Racismo reverso: piadas sobre brancos e negros e hegemonia racial

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Racismo reverso é o termo usado para descrever o tratamento discriminatório ou prejudicial de uma pessoa ou grupo baseado em raça ou etnia, mas que beneficia os membros de raças ou etnias que são tradicionalmente oprimidas ou discriminadas. Seria supostamente uma ideia de que as raças exploradas e oprimidas reverteram o processo de dominação e opressão.

Racismo reverso ou inverso: vamos pensar sobre o assunto?

Por Roniel Sampaio Silva

Sobre raça e racismo

O racismo representa a ideia de que as raças são classificadas e hierarquizadas como superiores e inferiores.  A noção de raça é pautada na crença de que os aspectos, físicos, biológicos e genéticos podem determinar comportamentos ações e agrupar indivíduos baseados nesses critérios. Ocorre que a ideia que orienta tal agrupação parte de normas e representações sociais que são demasiadamente arbitrárias. Muitas vezes alguém pode ser classificado como negro por uma característica física que não é usada para classificação em outros tempos e espaços.  Por exemplo, nos EUA a questão da ancestralidade é levada muito a sério a ponto de em muitos casos alguém ser considerado negro apenas por uma ascendência, embora tenha traços físicos pouco marcantes.  Já em outros locais, os traços físicos como cabelo, lábio e cor de pele possam ter maior relevância nesse sistema de classificação. Neste sentido, raça existe uma dimensão social e física e mediante essas imprecisões, cria-se noções distorcidas de certos grupos sociais.

Raça versus etnia

É importante salientar que raça é um conceito raso uma vez que há uma confusão entre aspectos físicos e culturais. Há séculos a Antropologia vem debatendo as classificações baseados nestes critérios, que se mostraram muito arbitrários e pouco representam as diversidades humanas. Como contraponto criou o conceito de etnia, que em termos gerais,  é a cultura com a qual os grupos humanos se identificam e se agrupam a partir das suas interações, costumes, crenças e valores. Portanto, etnia é um conceito puramente cultural.

Racismo reverso

A ideia de racismo reverso ganhou força no Brasil nos últimos anos como uma reação a política de cotas raciais. Para os criadores do “racismo reverso”, o racismo não ocorre apenas contra minorias raciais, ocorre sobretudo contra grupos étnicos situados nos centros de poder, como brancos. Segundo essas pessoas há uma similaridade entre preconceitos de brancos contra negros e negros contra brancos no país, o que tornaria como “vitimistas” os negros que reivindicam melhores oportunidades.

Pensando mais a fundo devemos pontuar que como o racismo hierarquiza as raças cria-se um modelo de raça ideal a partir do qual as demais noções de raças são valorativamente comparadas. Na maior parte das vezes os privilégios desses grupos situados no poder são camuflados. Pensando nesse drama do homem branco de classe média brasileiro, a turma do “não salvo” fez uma sátira com a música “negro drama” da banda racionais. Neste videoclipe, é possível ver todos os dramas vivenciados por um grupo étnico situado no centro do poder a partir da dimensão simbólica do campo racial no país.

 

Sobre o assunto, o comediante Aamer Rahman em seu stand up, faz uma série de reflexões sobre a relação a ideia de racismo reverso.

Considerações finais
A única forma de haver racismo reverso é se houvesse uma mudança radical na relação de poder entre brancos e negros a ponto dos negros tomarem o centro de poder. Neste ponto, os negros poderiam se assim desejassem subjugar os brancos da mesma forma que foram subjugados por eles. Neste caso específico haveria sim racismo reverso, uma vez que o racismo é estrutural. Ele tem dimensões culturais e econômicas e não é um mero apelido atribuído a alguém branco que seja capaz de tornar as formas dominação equivalentes. Racismo reverso é um conceito carregado da falácia da falsa simetria.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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