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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • Por que há tanta adesão ao discurso reacionário?

    Por que há tanta adesão ao discurso reacionário?

    O discurso reacionário e  o aumento da onda conservadora

    discurso reacionário
    Por que há tanta adesão ao discurso reacionário?

    Por Roniel Sampaio Silva

    As ideias reacionárias têm penetração e aceitação entre o público em geral por serem simplistas, reducionistas e mexerem com a aparência de forma demagógica, ocultando a essência do problema social. É fácil de serem entendidas e têm jargões de fácil reprodução. Elas costumam mexer com sentimentos de forma exagerada (vingança, euforia, rivalidade) e são reforçadas por um moralismo particularista. Ainda que seja uma das principais estratégias de propaganda da extrema direita,
    algumas vezes é utilizado também pela extrema esquerda.
    Tal discurso reacionário não é apenas uma postura política, é uma identidade por conta da falta de flexibilidade e maturidade para analisar e processar argumentos com base em novas fontes e dados para avaliar os posicionamentos. Há pessoas que se identificam com as alcunhas: “reaça”, “ultra-conservador” e “coxinha”. Sentem orgulho de tal adjetivo a ponto de serem contra tudo que o seu grupo arquirrival defende; a esquerda.
    Sua voracidade em discutir temas complexos com frases simplórias, falácias e raciocínios truncados tem como pano de fundo o senso comum, reforçado pela grande mídia. Estes indivíduos criaram uma metodologia de análise baseada na centralidade do umbigo e da experiência particular, assistemática e pseudo-universal com ataques à pessoa, apelo sentimental e demasiado moralismo.
    Como exemplo disso, é comum ouvir frases como: “Eu tenho vivências, você não conhece a realidade”; “Quando for você que for violentado vai saber”; “Pra resolver, tem que moralizar”; “pra ser a favor do casamento gay, tem que ser homossexual”; “é preciso transformar-se árvore pra ser ativista do Greenpeace”. O Egoísmo é o principal referencial. Para eles, é necessário que você pertença ao grupo, senão o crivo egoísta não te habilita a defender ou questionar uma ideia. Como se não bastasse, também é comum ouvir um apelo a uma exclusiva responsabilidade pessoal. Obviamente, todos nós temos participação na resolução dos problemas sociais, mas não dá para resolvê-los sozinho.
    Problematizar uma ideia para eles é válida apenas se você ignora a dimensão social do fato e toma para si uma responsabilidade individualizante. Quer uma melhor divisão social da riqueza? Doa teus bens. Quer melhores políticas públicas para segurança? Adota um bandido. Mesmo que façamos tudo isso, o problema social vai permanecer.
    A grande “isca” da extrema direita é um moralismo barato que ignora a concretude e faz um apelo a um “passado mitológico” com retrocessos, floreado de harmonia social. Querem resolver um problema a qualquer custo, ainda que se crie novos e mais graves problemas.   Uma oração curta resume toda a problemática e leva a uma solução mágica e com uma frase de efeito que leva a um equívoco.
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    A população menos letrada – sobretudo as que se referenciam apenas na grande mídia –  são as primeiras a cair nesta cilada discursiva. Em seguida vêm aqueles que frequentam ou frequentaram a escola ou universidade, mas têm dificuldade de identificar causa e efeito, identificar falácias ou contextualizar um problema de modo que seja possível identificar minimamente quem se beneficia e quem se prejudica com o discurso que elas próprias reproduzem.
    Cada medida da direita moralista beneficia a minoria em detrimento da maioria. O que é vendido como solução, muitas vezes ao contrário de resolver o problema, gera outros problemas os quais vão servir de argumentos para novas soluções mágicas futuras que, por sua vez, ignoram as causas primárias. Vende-se o veneno como remédio e trata-se apenas o sintoma da doença.
     Assim quando todos os supostos argumentos são derrubados, a solução defendida se revela como uma sentimento de ver o mundo não de maneira que seria melhor para todos, mas apenas na maneira que agrade o seu “extremo moralismo estritamente particular” de uma visão de mundo baseada no seu umbigo.
  • Por um jornalismo civilizatório

    Por um jornalismo civilizatório

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    Por um jornalismo civilizatório

     

    Por Cristiano das Neves Bodart

     

    Desculpe os amigos jornalistas, mas torna-se necessário reinventar o jornalismo no Brasil. Não me refiro a sua reinvenção quanto a uso de novas tecnologias ou técnicas modernas, mas em sua dimensão ética.
    O jornalismo que deveria elevar o patamar civilizatório, tem, ao contrário, conduzido a sociedade à barbárie. O estímulo à violência e a centralidade nas notícias ruins parecem ser os ingredientes principais do jornalismo – principalmente o da grande mídia – que aí está.
    É comum ouvirmos a seguinte frase: “se espremer os jornais, sairá sangue”. Essa frase evidencia a condição a que chegou jornalismo, sendo sua ênfase percebida até pelos mais desapercebidos.
    Argumentarão alguns que o jornalismo vende o que o cliente quer comprar, o que é uma falácia, uma vez que esse argumento ignora a capacidade manipulativa da grande mídia. Outros dirão que o jornalismo é reflexo da grande criminalidade brasileira. Nesse caso o argumento evidenciaria que para o jornalismo as boas ações e as coisas belas são minorias, o que também é um equívoco. Os bons ainda são maioria; de outra forma a sociedade não teria uma consciência coletiva que permitisse a solidariedade e, consequentemente, a existência da sociedade brasileira.
    Um jornalismo que retrata apenas violência é tão violento quanto a notícia. O que retrata só morte é tão destruidor quanto o que veicula. O discurso, já evidenciava Foucault, tem a capacidade de influenciar diversos aspectos da realidade social, transformando-as.
    A barbárie que saltam aos olhos a cada segundo só corrobora para um estado ainda inferior de civilidade. Para ficar em apenas um exemplo, vemos a crescente prática de “justiceiros” após esse jornalismo endossar tal ação, como se esta fosse justificável e compreensível.
    O jornalismo que aí está se posicionou claramente de lado, construído sob nossa história nacional de discriminação de todos os tipos e interesses obscuros. Não importa apenas reinventar-se em suas técnicas ou usos de tecnologias, trata-se de reinventar-se quanto a se colocar no mundo sob uma postura ética e menos mercadológica e mercenária.
    Em síntese, é urgente uma reinvenção do jornalismo que ora tem esse nome. De outra forma, o “estado de natureza” descrito por Hobbes terá seu triunfo sobre o processo civilizador descrito por Elias.
  • A difícil tarefa de democratizar a sala de aula

    A difícil tarefa de democratizar a sala de aula

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    A difícil tarefa de democratizar a sala de aula
    Por Cristiano das Neves Bodart

     

    A ideia de “democracia” está a cada dia ganhando mais simpatizantes, ainda que poucos saibam do que realmente se trata. Ora confundem democracia com liberdade de expressão, ora como eleições diretas esporádicas. O pior é quando a confusão é com a “libertinagem” (que entendemos aqui como liberdade sem limites) e a falta de uma figura dotada de autoridade. Isso comumente ocorre na escola.
    A sala de aula é, em sua origem, um espaço de dominação e de autoritarismo. Por isso, tivemos nas últimas décadas tantos livros e artigos denunciando a nossa “pedagogia do oprimido”, ou melhor, de oprimir o aluno. Não adentrarei no campo das corretes teóricas; tentarei lançar luz à prática docente em sala de aula com base em minha experiência pessoal*, sobretudo, buscando refletir sobre uma questão: é possível a sala de aula ser um espaço democrático?
    É comum ouvirmos pedagogos afirmarem que cabe ao professor definir as regras de sala de aula, deixando ao docente toda a responsabilidade do que ocorre na sala de aula. Esses apontamentos são tão comuns que são assimilados pelos professores e externalizados na frase “na sala de aula, eu sou a autoridade”. Nota-se aqui uma incoerência: democracia não combina com responsabilização de um único indivíduo, o qual se impõe como autoridade máxima.
    Democracia é uma condição política de cooperação no governo. No sentido amplo, o governo do povo. Na sala de aula, temos um governo de todos? Professores e alunos construindo os rumos das aulas de forma participativa e deliberativa? Isso é possível?
    Para que tenhamos uma sala de aula democrática é necessário mais que a atuação do professor. Dependerá do capital cultural dos educandos, de suas experiências anteriores de participação e deliberação. Dependerá de responsabilidade com a qualidade do ensino, com o interesse de tornar as aulas cada vez mais educativas.Outra questão é pertinente: os educandos saberão criar normas de convivência e respeitá-las ainda que posteriormente venham a ser contrárias a seus interesses pessoais? Por várias vezes tentei, no início do ano letivo, definir de forma participativa as normas de convivência e as regras para a atuação discente e docente durante o ano, tais como, prazos, modalidades e formatos de provas e trabalhos, participações dos educandos na aula, respeito uns aos outros, etc. Algumas vezes tive êxito, outras não. Motivo básicos: a bagagem cultural dos educandos. Desconhecedores da democracia, confundiam esta com direitos e com libertinagem… Tornava-se necessário explicar que democracia demandava respeitar as regras do jogo construídas coletivamente. Em outras palavras, encontrei dois gargalos: a criação das regras do jogo de forma coletiva que fossem benéficas à todos; a observância, à posteriori, das regras quando essas iam ao encontro à seus interesses pessoais. Por outro lado, alunos que já vivenciavam um lar mais democrático, onde ele também era responsabilizado pelo bom andamento das relações interpessoais, facilitava a condução das aulas de forma mais democráticas.

    Uma dificuldade estava em entender o papel do professor em um cenário democrático. Os alunos, assim como o corpo docente da escola, quase sempre pensavam que o ambiente democrático eliminava a autoridade do professor. Democracia nada tem a ver com falta de autoridade. Pelo contrário, ela combate o autoritarismo, mas preza pela existência de uma figura dotada de autoridade. Democracia não desfaz as hierarquias, não elimina as regras, pelo contrário, as proporcionam legitimidade, isso por terem sido construídas de forma participativa. Democracia demanda co-responsabilização, respeito as regras do jogo e, sobre tudo, sentimentos e ações altruístas. Seus alunos têm condições de assumir essas demandas? Sem elas, resta ao professor manter o velho ambiente de dominação e, quem sabe, aos poucos buscando influenciar a construção dos habitus dos educandos… mas com duas aulas por semana? “Eita” vida dura…
    *Leciono há cerca de 12 anos, tendo dado aula em escolas com realidades sociais-culturais-econômicas diversas; passando por crianças do primeiro e do segundo ciclo do Ensino Fundamental, jovens (alguns já adultos) do Ensino Médio, e por jovens e adultos de graduação e de curso de especialização. 
  • Vaidade masculina na modernidade*

    Vaidade masculina na modernidade*

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    VAIDADE MASCULINA NA MODERNIDADE*
     
    Por Cristiano das Neves Bodart
    Pensar a temática “vaidade masculina” é proposta desse artigo de opinião. Busca-se apontar as peculiaridades que a vaidade masculina vem apresentando na contemporaneidade, destacar alguns dos principais fatores responsáveis por tais mudanças e, de certo modo, qual seu impacto na vida cotidiana.
    A vaidade, obviamente, não é algo que surge na contemporaneidade. Ela sempre esteve presente entre homens e mulheres, haja vista que o desejo de ser admirado por outrem é identificável em todas as sociedade humanas. O que temos presenciado é um deslocamento do tipo ou formato de vaidade masculina nas sociedades ocidentais. Antes da modernidade a vaidade masculina estava centrada exclusivamente na força e na capacidade protetora do sexo oposto, estando a mulher marcada pela fragilidade e carência de proteção. Por muitos anos a vaidade materializada por meio de adornos esteve associada, na sociedade ocidental, como pecado espiritual.
    Diversas mudanças na estrutura social provocadas pela processo “civilizatório do capitalismo” fizeram com que muitos homens passassem a abandonar, em certa medida, a figura do “sexo forte” e passamos, por exemplo, a vê-los chorando em público, trabalhando na limpeza da casa, preparando o alimento e abraçando os amigos do mesmo sexo. Essas ações cotidianas são sintomáticas dessa mudança. Diversas mudanças na estrutura social foram importantes para a atual configuração da vaidade entre os homens, podemos citar, dentre elas, o desenvolvimento do capitalismo e as mudanças ocorridas no seio do cristianismo. O capitalismo carecendo ampliar cada vez mais o lucro, tem buscado incluir os homens no
    consumo de produtos que, até pouco tempo, eram destinados apenas as mulheres. Avaidade, embora continue sendo apontada pelo cristianismo com pecado (sendo ligada aarrogância e a soberba), passou a ser materializar como ações mais exageradas do que apenas usar maquiagens e colares, por exemplo. Dito de outra forma, a preocupação com a beleza passou a ser tolerada pelo cristianismo, provocando uma ampliação da distância entre o que seria cuidar da aparência e o que seria vaidade. O prazer igualmente satanizado em tempos passados, passa, na contemporaneidade a ter centralidade na vida cotidiana.
    Outro fator importante para o deslocamento da vaidade masculina para oconsumo da moda está na mudança do conteúdo dos produtos (fruto dodesenvolvimento do capitalismo). Os produtos passam, na contemporaneidade, a terem menos valor no bem material em sim e mais valor simbólico. Cada vez mais os objetose serviços ofertados nos são oferecidos sob a forma de “estilos de vida”. Consome-se não apenas o produto mas, principalmente, experiências em forma de excitações e sensações. Nesse sentido, é a experiência ou o estilo de vida que se compra. Ao comprar, por exemplo, determinado tipo de óculos, não objetiva-se apenas adquirir um protetor para os olhos, mas um estilo vendido juntamente com eles. Esse novo produto dotado de “estilo de vida” “surge” em meio a uma sociedade hedonista, onde a vaidade é ligada ao bem estar e ao prazer, tornando-se estímulo para um consumo compulsivo e alienado.
    Os valores contidos no produto são “produzidos” pela mídia, à serviço da indústria, a fim de ampliar o mercado consumidor de produtos antes destinados apenas as mulheres. Os elementos e ações que constitui a vaidade masculina moderna são frutos de um contexto histórico marcado pela busca constante de maximização do lucro, onde gostos e valores são produzidos para servir aos interesses da indústria capitalista. Onde a cultura passou a ser, como quase tudo, mercadoria. A vaidade masculina nos moldes da modernidade é promovida por dois outros fatores correlatos a tal busca de maximização do lucro: a importância da imagem e a busca pela personalidade ou individualidade; o que comumente chamamos de estilo. O desenvolvimento do designer vem afetando muitas dimensões da vida cotidiana, dentre elas maximizando a importância da aparência, e não apenas dos produtos, mas também das pessoas. As empresas vêm valorizando a aparência de seus profissionais, assim como sua personalidade aparente, o que envolve sua imagem materializada no que estávestindo, no corte de cabelo e no cuidado com as unhas, por exemplo. Profissionais de ambos os sexos que não apresentam boa aparência terão mais dificuldade de ter seu lugar no mercado. Dito isto, mais do que um “pseudo-desejo individual”, tornou-se uma exigência aberta e anunciada em “outdoors”.
    O tal “estilo” parece depender de certa exclusividade, o que provoca uma busca constante por novos produtos, sobretudo ligados ao vestuário e calçados. Os produtos de beleza vêm tomando uma grande importância na construção de uma aparência agradável. Mais do que um simples cosmético, por exemplo, é comprado e consumido experiências desejadas ligadas ao belo, limpo e saudável; pelo menos é o que propõe esses produtos.
    Cada dia torna-se mais comum os homens experimentar produtos antes vistos como destinados para mulheres, tais como os cosméticos e diversos tipos de adereços antes apenas classificados como femininos. Menos preocupado em transmitir a ideia de sexo forte, muitos homens vêm, paulatinamente, se adequando a sociedade contemporânea e buscando transmitir o que a mídia vende como importante: elegância e personalidade. O preconceito a essa tendência masculina vem igualmente diminuindo à medida que se percebe que as mulheres cada vez mais não procuram o “homem forte”, mas o homem com “personalidade” e de boa aparência, o que podemos simplificar na expressão “um homem estiloso”.
    Acredito que nunca, sob o sistema capitalista, os homens dividiram tantos produtos com as mulheres. Parece ser a tendência uma aproximação. Não a divisão do mesmo frasco de perfume, por exemplo, mas a distância entre o que é para os homens eo que é para as mulheres tem diminuído. Isso não significa que os homens estarão usando produtos femininos, mas os produtos masculinos estarão cada vez mais próximos a esses. O difícil é identificar se a tendência será os produtos femininos se “masculinizarem” ou os masculinos se “feminizarem”. Parece que o “tipo ideal” de “homem forte” já não faz tanto sentido na sociedade contemporânea, na sociedade dita civilizada.

    O consumo não é passageiro por interessar quem o promove: as empresas e a mídia. A tendência aqui descrita não é um curso natural, mas um produto capitalista midiático muito forte. As conquistas das mulheres, sobretudo ao mercado de trabalho, não só trouxeram benefícios à elas, mas, principalmente, às empresas, sobretudo àquelas ligadas diretamente a beleza. As mudanças contemporâneas têm levado grande parte dos homens a buscar incluir-se nesse “modelo moderno de masculino”, o que se traduz na busca por beleza, personalidade e um aspecto sutil, menos rude e “grosso” de outrora. Imprevisível é o impacto dessa tendência sobre os velhos moldes da “dominação masculina”, nos restando estar atentos se haverá, de fato, mudanças ou apenas uma ressignificação incapaz de romper com a tal dominação. O certo é que será o capitalismo o regente de tais possíveis mudanças ou permanências.

    * Texto originalmente publicado na Revista Posição, v. 1, n. 4 (2014). A revista é mantida pelo Grupo de Pesquisa Dialética e Sociedade, da Faculdade de Ciências Sociais/UFG – Universidade Federal de Goiás.
     
     
     
     
     
  • O que leva alguns moradores a depositarem indevidamente o seu lixo em frente ou ao lado de suas casas?

    O que leva alguns moradores a depositarem indevidamente o seu lixo em frente ou ao lado de suas casas?

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    Fonte: https://associacaocamposeliseos.com.br
    Como explicar por que as pessoas acumulam lixos próximos as suas casas (em terrenos baldios) se isso não é racional e nem, algumas vezes, falta de consciência?
    É muito comum perguntas do gênero “não entendo o que leva alguns moradores a depositarem o seu lixo em frente ou ao lado de suas casas…” Assim como afirmações do tipo “Cidade descuidada, morador ‘porco’”.
    Convido-o a “brincar” com as teorias sociológicas para refletir (de forma inicial) essa questão.
    As explicações para essa questão são bem variadas, mas estarei utilizando a Teoria das Janelas Quebradas para tentar apontar alguns indicativos explicativos, assim como apresentar, grosso modo, a referida teoria para aqueles que não a conhece.
    Em 1982 foi publicado nos Estados Unidos da América (na revista The Atlantic Monthly) a Teoria Das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory), a qual, embora sua superficialidade explicativa, me parece muito útil para entender o caso aqui levantado. Tal teoria busca mostrar a relação de causalidade que existe entre a desordem e a criminalidade, mas no nosso caso nos possibilita a pensar a relação entre a desordem e os entulhos de lixo.
    Nessa teoria é dado um exemplo de um prédio. Para os formuladores dessa teoria, “caso se quebre uma janela de um prédio e imediatamente ela não seja consertada as pessoas que por ali passarem irão concluir que não existe autoridade responsável pela conservação da ordem naquela localidade. E logo todas as outras janelas serão quebradas. E em pouco tempo acontecerá a decadência da própria rua onde apenas as pessoas desocupadas ou aquelas com tendências para o crime irão se sentir bem naquele local, criando dessa forma um terreno propício para a criminalidade”.
    No caso aqui levantado, o que pode levar as pessoas a acumularem o lixo nas ruas é a falta de seu recolhimento deste que, por sua vez, levam as pessoas a concluírem que não existe autoridade responsável pela proibição, criando uma sensação de falta de regras e logo todos jogam o lixo naquele local onde já há lixo acumulado. Nesse caso, apenas o primeiro (que deveria ser inicialmente coagido pelo órgão competente) sente algum tipo de constrangimento em jogar o lixo. Os demais agem, quase sempre, sem constrangimento, já que “as janelas estão quebradas”. O mesmo ocorre no metrô. Se o chão estiver cheio de lixo e o passageiro tiver em suas mãos um embrulho de bala (papel de bala), a possibilidade dele jogar no chão será muito maior do que se o metrô estivesse limpo.
    Assim, “Cidade descuidada, morador “porco”, nessa ordem, parece ser a situação aqui colocada. Se a cidade fosse cuidada, as pessoas se sentiriam coagidas a jogar o lixo no lixo. Embora acredito que a “janela quebrada” não justifica tal ação, assim como a “educação moral” do indivíduo certamente não foi construída de forma adequada. As vezes não falta conscientização, falta “caráter”! Falta a construção de um habitus voltado ao respeito ao próximo.
    (texto originalmente publicado no facebook como resposta a um debate envolvendo a questão aqui exposta)
  • Sob o resquício da Ditadura e o avanço da Democracia

    Sob o resquício da Ditadura e o avanço da Democracia

    Sob o resquício da Ditadura


    Por Cristiano das Neves Bodart*
    Sob resquícios da ditadura
    Cristiano das Neves Bodart, editor do Café com Sociologia
    Sob resquício da Ditadura e avanço da Democracia, professores foram agredidos no estado do Paraná. Esse fato evidencia o quanto estamos em um “campo cinza”, onde avanços e retrocessos estão imbricados.
    O governador da Paraná, Beto Richa (PSDB), sob o argumento de que as contas públicas estaduais não estão em “boa saúde”, realizou mudanças previdenciárias no fundo estadual (ParanaPrevidência), o que vem provocando o descontentamento dos servidores públicos, sobretudo entre os professores da rede pública estadual de Ensino Básico. Essa situação poderia ter outros desfechos caso não estivesse o Brasil em um momento de cisão com seu passado recente, marcado pela repressão, e se não fosse a prática democrática, ora experimentada, pedagógica (participação social gerando mais participação).
    Há 20 anos o Brasil oficialmente deixava de ser uma Ditadura Militar, dando seus primeiros passos rumo à democracia. Não oficialmente, a classe política manteve as práticas do militarismo (aperfeiçoada durante os “Anos de Chumbo”) sob sua tutela. Ao sinal de ameaças a seus interesses, coloca-se a Polícia Militar nas ruas para garantir a “ordem das coisas”. Por outro lado, desenvolveu-se uma cultura política entre os cidadãos, os quais, a cada participação em ações coletivas, aprendem participar ainda mais das questões coletivas. Desta forma, temos hoje um processo de mudanças que imbrica o “velho” e o “novo”. Há dois “momentos” que formam o momento atual brasileiro, uma espécie de dialética onde o velho e o novo se encontram e se desafiam. Com a oficialização do fim da Ditadura, e a Reforma Política, os partidos políticos e seus integrantes se depararam com uma nova situação. Passaram a ver os movimentos sociais e as ações coletivas tomarem as ruas e ganharem força e mais adeptos. A esfera pública se esticou, abarcando mais atores e novas demandas. Até os partidos de esquerda se viram em uma situação onde tiveram que rever a ideia de que eram o único meio de realizar mudanças sociais mais profundas. Alguns partidos e/ou políticos em parte se adequaram, criando espaços institucionalizado de participação social, tais como conselhos, fóruns e Orçamento Participativo. O contexto atual é de aprofundamento democrático e a sociedade quer ser ouvida e, obviamente, beneficiada por meio de políticas estatais, afinal, para isso existe o Estado: provê benefícios coletivos.
    O governador do Paraná, ignorando esse contexto, tenta “colocar de goela à baixo” medidas impopulares. O resultado é uma multidão nas ruas protestando. No início deste ano eclodiu-se a primeira manifestação dos professores daquele estado, que na ocasião levou deputados a deixarem a Assembleia Legislativa em camburões da Polícia Militar e escoltados. Agora, o pacote de mudanças reaparece com uma nova maquiagem e é colocada em pauta novamente na Assembleia. Se o governador não aprendeu com a experiência de fevereiro, os professores aprenderam. Ignoram Beto Richa, e os deputados da situação, que há um caráter pedagógica em cada ação coletiva e que nesses 20 anos de processo de aprofundamento da democracia brasileira, esses últimos anos têm sido uma “pós-graduação” para os professores daquele estado. Pena que o aprendizado parece não ser o mesmo para os políticos como Beto Richa, que ao invés de buscar o diálogo, quer mesmo é aprofundar a “rincha” e usar as velhas armas, resquício da Ditadura. Assim, sob esses resquícios, professores são atacados como se fossem grupos paramilitares. O pior é que a grande mídia fala em “confronto”, quando na verdade o que vemos é um ataque da PM sobre aqueles que só aprenderam a lançar ideias, utopias e esperanças de uma país melhor para os nossos jovens.
    * Doutorando em Sociologia pela Universidade de São Paulo/USP. Tem os movimentos sociais como tema de estudo em seu doutoramento.
     
     
     
     
  • A Educação para as Relações Etnicorraciais*

    A Educação para as Relações Etnicorraciais*

    Por Fabíola dos Santos
    Cerqueira**
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    No ano letivo de 2015 iniciamos nas aulas de Sociologia, com os estudantes do 3º ano do Ensino Médio Regular um projeto o qual denominamos de “Onde está o negro?”. Esse projeto é desenvolvido em parceria com o PIBID Ciências Sociais/UFES. Na primeira etapa do projeto introduzimos conceitos como cultura e etnocentrismo. Após, solicitamos que os estudantes desenvolvessem pesquisas de campo em diferentes espaços sociais, analisando os papéis desempanhados pelos negros. O resultado desse trabalho de pesquisa constata que os negros, em sua maioria, não ocupa papel de destaque, nos espaços sociais pesquisados pelos jovens estudantes do Ensino Médio. A pesquisa foi realizada em diferentes espaços sociais como hospitais, escola, unidades de saúde, shopping, dentre outros.

    “Nós, negros, estamos em toda a parte, mas ninguém nos vê”, revela um dos estudantes em seu relatório de pesquisa. Essa frase mostra que o estudante assume sua identidade negra mas sente-se invisível. Essa invisibilidade nos remete, por exemplo, a uma sociedade que defende a redução da maioridade penal, mas não reflete sobre os elevados índices de homicídios contra jovens negros.

    No período de escrita do projeto iniciei uma pesquisa de campo nas lojas de brinquedo em shoppings centeres de Vitória e Serra, em busca de bonecas negras. As bonecas negras não existem  na maioria das lojas e quando as encontramos, ou são feias e bem diferentes dos modelos brancos expostos; ou conservam os mesmos estereótipos das bonecas brancas mudando apenas a cor. Isso quando não encontramos apenas as “moreninhas”.

    Numa das lojas, em diálogo com a gerente e um vendedor, identifiquei que a procura por bonecas negras é bem pequena, mesmo por meninas negras, daí a quantidade e a variedade na loja ser pequena. Os funcionários da loja veem com naturalidade essa baixa procura e quando provocamos para a necessidade de se pensar em bonecas negras, com deficiências, enfim, para que a diversidade estivesse presente também nas bonecas, a gerente afirmou que não seria uma boa ideia, pois os pais teriam resistência em entrar numa loja e ver nas vitrines bonecas negras, sem braço ou perna, em cadeira de roda ou com sindrome de down. Essa mesma provocação foi feita com empresas que produzem bonecas. Uma afirmou que já fabrica um bebê negro (moreninho, como descreveu uma vendedora) e outra, afirma que irá pensar nas sugestões dadas por mim.

    Casos como o da jornalista de Brasília que foi vítima de racismo nas redes sociais após atualizar sua foto no perfil do facebook chamam atenção da mídia, mas precisamos estar atentos ao racismo velado existente nas relações sociais estabelecidas por nós, também, nos espaços escolares. Utilizando outra metodologia de trabalho (o painel sociológico interativo coletivo), através da qual, os estudantes podem expressar seus sentimentos/pensamentos/opiniões num mural, constatamos, no final de abril, após a frase “Onde está o negro?” ficar exposta por uma semana nesse painel, através das palavras escritas que o racismo está presente em nosso meio e se esconde nas piadas, nas brincadeiras, nas zoações. Uma das frases expostas, “Os negros estão nas cadeias […] estão na injustiça social”, nos revela a visão dos jovens sobre o lugar social a que o negro é determinado pela mídia e pela ausência (ou ineficiência) de políticas públicas que pensem na inclusão social, na valorização da cultural e na identidade negra no Brasil.

    O resultado preliminar desse trabalho nos dá indícios para a reflexão sobre a implementação da Lei 10639/2003 nos curriculos escolares da Educação Básica e sobre a formação inicial e continuada dos professores.. Os estudantes revelam desconhecer a História e a Cultura Africanas e Afro-Brasileiras. Como desconstruir preconceitos se não falarmos deles? Após 12 anos da Lei 10.639/2003 é urgente pensarmos “Onde está o negro?” e avançarmos rumo a uma educação que nos permita descontruir preconceitos e a respeitar o outro, superando a herança histórica da escravidão.

    * Originalmente publicado no jornal A Tribuna, 11 de maio de 2015. ** Graduada em Ciências Sociais e mestre em educação pela Universidade do Espírito Santo/UFES.

  • A ameaça do aprofundamento da precarização das condições de trabalho no Brasil*

    A ameaça do aprofundamento da precarização das condições de trabalho no Brasil*

    Por Cristiano das Neves Bodart**
    A condição atual dos trabalhadores brasileiros nos remete a um evento ocorrido no século XIX. Em 21 de fevereiro de 1848 era publicado pela primeira vez o “Manifesto Comunista” (Das Kommunistische Manifest), escrito por Karl Marx e Friederich
    Engels. Este foi publicado em meio ao que ficou conhecida como Primavera dos Povos, processo revolucionário que perdurou por quase um ano e atingiu os principais países europeus. Dentre suas reivindicações estavam a diminuição da jornada diária de trabalho de 12 para dez horas. Na França, tal revolução foi deflagrada por uma crise econômica e pelo fato de Luís Felipe governar para os interesses da burguesia, afetando negativamente a população mais podre; os trabalhadores e desempregados. É nesse contexto que a “Manifesto Comunista” trouxe como aclamação, em suas últimas linhas, a famosa expressão “trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”.
    Tal frase não poderia ser hoje mais apropriada. Temos claramente um governo, que embora traga em sua sigla o substantivo “trabalhadores”, tem governado em função dos interesses da burguesia, afetando negativamente os trabalhadores. A aprovação na Câmara do projeto de lei Lei 4330/04, que regulamenta a terceirização, é um sinal claro de que temos o parlamento mais distante do povo desde a redemocratização do país.
    No Senado, pelo que tudo indica, tal projeto também será aprovado, “caindo no colo” da presidente Dilma. Se olharmos pelo histórico de seu governo dificilmente ela vetará esse projeto de lei, isso em nome da “governabilidade”. Os governos do PT não ampliou os direitos dos trabalhadores; o que tivemos foi uma ampliação do trabalho formalizado (o que é positivo, porém insuficiente para ter impedido que projetos de lei como esse avançasse). O PT foi incapaz, ainda que tivesse sempre a maioria no Congresso e no Senado, de propor mudanças legislativas que atendesse a classe trabalhadora.
    A aprovação da Lei 4330/04 será a maior derrota dos trabalhadores nas últimas décadas. A terceirização que hoje ocorre em atividades meio, passará a ser permitida também em atividades fim. Em outros termos, uma escola hoje pode terceirizar a segurança, mas não pode terceirizar os professores. Com o projeto aprovado, todos os trabalhadores poderão ser terceirizados.
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    A terceirização é sinônimo de degradação e deterioração das condições de trabalho. Trata-se de uma estratégia para reduzir gastos, sobretudo com a folha de pagamento e impostos. É amplamente sabido que os trabalhadores terceirizados recebem salários menores, não possuem muitas das garantias trabalhistas, o número de acidentes de trabalho são maiores entre eles, assim como as mortes decorrentes desses acidentes, não estão ligado e protegido por sindicatos (que no Brasil já são frágeis) e, portanto, não são,
    quase sempre, beneficiado pelos acordos coletivos da categoria. Normalmente a carga-horária de trabalho é maior e o acesso aos direitos é mais difícil. A título de exemplo, de acordo com o Ministério Público do Trabalho, das últimas 36 missões de resgates de trabalhadores em condições análogas à escravidão, 35 eram empresas terceirizadas.
    Com relação a esse projeto de lei,  o Tribunal Superior do Trabalho (TST) se posicionou de forma contrária. Para o órgão “o projeto esvazia o conceito constitucional e legal de categoria, permitindo transformar a grande maioria de trabalhadores simplesmente em prestadores de serviço e não mais em bancários, metalúrgicos, comerciários, etc”.
    Se aprovada, a tendência é o país passar a ter prioritariamente trabalhadores terceirizados. O TST destaca, além dos problemas gerado aos trabalhadores, que “esvaziadas de trabalhadores as grandes empresas – responsáveis por parte relevante da arrecadação tributária no Brasil -, o déficit fiscal tornar-se-á também incontrolável e dramático”. O fato é que tal projeto interessa apenas a Burguesia em detrimento a precarização das condições de trabalho.
    Nesse contexto, a frase de Marx e Engels me parece bastante propícia para o momento atual. Ou os trabalhadores se unem e tomas as ruas ou veremos suas condições de trabalho tornar-se ainda mais precárias em nome da “competitividade” e de um modelo econômico que não economiza apertar a corda do pescoço dos trabalhadores. O perigo é a história se repetir. No século XIX, uma estabilidade econômica tênue acomodou os trabalhadores à luta por seus direitos, os levando a aguardar mais de uma geração para alcancá-los. Penso que o caminho deve ser marcado pelo primeiro passo e este é aclamar “trabalhadores de todo o país, uni-vos!”.

     

    *Cristiano das Neves Bodart é doutorando em
    Sociologia pela Universidade de São Paulo/USP.
  • O que exatamente é um doutorado?*

    O que exatamente é um doutorado?*

    Muitos, sobretudo alunos, me perguntam o que é um “doutorado”. Quando tenho tempo e um papel em mãos recorro a explicação de Matt Might. Buscando compartilhar tal explicação, (re)publico a seguir o texto e as imagens esclarecedoras. Esperamos que gostem.
    Todo ano eu explico para um novo grupo de pós-graduandos o que é um doutorado.
    Mas é difícil descrever em palavras.
    Então, eu uso figuras.
    Veja abaixo o guia ilustrado que eu utilizo para explicar exatamente o que é um doutorado.
    Imagine um círculo que contém todo o conhecimento humano:
    PhDKnowledge.001
    Quando você completa o ensino básico, você sabe um pouco:
    PhDKnowledge.002
    Quando você completa o ensino médio, sabe um pouquinho mais:
    PhDKnowledge.003
    Com uma graduação, você sabe um pouco mais e ganha uma especialização:
    PhDKnowledge.004
    Um mestrado te aprofunda naquela especialização:
    PhDKnowledge.005
    Ler e estudar teses te leva cada vez mais em direção ao limite do conhecimento humano naquela área:
    PhDKnowledge.006
    Quando você chega lá, você se foca:
    PhDKnowledge.007
    Você tenta ultrapassar os limites por alguns anos:
    PhDKnowledge.008
    Até que um dia os limites cedem:
    PhDKnowledge.009
    Este pequeno calombinho de conhecimento que ultrapassou os limites é chamado de doutorado (Ph.D.):
    PhDKnowledge.010
    Mas é claro que na sua visão de mundo fica diferente:
    PhDKnowledge.011
    Mas não esqueça da dimensão das coisas:
    PhDKnowledge.012
    Continue ultrapassando os limites.
    *Autor do texto: Matt Might. Original em inglês: The Illustrated Guide to a Ph.D
    Tradução: Blog Posgraduando
  • Os dez mandamentos do direitista fundamentalista

    Os dez mandamentos do direitista fundamentalista

    Por
    Cristiano das Neves Bodart

    Temos visto uma crescente postura de intolerância de extremistas esquerdistas e direitistas. Para aliviar as tensões (se é que isso seja de fato possível) nas redes sociais, utilizando da ironia, apresentamos agora os “DEZ MANDAMENTOS DE UM DIREITISTA FUNDAMENTALISTA” (veja os Dez mandamentos de um esquerdista fundamentalista aqui). Esperamos que curtam essa brincadeira e a aproveite para “sacanear” alguns amigos “fundamentalistas” compartilhando na página deles do facebook. Segue:

    Os Dez Mandamentos do direitista fundamentalista- Veja 20:1 a 10

    1 – Então falou Adam Smith todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu deus, que te tirou da improdutividade, do ócio da vagabundagem dos comunistas. Não lerás outros textos que não se fundamentem em mim.

    2 – Não lerás Marx, nem nada semelhante do que escrevem os esquerdistas de plantão, nem mesmo folhearás a revista Carta Capital. Não te encurvarás a esta, só a criticarás; porque eu, Adam Smith , teu deus, sou teórico zeloso, que denuncio os intentos dos socialistas e comunistas preguiçosos.

    3 – Não citará o nome de Milton Friedman em vão. Antes exaltarás o nome de Olavo de Carvalho e seus “congêneres”.

    4 – Lembra-te dos benefícios que o capitalista lhe dá: Seis dias trabalharás, farás toda a tua obra e usufruirá do fruto de seu trabalho. Questionarás todos os programas sociais (para pobres, é claro). Tu, teu filho, tua filha, podem estudar em universidade pública, mas PROUNI esconjurarás. Porque em todos os dias estes vagabundos querem sem trabalhar os céus e a terra, o mar e tudo que neles há para dividir com outros tantos vagabundos.

    5 – Honre a meritocracia, ignorando que moramos em um país onde as desigualdades de acesso são gigantes. Isso não importa.

    6 – Odeie o PT, o PCdoB e o PSOL e culpe sempre a Dilma pela situação atual do Brasil, ainda que esta tenha sido construída ao longo de mais de 500 anos.

    7 – Defenderás o PSDB, ignorando todos os seus supostos defeitos e práticas de corrupção. Aponte sempre os problemas da esquerda para justificar os da direita.

    8 – Lerás toda a semana a revista Veja, e assistirás a Globo para ter “argumentos” contra os comunistas que querem tornar o Brasil uma Venezuela. Compartilhe no face as ideias de Jair Bolsonaro e Reinaldo Azevedo.

    9 – Não aceitarás o testemunho de intelectuais de esquerda, mesmo que seja para fazer um bolo de chocolate.

    10 – Criticarás o Bolsa Família, mas pleitearás uma bolsa de estudo do exterior; criticarás o tamanho do Estado, mas cobiçarás um cargo público; atestarás que bandido bom é bandido morto, mas só se for pobre e, se possível, nego e favelado. Denuncie o regime cubano pela falta de liberdade e aponte a intervenção militar como solução para o Brasil.