Ciência Sem Fronteiras: Ciências Humanas, para que tê-las?*

Só pode ser o que o Ministério Público e a Secretaria de Educação de São Paulo se perguntam. Depois do anúncio do Programa Ciência Sem Fronteiras ter cortado as bolsas estudantis de mais de 20 cursos das Ciências Humanas, agora a Secretaria de Educação estadual anuncia alteração no currículo do Ensino Fundamental, retirando das grades dos três primeiros anos as disciplinas de História, Geografia e Ciências sob a desculpa de tornar “o currículo mais atraente”.

Agora pensemos, além de problemas notadamente iminentes como desemprego dos profissionais da educação na área de humanidades. Não é novidade pra ninguém que a gestão pública desse país têm dado ênfase em demasia às áreas de tecnologia e produção, literalmente, quanto mais vender o conhecimento produzido aqui dentro para as grandes empresas nacionais e estrangeiras, melhor. Ou seja quanto mais aparecer nos BRICS, melhor, e pra que?

Não é da minha competência discutir economia, crescimento e desenvolvimento, aliás, se encontra muito longe do meu escopo de saber, mas de uma coisa posso dizer: não quero que as gerações futuras cresçam em um país na contra-mão. E digo na contra-mão porque a tendência mundial têm sido a de “trazer a reflexão científica para o 1º ano” segundo a consultora em educação Ilona Beckehazy. Excluir de um currículo disciplinas das humanidades é reforçar a ideia de que são “matérias supérfluas” ou “inúteis”, a mim essa postura do Governo Estadual é retrógrada e completamente sem sentido.
Penso, por fim, nas inúmeras piadas que ouvi sobre estado-unidenses que não sabiam se localizar no mapa, ou que não sabiam aonde ficava o Brasil, ou qualquer outro país. Parece trivial, mas isso foi porque eu tive aulas de Geografia quando mais nova; e as novas crianças brasileiras? Serão elas, também, motivo de chacota? Acho que sim. Ao invés de incentivar a educação, acreditar no futuro das crianças, lhes tiram o pouco que ainda resta, o pouco de educação. Postura tosca, medida tosca e desculpa tosca, me sinto envergonhada e ofendida em ter lido isso hoje.
*Texto originalmente publicado no blog parceiro “Crítica nossa de cada Dia“.
** Marcela Tanaka é graduanda em Ciências Sociais pela Unicamp.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

1 Comment

  1. acho errado excluir disciplinas das humanidades dos curriculos, por que vamos ter que tipo de profissional futuramente que chegam e fazem seus serviços e vão embora, assim o país não vai crescer e vai se afundar, por isso não apoio essa ideia de tirar as disciplinas das humanidades por que os profissionais tem que pensar também nas pessoas.

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