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Resenha: Peças e engrenagens das Ciências Sociais

Peças e engrenagens das Ciências Sociais de Jon Elster discute a Escolha Racional

Por Cristiano das N. Bodart
Peças e engrenagens das Ciências Sociais

Jon Elster ao tratar da Escolha Racional afirma que esta é instrumental, sendo as ações avaliadas e escolhidas como meios mais ou menos eficientes para um fim anterior. Para Elster, a escolha racional objetiva encontrar os melhores meios para fins dados, sendo uma maneira de adaptar-se otimamente ás circunstâncias.

Elster aponta que a escolha racional não se caracteriza como um mecanismo infalível, pois um indivíduo racional escolhe com base em suas crenças que lhe indicam a “melhor escolha”. Ou seja, o processo pode ser racional, mas mesmo assim não atingir a verdade. “A crença é uma relação entre uma crença e aquilo sobre o que é a crença” (p.41). Muitas vezes a crença coloca o indivíduo em mais de uma possibilidade de escolha. Nem sempre nossas crenças são “preto no branco”.
Em torno da escolha racional Elster apresenta basicamente três perigos: i) a existências de poucas evidências para efetivar a escolha ótima; II) a demora para a tomada de decisão – devido a busca de evidências – pode tornar a escolha atemporal, ou seja, a ocasião para agir pode ter passado (como no caso de um médico que deve decidir se opera ou não seu paciente. A demora pela busca por evidências para basear a sua decisão pode levar tal decisão não ser mais necessária, no caso de o paciente não agüentar esperar e vir a óbto) e; iii) quando a deliberação possuir um custo muito elevado ao comparado com os resultados da escolha (o caso de uma criança que deverá esperar pela decisão judicial para saber se vai morar com seu pai ou sua mãe. O custo – problemas psicológicos, por exemplo – pago por ela pode ser superior ao benefício da decisão, mesmo que em condições ótimas).
Agir racionalmente é fazer o melhor para si mesmo. Para Elster, quando dois ou mais indivíduos interagem, eles podem produzir resultados muito piores por si mesmo do que se agissem sozinhos (Nesse ponto Elster recorre ao dilema dos dois prisioneiros). Em suma uma ação racional deve basicamente ser resultado de três decisões ótimas: i) deve ser o melhor modo de realizar o desejo de uma pessoa, dadas as suas crenças; ii) as crenças devem ser ótimas e; iii) deve haver uma reunião ótima de evidências.
Elster ainda aponta que “a teoria da escolha racional pode falhar através da indeterminação (p.49). Para ele existem duas formas de indeterminação: i) podem haver mais de uma ação que sejam igual e otimamente boas e; ii) pode não haver nenhuma ação que seja ao menos tão boa como todas as demais. “Quando a escolha racional é indeterminada, algum outro mecanismo deve preencher a brecha” (p.53). Elster aponta que este outro mecanismo pode ser o princípio de “satisfazer”, ou seja, escolher algo que seja suficientemente bom, mesmo não sendo a escolha ótima.

O comportamento irracional, por sua vez, é derivado de crenças irracionais. Tratam-se muitas vezes de ações impulsivas, especialmente tratando-se de questões presentes. Elster aponta algumas alternativas para lidarmos com nossa irracionalidade. Um exemplo seria criar estratégias para tornarmos nossa irracionalidade custosa, como por exemplo, se marcamos uma consulta no dentista para o mês posterior (pois, racionalmente sei que me propiciará no futuro benefícios) há a possibilidade de quando se aproximar o dia da consulta eu a desmarque. Sabendo disso poderia combinar que se eu não comparecer terei que pagar a consulta. Desta forma Elster defende que, o lugar da razão deve exceder ao princípio moral ou a ação irracional. Mas torna-se importante compreender suas limitações, justamente para buscar superá-las.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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