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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • O cristão: entre Direita e Esquerda

    O cristão: entre Direita e Esquerda

    Por Cristiano das Neves Bodart

    Cristão é um adjetivo dado aqueles que seguem as ideias de Cristo (01-34 d.C). Em se tratando de Direita e Esquerda não consigo compreender como alguém diz ser cristão sem, contudo, compartilhar das ideias básicas de Cristo: amor, paz, compreensão, respeito, tolerância e igualdade.
    Alguns dirão que não existe direita e esquerda, afirmativa que não se sustenta (mas isso é outra discussão).
    …….
    Para compreensão inicial (não continue a leitura sem entender esses dois pontos):
    Grosso modo podemos assim classificar:
    Esquerda: Basicamente trata-se de uma posição ideológica que defende práticas voltadas a uma sociedade mais igualitária. Defende uma melhor redistribuição de renda e respeito às diferenças e prega mudanças na realidade socioeconômica em prol da coletividade.
    Direita: Basicamente trata-se de uma posição ideológica conservadora e defensora, hoje, do Neoliberalismo Econômico. Defende a meritocracia e a manutenção da realidade socioeconômica em prol da individualidade.
    …..
    cristianismo primitivo
    A questão que não consigo entender é a visão de alguns cristãos se colocarem contrários às ideias de Esquerda, como se essas fossem “diabólicas” (o que não é, necessariamente, a mesma coisa do que defender partidos ditos como de esquerda). Digo isso porque se analisarmos, ainda que superficialmente, a vida de Jesus Cristo e de seus seguidores (cristãos primitivos) veremos com muita facilidade se Jesus era de Direita ou de Esquerda.

    Como bem apresentou o poeta cristão, Ariano Suassuna, Herodes e Pilatos eram de direita, representavam o status quo da época. Defendiam o crescimento do Império Romano, o uso da força na manutenção da “harmonia social”.

     

    Jesus Cristo era, sem dúvida, de Esquerda. Alguns diriam que os objetivos de Jesus não estavam ligados à política partidária; isso acredito ser verdade. Porém, ao buscar seu objetivo para o “Reino dos Céus” teve que se posicionar politicamente no mundo – uma vez que estava situado em um contexto histórico, político e social. Não era possível ser neutro. Restava ficar do lado dos explorados ou dos exploradores; escolheu os subjugados.

    Jesus de Nazaré viveu em uma sociedade marcada pelo Latifúndio (diversas de suas parábolas tiveram a “terra” como pano de fundo) e quando ele se colocava contrário a riqueza (embora pensamos o conceito de riqueza com nossas experiências atuais, sendo visto como capital) estava se colocando contrário ao latifúndio. A riqueza, ou seja, a concentração de terras nas mãos de poucos, era visto por Jesus como bastante negativa (“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus” Mt. 19:24). E qual era a sugestão de Jesus? Sua orientação era a partilha: “vende tudo o que tens e dê aos pobres” (Mt. 19:21).
    cristão lendo biblia sagrada

    Jesus se pôs também contrário à opressão dos ricos sobre os pobres. Denunciou a exploração da época que se dava por meio de impostos que enriqueciam uma classe social e esmagavam outras na pobreza. Atualmente a forma de exploração se dá, em maior parte, por meio das relações assalariadas (na época de Jesus o trabalho era predominantemente artesanal e familiar).
    Quando Cristo, por exemplo, curava nos sábados e não observava as leis da época (regidas por princípios teocráticos judaicos) estava se colocando à Esquerda da Direita política da época, isso pela atitude subversiva e pelo rompimento com a ordem social imposta.

    Jesus viveu na companhia dos mais pobres e oprimidos pela Direita Política da época. Sua atenção esteve prioritariamente sobre os mais pobres, carentes e marginalizados pela sociedade. Notaremos nos evangelhos um constante embate entre Jesus e o Poder Político de Direita da época. Jesus foi um defensor das minorias desprivilegiadas ou vitimadas por preconceitos sociais e/ou religiosos.
    O que mais caracteriza hoje a Esquerda? Certamente a ideia “comunista” de igualdade social.
    Se olharmos para os Cristãos do primeiro século, mais especificadamente no livro de Atos dos Apóstolos veremos qual era o posicionamento desses:

    “E da multidão dos que creram, um só era o sentimento e a maneira de pensar. Ninguém considerava exclusivamente seu os bens que possuía, mas todos compartilhavam tudo entre si” (ATOS 4: 32).

    E ainda,
    “Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um” (Atos 4:34-35).
    cristão e a caridade
    Pelo que parece o Cristianismo foi precursor das ideias comunistas, chegando a colocá-las em prática no primeiro século.

    Não é lúcido pensarmos que porque alguém da Esquerda se corrompeu, como fez Judas e outros contemporâneos de nossa época (enriquecendo-se a si mesmo com uma espécie de “caixa dois”), que devemos satanizar os princípios defendidos por Jesus. Fazer isso não seria deixar de seguir os princípios cristãos e, portanto, deixar de ter condições de ter esse adjetivo?

    Por fim, termino dizendo que o conservadorismo da Direita da Época de Jesus, o crucificou justamente por ter sido interpretado como sendo de Esquerda.  
    Hoje Jesus seria assassinado pela milícia a mando de um direitista conservador que se diz cristão. Daqueles que fazem gestos de armas com as mãos.
    Publicado originalmente em 8 de outubro de 2014 
  • Coronavírus: 6 pontos para pensar um novo Brasil

    Coronavírus: 6 pontos para pensar um novo Brasil

    Coronavírus: problemas sociais a ser enfrentados para que para que não estejamos tão vulneráveis

    Por Roniel Sampaio Silva

    Estamos diante de uma das maiores crises sanitárias dos últimos 100 anos ocasionadas pelo novo coronavírus. Acompanhamos os capítulos dramáticos dos desdobramentos desta enfermidade no mundo e também em país de contradições absurdas como é o Brasil. Impotentes, vemos nosso país se transformar em um palco de guerra cujas vidas dos mais vulneráveis tornam-se o custo dessas contradições. Estudos apontam com preocupação para o risco cada vez mais frequente de novas pandemias.  Pensar no contexto social do nosso país é preciso para que o enfrentamento destas pandemias seja feito da melhor forma possível. Que principais pontos podemos pensar para minimizar pandemias e outros problemas de um país tão absurdamente desigual e contraditório cuja sua estrutura social compromete a manutenção à vida de quem aqui mora?

     

    1- Concentração fundiária

    Uma das melhores medidas para combater pandemias como essa do coronavirus segundo as organizações internacionais de saúde como a OMS é o isolamento social. No entanto, a extrema interdependência da nossa forma de organização coletiva faz com que precisamos sair de casa para buscar mantimentos básicos. Imagine se nosso país tivesse feito uma ampla reforma agrária, parte dos nossos alimentos seriam oriundos da nossa própria terra, o que diminuiria a necessidade de exposição e além do que aumentaria o nosso distanciamento social uma vez que cada pessoa teria um espaço mais amplo e digno para morar. A concentração fundiária no país, a partir de dados do Censo Agropecuário de 2016, relata que atualmente é de 1% das propriedades rurais abocanham quase 50% da áreas ocupadas.

    2- Segregação socio-espacial e favelas

    Historicamente, as políticas de concentração fundiária fazem parte de um processo que direciona as pessoas intencionalmente para trabalharem nas cidades. Como se não bastasse o processo de expulsão do campo, também há um processo de repulsão dos centros urbanos para as periferias. O processo de repulsão urbana concentra famílias em espaço cada vez mais reduzidos e favorece o processo que Luiz Antônio Machado da Silva descreve como sociabilidade violenta. Espaços reduzidos em favelas e outras periferias do país tendem a favorecer aglomerações que favorecem a transmissão de agentes patológicos.

    3- Trabalhos informais

    O pais hoje tem 38 milhões de trabalhadores informais (IBGE, 2019), muitos dos quais não dispõem da seguridade social adequada para lidar com situações com a pandemia causada pelo novo coronavírus. Pensar em relações de trabalho mais sólidas ajuda a melhorar o enfrentamento por parte destes trabalhadores. Essa parcela significativa da população é obrigada a quebrar o isolamento social em função da necessidade de conseguir a renda do dia em função do trabalho na informalidade.

    4- Justiça tributária

    Para garantir seguridade social que mantenha as pessoas em isolamento social é necessário recurso. O Brasil é um dos países que mais cobra impostos dos mais pobres e mais poupa tributo dos mais ricos. A Constituição de 1988 prevê um Imposto sobre grandes fortunas que até hoje aguarda ser colocado em prática. Se tal imposto fosse colocado em prática, poderia arrecadar 272 bilhões anuais a serem usados para garantir melhor qualidade de vida para população. O país é um dos poucos do mundo a taxar lucros e dividendos.

    5- Subfinanciamento dos serviços públicos

    A EC 95/2016 tem tem se tornado um engodo cada vez mais insustentável e já retirou 20 bilhões do SUS. Ao contrário do que tem sido divulgado, existe menos serviço público do que a necessidade do país. Um serviço público forte e atuante tem sido uma boa e rápida resposta a esta crise que é tanto sanitária quanto econômica. Deste modo, instituições públicas de ensino e pesquisa tem se mostrado bastante engajada para contornar a crise,  o que tem mostrado que investimento em serviços públicos de várias vertentes podem atuar de forma coordenada e coesa para resolver problemas de tamanha magnitude.

    6- Desigualdade social

    coronavirus-no-brasilO Brasil é um dos países mais desiguais do mundo.  Tal desigualdade tem se mostrado um grande problema para enfrentarmos o problema da pandemia do novo coronavirus uma vez que a maior parte das pessoas precisam se sujeitar a condições degradantes para conseguir sobreviver. Toda essa desigualdade repercute na aglomeração de pessoas em transportes coletivos cujo controle está nas mãos de poucos. Essa desigualdade cria uma necessidade extrema as quais fazem com que as pessoas precisem se sujeitar ao autoritarismo do capital.

    A desigualdade brasileira foi usada contra a própria população pelas autoridades que deviam zelar pela saúde pública. A população foi incitada a quebrar o isolamento social a fim de garantir a própria sobrevivência, esquivando a responsabilidade do governo para com elas.

     

    Considerações finais

    Toda esta situação que temos vivenciado tem mostrado que a perspectiva liberal de Estado Mínimo se mostra ineficiente tanto para enfrentar crises quanto para garantir melhor qualidade de vida para as pessoas. Tal fato, faz a gente pensar quais novos horizontes devemos vislumbrar para que não soframos tanto com essas e outras crises que estão por vir.

     

  • Mediocridade em um país de educação medíocre*

    Mediocridade em um país de educação medíocre*

    educação medíocre

    Mediocridade em um país de educação medíocre*

    Certamente você não gosta de ser chamado de medíocre, isso por possuir, tal palavra, uma conotação pejorativa. Mas será que, em relação à educação, você não é medíocre? Já se fez essa pergunta?
    Ser medíocre é ser mediano; é estar na média. É estar entre o bom e o ruim. Em outras palavras, é não estar entre os melhores, ainda que também não entre os piores. No caso específico da educação, ser medíocre em um país medíocre, como o Brasil, é ainda pior. Isso é muito sério! A Educação pública brasileira parece ter por objetivo produzir pessoas medíocres em um sistema já medíocre. Observando as constantes mudanças no sistema educacional público de ensino básico, notaremos facilmente um plano medíocre para reproduzir mediocridade. Os exemplos são diversos: níveis de prova, seleção de conteúdos, capacitação de professores, salas de aula cheias, excessos de trabalhos simplistas aplicados aos estudantes, etc.
    No caso das provas notamos, digo por experiência de causa, que é praticamente proibido cobrar do aluno o que o professor não falou em sala de aula em relação ao conteúdo dado, o que leva à mediocridade. O professor ao ter que se expressar para 40 alunos, “nivela por baixo” o conteúdo da aula para que todos, ou quase todos, entendam. Transmite assim um conteúdo já medíocrizado. Os alunos, por sua vez, precisam assimilar apenas parte desse conteúdo (às vezes 70%, outras 50%) para ser aprovado naquele mediocrizado conteúdo; isso quando não é orientado que ele participe da Festa de São João, dançando na quadrilha, por exemplo. Esse ato o garantirá mais 20% da nota na prova, precisando apenas aprender 30% do conteúdo mediocrizado pelo professor. Pronto! Aprovado mais um medíocre.
    Quanto aos “trabalhos mediocrizadores” a situação é ainda mais crítica. Os trabalhos em sistemas educacionais sérios têm por objetivo exclusivo desenvolver novas habilidades. Não é o caso da prática do ensino básico público brasileiro, com suas exceções, óbvio. Os trabalhos são visto como “meios” para atingir um “fim”: a aprovação do educando. O objetivo não é educar, mas aprovar, ampliar a popularidade política dos secretários de educação, via dados estatísticos frios.
    Trabalhos em grupo onde o educador sabe que apenas um educando fez e os demais tiveram seus nomes inclusos; plágios de conteúdos disponíveis na internet; trabalhos elaborados por terceiros; trabalhos banais, como trazer objetos e materiais para aula… esses abarrotam as escolas de medíocres. Estudantes que serão aprovados sem conhecimento sólido. Alguns ainda ficam retidos por não atingir, mesmo com toda essa mediocridade, a média (que como diz a própria nomenclatura, é também medíocre). A esses são dadas três aulas e aplicado um conteúdo “hipermediocrizado”, devendo “tirar a média” para serem aprovados. Pronto! Aprovados mais alguns medíocres.
    Quanto à seleção de conteúdos, notamos igualmente uma mediocridade profunda. Os conteúdos raramente ultrapassam os medíocres livros didáticos.
    Certamente existem os professores bons, os ruins e os medíocres. As condições atuais propiciam uma formação docente medíocre. Isso por vários motivos. Dentre eles vemos: proliferação de cursos particulares de licenciatura de baixo custo, muitos desses à distância; O curso de licenciatura é o menor em carga horária; o professor ao receber salários medíocres não dispõe de condições financeiras para investir em sua carreira, assim como não lhe resta tempo por ter que lecionar para muitas turmas de mais de uma escola.
    A proliferação de cursos de licenciatura com baixas mensalidades têm criando condições para que os estabelecimentos de ensino contratem professores com menores salários e, consequentemente, menos qualificados e motivados. Essa situação reflete na formação dos futuros professores. Tendo o curso de licenciatura carga horária menor, os conteúdos serão resumidos e/ou muitos nem serão transmitidos à turma. Somado a formação medíocre, o professor se depara com a dificuldade em manter-se informado e aperfeiçoar-se. Falta-lhe dinheiro e tempo. Com um salário baixo não tem condições de comprar livros, pagar cursos, participar de seminários e congressos. Ainda que tivesse poupado algum dinheiro, sua carga-horária o impediria. Somado a tudo isso, não vê motivos para se aperfeiçoar, pois, terá que ministrar aulas medíocres para não reprovar seus estudantes… que serão alguns dos futuros professores medíocres que farão parte do sistema de ensino medíocre.
    Deveríamos ficar ofendidos não por sermos chamados de medíocres, mas por permitirmos que tenhamos um país medíocre. Ser medíocre na Holanda não é nada mal. Ser medíocre no Brasil já é bastante problemático.
    Lamentavelmente os medíocres são fruto de um sistema educacional e uma cultura da mediocridade. Quem nunca ouviu um estudante dizer “passando está bom, É o que importa”? Essa afirmação é fruto de uma cultura mediocrizadora, que se repete em quase todas as esferas da vida social, inclusive na educação. Não quero ser medíocre, ainda mais no Brasil!
     * Texto originalmente publicado no Portal 27 em 2013

     

  • Sucesso profissional não depende apenas de você! Por uma visão sistêmica da realidade

    Sucesso profissional não depende apenas de você! Por uma visão sistêmica da realidade

    O sucesso profissional pode ser definido de várias maneiras, pois depende dos objetivos e valores de cada pessoa. No entanto, alguns elementos comuns que podem ser considerados como sinais de sucesso profissional incluem: progresso na carreira, Reconhecimento profissional, Satisfação pessoal, Equilíbrio entre vida profissional e pessoal, Remuneração, entre outros.

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    Quem nunca ouviu a frase “o sucesso depende de você”? Para a Sociologia tal frase é uma “meia verdade”, pois o nosso sucesso individual depende também de outros indivíduos, assim como de diversas condições materiais e históricas. Em outros termos, nossa biografia seria outra se tivéssemos outras condições materiais e históricas, como, por exemplo, termos nascidos e sido educados no Irã. Essa afirmativa onde você é o determinante de sua história é marcada pela ausência de uma visão sistêmica da realidade.
    Frases como essa (o sucesso depende de você) legitima, por exemplo, as desigualdades sociais e transforma o vitimado em culpado. Nessa perspectiva, se você não teve êxito na vida econômica ou estudantil, teria sido porque você não se fez merecedor, foi “fraco” e desmotivado, pois o sucesso profissional só dependia de você.
    Por certo, você leitor atento, já percebeu que algumas conquistas dependem de vários fatores externos a você e notou que apenas sua motivação não seria suficiente para, por exemplo, estudar em uma escola primária de qualidade se seus pais não tivessem recursos para pagá-la. Nesse caso, você dependeria ou dos recursos financeiros que não dispunham ou de contar com a “sorte” de na cidade ter uma escola de qualidade gratuita (e que sorte seria essa!).
    Caro leitor, o sucesso profissinal não depende apenas de você! Em uma visão sistêmica da realidade compreendemos que os fenômenos sociais particulares (como estudar em uma boa escola) estão ligados a um sistema de relações sociais que formam a sociedade mais geral. Em outros termos, ter sucesso quase sempre dependerá de estudar em uma boa escola, que dependerá das condições econômicas de sua família (ou da política pública local que estará atrelada a uma política pública educacional mais ampla), da acessibilidade a essa boa escola, da qualidade das aulas de seus professores, da situação educacional de seu país, etc. Depois de passar por todas essas condições favoráveis, dependerá ainda da disponibilidade de ofertas de vagas no mundo do trabalho, assim como condições de manter-se no local do emprego e, talvez, (se seu chefe gostar de você) ter o sucesso desejado.
    Uma visão sistêmica nos possibilita compreender que não vivemos em uma “bolha”. Muito pelo contrário, somos parte constitutiva de uma organização social. Nesse sentido, compreendemos que o contexto histórico, social, cultural e político a qual estamos inseridos influenciam diretamente nossas práticas cotidianas. Ou acha mesmo que usamos determinados tipos de roupas, por exemplo, por que escolhemos livremente? Assim, é verdade que nossas ações cotidianas refletem, de algum modo, o todo; bem como podemos afirmar que nossas ações influenciam na vida dos outros indivíduos.
    Olhar o mundo com uma visão sistêmica é uma forma de compreendermos como nossas biografias pessoais estão interligadas as biografias de milhares de outras pessoas, assim como olhar o mundo compreendendo que existem conexões entre o “todo” e as “partes” que compõem a sociedade a qual estamos inseridos.
    Dito isto, afirmamos que “o sucesso profisional não depende apenas de você”!
    (Texto originalmente publicado em 4 de mar de 2015)

    Leia também:

    Dica de livro
    Diálogos sobre o ensino de Sociologia, vol. 2
    Adquira AQUI
  • O cientista social é um intelectual?

    O cientista social é um intelectual?

    Intelectual cientista

    Um cientista social é um intelectual?

    Cristiano das Neves Bodart

    Um cientista social é um intelectual? Para uma aproximação a essa resposta, torna-se necessário uma segunda indagação: o que é um intelectual?

    Tal questão não é mera retórica de autoajuda. Trata-se de uma reflexão – em sentido original. A palavra “reflexo” tem origem no latim. Formado pela junção de “RE” e “FLEXUS”. Em latim, “RE” significa “outra vez, novamente”, enquanto que FLEXUS, “dobrado, fletido, retornado”. A palavra “reflexo” diz respeito ao:

    1. desvio da direção de um tipo de energia (luminosa, sonora, etc.), ou;
    2. ao processo mental em que voltamos nosso pensamento ao assunto, ou ainda;
    3. ao fenômeno de desvio da luz (razão) ao assunto que queremos esclarecer (trazer a luz), no caso aqui a postura de um cientista social diante do mundo. Intelectual cientista

    Primeiramente, é importante deixar claro que ser um cientista social não equivale a ser um intelectual, como alguns pensam e se intitulam.Antonio Gramsci Se partirmos da definição de Gramsci, veremos que o intelectual independe de sua formação acadêmica, antes estaria ligado ao lugar ocupado no mundo social. Ser intelectual está relacionado a uma ação sobre o mundo social, à uma certa postura capaz de fazer a ligação entre a superestrutura e a infraestrutura.

    Gramsci em sua obra “Materialismo histórico a à filosofia de Benedetto Croce”, de 1981, aponta que qualquer indivíduo pode ser um intelectual/filósofo:

    É preciso destruir o julgamento de que a filosofia é algo sumamente difícil por ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. É preciso, portanto, demonstrar que todos os homens são filóso’fos’, e definir os limites e as características desta ‘filosofia espontânea’ própria de todos, isto é, a filosofia que nela está contida (GRAMSCI, 1981: 15).

    Porém, para Gramsci o intelectual estaria ligado a uma classe, responsável por criar e disseminar a ideologia desta. Tal intelectual seria o que ele denominou de “intelectual orgânico”. Nome que faz, em alguma medida, analogia à manutenção do sistema da sociedade orgânica, no sentido durkheimiano.

    Por outro lado, Sartre aponta a existência do intelectual engajado. Para ele o “intelectual verdadeiro” seria o revolucionário, enquanto que os reacionários seriam “intelectuais falsos”. Bobbio tece às definições de Sartre uma crítica ligada ao conteúdo ideológico-partidário existente.

    Falsos são os que desempenham uma função que para Sartre é negativa, e é negativa unicamente porque não desempenham a função que segundo ele deveriam desempenhar. Assim, será o verdadeiro intelectual o revolucionário; falso o reacionário; verdadeiro será aquele que se engaja, falso, aquele que não se engaja e permanece fechado em sua torre de marfim (BOBBIO, 1997, p. 14).

    Para Bobbio, o critério para definir o intelectual não é sua orientação ideológica, mas sua prática – seu engajamento. Mannheim, afirmava que a tarefa do intelectual é teórica e imediatamente política, pois cabia a ele elaborar síntese das ideologias existentes que dariam passagem às novas orientações políticas.BOBBIO, Norberto

    Foucault apontou, principalmente por meio de sua prática, que é necessário afastar-se dos poderes constituídos para poder realizar a crítica. De qualquer forma, o intelectual seria um indivíduo crítico, aquele que põe em crise as “verdades” estabelecidas. Mais ainda, aqueles que buscam pautar as discussões públicas, ainda que os temas já estejam ao alcance dos indivíduos.

    […] se designar os focos, denunciá-los, falar deles publicamente é uma luta, não é porque ninguém ainda tivera consciência disto, mas porque falar a esse respeito – forçar a rede de informação institucional, nomear, dizer quem fez o que fez designar o alvo – é uma primeira inversão de poder, é um primeiro passo para outras lutas contra o poder. Se discursos como, por exemplo, os dos detentos ou dos médicos de prisões são lutas, é porque eles confiscam, ao menos por um momento, o poder de falar da prisão, poder atualmente monopolizado pela administração e seus compadres reformadores (FOUCAULT, 2008, p. 75-76).

    Retomamos a questão inicial: um cientista social é um intelectual? A resposta vem à medida que pensarmos, qual a sua posição social no mundo e seu papel?

    FOUCAULT, MichelNão queremos apresentar uma resposta – a qual certamente não temos de forma acabada –, mas apontar que ser intelectual nada tem haver com um diploma de cientista social ou coisa do gênero. A questão está no lugar e como você se coloca no mundo.

     

     

     

     

    Referências Bibliográficas

    BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. Tradução Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Editora UNESP, 1997.

    GRAMSCI, Antonio. Materialismo histórico e a filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1981.

    FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 2008

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    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Um cientista social é um intelectual? Blog Café com Sociologia. abr. 2021. Disponível em: https://cafecomsociologia.com/o-cientista-social-e-um-intelectua/

  • O que é ser pai e / ou mãe?*

    O que é ser pai e / ou mãe?*

    O que é ser pai ou ser mãe? No universo sociológico ser pai e/ou mãe são status, ou seja, posições que você ocupa como membro de um dado grupo social, neste caso, o grupo social família. Tem-se família aqui como “laços de descendência por consanguinidade ou por afinidade” (OLIVEIRA, 2003; DURHAM ,1983;ABREU, 1982; …), ou seja, não importa se seja ou não descendentes biológicos, podem ser adotivos, ou adotados por afinidade, todos são família.
    Por Marcia Adriana Lima de Oliveira
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    E, quando pensamos em pai/ mãe, geralmente, associamos estas posições as pessoas que os ocupam, ou seja, os genitores, os seres biológicos que com a ajuda de seu óvulo ou espermatozóide contribuiu para que as crianças viessem a este mundo. Contudo, cada posição possui um papel social, ou seja “um conjunto de expectativas acerca do que o indivíduo que ocupa a posição deve fazer”. Logo, ao ocupar a posição de pai, o que é experado que quem a ocupe faça? E da de mãe? O que uma mãe deve fazer?
    Assim, pai, mãe e filhos são posições que vão sendo preenchidas conforme a cultura, ou seja, valores, crenças acerca do que cada pessoa ao ocupá-las fará… Porém, em decorrência da diversidade cultural, do fato de sermos mais que sujeitos sociais, mas sim indivíduos, com vivências, experiências, subjetividades… Cada um de nós irá dar o seu toque a interpretação aos papéis, acrescentando falas e outras expectativas que antes, não existiam, ampliando o papel.
    E, nestas ampliações do papel social correspondente ao ser pai ou mãe, tem-se que qualquer pessoa independente do sexo, pode na família, ora ocupar a posição do pai (prover, dar segurança, proteger), ora a da mãe (acolher, cuidar, proteger, dar as direções, …) ou a do (a) filho (a) ( quer carinho, proteção, cuidados).
    Logo, pode-se dizer que na família estamos constantemente dialogando com as várias posições (mãe/ pai/ filho (a)). E, ao ocupá-las os papeis corresponentes devem ser desempenhados a contento. E, neste momento, percebe-se como é difícil ser pai, ser mãe e ser filho (a), envolto em “n” expectativas, acerca do que se deve fazer, do como se portar, … Uma sobrecarga, as vezes enorme, principalmente para quem é mãe solteira ou pai solteiro (entenda-se que aqui entram todos aqueles que cuidam dos filhos, independente de serem estes pais biológicos ou adotivos ).
    Deseja-se o melhor para o (a) filho (a), mas deve-se aprender a ouvi-los acerca deste melhor… Dialogar, conversar, observar, participar da vida, enfim, quantos ensinamentos e aprendizagens… E, na escola, observar o crescimento, as dificuldades, tentar sanar as dificuldades, intervir, conversar… Professoras que são apenas professoras co-repetidoras e não educadoras, que ao serem interpeladas acerca do que fazer para melhorar o aprendizado, sentem-se acuadas e terminam “marcando” os (as) filhos (as) que estão em processo de formação (Ensino Fundamental) e veem -se diante de um obstaculo que é maior que o físico, mas é psiquico, o readquirir a auto-estima, sentir-se capaz de realizar a atividade, convivendo com este tipo de exemplo de professor, que ao meu ver, deveria desistir da docencia, pois, realmente, não acrescenta e nem faz jus a profissão… E, nós pais, apreensivos, com uma sobrecarga de status (temos trabalho, casa, escola, filhos,….) aumenta a ansiedade, a preocupação, o nervosismo, que acaba mais dificultando que ajudando…
    Rever posturas, valores, atitudes, enfim, rever a própria vida, é uma grande grande arte. A arte da humildade, frente ao fato de que ninguém nasce pai ou mãe, ou até mesmo filho (a), vamos aprendendo a ser num continuo processo do aprender, a cada etapa da vida.
    E o que me encanta mais, apesar das angústias neste processo é o olhar para um ser, pequeno, mas grande, aparentemente fragil, mas que é forte, e, vê-lo se aproximando, abrir um sorriso e dizer com todas as letras: “Mãe, eu te amo, vamos conseguir vencer juntos!!” É isso aí!! Vencer juntos sempre!! Aprender, crescer, amadurecer, sofrer, ser feliz, conquistar, vencer!!! Altos e baixos que chegam para sacudir a vida e nos fazer redimensionar quem somos, o que somos, o que queremos ser, e como faremos para chegar lá!! Eu quero ser uma maravilhosa mãe e dar ao meu filho, como venho dando o meu melhor para que ele cresça!! É fácil? Como disse anteriormente, não é, mas vale a pena, pois, ser Pai / Mãe é, antes de tudo, doação, responsabilidade, ser duro quando é preciso, ser molinho nos momentos certos, sermos humanos, mostrarmos que somos seres que erramos e que acertamos, mas que ao errarmos reconhecemos nossos erros, nos desculpamos e modificamos, e amamos muito incondicionalmente a pessoa que nos proporciona ocuparmos esta posição privilegiada de Pai/ Mãe que são os (as) filhos (as).
    Feliz dia dos PAIS!! DAS MÃES – PAIS!!! DOS AVÔS/ TIOS- AMIGOS PAIS!!!
    Referência
    OLIVEIRA, Marcia Adriana L. de. Separações e Divórcios: elementos que fazem parte da dinâmica familiar ou elementos de desestruturação desta? In: Revista CEUT, v.3, nº3. Teresina-Pi: CEUT, 2003
    *Originalmente publicado no blog Universo Sócio-Antropológico, administrado pela autora desse texto.
  • Liberdade de Imprensa e a Democracia: uma nota aos homens públicos (supostamente) desavisados

    Liberdade de Imprensa e a Democracia: uma nota aos homens públicos (supostamente) desavisados

    Liberdade de Imprensa

    Por Cristiano das Neves Bodart

    Liberdade de imprensa
    Cristiano Bodart é doutor em Sociologia (USP), professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e vinculado ao Centro de Educação (CEDU-UFAL).
    Liberdade de imprensa

    A liberdade de imprensa é elemento fundamental para o aprofundamento democrático. Sem ela os desmandos políticos imperam livremente, assim como o conhecimento das ações dos homens públicos fica limitado. Ocupar um cargo público, seja ele efetivo, contratado, comissionado ou eletivo é assumir – a priori – uma responsabilidade com a coisa pública; essa que é da conta de todos, inclusive da minha e da sua.

    A liberdade de imprensa passa pela sua autonomia em relação ao Estado. Na esfera municipal a situação é ainda mais problemática. Jornais locais dotados de poucos recursos acabam virando refém das administrações públicas, uma vez que muitos dos contratos são firmados pelo gestor municipal, os quais são quase sempre a principal fonte de financiamento dos jornais.

    Documentos oficiais

    A Declaração de Chapultepec, de 1994, assinada em 1996 pelo ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e, em 2006, pelo então Presidente Lula, destaca que:

    “Uma imprensa livre é condição fundamental para que as sociedades resolvam seus conflitos, promovam o bem-estar e protejam sua liberdade. Não deve existir nenhuma lei ou ato de poder que restrinja a liberdade de expressão ou de imprensa, seja qual for o meio de comunicação”.

    De acordo com a Declaração de Chapultepec, o exercício da liberdade de expressão e de imprensa “não é uma concessão das autoridades, é um direito inalienável do povo” e que “toda pessoa tem o direito de buscar e receber informação, expressar opiniões e divulgá-las livremente. Ninguém pode restringir ou negar esses direitos”. Determina o documento que “as autoridades devem estar legalmente obrigadas a pôr à disposição dos cidadãos, de forma oportuna e equitativa, a informação gerada pelo setor público”.

    Controle social

    liberdade de imprensaOutro problema que ameaça a democracia é a falta de um controle social sobre os recursos públicos municipais destinados à mídia local. Tais recursos não podem ficar nas mãos do gestor público, precisa ficar sob responsabilidade de um conselho deliberativo e fiscalizador, caso contrário continuará ocorrendo o que temos presenciado há anos: poder público fechando contratos apenas com jornais que teçam elogios ao gestor municipal. Ainda segundo a Declaração de Chapultepec, “os meios de comunicação e os jornalistas não devem ser objeto de discriminações ou favores em função do que escrevam ou digam”, assim tanto não fechar contrato por motivos de posições políticas diferentes ou fechar acordos devido compartilhar a mesma posição política é um ato de desagravo e fere a democracia. É urgente a criação de Conselhos de Cultura que deliberem sobre o destino dos recursos voltados aos contratos com a mídia local (jornais, rádio e TV). A resistência de criação de um conselho só evidencia os interesses de manipulação existente.

    É comum a tentativa de restringir a circulação de jornais que veiculam notícias que venham em desencontro aos interesses do gestor público, seja por meio do recolhimento criminoso dos exemplares ou por tentativa de intimidação, via processo judicial. De acordo com o documento assinado pelos ex-Presidentes da República  “a credibilidade da imprensa está ligada ao compromisso com a verdade, à busca de precisão, imparcialidade e equidade e à clara diferenciação entre as mensagens jornalísticas e as comerciais. A conquista desses fins e a observância desses valores éticos e profissionais não devem ser impostos. […]. Em uma sociedade livre, a opinião pública premia ou castiga”. Se a imprensa veiculam notícias mentirosas, certamente cairá no descrédito, assim como ganha dada vez mais crédito ao noticiar a realidade dos fatos, sobretudo referente a situações cujo acesso da população é limitado, como por exemplo, denúncias existentes no Ministério Público, casos de corrupção, de nepotismos e má gestão dos recursos públicos, etc. Claro que cabe os meios de comunicação abrirem espaços às pessoas públicas para esclarecimentos devidos e defesa sempre que julgarem necessário. Pena que pelas bandas tupiniquins essa prática não seja corriqueira, preferindo o caminho da censura.

    Digno de nota

    É importante compreender que a pessoa pública está sujeita à exposição; a ter que prestar esclarecimentos, sofrer críticas e elogios. O termo “pessoa pública” já é autoexplicativo e exposição pública é parte inseparável da posição social que se ocupa. O que não é permitido é invadir suas vidas pessoais, essas resguardadas por Lei Federal, assim como as “pessoas não públicas” não podem ser expostas sem seu consentimento prévio, sobretudo como forma de represália ou na tentativa de silenciá-la em um país cujas leis dão-lhes o direito de se expressar sobre as questões de interesse coletivo. “Nenhum meio de comunicação ou jornalista deve ser sancionado por difundir a verdade, criticar ou fazer denúncias contra o poder público.” (Declaração de Chapultepec, 1996, X).

     

     

    Como citar este texto:

    BODART, Cristiano das Neves. Liberdade de Imprensa e a Democracia: uma nota aos homens públicos (supostamente) desavisados. Blog Café com Sociologia, Maceió, out. 2013. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2020/07/Liberdade-de-Imprensa-e-a-Democracia.pdf>

     

    Conheça a produção científica do autor AQUI

  • A influência da TV na nossa vida cotidiana

    A influência da TV na nossa vida cotidiana

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     A influência da TV é uma temática constantemente abordada em sala de aula. Abaixo reproduzo uma texto da Revista Mundo Jovem, assim como apresento uma proposta de atividade sobre o texto.
    Na frente da TV
    “Quando estou em casa, sozinha, sempre ligo a TV. Ela acaba com a minha solidão.
    É quase uma companhia. E eu tiro proveito disso. Quando minha família está em casa e a TV está ligada, nem precisa ter assunto. Mas, sei que a influência da TV não pode substituir a presença de uma pessoa”. Assim me falou a dona de casa Lúcia Silva, de 30 anos, moradora de um bairro de Goiânia. Com um simples apertar de botão, a tela da TV ilumina um ambiente e toma o com tamanha eficiência, que acaba nos seduzindo e, não poucas vezes, nos prendendo diante dela. E prende não só as crianças ou adolescentes, mas às vezes toda a família, como revelou dona Lúcia.
    Assim, a TV passa a ocupar e marcar a vida de muitas famílias.
    Frente a um cotidiano tomado pela luta pela sobrevivência, nas famílias mais pobres os pais não dispõem de tempo para brincar, contar estórias, jogar bola, passear, conviver com os filhos. Muitos saem para trabalhar na madrugada e só voltam para casa tarde da noite, quando os filhos já estão dormindo.
    Por outras opções e circunstâncias, os pais de famílias ricas também não têm tempo para conviver com os filhos, e assim cresce cada vez mais influência da TV .
    Vemos, assim, que a família não encontra mais tempo para ficar junta, para desfrutar, “curtir” a presença uns dos outros. E quando o tempo sobra, todos param, calados, diante da televisão: “nem precisa ter assunto”… Na correria do dia-a-dia, aos poucos as crianças perdem os referenciais, quando o espaço familiar de convivência é substituído pela televisão.
    Outras que já nascem nessa roda-viva, sequer chegam a adquirir referências dessa natureza.
    A força da rede
    Ninguém mais duvida de que a televisão é um veículo poderoso e em expansão.
    Dentro dos meios de comunicação social, a TV perde para o rádio em termos de audiência. A cada dia, este grandioso veículo da comunicação investe mais em tecnologia e qualidade: TV a cabo, TV de alta definição, sistemas de filmagem usados no cinema transpostos para a televisão, dando cada vez mais beleza e qualidade às imagens que vemos.
    Aperfeiçoa-se não apenas do ponto de vista tecnológico: veja as refinadas produções dos senados, novelas, programas científicos ou de entretenimento. A força que a televisão tem para mobilizar, encantar e informar e assim consolida-se A influência da TV.
    as massas é inquestionável. Ela oportuniza diversão acessível para muitas famílias que, geográfica ou economicamente, estão isoladas.
    Não podemos negar a importância da televisão. Ela tornou-se, para muitos, o único canal de acesso ao conhecimento.
    Estruturada em redes, a TV integrou diferentes nações do planeta, trazendo e levando notícias. As mais diferenciadas imagens dilatam as nossas pupilas, ora por causa da beleza, ora por causa da violência. A morte e a vida causando-nos espanto e emoção.
    Pela TV, a realidade mundial se aproxima de nós e entra em nossas casas, através das imagens, dos sons, das músicas e dos textos falados nos diferentes programas. Assim, vamos nos inteirando de fatos desconhecidos e ampliando conhecimentos ainda em construção.
    E, se não tomamos alguns cuidados, a TV acaba sendo um veículo invasor que chega sem pedir licença e vai até onde não queremos.
    Não se pode subestimar a força ideológica das grandes redes de televisão, como nos chama a atenção Martín-Barbero: “A televisão não nos afeta só quando estamos olhando para ela. (…) A maior influência da televisão não se produz através do tempo material que lhe dedicamos, mas através do imaginário que ela gera e pelo qual estamos sendo penetrados”.
    Atualmente, os pais não conseguem ser uma presença junto aos filhos, capaz de gerar valores. Talvez por isso fiquem tão aflitos e reclamem tanto que os filhos fiquem expostos à apologia do consumismo, da violência e a outros duvidosos valores que a TV veicula.
    Portanto, apresenta-se um desafio para as famílias: como ajudar crianças e adolescentes a receberem criticamente o que a TV veicula? Como ajudá-las a ter critérios para selecionar o que assistir?
    Como primeira educadora, formadora de valores, a família tem de continuar exercendo o seu papel, em qualquer contingência em que esteja inserida.
    Se não assume esse papel, ela vai perdendo sua identidade formadora e, conseqüentemente, comprometendo a integridade moral e o equilíbrio afetivo das futuras gerações.
    Na infância, a pessoa absorve certos valores que só a família, enquanto grupo, pode dar. Estes valores serão
    determinantes para aprenderem a viver em grupo no conjunto da sociedade.
    Nenhum outro grupo social ou veículo formador pode substituir o que é próprio da família.
    À família cabe o papel de geradora de alguns dos “filtros” ou “óculos” pelos quais a criança, o adolescente, o jovem e o futuro adulto enxergará o mundo. Através destes “óculos” é que a pessoa distingue o bom e o ruim em tudo o que recebe, inclusive a programação da TV.
    Por Rezende Bruno de Avelar, Psicopedagogo.
    Fonte: Revista Mundo Jovem
    ATIVIDADES (Retiradas do Programa de Sociologia da Secr. de Educação do Estado do RJ)
    1- Fazer uma lista de três aspectos positivos e três aspectos negativos de tudo o que é visto na
    TV. Esses elementos infl uenciam o nosso jeito de ser?
    2- Quais as maiores infl uências da TV na vida do jovem? A TV já infl uenciou você pessoalmente
    em algo (roupa, calçado, comida, gíria, vocabulário, ideias, músicas, comportamento etc.)?
    3- Há diferença entre narrar e analisar fatos? Normalmente as pessoas analisam ou apenas
    repetem o que assistem na TV?
  • Introdução às estratégias de produção e racionalização do trabalho: fordismo, taylorismo, toyotismo

    Introdução às estratégias de produção e racionalização do trabalho: fordismo, taylorismo, toyotismo

    O fordismo, taylorismo e toytismo faz parte de estratégias de racionalização do trabalho. Esse é um processo de reorganização do trabalho com o objetivo de aumentar a eficiência e a produtividade. Ela envolve a análise dos processos de trabalho para identificar oportunidades de melhoria e a implementação de mudanças para torná-los mais eficientes.

     

    Por Roniel Sampaio Silva

    Racionalização da produção significa dizer que os processos produtivos são pensados de forma científica, em especial voltados à produtividade, eficiência e eficácia, as mais conhecidas são fordismo, taylorismo e toyotismo. Fazendo alusão a Weber, o processo a racionalização da produção é um reflexo do desencantamento do mundo. Ou seja, os processos produtivos passam a ser baseados cada vez mais na tecnologia, no cálculo, na técnica e não mais na ação tradicional ou afetiva. A primeira grande iniciativa de racionalização da produção ficou conhecida como fordismo-taylorismo a qual surgiu no início do século XX.

    Trabalho fordismo

    Taylorismo

    A produção escala cada vez mais global e a necessidade de diminuição do tempo e do esforço de trabalho demandou novas estratégias de racionalização da produção para esse fim. Um dos primeiros idealizadores das estratégias de racionalização da produção foi o engenheiro norte americano Frederick Taylor (1856-1915) que passou a pensar a produção de forma científica.

    O taylorismo ou administração científica, partia do pressuposto de que a divisão social do trabalho deveria ser pautada pela separação radical entre gerência e execução. Isso repercutia em grande especialização do trabalho e gerou muitos postos de trabalho.

    Pensando a partir das ideias de Marx é possível dizer que houve uma ampliação da alienação uma vez que o trabalhador não mais reconhece o produto do seu trabalho como também perdeu o domínio não apenas dos meios de produção, mas também perdeu o domínio sobre como produzir.

    As principais características do taylorismo são:

    -Separação entre gerência e execução;
    – Especialização das atividades;
    – Padronização da produção;
    – Remuneração por desempenho

    Fordismofordismo linha montagem
    Criado pelo engenheiro americano Henry Ford (1863-1947). O fordismo é uma aplicação prática do taylorismo, parte do mesmo pressuposto das ideias de Taylor e acrescenta um nome elemento: a esteira da linha de produção. Além do trabalhador perder a forma de organização do trabalho, perde também o ritmo do seu trabalho o qual é ditado pela donos dos meios de produção que controla a esteira de produção.

    Outra grande inovação do fordismo é pensar o trabalhador para além da fábrica. Neste sentido, Ford defendia que o trabalhador não era um mero produtor de mercadorias, mas também um consumidor. Fato que lhe encorajava a pagar melhores salários visto que parte desse dinheiro retornaria na forma de venda de bens de consumo aos próprios operários.

    As principais características do fordismo são:

    – Aperfeiçoamento da linha de montagem por meio da esteira (semi-automatização);
    – Produção e consumo em massa;
    – Baixa exigência de qualificação profissional;
    – Operário funcionava como uma peça de máquina e realizavam uma única tarefa;
    -Trabalhador era visto também como consumidor;

    O elo econômico e político do fordismo

    O sistema de produção fordista estava em grande sintonia com o modelo de estado conhecido como Estado de Bem-estar social ou Welfare State. Enquanto a iniciativa privada funcionava sob a luz do fordismo o Estado garantia uma boa arrecadação de impostos os quais financiavam serviços públicos. Com os salários valorizados e políticas públicas fortes, a renda do trabalhador potencializava o consumo, favorecendo os capitalistas.

    Com a Crise do Petróleo – entre outras nas décadas de 1970 e 1980 – o modelo fordista passou a perder espaço por não oferecer a variedade e diversidades de produtos que o mercado globalizado exigia, concomitante a isso houve aumento do setor de serviços por conta da automatização intensa da produção. Para atender a um mercado mais globalizado, exigente e segmentado foram criadas formas mais flexíveis de organização da produção, dentre as quais destaca-se o toyotismo.

    Toyotismo

    toytismo trabalho
    Essa forma de racionalização o trabalho foi criado por Taiichi Ohno (1912-1990). A principal característica do toyotismo é a flexibilização das atividades produtivas para sobreviver as crises sistêmicas do capitalismo com vistas a aperfeiçoar a qualidade, eficiência e eficácia. As principais características desse sistema são:

    – Descentralização da produção;
    – Articulação entre as ilhas de produção;
    – Primazia pela qualidade;
    – Customização das massas;
    – Flexibilidade do fluxo de produção e modelos dos produtos;
    – Organização da produção e entrega rápida ( no momento e na quantidade exata);
    – Diminuição do desperdício;
    – Número reduzido de trabalhadores;
    – Funções polivalentes (multitarefas) e alta especialização;

    Os sistema flexíveis de produção representaram diminuição dos custos de produção e aumentaram a variedade de produtos. Por outro lado do ponto de vista do trabalho, embora tenham tornado as tarefas mais criativas e menos, repetitivas e enfadonhas, continuou alienando o trabalhador do seu produto de trabalho. Os empregados continuaram sendo controlados não mais de forma vertical, por gerentes e supervisores; mas principalmente pelo seus próprios colegas de trabalho. Além disso, a descentralização enfraqueceu a organização dos trabalhadores visto que o poder de barganha de um sindicato vinculado a uma empresa centralizada era muito maior do que neste modelo no qual os trabalhadores ficam dispersos em varias ilhas de produção espalhadas mundo a fora.

    Publicado originalmente em: 4 de set de 2018 

  • Criminalidade. O que tenho com isso? Reflexão sociológica sobre o tema

    Criminalidade. O que tenho com isso? Reflexão sociológica sobre o tema

     
    Criminalidade
    Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)

    Nota-se um crescimento vertiginoso no índice de criminalidade nas áreas urbanas, principalmente ligado ao tráfico de drogas. A partir de um julgamento fundado no senso comum, tem-se o indivíduo como único culpado de sua condição de criminoso. Sob uma análise sociológica mais cuidadosa, me arrisco, com fortes indícios de certeza (embora não tenha feito uma pesquisa etnográfica), em afirmar que trata-se de fatores psicossociais. Afirmo que o criminoso não é o único responsável de tais constrangimentos, embora defendo que todos os indivíduos devam ser punidos ao descumprir as leis formais, desde que seja baseado na ética. Denuncio que os culpados também somos nós, os “estabelecidos”. Tentarei apresentar alguns de meus argumentos de forma sintetizada, ainda que correndo o risco de não ser completamente compreendido.

    >
    Nossa prática e postura
    Nós, os estabelecidos[i] no mercado e no espaço urbano (devidamente empregados ou como patrões) e, consequentemente, estabelecidos na sociedade (aceitos integralmente como cidadãos), temos constantemente estigmatizado os “não-estabelecidos”, os “outsiders” do mercado. Criamos um estigma social em torno desses indivíduos, especialmente daqueles mais desprovidos de bens materiais, daqueles que na cidade chegaram e não conseguiram se estabelecer economicamente. Temos criado e recriado uma imagem desses indivíduos a partir de parâmetros econômicos que têm atuado como depreciadores da qualidade humana. Tal estigma contribui para a formação de uma auto-imagem depreciada, onde o estigmatizado acaba internalizando tais parâmetros sociais.
    >
    As depreciações
    O estigma que nós (os estabelecidos) imputamos sobre os “outsiders”, fundamenta-se na renda, na escolaridade, na cor da pele e no local de moradia do indivíduo, assim como sua origem geográfica. A partir desses aspectos projetamos uma imagem depreciativa desses indivíduos, como indivíduos inferiores, muitas vezes tidos como ralé, pivetes, restos, invasores, escórias da sociedade, invisíveis, etc. Quantas vezes repetimos ou ouvimos expressões como:
     >

      “Ele mora lá na ‘espanha’… lá onde ‘es panha tudo’…”. “Só pode ser pobre e negro para fazer isso”.“Também, vai ver onde ele mora”.“Age assim porque não tem estudo”. “Só podia ser filho de mãe solteira para agir assim”.“Age assim porque é pobre”.“Esse pessoal que vem do nordeste são uns famintos”.“Só podia ser mesmo um favelado” “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!”

     

    Criminalidade
    Jovem condenada, em maio de 2012, por crime de preconceito contra Nordestinos .
    O fato é que ao repetir expressões como essas (via conversas de bar, de rua, fofocas, mídia, etc.), que demostram sentimento de repulsa aos que moram à margem da área central da cidade, aos menos escolarizados, aos mais pobres, aos sem uma família nos moldes tradicional, aos imigrantes, produzimos e reproduzimos um estigma social depreciativo. Cria-se, assim, condições de imposição da estigmatização. O poder econômico sendo utilizado para impor uma superioridade social e civilizatória.
    >
    Quantas vezes moradores de áreas mais carentes tiveram que  esconder informações referente ao seu local de residência? Quantas vezes moradores da “favela” disseram que moravam em outro bairro para fugir da discriminação? Tais atitudes se manifestam como forma de “defesa”, de se esquivar dos estereótipos de “favelado”, de “nordestino”. O problema maior está com relação a cor, haja vista que é impossível esconder sua identidade racial em uma relação face-a-face. Os escárnios talvez sejam mais comum entre crianças por serem menos preocupadas em dizer o que ouvem em conversas de adultos e o que lhes vem à cabeça. Não que os adultos pensem de forma diferente das crianças, pelo contrário, são quase sempre elas suas imitadoras (repetem o que ouvem).
     >
    Os impactos
    Estigmatizado pelos “estabelecidos” na sociedade, os “não-estabelecidos, os outsiders” acabam sentindo-se excluídos, incorporam a ideia de serem socialmente inferiores, não se reconhecendo como parte da sociedade (certamente existem muitos casos que os fatores sociais acabam não sendo determinante das atitudes e escolhas do indivíduo, nesses a personalidade, o ‘eu’, no sentido freudiano, acabou pesando mais que as pressões do meio a qual vive).
     >
    A aceitação do estigma traz um sério problema[ii]: a perda da autoestima e da moral. Se por um lado os estabelecidos são coagidos, via coerção informal, manter sua moral “integra” (seu nome ou imagem diante da sociedade), os não-estabelecidos não têm mais o que preservar, já que nós, os estabelecidos, já definimos que eles não têm moral.
     >
    Um indivíduo ao participar de um grupo social aceita as imposições deste. Desta forma, ao estar incluído socialmente os cidadãos aderem as normas de conduta, ainda que sejam custosas (mas julgando os benefícios serem maiores). Passam a obedecer as normas… a “civilidade”, a se distanciarem de ações criminosas. Mas quando o indivíduo não está incluído no grupo? Por que obedecer as normas? Por que obedecer a “civilidade”? Por que agir de forma que sua moral (já descartada pelos estabelecidos) seja preservada?
     >
    Com sua autoestima abalada, com o estereótipo de marginal (nos dois sentidos do termo) e as portas do mercado fechadas pela discriminação alguns indivíduos acabam agindo de forma contrária as normas sociais a fim de alcançar o que via legalidade lhes é visto como impossível.
     >
    Outro elemento que colaborará para desencadear a criminalidade: a coerção legal fragilizada. Sem um “nome” a zelar, frente a impunidade e a insuficiente coerção legal, tais indivíduos terão mais “facilidades” para se envolver com a criminalidade (ou serem atraídos por ela).
     >
    Refletir olhando para nós mesmos
    Dito isto, creio que precisamos repensar nossos julgamentos em relação aos outros, especialmente daqueles que ainda não estão estabelecidos economicamente na sociedade consumista materialista. Precisamos colaborar para a autoestima desses, criando condições de se estabelecerem na sociedade como cidadãos plenos, como indivíduos orgulhosos de si mesmo. Carecemos de inclusão social e não o inverso. Tal inclusão passa por políticas sociais, mas também pela mudança de postura dos estabelecidos.
     >
    A culpa não é apenas do outro, é nossa! Olhe para seu umbigo e pense um pouco.
      >

     

    Notas

    [i] Para usar expressões próximas àquelas usados por Norbert Elias e John L. Scotson, em “Os estabelecidos e os Outsideres”

     [ii] Certamente existem outros fatores colaboradores para a criminalidade, tais como a desestrutura familiar, a falta de perspectiva de futuro, fatores psicológicos, etc. O “eu” (no sentido freudiano) estabelece forte relação com a estrutura social, com o processo de socialização, o que não retira a responsabilidade pessoal, mas também não isenta a sociedade da construção do criminoso, assim como é possível notarmos que a personalidade (o eu) tem sido fator importante na superação da exclusão social.
    Originalmente publicado aqui em agosto de 2012.