O que é modernidade?

conceito de modernidade

Qual o Conceito de modernidade?

O que é Modernidade?[1]

Por Ana Lucia Martins

o que é modernidade
Ana Lucia Martins é socióloga, professora Associada do Departamento de História da UFRRJ/IM.

Quando falamos em Modernidade nos referimos a uma forma de organização social que surgiu a partir do século XVIII no Ocidente cuja influência teve alcance mundial (GIDDENS, 1991). O conceito de Modernidade está associado a transformações nas instituições políticas, econômicas e na vida cotidiana derivadas de revoluções políticas e econômicas, como por exemplo a Revolução Francesa e a Revolução Industrial Inglesa que marcou o desenvolvimento do capitalismo (MARTINS, 2021). O capitalismo criou um novo modo de vida que produziu mudanças profundas no trabalho, nas cidades, na vida rural, na relação sociedade e natureza, no consumo de mercadorias, nas subjetividades humanas e distinguiu a vida social moderna da vida social de outras culturas consideradas tradicionais, antigas.

Qual o conceito de Modernidade? A realidade da vida moderna mudou a visão de progresso permanente que dominou no século XIX o conceito de modernidade. A razão, a tecnologia, a ciência, o Estado eficiente e um capitalismo produtivo deram lugar a críticas e desencantos interpretadas por sociólogos clássicos. Karl Marx faz um diagnóstico do capitalismo moderno como uma engrenagem que transforma a maioria das pessoas em peças dependentes e exploradas do mecanismo econômico. Durkheim remete à ausência de regras, normas e valores culturais o que produz instabilidade e falta de integração social. Max Weber associa a racionalização que caracteriza as organizações burocráticas da vida moderna como uma forma de controle que aprisiona os indivíduos. Simmel fala da intensificação dos estímulos nervosos que o indivíduo da modernidade experimenta com a multiplicidade da vida econômica, ocupacional, social e do aumento da intelectualidade para se inserir na vida moderna.

Qual o conceito de modernidade? As experiências e as consequências positivas e negativas da modernidade ao final do século XX geram visões teóricas distintas. Uma mais otimista, que entende que a modernidade vai evoluir em direção a formas mais maduras e aperfeiçoadas, tecnológicas (high tech), com aquisição de conhecimento e educação permanente através de formas diversas, e outras críticas, baseadas na destruição ecológica, como os impactos das mudanças climáticas, os riscos financeiros, o ritmo das cidades, os conflitos, as desigualdades sociais cada vez mais extremas.

Se olharmos para nossa vida cotidiana percebemos mudanças constantes, efeitos do alcance da modernidade. Por exemplo, o uso das tecnologias que permite novos tipos de vínculos sociais e sociabilidades quando os smartphones e as redes sociais criadas pela internet se disseminam como meios e formas de comunicação, principalmente entre a juventude; modos de consumir por meio de compras de forma on-line; transformações no trabalho com o surgimento do home office; o fenômeno da globalização; a exclusão do acesso às tecnologias digitais. Essas mudanças estariam transformando o mundo contemporâneo para um novo e perturbador universo de experiências (SZTOMPKA, 1998) e novas conceituações são apresentadas: “alta modernidade”, “pós-modernidade”, “modernidade líquida”, “hipermodernidade” que definiriam uma descontinuidade nas características da modernidade ou uma nova forma de organização social.

Conceito de modernidade: O impacto da Modernidade na construção das identidades sociais

Ao compreendermos a Modernidade como uma ruptura histórica com estruturas tradicionais, é essencial observar como essa transformação moldou as identidades sociais contemporâneas. As instituições modernas — como o Estado-nação, a escola, o mercado de trabalho assalariado e a família nuclear — tornaram-se pilares da constituição do sujeito moderno. A individualidade, antes diluída nas relações comunitárias tradicionais, passou a ser valorizada como um atributo fundamental da cidadania e da vida social moderna. Esse processo, descrito por Giddens (1991), é marcado pela reflexividade: os indivíduos precisam constantemente reconstruir suas biografias pessoais diante das mudanças nas estruturas sociais.

As transformações na economia e no mundo do trabalho intensificaram ainda mais a redefinição dos papéis sociais. Com o avanço do capitalismo industrial e, posteriormente, do capitalismo global e digital, novas profissões, formas de produção e relações de trabalho emergiram, substituindo gradativamente o modelo artesanal e agrícola. A urbanização acelerada, por sua vez, tornou as cidades o epicentro das inovações sociais e culturais, mas também o espaço das desigualdades, exclusões e conflitos, como enfatiza Sennett (2006), ao abordar o impacto da vida urbana na coesão social e nas formas de pertencimento.

Nesse cenário, a identidade deixa de ser um dado fixo e passa a ser algo constantemente negociado. A multiplicidade de referências culturais disponíveis por meio da mídia, da internet e da globalização contribui para a fragmentação e a pluralização das identidades. A escola, por exemplo, deixa de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento para se tornar também um lugar de disputa simbólica e de construção de subjetividades. Nesse contexto, Bauman (2001) chama atenção para a fluidez das relações sociais e a incerteza que marca os tempos modernos, caracterizando-os como uma “modernidade líquida”, em que vínculos, normas e certezas se dissolvem com rapidez.

Portanto, refletir sobre a Modernidade é também refletir sobre os desafios de viver em uma sociedade em constante transformação, onde os sujeitos devem se reinventar para responder às novas exigências do mundo contemporâneo. Os conceitos de “alta modernidade”, “pós-modernidade” ou “hipermodernidade” surgem, justamente, como tentativas teóricas de dar conta dessa complexidade crescente, em que as estruturas do passado já não oferecem as respostas necessárias, e o futuro se apresenta incerto e ambíguo.

Referências Bibliográficas

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade, 2º ed. São Paulo: Editora da Universidade Estadual paulista (Unesp), 1991.

MARTINS, Ana Lucia. O que é Modernidade? In: BODART, Cristiano das Neves. (Org.). Conceitos e Categorias Fundamentais do ensino de Sociologia, vol. 2. Maceió: Editora Café com Sociologia. pp. 59-64.

SENNETT, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

SZTOMPKA, Piotr. Modernidade e Além da Modernidade. In: A Sociologia da Mudança Social. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1998. P.131-150.

Nota:

[1] Texto derivado de “O que é modernidade?”, publicado em “Conceitos e categorias do ensino de Sociologia, vol.2” (2021).

 

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Como citar este texto:

MARTINS, Ana Lucia. O que é Modernidade? Blog Café com Sociologia. mai. 2021. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/conceito-modernidade_texto_ensino_medio>. 

 

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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