“Vai fazer o quê?” um teste social que provoca a reflexão

Teste social: Natal na praça em 2016

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Por Felipe Augusto Ferreira Feijão*

O programa Fantástico da Rede Globo exibiu domingo, dia 25/12/2016, no quadro “Vai fazer o quê?” um teste social em forma de reconstituição da situação do nascimento de Jesus. Trata-se da interpretação da cena do nascimento de Jesus à luz do contexto hodierno da grande cidade. O casal visivelmente simples e recém-chegado a cidade grande, utiliza uma praça como meio de chamar a atenção dos transeuntes para o acontecimento. A mulher grávida, prestes a ter o filho, deitada ao chão e o homem em pé numa atitude de espera de alguém que passe e ajude.

A dinâmica da grande cidade expressa bem o resultado do teste. A praça se configura como cenário propício para que o teste seja percebido. O sociólogo contemporâneo Z. Bauman conceitua um espaço público como: “Um espaço é público à medida que permite o acesso de homens e mulheres sem que precisem ser previamente selecionados”. Certamente, o local ali demonstrado foi cogitado em termos de permanência certa do casal, uma vez que não tinham outro lugar para ficar, ou seja, o local público acolhe a todos sem distinção nem seleção.   

Os transeuntes que rapidamente passavam e se deparavam com aquela cena, tinham reações diferentes: pessoas indiferentes, pessoas que olhavam e passavam e pessoas que paravam atenciosamente, se sensibilizavam e consequentemente ofereciam ajuda ao pai pedinte. A praça enquanto espaço público, segundo Bauman, se estabelece como local favorável para a relação da vida social entendida no sentido da cidade: “É nos locais públicos que a vida urbana e tudo aquilo que a distingue das outras formas de convivência humana atingem sua mais completa expressão, com alegrias, dores, esperanças e pressentimentos que lhe são característicos”.

No momento em que acontece a sensibilização das pessoas que param e se deparam com a condição do casal em apuros, aquela praça (local público) na visão de Bauman consegue se distinguir dos demais espaços públicos, pois há a superação das diferenças e do estranhamento recíproco.

Obviamente, quando os comovidos saíam em busca de ajuda ou estavam prestes a, de fato, ajudar concretamente, a reportagem entrava em cena e esclarecia o ocorrido. A reação sincera dos que decidiram ajudar denota uma generosidade e solidariedade aparentemente escassas no contexto urbano atual. Por isso, a satisfação tanto dos atores da encenação quanto das pessoas disponíveis a realização da pretensa boa ação e da reportagem, chama a atenção do público.

A existência do desejo de ajuda aqui mencionado na situação acima descrita expõe que ainda é possível haver a superação do novo modelo que se forma de sociedade enquanto indiferente. A partir daí, muitas outras possibilidades de superação podem acontecer mediante percepção e reconhecimento social.

* Estudante de Filosofia da Faculdade Católica de Fortaleza.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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