O que é segregação?

o que é segregação

O que é segregação: análise sociológica das separações sociais

A lógica social da separação

Segregação é um termo que, no senso comum, remete imediatamente à separação de grupos sociais com base em características como raça, gênero, religião, classe ou etnia. No entanto, para as ciências sociais, essa separação vai muito além da aparência de divisão espacial ou estatística: ela expressa dinâmicas de exclusão, poder e reprodução de desigualdades estruturais. Em termos sociológicos, segregação é o processo pelo qual categorias sociais distintas são distribuídas de maneira desigual em espaços sociais, educacionais, residenciais ou ocupacionais, criando padrões de concentração que limitam o acesso a direitos e recursos fundamentais (Souza, 2017).

Essa definição exige um olhar atento ao funcionamento da sociedade. A separação entre homens e mulheres em determinados setores de trabalho, ou entre brancos e negros em certos bairros, por exemplo, não é fruto do acaso, mas consequência de processos históricos, culturais e institucionais. A segregação não é apenas uma questão de localização ou proporção, mas sim de como os grupos sociais se organizam e são organizados dentro de uma estrutura que naturaliza suas posições sociais (Bourdieu, 1983).

O que é segregação? Segregação e desigualdade: conceitos interligados

Na dissertação de Diego Camargo Botassio (2017), o autor apresenta uma análise refinada sobre as medidas de segregação, especialmente no que tange à sua relação com a desigualdade. Ele parte do pressuposto de que as formas de mensuração da segregação guardam paralelismos metodológicos com as tradicionais métricas de desigualdade, como o Índice de Gini. Isso significa que é possível analisar a distribuição de grupos sociais em determinados contextos da mesma forma que se avalia a distribuição da renda. A partir disso, Botassio defende a importância de utilizar medidas sensíveis às variações internas entre categorias e entre os estratos sociais nos quais esses grupos estão inseridos (Botassio, 2017).

O que é segregação? O autor parte de uma constatação essencial: ainda que a sociedade brasileira tenha avançado no combate à desigualdade de renda em determinados períodos, a segregação social e espacial entre categorias de gênero e raça persiste como marca estruturante. Isso revela que a igualdade de oportunidades não decorre unicamente de políticas de redistribuição econômica, mas também de políticas que combatam diretamente a exclusão simbólica, cultural e institucional de determinados grupos.

As raízes sociológicas da segregação

A literatura sociológica clássica já reconhecia, ainda que sob outras formulações, o fenômeno da segregação. Durkheim (2000), ao discutir a solidariedade mecânica e orgânica, aponta para a importância da divisão do trabalho social e para os perigos da fragmentação social, o que, mais adiante, será interpretado como indício de processos segregadores quando essa divisão se transforma em hierarquia excludente.

O que é segregação? Já Marx (2013), ao abordar a estrutura de classes, enfatiza como o modo de produção capitalista, ao organizar os trabalhadores em funções específicas e desiguais, tende a concentrar populações com determinadas características sociais – inclusive de gênero e etnia – nas posições mais exploradas. O que vemos hoje nos indicadores de segregação ocupacional é, em parte, uma continuidade dessa lógica de divisão hierárquica da força de trabalho.

A partir do século XX, autores como Florestan Fernandes, Gilberto Freyre e Octavio Ianni aprofundaram a análise da segregação racial no Brasil, mostrando que o mito da democracia racial mascarava processos de exclusão sistemática dos negros em espaços como a escola, o mercado de trabalho e o acesso à terra (Fernandes, 2007). Esses autores destacam como a segregação, apesar de nem sempre formalizada por leis (como nos Estados Unidos do apartheid racial), era (e ainda é) mantida por mecanismos simbólicos e institucionais.

O que é segregação? Tipos de segregação

Seguindo a classificação de Botassio (2017), podemos compreender dois polos extremos de segregação: a segregação total, em que um estrato social (bairro, setor, escola) é ocupado exclusivamente por uma categoria, e a ausência de segregação, na qual todos os estratos possuem proporções iguais de cada grupo. A realidade, contudo, se situa entre esses extremos, o que exige instrumentos técnicos para mensuração precisa das desigualdades observadas.

Botassio dedica-se a medir a segregação por gênero nos setores produtivos do Brasil, revelando como homens e mulheres tendem a se concentrar em atividades distintas, mesmo em contextos de maior inserção feminina no mercado de trabalho. Utilizando índices como o de Dissimilaridade e o de Gini adaptado para segregação, o autor mostra que, entre 1992 e 2014, houve uma redução da segregação por gênero no Brasil, ainda que o fenômeno permaneça com relativa intensidade.

O que é segregação?Essa análise revela que a segregação se manifesta de maneira persistente, ainda que adaptada às novas configurações do trabalho. Mulheres seguem majoritariamente alocadas em setores de menor remuneração, como serviços domésticos, cuidados e educação infantil, enquanto os homens predominam em setores industriais e de gestão. Isso reforça a leitura de que a segregação não é apenas um dado empírico, mas um reflexo das estruturas de dominação social (Scott, 1995).

O que é segregação? Medidas de segregação: instrumento técnico e político

Do ponto de vista técnico, medir a segregação é essencial para a formulação de políticas públicas eficazes. Como aponta Botassio (2017), a analogia entre desigualdade de renda e segregação permite o uso de medidas decomponíveis, que identificam quanto da segregação está ocorrendo dentro dos grupamentos (por exemplo, setores de atividade) e quanto entre eles. Essa decomposição é estratégica para indicar onde as políticas devem ser mais incisivas.

Porém, o uso dessas medidas não é neutro. A seleção dos indicadores, a forma de análise e os recortes escolhidos (gênero, raça, território, geração) implicam escolhas políticas e epistemológicas. Ao denunciar a concentração de determinadas categorias em determinados espaços sociais, as ciências sociais assumem um papel ativo na crítica das formas de exclusão que se pretendem “naturais” ou “espontâneas” (Silva, 2020).

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Referências

BOTASSIO, Diego Camargo. Segregação e desigualdade: analogia na mensuração e análise da segregação por gênero em setores de atividade no Brasil. 2017. 103 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2017.

BORDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 1983.

BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.

Roniel Sampaio Silva

Doutorando em Educação, Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais e Pedagogia. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Teresina Zona Sul.

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