Tag: Eixo- Movimentos sociais/ cidadania/ democracia e políticas públicas

Eixo- Movimentos sociais/ cidadania/ democracia e políticas públicas

Em resumo, podemos entender a cidadania como toda prática que envolve reivindicação, interesse pela coletividade, organização de associações, luta pela qualidade de vida, seja na família, no bairro, no trabalho, ou na escola. Ela implica um aprendizado contínuo, uma mudança de conduta diante da sociedade de consumo que coloca o indivíduo como competidor pelos bens da produção capitalista.
 Mas é preciso não confundir a cidadania com as soluções individualistas estimuladas pelo próprio sistema de competição hoje vigente: ou seja, o indivíduo que prefere pagar por sua segurança em um condomínio fechado ou contratando “polícia” particular, não exigindo que o poder público forneça a segurança de ir e vir no espaço urbano, não está exercendo sua cidadania.

E um dos grandes problemas para o exercício da cidadania em nossa sociedade é exatamente o individualismo incentivado pela sociedade de consumo e pelo neoliberalismo. Ao nos preocuparmos apenas com nós mesmos, ao abandonar a defesa da coletividade, estamos enfraquecendo a cidadania em nosso país, assim como nossos próprios direitos

  • O cristão: entre Direita e Esquerda

    O cristão: entre Direita e Esquerda

    Por Cristiano das Neves Bodart

    Cristão é um adjetivo dado aqueles que seguem as ideias de Cristo (01-34 d.C). Em se tratando de Direita e Esquerda não consigo compreender como alguém diz ser cristão sem, contudo, compartilhar das ideias básicas de Cristo: amor, paz, compreensão, respeito, tolerância e igualdade.
    Alguns dirão que não existe direita e esquerda, afirmativa que não se sustenta (mas isso é outra discussão).
    …….
    Para compreensão inicial (não continue a leitura sem entender esses dois pontos):
    Grosso modo podemos assim classificar:
    Esquerda: Basicamente trata-se de uma posição ideológica que defende práticas voltadas a uma sociedade mais igualitária. Defende uma melhor redistribuição de renda e respeito às diferenças e prega mudanças na realidade socioeconômica em prol da coletividade.
    Direita: Basicamente trata-se de uma posição ideológica conservadora e defensora, hoje, do Neoliberalismo Econômico. Defende a meritocracia e a manutenção da realidade socioeconômica em prol da individualidade.
    …..
    cristianismo primitivo
    A questão que não consigo entender é a visão de alguns cristãos se colocarem contrários às ideias de Esquerda, como se essas fossem “diabólicas” (o que não é, necessariamente, a mesma coisa do que defender partidos ditos como de esquerda). Digo isso porque se analisarmos, ainda que superficialmente, a vida de Jesus Cristo e de seus seguidores (cristãos primitivos) veremos com muita facilidade se Jesus era de Direita ou de Esquerda.

    Como bem apresentou o poeta cristão, Ariano Suassuna, Herodes e Pilatos eram de direita, representavam o status quo da época. Defendiam o crescimento do Império Romano, o uso da força na manutenção da “harmonia social”.

     

    Jesus Cristo era, sem dúvida, de Esquerda. Alguns diriam que os objetivos de Jesus não estavam ligados à política partidária; isso acredito ser verdade. Porém, ao buscar seu objetivo para o “Reino dos Céus” teve que se posicionar politicamente no mundo – uma vez que estava situado em um contexto histórico, político e social. Não era possível ser neutro. Restava ficar do lado dos explorados ou dos exploradores; escolheu os subjugados.

    Jesus de Nazaré viveu em uma sociedade marcada pelo Latifúndio (diversas de suas parábolas tiveram a “terra” como pano de fundo) e quando ele se colocava contrário a riqueza (embora pensamos o conceito de riqueza com nossas experiências atuais, sendo visto como capital) estava se colocando contrário ao latifúndio. A riqueza, ou seja, a concentração de terras nas mãos de poucos, era visto por Jesus como bastante negativa (“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus” Mt. 19:24). E qual era a sugestão de Jesus? Sua orientação era a partilha: “vende tudo o que tens e dê aos pobres” (Mt. 19:21).
    cristão lendo biblia sagrada

    Jesus se pôs também contrário à opressão dos ricos sobre os pobres. Denunciou a exploração da época que se dava por meio de impostos que enriqueciam uma classe social e esmagavam outras na pobreza. Atualmente a forma de exploração se dá, em maior parte, por meio das relações assalariadas (na época de Jesus o trabalho era predominantemente artesanal e familiar).
    Quando Cristo, por exemplo, curava nos sábados e não observava as leis da época (regidas por princípios teocráticos judaicos) estava se colocando à Esquerda da Direita política da época, isso pela atitude subversiva e pelo rompimento com a ordem social imposta.

    Jesus viveu na companhia dos mais pobres e oprimidos pela Direita Política da época. Sua atenção esteve prioritariamente sobre os mais pobres, carentes e marginalizados pela sociedade. Notaremos nos evangelhos um constante embate entre Jesus e o Poder Político de Direita da época. Jesus foi um defensor das minorias desprivilegiadas ou vitimadas por preconceitos sociais e/ou religiosos.
    O que mais caracteriza hoje a Esquerda? Certamente a ideia “comunista” de igualdade social.
    Se olharmos para os Cristãos do primeiro século, mais especificadamente no livro de Atos dos Apóstolos veremos qual era o posicionamento desses:

    “E da multidão dos que creram, um só era o sentimento e a maneira de pensar. Ninguém considerava exclusivamente seu os bens que possuía, mas todos compartilhavam tudo entre si” (ATOS 4: 32).

    E ainda,
    “Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um” (Atos 4:34-35).
    cristão e a caridade
    Pelo que parece o Cristianismo foi precursor das ideias comunistas, chegando a colocá-las em prática no primeiro século.

    Não é lúcido pensarmos que porque alguém da Esquerda se corrompeu, como fez Judas e outros contemporâneos de nossa época (enriquecendo-se a si mesmo com uma espécie de “caixa dois”), que devemos satanizar os princípios defendidos por Jesus. Fazer isso não seria deixar de seguir os princípios cristãos e, portanto, deixar de ter condições de ter esse adjetivo?

    Por fim, termino dizendo que o conservadorismo da Direita da Época de Jesus, o crucificou justamente por ter sido interpretado como sendo de Esquerda.  
    Hoje Jesus seria assassinado pela milícia a mando de um direitista conservador que se diz cristão. Daqueles que fazem gestos de armas com as mãos.
    Publicado originalmente em 8 de outubro de 2014 
  • O que são ditaduras?

    O que são ditaduras?

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    Em meio aos gritos “Ditadura Já”, surge a seguinte questão: afinal, o que são ditaduras?

     

    Por Cristiano das Neves Bodart
     

    Afinal, o que são ditaduras? Muitos gritam “ditadura já!” sem ao menos saber do que se trata e quais aspectos envolvem esse conceito tão recorrente nos dias atuais.

    O político e historiador inglês Lord Acton dizia que “o poder tende a corromper e o poder absoluto tende a corromper absolutamente”. Nesse sentido, ditaduras são sempre maléficas, sejam elas de direita ou de esquerda.
    Ainda que o termo “ditadura” seja uma expressão bastante ampla, alguns aspectos comuns são visíveis em um regime ditatorial. A ditadura caracteriza-se, dentre outros aspectos, pelo comando político arbitrário, estando o líder, ou o grupo que está no poder, acima de qualquer direito jurídico (sobretudo constitucional*) que possa existir, ainda que se procure mascarar sua natureza totalitária com uma fachada de nobreza e justiça, apresentando-se, quase sempre, como “salvador(es) da pátria”. Na ditadura não há respeito a divisão dos poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo), sendo marcadas pela coerção sobre os meios de comunicação e partidos políticos, quando esses não são extintos. Outra característica comum são as violações dos Direitos Humanos.
    A partir de colaborações weberianas conceituais e categorizadoras, podemos destacar, basicamente, três tipos de ditadores (líderes). Seriam ele: carismático; tradicional e; racional.
    O ditador carismático busca sua legitimação a partir de atributos pessoais, tais como Maduro e Chaves. Esses buscam se aproximar do povo como seus legítimos representantes, quase sempre, implantando um governo supostamente nacionalista e voltado à sociedade que mais carece de apoio do Estado. O ditador tradicional tem sua legitimação pautada na tradição, comum nas ditaduras monarquistas e/ou hereditárias. Nessas, a preocupação com a imagem é reduzida, uma vez que a tradição é aclamada como legitimadora da concentração de poder. Já o ditador racional busca sua legitimação no argumento utilitarista, afirmando que sua ditadura é importante para o desenvolvimento, a segurança ou outro desejo socialmente instituídos no seio do povo. Um exemplo de ditadura racional foi a ditadura militar brasileira, a qual se teve como útil no combate ao avanço da esquerda e na preservação dos bons costumes e da moral.
    As ditaduras podem, ainda, ser classificadas como “ditaduras revolucionárias” e “ditaduras conservadoras”. Por ditadura revolucionária entende-se aquela que busca substituir a ordem vigente por um novo modelo. Já a ditadura conservadora tem por característica manter a ordem estabelecida. Essa definição é um tanto problemática, pois à longo prazo todas as duas acabam buscando a manutenção de um ordem estabelecida. O exemplo de Cuba é bastante esclarecedor. Quando se deu a tomada do poder pela esquerda cubana, presenciou-se uma alteração da ordem até então vigente. Estabelecida uma nova ordem, a ditadura cubada passou a buscar a manutenção dessa ordem estabelecida, podendo ser, agora, considerada conservadora.
    Outra classificação recorrente usada é a distinção entre ditadura militar e ditadura civil. Enquanto a primeira caracteriza-se pela presença de militares no poder, na segunda o ditador é um civil. No Brasil, presenciamos os dois tipos, sendo exemplo de ditadura civil o primeiro mandato do governo de Getúlio Vargas e, como exemplo de ditadura militar tivemos os sucessivos governos do período de 1964 a 1985. Em todos, sobrou desrespeitos aos Direitos Humanos, a liberdade de expressão e a manipulação ideológica.
    Ainda que diferentes, todas essas tipologias de ditaduras possuem em comum a concentração do poder e seu uso indiscriminado e arbitrário (muitas vezes violento) na busca por sua manutenção. É importante destacar que nem sempre uma ditadura tem sua origem em um golpe de Estado, como ocorreu em 1964 no Brasil. O que caracteriza uma ditadura não é a forma de implantação do governo, mas a maneira como este se estabelece e se mantém no poder.
    Talvez a maneira mais objetiva e fácil de compreender o que são ditaduras é partindo da seguinte premissa: Ditadura é marcada pela contrariedade aos preceitos democráticos. Desta forma, estaríamos partindo de uma realidade conhecida e próxima em direção a um conceito não tão próximo e vivenciado hoje no Brasil, ainda que nossos ouvidos estejam sempre a mercê de gritos de frases prontas, como “Ditadura já”. Frente aos “gritadores”, somos forçados a plagiar a frase: “perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Não sabem nem que se assim se sucedesse, não poderiam mais gritar.
    *Uma exceção foi a Ditadura Constitucional Romana – “Dictator est qui dictat” (ocorrida por volta de 500 a.C). 

     

     

    Como citar esse texto:

     

    BODART, Cristiano das Neves. O que são ditaduras? Blog Café com Sociologia. 2015. Disponível em: Link aqui . Acessado em: dia mês ano.

     

    Publicado originalmente em 14/12/2015
  • Mediocridade em um país de educação medíocre*

    Mediocridade em um país de educação medíocre*

    educação medíocre

    Mediocridade em um país de educação medíocre*

    Certamente você não gosta de ser chamado de medíocre, isso por possuir, tal palavra, uma conotação pejorativa. Mas será que, em relação à educação, você não é medíocre? Já se fez essa pergunta?
    Ser medíocre é ser mediano; é estar na média. É estar entre o bom e o ruim. Em outras palavras, é não estar entre os melhores, ainda que também não entre os piores. No caso específico da educação, ser medíocre em um país medíocre, como o Brasil, é ainda pior. Isso é muito sério! A Educação pública brasileira parece ter por objetivo produzir pessoas medíocres em um sistema já medíocre. Observando as constantes mudanças no sistema educacional público de ensino básico, notaremos facilmente um plano medíocre para reproduzir mediocridade. Os exemplos são diversos: níveis de prova, seleção de conteúdos, capacitação de professores, salas de aula cheias, excessos de trabalhos simplistas aplicados aos estudantes, etc.
    No caso das provas notamos, digo por experiência de causa, que é praticamente proibido cobrar do aluno o que o professor não falou em sala de aula em relação ao conteúdo dado, o que leva à mediocridade. O professor ao ter que se expressar para 40 alunos, “nivela por baixo” o conteúdo da aula para que todos, ou quase todos, entendam. Transmite assim um conteúdo já medíocrizado. Os alunos, por sua vez, precisam assimilar apenas parte desse conteúdo (às vezes 70%, outras 50%) para ser aprovado naquele mediocrizado conteúdo; isso quando não é orientado que ele participe da Festa de São João, dançando na quadrilha, por exemplo. Esse ato o garantirá mais 20% da nota na prova, precisando apenas aprender 30% do conteúdo mediocrizado pelo professor. Pronto! Aprovado mais um medíocre.
    Quanto aos “trabalhos mediocrizadores” a situação é ainda mais crítica. Os trabalhos em sistemas educacionais sérios têm por objetivo exclusivo desenvolver novas habilidades. Não é o caso da prática do ensino básico público brasileiro, com suas exceções, óbvio. Os trabalhos são visto como “meios” para atingir um “fim”: a aprovação do educando. O objetivo não é educar, mas aprovar, ampliar a popularidade política dos secretários de educação, via dados estatísticos frios.
    Trabalhos em grupo onde o educador sabe que apenas um educando fez e os demais tiveram seus nomes inclusos; plágios de conteúdos disponíveis na internet; trabalhos elaborados por terceiros; trabalhos banais, como trazer objetos e materiais para aula… esses abarrotam as escolas de medíocres. Estudantes que serão aprovados sem conhecimento sólido. Alguns ainda ficam retidos por não atingir, mesmo com toda essa mediocridade, a média (que como diz a própria nomenclatura, é também medíocre). A esses são dadas três aulas e aplicado um conteúdo “hipermediocrizado”, devendo “tirar a média” para serem aprovados. Pronto! Aprovados mais alguns medíocres.
    Quanto à seleção de conteúdos, notamos igualmente uma mediocridade profunda. Os conteúdos raramente ultrapassam os medíocres livros didáticos.
    Certamente existem os professores bons, os ruins e os medíocres. As condições atuais propiciam uma formação docente medíocre. Isso por vários motivos. Dentre eles vemos: proliferação de cursos particulares de licenciatura de baixo custo, muitos desses à distância; O curso de licenciatura é o menor em carga horária; o professor ao receber salários medíocres não dispõe de condições financeiras para investir em sua carreira, assim como não lhe resta tempo por ter que lecionar para muitas turmas de mais de uma escola.
    A proliferação de cursos de licenciatura com baixas mensalidades têm criando condições para que os estabelecimentos de ensino contratem professores com menores salários e, consequentemente, menos qualificados e motivados. Essa situação reflete na formação dos futuros professores. Tendo o curso de licenciatura carga horária menor, os conteúdos serão resumidos e/ou muitos nem serão transmitidos à turma. Somado a formação medíocre, o professor se depara com a dificuldade em manter-se informado e aperfeiçoar-se. Falta-lhe dinheiro e tempo. Com um salário baixo não tem condições de comprar livros, pagar cursos, participar de seminários e congressos. Ainda que tivesse poupado algum dinheiro, sua carga-horária o impediria. Somado a tudo isso, não vê motivos para se aperfeiçoar, pois, terá que ministrar aulas medíocres para não reprovar seus estudantes… que serão alguns dos futuros professores medíocres que farão parte do sistema de ensino medíocre.
    Deveríamos ficar ofendidos não por sermos chamados de medíocres, mas por permitirmos que tenhamos um país medíocre. Ser medíocre na Holanda não é nada mal. Ser medíocre no Brasil já é bastante problemático.
    Lamentavelmente os medíocres são fruto de um sistema educacional e uma cultura da mediocridade. Quem nunca ouviu um estudante dizer “passando está bom, É o que importa”? Essa afirmação é fruto de uma cultura mediocrizadora, que se repete em quase todas as esferas da vida social, inclusive na educação. Não quero ser medíocre, ainda mais no Brasil!
     * Texto originalmente publicado no Portal 27 em 2013

     

  • O que são movimentos sociais?

    O que são movimentos sociais?

    Os movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas da população se organizar e expressar suas demandas (GOHN, 2011) e cujas formas de luta têm papel fundamental na conquista de direitos civis, políticos e sociais. Suas iniciativas são oriundas de diferentes classes e camadas sociais, articuladas em cenários de uma determinada conjuntura histórica.

    O que são Movimentos Sociais?[1]

    Alberto Alvadia Filho[2]

    Walace Ferreira[3]

    Walace Ferreira

    Segundo o sociólogo francês, Alain Touraine (1977), para que uma organização seja reconhecida como movimento social é preciso o cumprimento de três princípios:

    a) o princípio da identidade: em um primeiro momento, o movimento social deve escolher uma identidade, sinalizando a quem representa, em nome de quem fala, quais são seus interesses e o que protege ou defende;

    b) o princípio da oposição: o movimento social luta contra uma resistência ou um bloqueio, buscando vencer a oposição, a apatia ou a indiferença. Os anseios e demandas de um determinado movimento social estão em conflito com os interesses de outros segmentos da sociedade, em geral dominantes; e

    c) o princípio da totalidade: um movimento social, mesmo que represente ou defenda os interesses de um grupo em particular, afirma fazê-lo em nome de valores universais ou reconhecidos pela coletividade como um todo.

    Os movimentos dirigem suas ações para causas que ultrapassem interesses particulares. A intenção é que seus objetivos, quando alcançados, transformem a vida de muito mais pessoas do que aquelas envolvidas diretamente em suas iniciativas.

    Até os anos 50, o conceito de movimento social esteve associado à luta de classes, cujo escopo envolve conflitos de base econômica, decorrentes das condições materiais de produção e ligados às desigualdades sociais e econômicas geradas pelo capitalismo. São os chamados movimentos clássicos (ou tradicionais), tendo como primeiro exemplo histórico o movimento operário, surgido no século XVIII e organizado em sindicatos e associações de trabalhadores. No Brasil, destacam-se, ainda, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) (FERREIRA; ALVADIA FILHO, 2021).

    Alberto Alvadia FilhoJá na metade do século XX emergem movimentos com novas demandas, os quais passam a ser chamados como novos movimentos sociais. Suas características, segundo Silva et al (2016), são: a atuação mais como uma rede de trocas de informação e cooperação do que como uma hierarquia vertical de líderes e militantes; base social com elementos distintos da tradicional oposição de classes, reunindo em torno de uma mesma causa ativistas de diferentes posições na estrutura social; ausência de uma ideologia unificadora, tal como ocorria com a classe trabalhadora, que dá lugar a uma pluralidade de ideias e valores de orientação pragmática para reformas institucionais; emergência de novas dimensões de identidade, a exemplo do que acontece com o Movimento Feminista, com o Movimento Negro ou com os movimentos pelos direitos dos homossexuais; organização difusa, segmentada e descentralizada em oposição às tradicionais organizações de massa, centralizadas e burocratizadas.

    Diante do avanço das novas tecnologias como instrumento de organização e das questões sociais e ambientais como insumo para a reflexão e a crítica, o horizonte de atuação das organizações coletivas e populares permanece em desenvolvimento, atento ao porvir, conectado à complexificação das sociedades e em busca de formas cada vez mais eficientes de atuação.

    Referências Bibliográficas

    FERREIRA, Walace; ALVADIA FILHO, Alberto. O que é Movimento Social? In: BODART, Cristiano das Neves. (Org.). Conceitos e categorias fundamental do ensino de Ciência Política. Maceió: Editora Café com Sociologia, 2021. pp.103-108.

    GOHN, Maria da Glória Marcondes. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 9. ed. São Paulo: Loyola, 2011.

    SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2016.

    TOURAINE, Alain. Os movimentos sociais. In: FORACCHI, M. M.; MARTINS, J. de S. Sociologia e sociedade. Rio de Janeiro, 1977.

    Como citar este texto:

    FILHO, Alberto Alvadia; FERREIRA, Walace. O que são Movimentos Sociais? Blog Café com Sociologia. jun. 2021. Disponível em: https://cafecomsociologia.com/o-que-e-movimento-social/

    Notas

    [1] Texto derivado de “O que é Movimento Social?”, publicado em “Conceitos e categorias do ensino de Ciência Política” (2021).

    [2] Doutorando em Ciências Sociais no PPCIS/UERJ e Professor de Sociologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), campus São João de Meriti.

    [3] Doutor pelo IESP/UERJ e Professor de Sociologia do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ).

     

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  • O que é Ditadura do Proletariado?

    O que é Ditadura do Proletariado?

    Ditadura do Proletariado

    No vídeo desta semana do Dialogando que é canal do YouTube que professor de Sociologia encontra material didático para suas aulas. Será apresentado pelo professor Artur Bispo dos Santos Neto o conceito ditadura do proletariado que foi desenvolvido pelo Karl Marx.

    O que você vai ver no vídeo:

    1- A definição do conceito?

    2- Como acontecerá o processo revolucionário que levará a ditadura do proletariado?

    3- Por que o professor considera esse conceito problemático?

    Conheça o participante do vídeo

    Artur Bispo dos Santos Neto

    Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas (1993), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (2000), doutorado em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (2007) e realiza pós-doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atua como professor Associado III na Universidade Federal de Alagoas, nos cursos de Filosofia e Serviço Social. É Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas. Participa do Grupo de Pesquisa em Reprodução Social e do Grupo de Pesquisa Estado, Direito e Capitalismo Dependente. Suas pesquisas estão relacionadas aos temas: capital e trabalho, estética e ética materialista, formação histórica do Brasil. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase nas filosofias de Hegel, Marx, Lukács e Benjamin, atuando principalmente nos temas: estética, dialética, ontologia, história e trabalho. Coordena o PIBID/Subárea Filosofia, na UFAL.

    SAIBA MAIS SOBRE O PARTICIPANTE:

    Lattes: http://lattes.cnpq.br/3979204224090102

    Conheça mais o Dialogando:

    O Dialogando é um canal do YouTube gerenciado por Caio dos Santos Tavares, Graduado em Ciências Sociais (ICS-UFAL) e mestrando em Sociologia (ICS-UFAL). Surgiu de uma necessidade de construir um material didático que teria a utilidade do cumprimento da carga horário do Programa de Residência Pedagógica que visa a imersão dos licenciandos no ambiente escolar contribuindo significativamente com o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura.

    Aos poucos o projeto foi ganhando forma e apoio de inúmeros alunxs e professorxs da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), especialmente do Instituto de Ciências Sociais (ICS). Nossa ideia foi a construir um dicionário de conceitos das Ciências Sociais (Ciência Política, Antropologia e Sociologia) e entrevista sobre teorias e temas que norteiam as preocupações dos cientistas sociais. Todo conteúdo áudio visual produzido pelo Dialogando teve com princípio trazer tais assuntos de uma forma clara e objetiva. Ao todo o projeto contou com a participação de 40 pessoas que se disponibilizaram a compartilhar conhecimentos das Ciências Sociais que possam contribuir com as aulas de Sociologia.

    Objetivos do canal

    Nosso canal oferece a oportunidade de uma aproximação entre a corpo docente e os discentes do ICS-UFAL com a Educação Básica. Portanto, sair dos muros da universidade e procurar transmitir o conteúdo das Ciências Sociais a sociedade civil. Assim, reforçando a importância do conhecimento das ciências sociais e eventualmente apresentando esse olhar de interpretar os fenômenos sociais a um público que não teve acesso em sua formação básica.

    Em cada vídeo é buscado, em uma forma rápida e dinâmica, apresentar conceitos e teorias fundamentais das Ciências Sociais. Esse recurso didático tem a finalidade de atingir o público do ensino médio (alunxs e professorxs).

    O Dialogando surge em um contexto de fortes ataques a permanência da Sociologia no ensino médio. Portanto, acreditamos que nossa iniciativa, mesmo que seja singela, possa de alguma maneira contribuir na resolução dos problemas que afligem cotidianamente a permanência da disciplina na educação básica.

    Não esqueça, semanalmente são disponibilizados vídeos no nosso canal no You Tube, por tanto, não deixe de segui-lo.

    O projeto conta com o apoio da Universidade Federal de Alagoas e do Blog Café com Sociologia.

    Contatos:

    Facebook: facebook.com/caiosantosdialogando

    E-mail: [email protected]

    Inscreva-se no canal no YouTube!

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  • Liberdade de Imprensa e a Democracia: uma nota aos homens públicos (supostamente) desavisados

    Liberdade de Imprensa e a Democracia: uma nota aos homens públicos (supostamente) desavisados

    Liberdade de Imprensa

    Por Cristiano das Neves Bodart

    Liberdade de imprensa
    Cristiano Bodart é doutor em Sociologia (USP), professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e vinculado ao Centro de Educação (CEDU-UFAL).
    Liberdade de imprensa

    A liberdade de imprensa é elemento fundamental para o aprofundamento democrático. Sem ela os desmandos políticos imperam livremente, assim como o conhecimento das ações dos homens públicos fica limitado. Ocupar um cargo público, seja ele efetivo, contratado, comissionado ou eletivo é assumir – a priori – uma responsabilidade com a coisa pública; essa que é da conta de todos, inclusive da minha e da sua.

    A liberdade de imprensa passa pela sua autonomia em relação ao Estado. Na esfera municipal a situação é ainda mais problemática. Jornais locais dotados de poucos recursos acabam virando refém das administrações públicas, uma vez que muitos dos contratos são firmados pelo gestor municipal, os quais são quase sempre a principal fonte de financiamento dos jornais.

    Documentos oficiais

    A Declaração de Chapultepec, de 1994, assinada em 1996 pelo ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e, em 2006, pelo então Presidente Lula, destaca que:

    “Uma imprensa livre é condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade. Não deve existir nenhuma lei ou ato de poder que restrinja a liberdade de expressão ou de imprensa, seja qual for o meio de comunicação”.

    De acordo com a Declaração de Chapultepec, o exercício da liberdade de expressão e de imprensa “não é uma concessão das autoridades, é um direito inalienável do povo” e que “toda pessoa tem o direito de buscar e receber informação, expressar opiniões e divulgá-las livremente. Ninguém pode restringir ou negar esses direitos”. Determina o documento que “as autoridades devem estar legalmente obrigadas a pôr à disposição dos cidadãos, de forma oportuna e equitativa, a informação gerada pelo setor público”.

    Controle social

    liberdade de imprensaOutro problema que ameaça a democracia é a falta de um controle social sobre os recursos públicos municipais destinados à mídia local. Tais recursos não podem ficar nas mãos do gestor público, precisa ficar sob responsabilidade de um conselho deliberativo e fiscalizador, caso contrário continuará ocorrendo o que temos presenciado há anos: poder público fechando contratos apenas com jornais que teçam elogios ao gestor municipal. Ainda segundo a Declaração de Chapultepec, “os meios de comunicação e os jornalistas não devem ser objeto de discriminações ou favores em função do que escrevam ou digam”, assim tanto não fechar contrato por motivos de posições políticas diferentes ou fechar acordos devido compartilhar a mesma posição política é um ato de desagravo e fere a democracia. É urgente a criação de Conselhos de Cultura que deliberem sobre o destino dos recursos voltados aos contratos com a mídia local (jornais, rádio e TV). A resistência de criação de um conselho só evidencia os interesses de manipulação existente.

    É comum a tentativa de restringir a circulação de jornais que veiculam notícias que venham em desencontro aos interesses do gestor público, seja por meio do recolhimento criminoso dos exemplares ou por tentativa de intimidação, via processo judicial. De acordo com o documento assinado pelos ex-Presidentes da República  “a credibilidade da imprensa está ligada ao compromisso com a verdade, à busca de precisão, imparcialidade e equidade e à clara diferenciação entre as mensagens jornalísticas e as comerciais. A conquista desses fins e a observância desses valores éticos e profissionais não devem ser impostos. […]. Em uma sociedade livre, a opinião pública premia ou castiga”. Se a imprensa veiculam notícias mentirosas, certamente cairá no descrédito, assim como ganha dada vez mais crédito ao noticiar a realidade dos fatos, sobretudo referente a situações cujo acesso da população é limitado, como por exemplo, denúncias existentes no Ministério Público, casos de corrupção, de nepotismos e má gestão dos recursos públicos, etc. Claro que cabe os meios de comunicação abrirem espaços às pessoas públicas para esclarecimentos devidos e defesa sempre que julgarem necessário. Pena que pelas bandas tupiniquins essa prática não seja corriqueira, preferindo o caminho da censura.

    Digno de nota

    É importante compreender que a pessoa pública está sujeita à exposição; a ter que prestar esclarecimentos, sofrer críticas e elogios. O termo “pessoa pública” já é autoexplicativo e exposição pública é parte inseparável da posição social que se ocupa. O que não é permitido é invadir suas vidas pessoais, essas resguardadas por Lei Federal, assim como as “pessoas não públicas” não podem ser expostas sem seu consentimento prévio, sobretudo como forma de represália ou na tentativa de silenciá-la em um país cujas leis dão-lhes o direito de se expressar sobre as questões de interesse coletivo. “Nenhum meio de comunicação ou jornalista deve ser sancionado por difundir a verdade, criticar ou fazer denúncias contra o poder público.” (Declaração de Chapultepec, 1996, X).

     

     

    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Liberdade de Imprensa e a Democracia: uma nota aos homens públicos (supostamente) desavisados. Blog Café com Sociologia, Maceió, out. 2013. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2020/07/Liberdade-de-Imprensa-e-a-Democracia.pdf>

     

    Conheça a produção científica do autor AQUI

  • [Vídeo] Regimes democráticos segundo Robert Dahl

    [Vídeo] Regimes democráticos segundo Robert Dahl

    Regimes democráticos, contribuições de Robert Dahl

    O canal Dialogando, parceiro do Blog Café com Sociologia, traz um diálogo com o professor José Alexandre da Silva Júnior sobre as contribuições de Robert Dahl sobre o regime democrático. Primeiramente, apresentamos a biografia do professor colaborador:

    José Alexandre da Silva Júnior é professor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade Federal de Alagoas; professor do Mestrado Profissional em Políticas Públicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (2006), mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (2008) e doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (2013). Tem experiência nas áreas de Estudos Legislativos, Agências de Fiscalização e Controle, Metodologia Quantitativa e Políticas Públicas.

    O vídeo foi produzido por Caio dos Santos Tavares, mestrando em Sociologia (UFAL), editor do canal Dialogando. De antemão, agradecemos por curtir e seguir o canal. Dito isto, passamos ao vídeo:

    Inscreva-se no canal AQUI

    Alem disso, apontamos duas dicas de leituras sobre democracia e participação social:

    ABU-EL-HAJ, Jawdat. Robert Dahl (1915-2014): poder político, liberalização e contestação nas democracias. Revista Brasileira de Ciência Política, no13. Brasília, janeiro – abril de 2014, pp. 7-17.

     

    BODART, Cristiano das Neves. Atuação dos partidos políticos e dos movimentos sociais na construção e manutenção de um espaço institucionalizado de participação social. 2016. 315 f. Tese (doutorado em Sociologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

  • Auschwitz: para não esquecermos que o preconceito mata

    Auschwitz: para não esquecermos que o preconceito mata

    “Arbeit macht frei” (“o trabalho liberta”) –  Frase grafada no portal de Auschwitz I

    O dia 27 de janeiros é o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Tal dia tem por objetivo não nos esquecermos do que aconteceu para que isso nunca mais se repita. Todo tipo de racismo e preconceito é perigoso. Foram esses sentimentos que levaram ao genocídio de milhares de judeus, ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência, etc.

    O Holocausto aconteceu a partir de do ópio ao diferente, sentimento que foi crescendo lentamente nas mentes dos “cidadãos de bem” e incentivado por um governo totalitário, moralista e “nacionalista” (ver aqui o que é facismo).

    O dia 27 de janeiro de 1945 tornou-se, em 2005, o dia da memória do genocídio fruto do preconceito, isso porque foi nesse dia que as tropas soviéticas  libertou o maior campo de extermínio nazista, o Auschwitz-Birkenau, onde a maioria dos 6 milhões de judeus foram mortos no genocídio liderado por Hitler.

     UGU55VEWP2GVYD4YYO2R2NJ7AUEm 1947, o local de Auschwitz I e II foi transformado em museu, que desde então recebeu a visita de mais de 30 milhões de pessoas de todo mundo. Na entrada, um portão de ferro  que tem escrito em seu cimo  o trabalho liberta). Em 2002, a UNESCO declarou oficialmente as ruínas de Auschwitz-Birkenau como Patrimônio da Humanidade.

     

     

    Vídeo 1:

    Em 2005 a CNN produziu um vídeo filmado por um drone que sobrevoou os campos de concentração de Auschwitz (AuschwitzI) e Birkenau (Auschwitz II), na Polônia.

     

    Vídeo 2:

    O próximo vídeo apresenta testemunhos de quem, há 75 anos era liberado, pelo exército soviético, o campo de concentração de Auschwitz, um símbolo dos horrores do regime nazista.

     

    Vídeo 3:

    Andor Stern é o único nascido no Brasil a conseguir escapar com vida do mais famoso campo de concentração nazista cuja simbologia se deu em torno do desejo de Hitler de eliminar definitivamente os Judeus. No Documentário da BBC News do Brasil, Stern detalha seus trágicos momentos os quais enfrentou principalmente no ano final da Segunda Guerra Mundial quando foi transferido de um campo de concentração para outro juntamente com sua família. Ele viu a própria mãe e outros parentes serem conduzidos até a câmara de gás do maldito campo e apenas teve sua vida poupada por ser utilizado como escravo.

  • Teoria dos Movimentos Sociais: a partir de várias perspectivas teóricas

    Teoria dos Movimentos Sociais: a partir de várias perspectivas teóricas

    Teoria dos Movimentos Sociais

    Por Cristiano das Neves Bodart

     

    Os movimentos sociais, enquanto objeto empírico, têm alimentado um debate constante no campo das Ciências Sociais, estimulando e promovendo o desenvolvimento de múltiplas perspectivas teóricas e focos de atenção diversos. Buscaremos aqui apresentar, de forma introdutória, as teorias que se destacaram, sendo elas: a Teoria Marxista dos Movimentos Sociais, a Teoria das Massas (TM), a Teoria da Mobilização dos Recursos (TMR), a Teoria dos Processos Políticos (TPP) e a Teoria dos Novos Movimentos Sociais (TNMS).

    As análises marxistas

    Origem: Remontam ao século XIX e possuem sua origem na sociologia clássica de Karl Marx e Friedrich Engels e se desenvolveu a partir de diversos autores conhecidos como marxistas.

    Principais características: 1) abordagem de viés estruturalista, ou seja, o movimento surge como resultado de determinado contexto industrial ou econômico que possui impacto nas formas de divisão do trabalho e organização dos operários, 2) no âmbito dos processos associativos está ancorada na categoria classe (em si, e para ai) e, 3) nas abordagens que focam no papel da liderança, a destacam como intelectuais orgânicos que são responsáveis pelo direcionamento e construção ideológica da mobilização.

    Os movimentos sociais são entendidos como ações coletivas de uma classe social explorada que busca: 1) melhores condições de trabalho, de salários e de vida e; 2) eclodir uma revolução, a tomada do poder a fim de implantar uma ditadura do proletariado a fim de suplantar o Capitalismo.

    Teoria das Massas

    Origem: Desenvolvida entre aos anos de 1940 e 1960, sobretudo por influência das grandes manifestações públicas do nazismo e do fascismo.

    Principais características: 1) marcada fortemente pelo positivismo e, em particular, pela sociologia organicista de Durkheim e; 2) a grande preocupação dos teóricos estava em entender o comportamento das massas sob uma análise da Psicologia Social, sendo elas tidas como perigosas e, portanto, combatidas e; 3) a preocupação era entender os movimentos não democráticos, o processo de alienação das massas e a perda de controle e influência das elites culturais.

    Os movimentos sociais são entendidos como patologias sociais, desajustamentos causados pelas disfunções da modernidade. Assim, os movimentos sociais são tidos como movimentos desviantes e irracionais compostos por indivíduos marginalizados.

    Teoria da Mobilização dos Recursos

    Origem: Surge do contexto de transformações políticas ocorridas na sociedade norte-americana nos anos 1960. Sua origem se relaciona diretamente a rejeição da ênfase que a Teoria das Massas dava aos sentimentos e ressentimentos dos grupos coletivos, assim como o approach eminentemente psicossocial dos clássicos, centrado nas condições de privação material e cultural dos indivíduos.

    Principais características: 1) preocupação em entender o papel da burocracia na organização dos movimentos sociais; 2) os estudos focam nos recursos disponíveis aos movimentos sociais, sendo eles humanos, financeiros e de infraestrutura; 3) foco no papel das lideranças, sobretudo em sua capacidade de mobilizar e trocar bens num mercado de barganhas, as quais são entendidas a partir de uma visão exclusivamente economicista, num processo em que todos os atores agiam racionalmente, segundo cálculos de custos e benefícios, lógica emprestada da Teoria da Escolha Racional e a Teoria do Utilitarismo e; 4) as ações coletivas são explicadas a partir de uma visão comportamentalista organizacional.

    Os movimentos sociais são entendidos como grupos de interesses, vistos como organizações e analisados sob a ótica da burocracia de uma instituição, tendo recebido fortes influências da Sociologia weberiana.

    Teoria dos Processos Políticos

    Origem: Se desenvolve nos anos de 1970 como crítica ao utilitarismo e ao individualismo metodológico da Teoria da Mobilização dos Recursos

    Principais características: 1) trazer para o centro do debate elementos político-culturais e simbólicos, os quais passam a ser entendidos como importantes para atrair novos membros, mobilizar o apoio de variados públicos, constranger as opções de controle social de seus oponentes e tentar direcionar as políticas públicas e as ações do Estado; 2) preocupação em observar as dimensões externas das lutas dos movimentos que são tidas como relevantes para a competição por poder; 3) ideias, símbolos e palavras-chave são observados como importantes na construção da identidade dos movimentos sociais e sua mobilização; 4) foco nos processos sociais de longa e média duração e; 5) ênfase nas estruturas das oportunidades e restrições políticas.

    Os movimentos sociais são entendidos um ator político de mudança social, esta entendida como uma ação reformista e não revolucionária.

    Teoria dos Novos Movimentos Sociais

    Origem: surgiu como arcabouço explicativo para os movimentos sociais transclassistas, ou seja, composto por sujeitos pertencentes a diferentes classes sociais, ou ainda a movimentos por demandas pós-materiais, tais a qualidade do ar, a igualdade de gênero e a luta pela paz.

    Principais características: 1) foca nas identidades coletivas e, portanto, apresentando uma visão culturalista dos movimentos sociais; 2) o reconhecimento e o autoreconhecimento são elementos fundamentais para entender a ação coletiva e; 3) observação de que as demandas dos movimentos sociais não são apenas materiais.

    Os movimentos sociais são entendidos como atores sociais marcados pelo reconhecimento identitário que buscam melhores condições de vida, envolvendo ganhos materiais e não materiais, tais como respeito aos diferentes, preservação do meio ambiente, etc.

    MAIS: Desejar se aprofundar um pouco mais, acesse o artigo Apontamentos para uma agenda de pesquisa em torno dos movimentos sociais” de Cristiano das Neves Bodart e Jesus Marmanillo Pereira AQUI o qual foi a fonte desse post

    Veja também uma resenha do livro “Sociologia dos Movimentos sociais” de Maria Ghon. AQUI

     

    Publicado originalmente em 3 de março de 2018 às 08:23

  • Perfil e motivação dos manifestantes defensores da educação pública – M30

    Perfil e motivação dos manifestantes defensores da educação pública – M30

    Perfil dos manifestantes defensores da Educação Pública – MACEIÓ-AL (26/05/19)

    APRESENTAÇÃO – Baixe o relatório com os gráficos e tabelas AQUI

    A pesquisa foi realizada no dia 30 de maio de 2019 e teve por objetivo identificar o perfil e motivações dos manifestantes contrários ao governo Bolsonaro presentes no ato ocorrido no dia 30 de maio de 2019 a partir da Praça Centenária, na capital do estado de Alagoas, Maceió. A pesquisa foi realizada sob a coordenação do professor do Programa de Mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas, Dr. Cristiano das Neves Bodart.

    A importância deste surveyestá em caracterizar o perfil e as percepções dos manifestantes, o que contribui para entendermos os sujeitos que vêm participando ativamente no jogo democrático que se dá na esfera pública. Como outro survey semelhante foi aplicado no dia 26 de maio, em ato pró-Bolsonaro (baixe aqui), a parti dos dados aqui apresentados é possível realizar comparações entre ambas as performances públicas, o perfil e as posições políticas dos seus envolvidos.

    O surveycontou com a participação de 8 pesquisadores que foram divididos pelo espaço ocupado pelos manifestantes, o que possibilitou incluir na amostra aqueles que estavam nos espaços mais e menos adensados do ato. O questionário foi aplicado, por meio de amostragem aleatória, a 182 manifestantes visando estabelecer perfis e regularidades de suas motivações por meio da generalização estatística. Apenas os manifestantes presentes na concentração foram abordados e inclusos na pesquisa. Os questionários foram aplicados entre 13h30mim. e 16h.

    IMG 4952As questões presentes no formulário estão divididas em dois blocos: perfil do manifestantes e diagnóstico quanto a posições políticas e motivações  da participação no ato. Na primeira parte do questionário, buscar-se estabelecer, estatisticamente, a distribuição dos manifestantes por gênero; faixa etária; estado civil; renda per capta familiar; ocupação profissional principal; escolaridade; cor e; religião. No segundo bloco, que constituirá da parte mais extensa do questionário, objetivou-se identificar as opiniões com respeito a temas políticos e sociais, assim como observar a principal motivação de estar participando do ato.

    No segundo bloco, foram abordadas questões como: experiência em atos de rua; razão principal de estar participando do ato; fonte de informação referente a divulgação do ato; participação em grupos e associações civis; interesse por política; frequência e veículos de busca por informações; posicionamento, confiança  e grau de satisfação em relação a democracia; posicionamento frente a eventual intervenção militar; posicionamento em relação a cotas em universidades, contingenciamentos nos recursos destinados a essas instituições, facilitação do porte de armas, redução da maioridade penal e; confiança nas instituições democráticas (Senado, Câmara Federal e o Supremo Tribunal Federal). Foi, ainda, perguntado se o manifestante estava ali por coerção ou se era um ato baseado em escolha pessoal.

    Finalmente, destacamos que a estruturação e realização desta pesquisa têm objetivos essencialmente científicos. O surveyparte do interesse do grupo de pesquisa coordenado pelo professor Cristiano das Neves Bodart e não foi contratado por nenhuma organização política ou partido político, nem tampouco está alinhado política ou ideologicamente a nenhum grupo em particular. Trata-se de uma pesquisa sem financiamento público ou privado, sendo viabilizada exclusivamente pelo trabalho voluntário da equipe.

    Maceió, 31 de maio de 2019.

     

    EQUIPE REALIZADORA DA PESQUISA

    Coordenador:

    Cristiano Bodartdoutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Programa de Mestrado em Sociologia da UFAL.

    Pesquisadores:

    Edisangela Santos, Graduada em Comunicação Social com habilitação para Relações Públicas. Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

    Elizandra Cristina Rodrigues da Silva, Graduanda em Pedagogia. Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

    Fabio dos Santos, Graduado em Ciências Sociais. Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

    Gabriela Vilela Palmeira Ferreira,Graduada em Jornalismo. Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

    Grace Martins,Graduanda em Ciências Sociais. Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

    Caio dos Santos Tavares,Graduando em Ciências Sociais. Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

    José Luciano Martins da Silva,Graduando em Ciências Sociais. Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

     

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