apontador não é seu, minha filha!”
    Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
    Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
    Dirão:
    ” – Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”
    E eu vou dizer:
    “- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
    Dirão:
    ” – É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
    E eu direi:
    ” – Não admito! Minha esperança é imortal!”
    E eu repito, ouviram?
    IMORTAL!!!
    Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

  • Música Socialização

    Uma opção de utilizar música para trabalhar com o tema socialização e hábitos precários (conceito desenvolvido por Jessé Souza) é a música “Faroeste caboclo” de Legião Urbana.
    ATENÇÃO: existem palavrões na música, por tanto não recomendável para crianças e adolescentes.

    A partir da música é possível levantar as seguintes questões:

    1. O contexto social que se desenvolve a criança determina (Durhkeim) ou influencia (Weber) a formação da personalidade?
    2. As questões sociais (marginalização) influenciam no comportamento dos indivíduos?
    3. É possível notar uma distância social da burguesia em relação aos personagens da música? Isso ocorre na vida real?

    Abaixo letra e áudio da música (em formato de vídeo e texto):

    Faroeste Caboclo
    Renato Russo

    -Não tinha medo, o tal João de Santo Cristo,
    Era o que todos diziam quando ele se perdeu.

    Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
    Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu.
    Quando criança só pensava em ser bandido,
    Ainda mais quando com um tiro de um soldado o pai morreu
    Era o terror da cercania onde morava
    E na escola até o professor com ele aprendeu.

    Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
    Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar.
    Sentia mesmo que era mesmo diferente
    E sentia que aquilo ali não era o seu lugar
    Ele queria sair para ver o mar
    E as coisas que ele via na televisão
    Juntou dinheiro para poder viajar
    E de escolha própria, escolheu a solidão

    Comia todas as menininhas da cidade
    De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
    Aos quinze foi mandado para o reformatório
    Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

    Não entendia como a vida funcionava –
    Discriminação por causa de sua classe ou sua cor
    Ficou cansado de tentar achar resposta
    E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

    E lá chegando foi tomar um cafezinho
    E encontrou com um boiadeiro com quem foi falar
    o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
    Mas João foi lhe salvar.
    Dizia ele: – Estou indo pra Brasília,
    Neste país lugar melhor não há.
    Estou precisando visitar a minha filha
    Então fico aqui e você vai no meu lugar.

    E João aceitou sua proposta e num ônibus entrou no Planalto Central
    Ele ficou bestificado com a cidade
    Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal.
    – Meu Deus, que cidade linda,
    No ano-novo eu começo a trabalhar.
    Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
    Ganhava cem mil por mês em Taguatinga.

    Na sexta-feira ia pra zona da cidade
    Gastar todo seu dinheiro de rapaz trabalhador
    E conhecia muita gente interessante
    Até um neto bastardo do seu bisavô:
    Um peruano que vivia na Bolívia
    E muitas coisas trazia de lá
    Seu nome era Pablo e ele dizia
    Que um negócio ele ia começar.

    E o Santo Cristo até a morte trabalhava
    Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
    E ouvia às sete horas o noticiário
    Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar
    Mas ele não queria mas conversa e decidiu que,
    Como Pablo, ele ia se virar
    Elaborou mais uma vez seu plano santo
    E, sem ser crucificado, a plantação foi começar.

    Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
    – Tem bagulho bom aí!
    E João de Santo Cristo ficou rico
    E acabou com todos traficantes dali.
    Fez amigos, freqüentava a Asa Norte
    E ia pra festa de rock, pra se libertar
    Mas de repente, sob uma má influência dos Boyzinhos da cidade
    Começou a roubar.

    Já no primeiro roubo ele dançou
    E pro inferno ele foi pela primeira vez
    Violência e estupro do seu corpo
    – Vocês vão ver, eu vou pegar vocês.

    Agora o Santo Cristo era bandido
    Destemido e temido no Distrito Federal.
    Não tinha nenhum medo de polícia
    Capitão ou traficante, playboy ou general.
    Foi quando conheceu uma menina
    E de todos seus pecados ele se arrependeu.
    Maria Lúcia era uma menina linda
    E o coração dele
    Pra ela o Santo Cristo prometeu
    Ele dizia que queria se casar
    E carpinteiro ele voltou a ser
    – Maria Lúcia pra sempre eu vou te amar
    E um filho com você eu quero ter.

    O tempo passa e um dia vem à porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão
    E ele faz uma proposta indecorosa e diz que quer uma resposta
    Uma resposta de João:
    – Não boto bomba em banca de jornal nem em colégio de criança
    Isso eu não faço não
    E não protejo general de dez estrelas, que fica atrás da mesa
    Com o ### na mão.
    E é melhor o senhor sair da minha casa
    Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião.
    Mas antes de sair com ódio no olhar o velho disse:
    – Você perdeu sua vida meu irmão.

    Você perdeu a sua vida meu irmão. Você perdeu a sua vida meu irmão.
    Essa palavras vão entrar no coração
    E eu vou sofrer as conseqüências como um cão.
    Não é que o Santo Cristo estava certo
    E seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
    Se embebedou e no meio da bebedeira descobriu que tinha outro
    Trabalhado em seu lugar
    Falou com Pablo que queria um parceiro
    E também tinha dinheiro e queria se armar
    Pablo trazia o contrabando da Bolívia e Santo Cristo revendia em Planaltina.

    Mas acontece que um tal de Jeremias, traficante de renome
    Apareceu por lá,
    Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
    E decidiu que com João ele ia acabar.
    Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
    E o Santo Cristo já sabia atirar
    E decidiu usar a arma só depois
    Que o Jeremias começasse a brigar.

    (O Jeremias, maconheiro sem-vergonha, organizou a Rockonha
    E fez todo mundo dançar.)

    Desvirginava mocinhas inocentes
    E dizia que era crente mas não sabia rezar.

    E Santo Cristo há muito não ia pra casa
    E a saudade começou a apertar
    – Eu vou embora, eu vou ver Maria Lúcia
    Já tá em tempo da gente se casar.

    Chegando em casa então ele chorou
    E pro inferno ele foi pela segunda vez
    Com Maria Lúcia, Jeremias se casou
    E um filho nela ele fez.

    Santo Cristo era só ódio por dentro e então o Jeremias pra um duelo ele chamou
    Amanhã às duas hora na Ceilândia, em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou
    E você pode escolher as suas armas que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
    E mato também Maria Lúcia, aquela menina falsa pra que jurei o meu amor

    Santo Cristo não sabia o que fazer
    Quando viu o repórter na televisão
    Que deu notícia do duelo na TV
    Dizendo a hora e o local e a razão.

    No sábado então, às duas horas, todo povo
    Sem demora foi lá só pra assistir
    Um homem que atirava pelas costas
    E acertou o Santo Cristo começou a sorrir.
    Sentido o sangue na garganta,
    João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
    E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
    A gente da TV que filmava tudo ali.

    E se lembrou de quando era uma criança e de tudo que vivera até ali
    E decidiu entrar de vez naquela dança
    – Se a via-crucis virou circo, estou aqui.

    E nisso o sol cegou seus olhos e então Maria Lúcia ele reconheceu
    Ela trazia a Winchester-22
    A arma que seu primo Pablo lhe deu.

    – Jeremias, eu sou homem, coisa que você não é.
    E não atiro pelas costas não.
    Olha pra cá filha da puta, sem-vergonha,
    Dá uma olhada no meu sangue
    E vem sentir o teu perdão.

    E Santo Cristo com a Winchester-22
    Deu cinco tiros no bandido traidor
    Maria Lúcia se arrependeu depois
    E morreu junto com João, seu protetor.

    E o povo declarava que João de Santo Cristo era santo porque sabia morrer
    E a alta burguesia da cidade não acreditou na história que eles viram na TV
    E o João não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília, com o diabo ter
    Ele queria era falar pro presidente
    Pra ajudar toda essa gente
    Que só faz sofrer.