Escola com Partido
Por Felipe Augusto Ferreira Feijão*
Diante do afloramento do programa Escola Sem Partido é preciso expor algumas considerações concernentes à temática. A possível inclusão dessa proposta na educação brasileira tem dividido posicionamentos e opiniões. Entretanto, é necessário pela ótica do equilíbrio examinar a real situação das consequências da adoção do programa.
Propor a normatização do comportamento que os professores deverão obedecer quanto à conduta no que diz respeito à exposição de interesses, opiniões, preferências ideológicas, religiosas, políticas e partidárias, é o prenúncio do estabelecimento de um professor robô, programado estritamente para transmitir conteúdos técnicos.
Isso é preocupante porque querer a vigência da Escola Sem Partido se assemelha ao desejo frustrado de inutilmente estereotipar a dissociação da política das relações sociais. Se por um lado existem acusações de doutrinamento ideológico nas escolas, por outro lado o que é difícil acontecer é que a transmissão do conhecimento atinja os alunos desprovida das exposições amplas e abrangentes dos professores.
Com efeito, aparentemente a própria estrutura educacional brasileira, carrega marcas diretas ou indiretas da conjuntura social na qual está inserida, daí porque a desvinculação das raízes postuladas na gênese propulsora da manutenção estrutural se torna uma hipótese patética. Felizmente se a concepção da base construtora da educação num país encontra sua mola de impulso não somente na promoção de um ou outro governo temporal, a constatação de um alicerce firmado no livre debate das ideias se torna justificável.
Se a existência de escolas que formam máquinas para passar no vestibular, já acarreta um possível déficit nos futuros profissionais e nas futuras pessoas que se tornarão o mínimo de valorização que se pode almejar tanto nas escolas que programam máquinas quanto na escola que ainda sobrevive de valores mais humanos é a discussão, o debate e a troca de ideias. Esse deve ser o partido da escola.
Sem doutrinamento ideológico, sem professores fazendo da sala de aula um palanque, embora não haja, de fato, comprovação de tais ocorrências. Mas ainda sob a ótica do equilíbrio, é inevitável que a expressão seja postada, não somente no que se refere ao docente, mas também em qualquer exercício de outra atividade. Vale lembrar que o livre direito de expressão está assegurado e positivado constitucionalmente.
Se no Brasil com a liberdade que as escolas dispõem de debate, a configuração política se encontra num estado enorme de desgaste e de descrédito, será que com uma escola sem partido esse quadro seria revertido? É imprescindível tomar partido pela escola para que num futuro próximo o País não se assemelhe a sistemas governamentais fechados e ditatoriais.
*Estudante de Filosofia – Faculdade Católica de Fortaleza