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Teologia do empreendedorismo

teologia do empreendedorismo

Teologia do empreendedorismo leva o indivíduo a crer que os problemas econômicos devem ser resolvidos de forma individual. Ela faz parte de estratégias neoliberais que reforçam a ideia de que o trabalhador precarizado, autônomo é na verdade um empreendedor. Assim, qualquer pessoa que naquela condição precarizada é capaz de construir o sucesso e se tornar um bilhionário, confundido assim trabalhador autônomo precarizado com alguém que investe e mobiliza grandes recursos para estar no mesmo patamar de concorrência que outros grandes empresários.

Ela busca integrar princípios religiosos e éticos ao mundo dos negócios, promovendo uma visão de empreendedorismo que vai além da simples busca pelo lucro. Neste texto, iremos abordar os principais aspectos desta teologia, suas raízes históricas e os principais autores que contribuíram para o seu desenvolvimento.

Raízes históricas

A teologia do empreendedorismo tem suas raízes na tradição protestante do trabalho árduo e da prosperidade. Segundo Max Weber (2004), a ética protestante valorizava o trabalho como um meio de ascensão social e de realização pessoal. A ideia de que o sucesso material era um sinal da eleição divina ganhou força entre os reformadores, especialmente entre os puritanos, que valorizavam o trabalho duro como uma forma de glorificar a Deus.

Essa visão foi retomada no século XX por autores como Napoleon Hill (1937) e Norman Vincent Peale (1952), que criaram uma teologia do sucesso baseada em princípios religiosos e éticos. Hill, em seu livro “Think and Grow Rich”, defende que a riqueza é resultado de uma atitude mental positiva, que pode ser desenvolvida por meio da visualização e da persistência. Já Peale, em “O poder do pensamento positivo”, enfatiza a importância da fé e da confiança em Deus como fonte de força para enfrentar os desafios da vida.

Desenvolvimento da teologia do empreendedorismo

Nos anos 80 e 90, a teologia do empreendedorismo começou a ganhar espaço no mundo dos negócios, especialmente nos Estados Unidos. Autores como Peter Drucker (1985) e Steven Covey (1989) defenderam a ideia de que o sucesso empresarial dependia da adoção de princípios éticos e da busca por uma missão que transcendesse a mera busca pelo lucro. Drucker, em “Inovação e Espírito Empreendedor”, argumenta que a inovação é a chave para o sucesso empresarial e que ela só pode ser alcançada por meio de uma mentalidade empreendedora que valorize a criatividade e o risco.

Já Covey, em “Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes”, propõe uma visão holística do sucesso, que leva em conta não apenas o aspecto financeiro, mas também o pessoal e o social. Ele defende a importância de ter uma visão clara do que se quer alcançar na vida, de priorizar as atividades que contribuem para essa visão e de manter relações baseadas em confiança e cooperação.

Outro autor que contribuiu para o desenvolvimento da teologia do empreendedorismo foi Ken Blanchard, com seu livro “Liderança situacional”. Blanchard defende a ideia de que a liderança eficaz depende da capacidade de adaptar o estilo de liderança às necessidades específicas de cada situação. Ele propõe um modelo de liderança baseado em quatro estilos: direção, orientação, apoio e delegação.

 

Crítica de Ricardo Antunes

De acordo com Ricardo Antunes (2018), professor de sociologia da Unicamp, a teologia do empreendedorismo é uma expressão da ideologia neoliberal, que tem como principal objetivo o fortalecimento do mercado e a desregulamentação do Estado. Segundo ele, a teologia do empreendedorismo é uma tentativa de transformar o empreendedorismo em uma religião, na qual a busca pelo lucro é vista como uma virtude e a competição como uma forma de alcançar a excelência.

Para Antunes (2018), a teologia do empreendedorismo tem uma visão individualista e reducionista do empreendedorismo, na qual o sucesso é medido apenas pela capacidade do indivíduo de gerar lucro. Ele argumenta que essa visão ignora a importância dos fatores sociais, políticos e econômicos que influenciam o sucesso empresarial, como o acesso a capital, a estruturação do mercado e a capacidade de se relacionar com outras empresas e organizações.

Além disso, Antunes (2018) aponta que a teologia do empreendedorismo ignora a dimensão social e coletiva do empreendedorismo, que pode ser uma importante ferramenta para a promoção do desenvolvimento econômico e social. Ele defende que a visão da teologia do empreendedorismo é limitada e restritiva, e que é preciso considerar a importância das políticas públicas e da cooperação entre empresas e organizações para o desenvolvimento sustentável.

Segundo Antunes (2018), a teologia do empreendedorismo é uma ideologia que tem como objetivo a defesa dos interesses das classes dominantes, que buscam o fortalecimento do mercado e a redução do papel do Estado na regulação econômica. Ele argumenta que essa visão limitada do empreendedorismo contribui para a perpetuação das desigualdades sociais e econômicas, na medida em que ignora a importância das políticas públicas para a promoção do desenvolvimento econômico e social.

Conclusão

A teologia do empreendedorismo é uma corrente de pensamento que tem se consolidado nos últimos anos, promovendo uma visão ética e sustentável do empreendedorismo. No entanto, na visão de Ricardo Antunes (2018), a teologia do empreendedorismo é uma expressão da ideologia neoliberal, que tem como principal objetivo o fortalecimento do mercado e a desregulamentação do Estado. Ele argumenta que essa visão individualista e reducionista do empreendedorismo ignora a importância dos fatores sociais, políticos e econômicos que influenciam o sucesso empresarial, além de limitar a dimensão social e coletiva do empreendedorismo.

Assim, é importante considerar as críticas de Antunes e refletir sobre a importância de uma visão holística e crítica do empreendedorismo, que leve em conta não apenas o aspecto financeiro, mas também o pessoal e o social. Nesse sentido, é preciso valorizar a cooperação entre empresas e organizações, bem como o papel das políticas públicas na promoção do desenvolvimento econômico e social.

Por fim, é importante destacar que a teologia do empreendedorismo não deve ser vista como uma solução mágica para os problemas econômicos e sociais, mas sim como um instrumento que pode contribuir para a promoção de uma sociedade mais justa e sustentável. Dessa forma, é fundamental que a teologia do empreendedorismo seja analisada de forma crítica e contextualizada, levando em conta as diferentes perspectivas e desafios presentes na realidade social e econômica contemporânea.

Referências:

ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.

BLANCHARD, Ken; HERSEY, Paul. Liderança situacional: a escolha inteligente para o sucesso. São Paulo: Makron Books, 1996.

COVEY, Stephen R. Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes. Rio de Janeiro: Best Seller, 1989.

DRUCKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor. São Paulo: Pioneira, 1985.

HILL, Napoleon. Think and Grow Rich. Nova York: Ballantine Books, 1937.

PEALE, Norman Vincent. O poder do pensamento positivo. Rio de Janeiro: Editora de Cultura, 1952.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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