indivíduo e sociedade: Introdução às duas principais dimensões sociologia

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Indivíduo e Socidade: noções premilimares

Qual dos dois tem maior relevância na análise sociológica? A maioria das pessoas pensa em sociologia como a ciência da sociedade. Podemos pensar esse conceito de sociologia como uma noção inicial e provisória. A partir disso, podemos pensar também em sociedade como um conjunto de pessoas com normas, costumes, valores e símbolos compartilhados os quais definem papéis e status dos seus indivíduos.

Por Roniel Sampaio Silva

Para fazer uma análise sociológica temos que levar em conta duas dimensões.Indivíduo e sociedade.  Como anteriormente dito, a sociedade é um conjunto de indivíduos que compartilham de muitos aspectos comuns aos indivíduos. E o indivíduo, por sua vez é a unidade básica da sociedade.

Como a sociologia tende a compreender os fenômenos sociais de maneira ampla, a sociedade ganha uma atenção maior dos sociólogos, no entanto, o indivíduo e suas vontades, interesses e desejos não são descartados da “equação” de compreensão da dinâmica social. Tanto a biografia do indivíduo ajuda a construir os padrões da estrutura social como a estrutura social ajuda a moldar a personalidade do indivíduo na sua mais pura particularidade uma vez que a sociedade tem expectativas em relação ao papel que cada um deve tomar além de ofertar condições materiais diferentes para os indivíduos, o que inevitavelmente mudam suas condições de escolha. Os padrões e expectativas de comportamento estão relacionados entre si. Quando os padrões de comportamento tende a não ser respeitados a sociedade ativa vários mecanismos de reforço positivo ou negativo que influenciam o comportamento dos indivíduos.
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indivíduo e sociedade: podcast

Durante muito tempo os sociólogos se perguntaram em que medida é a influência da sociedade e dos indivíduos nas
ações e decisões humanas orientadas por outros seres humanos. Até hoje  o debate continua forte e muitas perspectivas teóricas se consolidaram a partir desse debate.
Há autores que pensam na primazia do individuo sobre a sociedade  (tradição weberiana), há os que pensam na primazia da sociedade sobre o indivíduo  (tradição durkheimiana) e nos que pensam como uma relação recíproca  (tradição pós-estruturalista).
Sabe-se hoje que  não podemos desprezar nenhuma dessas duas formas de pensar essas relações e buscarmos evitar os extremos. Um modelo de explicação que os indivíduos não tenham nenhuma responsabilidade sob suas ações é tão surreal quanto um modelo de explicação em que o individuo é o único responsável pelas tramas sociais.
Temos que perceber também que as teorias são como lentes de uma câmera. Se você for fotografar objetos muito próximos (indivíduos) você vai precisar usar teorias que ajudem a focalizar melhor os detalhes que uma lente para longe (sociedade) não vai conseguir. O seu objeto de estudo é quem vai ajudar a escolher a melhor abordagem.

Indivíduo e sociedade: uma relação dialética

A compreensão de indivíduo e sociedade tem sido, ao longo do tempo, uma das questões centrais no campo das Ciências Sociais. A complexidade dessa relação exige um olhar que vá além das abordagens dicotômicas que, tradicionalmente, opõem indivíduo e sociedade como entidades independentes. Ao contrário do que apontam concepções liberais ou essencialistas, é preciso apreender a dinâmica que torna o indivíduo um produto e, simultaneamente, um produtor das relações sociais que o constituem. Trata-se, portanto, de uma relação dialética, na qual a individualidade e a coletividade não se opõem, mas se entrelaçam em um processo de mútua constituição.

No artigo “Da relação indivíduo e sociedade”, Resende (2007) parte de uma crítica à tendência contemporânea de separar essas duas dimensões como se fossem realidades distintas e autônomas. Em vez disso, defende a compreensão da relação como uma trama complexa, repleta de tensões e contradições, mas também de possibilidades de construção histórica. A autora se apoia especialmente nas contribuições de Karl Marx e Sigmund Freud para evidenciar que o indivíduo não pode ser compreendido fora das condições sociais, econômicas e culturais que o moldam, assim como a sociedade não existe senão por meio das práticas e experiências dos indivíduos que a compõem.

No pensamento moderno, especialmente após a consolidação do liberalismo, difundiu-se a imagem de um indivíduo autônomo, racional, livre e naturalmente isolado. Essa concepção, no entanto, atende aos interesses da lógica capitalista, conforme destacam Horkheimer e Adorno (1973). Para esses autores, a forma do indivíduo burguês, aparentemente livre e autossuficiente, é, na verdade, a forma que melhor se ajusta à mediação mercantil das relações sociais. A liberdade individual, nesse sentido, é funcional ao sistema, pois permite que o sujeito se apresente no mercado como uma mercadoria, como força de trabalho disponível.

Nesse contexto, o conceito de indivíduo se converte em uma abstração ideológica. Em vez de reconhecer a historicidade e a interdependência que moldam a subjetividade humana, propaga-se uma ideia de essência individual que encobre as determinações sociais. Marx (1978) já denunciava esse processo ao afirmar que os filósofos iluministas do século XVIII projetavam um ideal de homem natural, como se fosse um ponto de partida da história, e não o resultado de condições históricas específicas, especialmente da decomposição das formas feudais e da ascensão do modo de produção capitalista.

A crítica marxista à ideia de indivíduo e sociedade isolado é fundamental para se compreender a gênese da sociabilidade humana. Nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, Marx (1984) afirma de forma categórica: “o indivíduo é o ser social”. Essa frase sintetiza uma concepção ontológica segundo a qual a individualidade humana se constitui apenas na e pela relação com os outros e com a realidade objetiva. A vida individual é uma expressão particular da vida genérica, ou seja, da coletividade. A sociedade, por sua vez, é a síntese dos modos particulares de existência, das expressões múltiplas da individualidade.

Ao considerar o trabalho como mediação entre o homem e a natureza, Marx (1983) introduz uma das categorias fundamentais para a análise da relação entre indivíduo e sociedade. O trabalho não é apenas uma atividade técnica ou produtiva, mas o processo pelo qual o homem transforma a natureza e, nesse mesmo ato, transforma a si próprio. Trata-se de uma objetivação: o ser humano exterioriza suas capacidades subjetivas e, ao fazê-lo, constitui a realidade social e se constitui como sujeito histórico. O trabalho, portanto, é a chave para a compreensão do processo de humanização.

Essa perspectiva materialista-histórica afasta-se radicalmente da ideia de uma natureza humana dada a priori. O ser humano não nasce pronto, mas se faz no processo de sua interação com o mundo. A educação dos sentidos, a formação da consciência, o desenvolvimento da linguagem, da afetividade e da moralidade são produtos da atividade prática em condições concretas. Como indicam Marx e Engels (1991), os indivíduos produzem sua existência ao mesmo tempo em que são produzidos pelas relações sociais que estabelecem entre si.

Freud, embora tenha partido de outro paradigma teórico — a psicanálise — também contribui de maneira significativa para desmontar a ideia de um indivíduo isolado. Em “Psicologia das massas e análise do eu”, Freud ([1921] 1981) afirma que a psicologia individual é, desde o início, psicologia social. Isso porque o outro está sempre presente na constituição do psiquismo. O sujeito se constitui a partir da identificação com figuras externas, que lhe servem como modelo, objeto de desejo, adversário ou espelho. A identidade é, portanto, resultado de um processo intersubjetivo, no qual a alteridade ocupa lugar central.

A noção freudiana de identificação revela que o ego não é uma entidade autônoma, mas uma construção contínua mediada pela relação com o outro. Desejar ser como o outro é tão constitutivo da subjetividade quanto desejar algo do outro. Essa abertura à realidade externa implica reconhecer que os elementos da cultura, das instituições e das normas sociais participam ativamente da formação do sujeito. Como observa Mezan (1985), a identificação é uma operação de assimilação de traços externos, que transforma o próprio eu.

A psicanálise, ao sondar a vida psíquica mais íntima do indivíduo, desvela as estruturas sociais que ali se inscrevem. É por isso que Adorno (1986) considera Freud um pensador da cultura. Sua análise das neuroses, dos sintomas e dos mecanismos inconscientes revela os impasses da civilização, os conflitos entre pulsão e repressão, entre desejo e norma. Ao deter-se com obstinação no interior do sujeito, Freud acabou por iluminar as engrenagens sociais que operam sobre ele.

Portanto, tanto Marx quanto Freud apontam para uma superação da dicotomia entre indivíduo e sociedade. Suas abordagens, embora distintas, convergem na crítica ao individualismo burguês e na afirmação da constituição relacional do sujeito. Enquanto Marx enfatiza as determinações materiais e históricas, Freud evidencia os mecanismos psíquicos que operam na relação com o outro. Ambos recusam a ideia de um sujeito isolado e natural, oferecendo em seu lugar uma concepção dinâmica, histórica e social da subjetividade.

Roniel Sampaio Silva

Doutorando em Educação, Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais e Pedagogia. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Teresina Zona Sul.

8 Comments

  1. Olá, gostei muito da matéria estudo sobre a compreensão dos fenômenos sociais em relação com as estruturas sociais, em especifico como estas podem influenciar a criatividade.Interessante quando cita sobre o reforço positivo ou negativo, em minha pesquisa sobre uma estrutura emergente que desenvolvi para educação a ideia do reforço citada na matéria intensifica minha hipótese de que a criatividade pode ser otimizada nos processos educativos do planejamento a prática com uma estrutura emergente que em sua base tem um sistema de retroalimentação. Esta reciproca cocriação entre o sujeito e a estrutura e a estrutura e o sujeito, quando consciente desta interação faço a escolha mudar a estrutura ou meu comportamento em relação a ela.

  2. Tenho pensado ultimamente que o indivíduo é portador da sociedade na qual se formou. Valores, saberes, costumes, ideologia política, religião, orientações e objetivos, tudo o que forma uma pessoa vem da sociedade em que ela vive. A pessoa humana isolada é uma ficção.

  3. Muito bom refletir sobre o indivíduo-sociedade. Acredito que a estrutura pode influenciar muito no comportamento do indivíduo na sociedade. Já o papo de “meritocracia” jamais pode ser visto como uma verdade pela sociedade. “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”.

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