Tag: Eixo- Movimentos sociais/ cidadania/ democracia e políticas públicas

Eixo- Movimentos sociais/ cidadania/ democracia e políticas públicas

Em resumo, podemos entender a cidadania como toda prática que envolve reivindicação, interesse pela coletividade, organização de associações, luta pela qualidade de vida, seja na família, no bairro, no trabalho, ou na escola. Ela implica um aprendizado contínuo, uma mudança de conduta diante da sociedade de consumo que coloca o indivíduo como competidor pelos bens da produção capitalista.
 Mas é preciso não confundir a cidadania com as soluções individualistas estimuladas pelo próprio sistema de competição hoje vigente: ou seja, o indivíduo que prefere pagar por sua segurança em um condomínio fechado ou contratando “polícia” particular, não exigindo que o poder público forneça a segurança de ir e vir no espaço urbano, não está exercendo sua cidadania.

E um dos grandes problemas para o exercício da cidadania em nossa sociedade é exatamente o individualismo incentivado pela sociedade de consumo e pelo neoliberalismo. Ao nos preocuparmos apenas com nós mesmos, ao abandonar a defesa da coletividade, estamos enfraquecendo a cidadania em nosso país, assim como nossos próprios direitos

  • Accountability: em busca da limitação do poder dos nossos representantes políticos

    Accountability: em busca da limitação do poder dos nossos representantes políticos

    Accountability: controle social

    Para os que valorizam a “atividade de cidadão” sugerimos a leitura de um texto publicado originalmente no Portal 27.  Trata-se de um texto que evidencia a importância da Accountability, sobretudo a acoountability social.
     
     
    Por Cristiano Bodart

     

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    No sistema democrático, o voto não confere ao representante político um poder soberano. O voto é a ação de delegar a obrigação de exercer o poder em nome e benefício do povo (em latim, demo), recebendo em troca salário e status social.
    Dotado do poder atribuído, o representante político deve responder por seus atos, seja prestando conta, seja pagando por eles, quando realizados fora do plano inicial de representatividade coletiva e dos limites legais.
    Ao longo da História os teóricos da política discutiram diversas formas de limitar o poder, muitos dele apontando o modelo democrático como um frutífero caminho.
    No Brasil, a Democracia ainda é bastante jovem, se comparada com a democracia estadunidense e de outros países europeus. Com a crescente corrupção no seio de nossa Democracia, torna-se necessário aperfeiçoarmos as formas de limitação do poder de nossos representantes, assim como acompanhar suas ações. Nesse contexto a accountability torna-se cada vez mais necessária na gestão pública. Continue lendo o texto aqui
  • A hora e a vez dos movimentos sociais.  De longe ouve-se o brado: uní-vos!

    A hora e a vez dos movimentos sociais. De longe ouve-se o brado: uní-vos!

    Movimentos sociais

    A hora e a vez dos movimentos sociais. De longe ouve-se o brado: uní-vos!*

    A jovem tunisiana, Amina, é um exemplo [dentre muitos que existem] de que estamos vivenciando um momento de oportunidades de atuação dos movimentos sociais pós-materiais.
    Manifestações que eclodem pelo mundo indicam um processo de aprofundamento democrático e ampliação da liberdade de expressão em muitos países ocidentais; fato que vem influenciando o comportamento de muitos grupos no interior de países que ainda não desfrutam de tais condições.
    A jovem Amina, de 19 anos, postou, em sua página no Facebook, fotos com os seios de fora, tendo escrito 601540 139134759597274 819521915 nem seu corpo as frases: “Meu corpo pertence a mim e não é a fonte de honra de ninguém” e, “Foda-se a moral de vocês”. A repercussão se deu por ser ela da Tunísia, país em processo recente de democratização. Sua atitude trouxe à tona as dicotomias mudanças-permanências, democracia-ditadura, liberdade-opressão que marcam o processo de mudanças desencadeado pela “Primavera Árabe”. Com a “democratização” da Tunísia, a jovem é enquadrada em crime com pena de até 2 anos, mas parece que prevalecem as antigas posturas repressoras: o clérigo mulçumano condenou-a à morte; fato que pode reacender as cinzas da “Primavera Árabe”.
    Os ativistas em prol de demandas reprimidas vêm, de forma legítima, se aproveitando do cenário atual, propício para por em pauta temas que ontem eram tabus, mas que, hoje, a mídia tem dado visibilidade, tais como a igualdade de gênero e o casamento civil homoafetivo. O uso das mídias, sobretudo às sociais, tem sido um repertório de  ação eficiente, pois atuam junto à conscientização popular e fere à imagem de políticos contrários as reivindicações.
    Sexistas, preconceituosos e outros do gênero, se cuidem! Os ativistas estão se unindo por entender que a hora é agora. De longe ouve-se o brado: Uní-vos!
    Nota:
    *Esse texto foi originalmente publicado na Revista Sociologia, da editora escala, nº47. Retomo esse meu texto acreditando que vale a reflexão a respeito de um tema tão vivo. Segue:
     A imagem foi extraída no Facebook de Amina
    Cristiano das Neves Bodart é doutorando em Sociologia pela Universidade de São Paulo/USP e editor chefe do blog e da Revista Café com Sociologia [cafecomsociologia.com].
  • Música Classe Média – MAX Gonzaga

    Para uso em sala de aula, indicamos o vídeo sem o clipe, apenas com a letra. O clipe. pode retirar a atenção do educando na letra da música. O vídeo só com a letra disponibilizamos  aqui . Depois de analisado a música, recomendamos repassar o vídeo, agora na versão com o clipe.

    Segue um trecho letra:

    Classe Média
    (Max Gonzaga)
    Composição: Max Gonzaga

    Sou classe média
    Papagaio de todo telejornal
    Eu acredito
    Na imparcialidade da revista semanal
    Sou classe média
    Compro roupa e gasolina no cartão
    Odeio “coletivos”
    E vou de carro que comprei a prestação
    Para letra na íntegra clique aqui

    BREVE COMENTÁRIO

    Nessa música é possível identificar uma crítica ao comportamento da classe média quanto sua imparcialidade dos problemas que afetam a classe social de baixo status. É igualmente possível observar uma crítica à relação entre classe média e a  mídia.
  • Como na Revolução Francesa, brasileiros lutam para acabar com os privilégios da elite política do país*

    Como na Revolução Francesa, brasileiros lutam para acabar com os privilégios da elite política do país*

    Revolução “Francesa” no Brasil

    Por Fábio Cervone** 

    “Os governantes da democracia do Brasil estão perpetuando um comportamento aristocrático típico das monarquias europeias do passado”

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    Quando, no fim do século 18, a aristocracia francesa soube em seus suntuosos palácios que o povo nas ruas se rebelava porque não tinha o que comer, um dos membros da corte afirmou sem titubear: “Se não há pães, que comam brioches!”. Esta frase ficou famosa por denunciar a luxuosa realidade de fartura desfrutada pela nobreza do país. Além disso, o ato expôs a enorme distância existente na época entre governantes e governados.
    Ambos aspectos foram essenciais para a acelerar a mobilização popular que gerou a famosa Revolução Francesa. Não tão diferente do exemplo europeu, o legado histórico do Brasil também alimentou uma postura arrogante dos políticos nacionais em relação aos seus “súditos”.
    O principal motivo para o desencadeamento da crise política nacional está na conduta discriminatória, clientelista e aristocrática praticada há tempos pelas autoridades do país. No passado, a monarquia francesa ergueu castelos impressionantes, promoveu festas de

    gala e banquetes homéricos. Ela ainda estimulou uma refinada produção cultural e grandes aventuras militares. Mas, concentrada em seus jogos palacianos e na vaidade pessoal, a nobreza antes da revolução esqueceu do povo e da função coletiva do Estado. O desdém dos governantes brasileiros em relação aos desejos dos cidadãos e como eles foram surpreendidos pelas mobilizações atuais são dois fatos que os colocam na mesma condição de alienação e abuso sistemático do poder observados na França do século 18.

    Aqui, grande parte dos que conquistam um cargo público de relevância aproveita a condição para garantir os próprios benefícios e agir de forma abusiva para prevalecer seus interesses particulares, da mesma forma como ocorria nas antigas monarquias. Seguindo esta lógica arcaica, no Brasil políticos não são presos, distribuem regalias para parentes e amigos, exageram nos luxos, seus filhos não dependem de qualquer serviço do Estado, e se preocupam quase que exclusivamente com a dinâmica das alianças palacianas. De forma generalizada e alegórica, a democracia brasileira não está tão distante do autoritarismo aristocrata da França imperial.
    De nada adianta para uma sociedade elaborar uma Constituição que, teoricamente, promove a justiça, igualdade e liberdade, se os condutores do sistema possuem elevadores, helicópteros e choferes exclusivos, recebem direitos legais excepcionais, utilizam a função pública como instrumento egoísta e não se preocupam em representar a voz dos cidadãos. Numa democracia, a principal responsabilidade legal de um juiz, congressista, governador, ministro, gestor, chefes de Estado e de governo é servir como uma extensão legítima e profissional do interesse comum.
    Neste sentido, qual é a vantagem para os brasileiros ao testemunhar os aviões da FAB transportando autoridades e agregados para os jogos da Copa das Confederações? E por que poucas autoridades do poder público entenderam a insatisfação atual? Além disso, por que muitos dos governantes ainda não se sensibilizaram efetivamente com a onda de descontentamento e continuam se comportando como se nada estivesse ocorrendo nas ruas?
    A resposta é simples: do alto dos tamancos aristocráticos dos palácios, parlamentos, tribunais e demais instituições governamentais, só é possível ver e ouvir bajuladores, alianças estratégicas, recursos bilionários, luxos extraordinários e tentações maquiavélicas. Está na hora da classe política brasileira tomar um banho de humildade e enfim compreender que, na democracia moderna, a justiça, a igualdade e a liberdade são valores que valem invariavelmente para todos.
     * Texto originalmente publicado no portal R7
    ** Colunista do Portal R7 Notícias.
  • Breve reflexão entorno da lógica atuais protestos e contexto

    Breve reflexão entorno da lógica atuais protestos e contexto

     

    Por Cristiano Bodart
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    Cristiano Bodart em manifestação por demandas locais.
    Junho de 2013. Piúma/ES

    Existe uma “lógica” nos principais protestos que vivenciamos no Brasil? Reformulando a pergunta de forma mais precisa: “ existe(m) padrão(ões) de atuação nesses movimentos sociais? Tal indagação geralmente é a base para a reflexão sociológica entorno dessa temática. Tentarei introduzir, preliminarmente, uma reflexão a respeito.

     

    O sociólogo americano Sidney Tarrow, em seu livro “Power in Movement”, de 1998, apontou brilhantemente que “o que varia muito no tempo e no espaço são os níveis e tipos de oportunidades com que as pessoas se deparam, as restrições em sua liberdade de ação e a percepção de ameaças a seus interesses e ações”. A partir dessas premissas encontramos a “Teoria das Oportunidades Políticas”, cujo pilar está nessas variações apontadas por Tarrow.

     

    A “Teoria das Oportunidades Políticas” corrobora para compreendermos que os

    movimentos sociais afloram em contextos históricos propícios ao confronto político. No caso do Brasil, vive-se um momento de oportunidade política marcado por características construídas nos últimos anos, as quais são fundamentais para que os protestos ocorram e se multiplique. Apresento algumas das características que compõem o contexto de oportunidades: 1) maior liberdade de expressão, seja nas artes, nas ruas ou nas redes sociais; 2) maior acesso a informação, especialmente motivado pela ampliação do acesso a internet e ao sistema educacional, ainda que de qualidades duvidosas; 3) a “grande mídia”, embora ainda conservadora, colabora para a visibilidade dos movimentos, o que incentiva outros grupos; 4) maior tolerância do Estado em relação aos movimentos de protestos; 5) o desenvolvimento de protestos pacíficos.

     

     

    Essas características da realidade atual contribuem para que os movimentos surjam e se multipliquem. Não é a corrupção, os altos impostos, o valor da passagem, a falta de representatividade política e a desigualdade social que possibilitaram tais movimentos eclodirem e se manterem, mas as oportunidades políticas; haja visto que tais problemas já estavam postos.

     

    A lógica de atuação dos movimentos está ligada as oportunidades políticas atuais. Atualmente tais oportunidades abrem caminhos para a ações pacíficas e de cunho bastante coletivo. Ainda que grupos sejam afetados negativamente por tais protestos, o cenário é favorável à tolerância e ao discurso de “um mundo mais justo” e “uma política mais limpa”. Tal tolerância se limita à determinadas atuações, o que a literatura especializada chama de “repertórios de confronto político”.

     

    O conceito de “repertórios de confronto político” remete a um jogo que envolve tradição e inovação na definição da ação coletiva, uma vez que as ações de confrontos políticos representam o acúmulo de lutas passadas que são continuamente re-significadas no presente de acordo com as necessidades que os grupos julgarem existir. Há repertórios que são eficazes em determinados contextos de oportunidades políticas, outros não. O caso do conflito violento parece não ser “bem visto” atualmente no Brasil, nem mesmo pelos agentes dos movimentos sociais.

     

    Os repertórios têm se re-significados a partir de experiências passadas, especialmente das pacifistas e dos movimentos pós-materiais, tais como os movimentos contra o preconceito e em defesa do meio ambiente. Os movimentos pós-materiais anteriores tinham a capacidade de agregar indivíduos de classes sociais diferentes em uma mesma luta, porém quase sempre não se caracterizando como um embate com o Estado, tratando-se de ações de conscientização dos cidadãos. Esses movimentos criaram redes agora acionadas, utilizando-se do aprendizado em agregar indivíduos de diversas classes sociais.

     

    Grosso modo, os atuais movimentos sociais são marcados por repertórios forjados anteriormente, somados às condições atuais de mobilizações “permitidas” pelas oportunidades políticas, tais como passeatas pacíficas, uso de cartazes, faixas, pinturas nos corpos, palavras de ordem e bloqueios temporários de avenidas.

     

    Não sabemos até onde ou quando se dará esse ciclo de confronto, mas certamente estamos em um contexto que pode e deve ser aproveitado para que consigamos ganhos sociais e políticos substantivos, seja na esfera local, estadual ou federal.

     

  • Pátria de chuteiras e a escola que “democraticamente” as forma

    Pátria de chuteiras e a escola que “democraticamente” as forma

    Pátria de Chuteiras, escrito por Nelson Rodrigues em 1963, apresenta uma reflexão crítica sobre o futebol no Brasil e a relação do povo brasileiro com a seleção nacional. A obra aborda a ideia de que o futebol é uma espécie de “opio do povo”, que distrai a população dos problemas reais do país. Além disso, o livro também critica o nacionalismo exagerado que muitas vezes é associado ao futebol, levando a uma falsa ideia de união nacional. Em resumo, “Pátria de Chuteiras” chama a atenção para a importância de não se perder a noção crítica e racional diante do fervor patriótico em torno do futebol.
    Por Roniel Sampaio Silva
     
    pátria de chuteiras
    Ao contrário do que muitos pensavam, os brasileiros não sustentaram seu comodismo por muito tempo. Como podemos acompanhar nesse ano de 2013, empunhando bandeiras boa parte do país foi às ruaspara protestar, reivindicar novos rumos.  Um dos pontos centrais é a melhoria da educação. Se a educação precisa melhorar qual deveser a postura da escola?
    É quase unanimidade entre osprofessores que a educação precisa de uma revolução. A mídia, o governo e a classe política também insistem nisso. Muitas vezes a melhoria da educação se perdenos discursos, nas incoerências. Farei uma breve reflexão sobre uma das muitasleituras possíveis sobre isso.
    O que devemos fazer para melhoraro país como professores? Ensinar? Já estamos fazendo isso. Será que estamos ensinando para além das nossas matérias? Ou será que estamos ensinando por um lado e “desensinando” por outro? Ensinar para que? Se queremos um país melhor,estamos ensinando isso na prática?
    Nossas práticas têm limitaçõestanto como docente e como pessoa, fazemos parte de um grupo maior a que chamamosde escola. Essa escola é neutra politicamente? Em momentos de manifestações se espalhando portodo país, qual deve ser a postura da instituição? Fazer-se inerte e seguir asaulas “normalmente” como se nada tivesse acontecendo?
    Não existe neutralidade. Como diria Desmond Tutu, “O neutro já se decidiu pelo mais forte”. Nesse momento não somos os mais fortes e estamos muito longe de ser. Há uma parte ainda maisfraca: os alunos. Qual deve ser a postura da escola quando os alunos querem iràs manifestações? Ameaçar de suspensão para punir exemplarmente “os baderneiros”que estão querendo mudar um país cujos problemas tanto dizemos repudiar? Qualdeve ser a postura do professor? A de tolerância zero visto que as notasprecisam ser fechadas no prazo?
    Não estamos querendo que a escolaencampe o movimento e se comprometa em levar os alunos para rua em razão da granderesponsabilidade civil e criminal que isso pode acarretar. No entanto, é validoa escola criar meios de enclausurar os alunos nos seus muros enquanto estesbuscam a liberdade de mudar a realidade que nossa geração não conseguiu mudar? “Aatividade não estava no calendário e por isso não foi planejada…” Algumintelectual ou oráculo previu as diversas manifestações que estão tomando contado país?
    Paradoxalmente, quando sentimos quenossa classe é desvalorizada,algumas vezes nos mobilizamos, fazemos greves e osalunos não tem outra escolha além de acatar nosso ponto de vista. Apenas osprofessores têm autoridade para falar de democracia? Temos respaldo moral pralutar por uma educação melhor se continuarmos democráticos nos discursos e senas nossas práticas buscamos sufocar a democracia para nossos alunos? A vontadedos alunos de partirem pras ruas e lutar por uma educação de qualidade não fazparte da nossa causa?

    A escola que não criou meios depropiciar que os alunos pudessem ir ou não às manifestações, encarcerando osestudantes nos seus muros, na semana seguinte libera os mesmos alunos eprofessores para que estes apreciem o patriotismo superficial dos campos defutebol, desacreditando o verdadeiro patriotismo presente nas ruas e dizendoque um jogador de futebol mais vale que um professor.

    Em setembro os mesmos alunos serão obrigados a desfilar nas ruas com honras militares valendo ponto na pátria de chuteiras…

    Ponto para o Brasil! Viva o patriotismo!

  • Democracia: direitos individuais x direitos sociais

    Democracia: direitos individuais x direitos sociais

     Democracia e Direito

     

    direito e sociologia
    Por Roniel Sampaio Silva
    A democracia está intimamente relacionada com o direito. Não existe democracia sem a garantia básica de direitos individuais, sociais e políticos. Não há como se discutir democracia sem discutir a relação entre direitos, sobretudo, a relação entre confronto de direito sociais e individuais. Vale mais o direito individual de ir e vir ou o direito social dos movimentos sociais de manifestação política? Assim farei uma breve discussão sociológica sobre isso.

     

    Em primeiro lugar é preciso fazer uma breve conceituação dos tipos de direitos na perspectiva de Thomas Humprey Marshall: 1- direito individual é o que você tem como indivíduo -a vida, a propriedade e a inviabilidade da casa e a se defender perante à justiça. 2- direitos sociais, são os que você tem como ser social: educação, saúde, transporte, moradia e etc. 3- direitos políticos, naturalmente, dizem respeito ao exercício político -votar, ser votado e reivindicar.

     

    Há de se convir que não existe direito ilimitado ou absoluto. Todo direito é relativo ou contextualizado na medida em que o que é direito de um passa a ser dever de outro. Mesmo os direitos individuais mais básicos como a vida, são relativizados. Por exemplo, quando determinada pessoa ameaça a vida de outros ele pode ter sua vida subtraída para garantir que outras vidas sejam poupadas.

     

    Assim os direitos são confrontados. O direito à vida da pessoa que está disposta a tirar a vida de outras não se sobrepõe ao direito dos ameaçados em viver. Eis um exemplo de confronto do direito individual à vida de um eventual psicopata com o também direito à vida das demais pessoas.

     

    ativismo e direito
    Quanto há confronto de direitos fica patente que a justiça precisa avaliar o confronto de direitos para garantir a democracia. Nesse balanço o direito individual parece está num patamar superior ao dos direitos coletivos na perspectiva de resistência aos movimentos sociais. Para fins de melhor entendimento vou ilustrar isso com duas situações.

     

    A primeira diz respeito à sinalização da justiça de que o teste do bafômetro não pode ser compulsório sob alegação de que ninguém pode constituir prova contra si mesmo. Ou seja, vale mais o seu direito individual do que o direito coletivo das demais pessoas.

     

    A segunda diz respeito ao direito de manifestação política que é combatido quase sempre violentamente pelas autoridades sob a alegação de que tais multidões atrapalham o trânsito. Nesse caso também fica evidente que mais vale o direito individual de ir e vir de um motorista em particular, vale mais do que qualquer direito político de reivindicar por direitos sociais tais como educação, saúde, segurança pública. Ou ainda para exigir a punição de corruptos. De onde pode ter vindo essa disparidade descomunal entre a relação de direitos individuais e sociais?Isso pode ter se dado pela junção de dois fatores importantes.

     

    O Primeiro, num país como o nosso, nem todos têm acesso a justiça, seja porque não têm educação adequada,ou porque não têm capital para constituir advogado.O que revela que sequer temos direito individual de maneira satisfatória, exceto um grupo seleto e privilegiado da sociedade. Segundo, e por extensão, é que há uma forte tendência em pender a análise do direito uma perspectiva que privilegia o direito individual.

     

    Na Inglaterra houve uma preocupação tão demasiada com a garantia dos direitos individuais para inibir a ação de um Estado violento que a grande preocupação se deu em torno dos direitos individuais, o qual constituiu a base do Estado Liberal.  Em seguida, direitos sociais e por fim, direitos políticos.

     

    No Brasil essa configuração, segundo José Murilo de Carvalho se deu de maneira diferenciada atropelada uma vez que os direitos coletivos foram uma das últimas preocupações do estado. Nesse sentido, o direito coletivo ficou sempre aquém das políticas públicas e o direito individual ficou num patamar sacralizado.

     

    Nosso país não está preparado para grandes movimentos populares. Na verdade nunca esteve. Existe uma fobia social à movimentos sociais que é incitada pela grande mídia, a qual cria um antagonismo entre polícia e manifestantes, muitas vezes na inversão ridícula de que apenas os policiais são trabalhadores.É nessa hora que a mídia utiliza duas estratégias básicas para tentar diluir os movimentos que podem via a ameaçar seus interesses.Primeiro tentam questionar a legalidade do movimento colocando o direito individual de ir e vir como superior aos direitos sociais e políticos. “Isso é contra a lei!” Daí as autoridades convocam a política, para que a democracia brasileira prime pelo seu patamar maior: o direito individual absoluto. Nesse sentido, muitos juízes parecem compactuar com essa interpretação quando indiciam manifestante com base nessa interpretação.

     

    A segunda estratégia diz respeito a questionar a legitimidade. “Não é isso que o povo quer!” Daí tentam de todos os artifícios descredibilizar a adesão popular do movimento, alegando que se tratam de conspiração política eleitoral e usam os mais vis adjetivos para desqualificar manifestantes.

     

    A inversão midiática enfatiza o alvoroço temporário da manifestação como ameaça ao direito individual. Ocorre que as autoridades aliadas à grandes empresas e através do Estado criam mecanismos que atrapalham seu direito de ir e vir permanentemente, silenciosamente, a longo prazo. Ou seja, se os movimentos sociais atrapalham seu direito individual provisoriamente em favor de um direito coletivo permanente, a violência estatal burocrática legal atrapalham seu direito individual permanentemente.

     

    O argumentação legal costuma se basear na ordem. Ordem para quem? E até quando? O transtorno é passageiro, mas o beneficio é a longo prazo. O direito de se deslocar-se de carro na avenida é individual e restrito e é atrapalhado
    provisoriamente. Porém o direito de ter um transporte coletivo de qualidade é coletivo e melhorado permanentemente. Não melhora-se apenas o deslocar-se espacialmente, melhora-se o deslocar-se utilizando-se da democracia.

     

     

    Ocorre que nas discussões de hoje a balança acaba pesando para a individualização de uma sociedade que clama por demandas coletivas. Se o patamar das demandas individuais foram sempre engrandecidos, as demandas populares serão sempre suplantadas para garantir os direitos individuais, não de todos, não de uma minoria, legitimando uma pirâmide cruel de desigualdades, econômicas, sociais e políticas. Tá na hora do STF resolver esse impasse jurídico, não acha? Antes que nossos direitos políticos virem terrorismo.
  • A Caminho da Copa [documentário]

    A Caminho da Copa [documentário]

    A Caminho da Copa é um documentário que trata dos impactos dos grandes eventos, como a Copa do Mundo. O documentário conta com a participação de grandes pesquisadores da área de planejamento regional, tais como Raquel Rolinik e Carlos Vainer.
    Contexto

    Em 2014, o Brasil sediou a Copa do Mundo de Futebol. O evento foi visto como uma oportunidade para o país mostrar sua infraestrutura e potencial econômico para o mundo. No entanto, também desencadeou uma série de protestos e movimentos anticopa em todo o país.

    Os manifestantes argumentavam que o dinheiro gasto na Copa do Mundo deveria ser direcionado para áreas mais importantes, como saúde, educação e infraestrutura. Eles apontavam que os gastos com a construção de estádios e outras instalações esportivas eram excessivos e desnecessários, enquanto o país ainda enfrentava muitos desafios sociais e econômicos.

    Alguns dos principais movimentos anticopa incluíam o Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, que organizou protestos e mobilizações em todo o país. O grupo alegava que a Copa do Mundo estava sendo usada como uma forma de justificar gastos públicos excessivos e desviar recursos de áreas mais importantes.

    Outro grupo importante foi o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que organizou protestos em torno de questões de habitação e direito à moradia. Eles argumentaram que o dinheiro gasto com a Copa do Mundo deveria ser usado para melhorar as condições de moradia para as pessoas de baixa renda.

    O movimento anticopa também incluiu protestos contra a remoção de comunidades e pessoas de suas casas para dar lugar à construção de estádios e outras instalações esportivas. Os manifestantes afirmavam que essas remoções eram injustas e violavam os direitos das pessoas.

    Os protestos e movimentos anticopa atraíram a atenção do mundo inteiro, mas também foram marcados por confrontos com a polícia e a violência. Em alguns casos, houve atos de vandalismo e saques, o que levou a uma resposta mais dura por parte das autoridades.

    Embora o evento tenha sido realizado e tenha sido um sucesso em termos de organização, os movimentos anticopa tiveram um impacto significativo na opinião pública e nas políticas do país. Eles ajudaram a trazer à tona questões importantes sobre a distribuição de recursos e a responsabilidade social dos governos e empresas.

    Além disso, os movimentos anticopa ajudaram a impulsionar a discussão sobre o papel do esporte na sociedade e na economia. Eles mostraram que o esporte pode ser usado como uma forma de unir as pessoas e promover valores positivos, mas também pode ser uma ferramenta para justificar gastos excessivos e desviar recursos de áreas mais importantes.

    Em resumo, os movimentos anticopa no Brasil em 2014 foram uma resposta à desigualdade e injustiça social que muitos sentiam que o evento estava perpetuando. Embora tenham sido marcados por confrontos e violência, eles ajudaram a trazer à tona questões importantes sobre a responsabilidade social e a distribuição de recursos em um país ainda marcado pela desigualdade e pobreza.

    O documentário “A Caminho da Copa”, desenvolvido pelo Ponto de Mídia Livre Pólis Digital, aborda a diversidade de opiniões a respeito dos impactos, positivos e negativos, da preparação dos megaeventos no cotidiano das principais cidades brasileiras. Raquel Rolnik, Carlos Vainer, Juca Kfouri, Toni Sando, Vicente Cândido e moradores de São Paulo e Rio de Janeiro atingidos por obras urbanas ligadas aos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas são entrevistados no filme.

    O documentário “A Caminho da Copa”, desenvolvido pelo Ponto de Mídia Livre Pólis Digital, aborda a diversidade de opiniões a respeito dos impactos, positivos e negativos, da preparação dos megaeventos no cotidiano das principais cidades brasileiras.

    Raquel Rolnik, Carlos Vainer, Juca Kfouri, Toni Sando, Vicente Cândido e moradores de São Paulo e Rio de Janeiro atingidos por obras urbanas ligadas aos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas são entrevistados no filme.

     

  • Desabafo de um baderneiro: preocupado e confuso

    Desabafo de um baderneiro: preocupado e confuso

    Por Cristiano Bodart (ironizando coisa séria)
    aaaaa
    Serei bem breve, questão de tempo, preso sem ao menos ter direito de saber qual ouquais os motivos. Processado sem saber o motivo do crime, tal qual umpersonagem kafkiano (personagemdo livro “O Processo” que é preso sem saber o porquê). Apenas sei que estárelacionado à ação criminosa de se fazer protesto em busca de um país melhor.
    O encarceramento será menos problemático do que a dúvida do(s) motivo(s) de minhaprisão. Estou em situação semelhante a uma mulher que engravidou após terrelação sexual com um grande grupo de homens, só que no meu caso envolvemvários “crimes”.Aproveitareios momentos só, em uma cela qualquer, para mergulhar, em mim mesmo, na busca deuma resposta. Não será fácil, haja visto que os “crimes” cometidos por mim sãoinúmeros.
    Resta-me saber por qual deles serei apreendido, agredido e humilhado. Por ora, farei uma lista das ilegalidades as quais cometi e ando cometendo essasemana. Assim, na cadeia ou dentro do camburão, terei elementos iniciais para descobrir qual ou quais os motivos justos de minha detenção. Caso você, leitor,tenha um dica, por favor, me conte. Me ajude a identificar o motivo pelo qual serei em breve preso. Vou procurar na memória, tentando reconstituir a ordemdos fatos para saber onde eu errei:Primeiro,permaneci ilegalmente sentado na avenida paulista em protesto ao aumento das passagens enquanto a polícia me retirava com chutes;Depois,ofereci ironicamente flores aos policiais que me lançavam bombas lacrimogênias;Usei máscaras para me proteger do gás lacrimogênio;Em seguida, fui pego portando a substância ilegal chamada vinagre que parece ser usada em bombas de destruição em massa;Filmei,sem permissão escrita, o protesto, até que um policial no exercício de sua função me bateu com seu porrete corrigindo-me.Confessei publicamente, via megafone, que sou contrário aos lucros das empresas que detêmc oncessão para explorar o transporte público.
    Aqui fui traiçoeiro com o sistemaque impera;Gritei “sem violência”, desacatando com isso os policiais;Tentei ajudar os demais criminosos feridos pela polícia, inclusive um senhor de 74 anos possivelmente tão perigoso quanto eu;Escreviem meu corpo que sou contrário a violência;Portei ilegalmente cartaz com frases que faziam apologia a paz;Fiz apologia a um mundo mais justo;Gritei que a polícia não sabe qual o seu papel. Nesse ponto rompi com toda anormalidade desejável.[…]Vouparar por aqui, pois podem dobrar minha pena por publicar ações de segurançanacional que estão em segredo de justiça. Ou, quem sabe, me bater ainda maisforte, se é que isso é possível.
  • Contenção aos movimentos sociais: da ordem imediata à desordem de/à longo prazo.

    Por Roniel Sampaio
    Silva
    Um dos grandes legados ideológicos
    do Brasil é o positivismo. Prova disso é nosso lema comteano “Ordem e
    progresso” na bandeira nacional. Até hoje essa filosofia é muito forte e vem
    sendo transmitida como um dos grandes pilares da nossa sociedade como valor moral
    sacramentado que é constantemente profanado. Todavia, o que se constata é que a
    ordem e o
    progresso são direcionados apenas ao que se convém, perdendo-se nos
    discursos.
    Estamos acompanhando o processo
    de fermentação de duas grandes situações emblemáticas vivida pelo nosso país,
    cheio de contradições. A primeira diz respeito ao conflito envolvendo fazendeiros
    e índios
    Terena
    , a segunda envolve os protestos populares pela melhoria do acesso
    aos transportes
    públicos
    . Pretendo fazer uma análise preliminar a

    partir do positivismo, avaliando
    as contradições dos discursos para além do “Ordem e progresso.”

    Quando os índios são expulsos de
    suas terras as quais têm seu vínculo comprovado, tal barárie se
    diz em nome do progresso.  Sabe por quê?
    Porque “os índios são improdutivos, não plantam soja transgênica, eles não
    produzem nem pra sobreviver”, diria o assíduo receptor passivo de telejornal.
    Não produzem nada além de uma cultura retrograda que respeita idosos e
    crianças. Coisa que não precisamos aprender.
    Quando ativistas em prol da
    redução da tarifa pública vão para as ruas, se ouve “Ordem! Ordem! Ordem! Nesse
    pais de baderneiros”. Ordem para quem? Para os políticos nos seus complôs de
    gabinete vandalizarem com o nosso dinheiro e com uma política que diz respeito
    a nós? Quem são os
    baderneiros e vândalos?
    Como diria o Prof Dr Valdemar Pires, em sua página
    no Facebook, “Vamos fazer um acordo: manifestação sem baderna a troco de
    informação sem manipulação e política sem safadeza. Quem conseguir primeiro, avisa
    o outro para o jogo começar”…
    Baderna se combate com que? Com
    política? Não, com polícia. Podemos pensar que a polícia combate
    o sintoma, a manifestação popular, mas não a doença, isso porque o positivismo
    míope não percebe a doença. Muitos setores conservadores visualizam o movimento
    social como baderna. Numa instancia pontual e não como processo que com
    deflagra esses movimentos.
    Mas afinal o que é dersordem se
    não o fato de um trabalhador comprometer sua renda para locomover-se em favor
    de um grupo que tem ganância por lucros. Os reajustes são constantes e não se
    discute um transporte mais acessível. Seria, esses ajustes, parte dos acordos com
    quem financiou as campanhas eleitorais? A resposta é obvia!
    Daí vem a polícia para combater a
    ordem imediatista, quando a ordem a longo prazo se faz com política.