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O ingresso nas Ciências Sociais, uma analogia ao “Mito da Caverna”

Mito da Caverna

Por Glória Stefany Silva de Souza

Não encontrei melhor forma de falar sobre minha experiência em vivenciar as Ciências Sociais, senão equiparando-a com uma passagem do livro “A República”, escrito por Platão conhecida como: “Mito da caverna” ou “Alegoria da Caverna”.

Através do dialogo, Sócrates fala metaforicamente sobre a descoberta do conhecimento. Descoberta que só foi possível após um dos prisioneiros escapar das amarras e ter contato com o mundo real. Em primeiro contato com o novo, o prisioneiro se assusta, demora a se adaptar a luz do sol, uma vez que antes vivia na escuridão da caverna onde sua realidade era apenas projeções distorcidas das sombras do que se passava lá fora, sendo essas sombras nada menos que a única verdade cabível no interior da caverna, seria a verdade absoluta. Agora, ele já liberto enxerga um mundo novo; pessoas, animais, plantas. Ele percebe a diversidade de coisas a descobrir.

Vivemos “acorrentados” a uma realidade em que somos apenas receptores de ideias e ideais ditos corretos. Prisioneiros das manobras esquematizadas e apresentadas com certa verossimilhança, somos manipulados ao receber conteúdos “crivados” que não deixam transparecer as informações legítimas. A omissão ao conhecimento é o que intriga as Ciências Sociais, pois antes de aderirem às ideias apresentadas, questionam o que de fato é, até chegar à legítima verdade e apoderando-se dela é possível sair do comodismo formando um novo pensamento, uma nova visão, logo, as Ciências Sociais tornam-se desconfortáveis ao trazerem à tona o real, e sobretudo causam incômodo ao compartilharem o conhecimento obtido. Mesmo com minha jornada ainda prematura nas Ciências Sociais, começo a ver o mundo sobre novas perspectivas. Em síntese, me instigo a pensar, “abrir os olhos” e enxergar além do que é posto como real e a buscar a verdadeira realidade, assim como o prisioneiro o fez. A possibilidade de reflexão e crítica faz com que as Ciências Sociais sejam vistas de maneira errônea e taxadas como sem utilidade. Induzir o homem a pensar não é “favorável” aos interesses políticos, assim sendo, as Ciências Sociais se deparam constantemente com a dificuldade em quebrar esses paradigmas.

Em uma sociedade onde existe uma vasta pluralidade cultural e o dobro em preconceitos, passo a me integrar não mais como mera receptora. O pensar me leva a de alguma forma refletir sobre o ser humano, suas vivências e a “habilidade” que temos de nos deixar influenciar. Em pormenores, me vejo com a obrigação ética de intervir e contribuir com o desenvolvimento social no meio em que vivo. A luz do sol assusta, pois nada se parece com o antes. Quanto mais abro os olhos, mais percebo a diversidade de coisas a descobrir/conhecer.

Sobre a caverna: nem penso em voltar. Seria retrocesso.

 

 

Nota:

1 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Maranhão

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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