Para entender de uma vez o que é misoginia

O que é misoginia?

Por Cristiano das Neves Bodart

Misoginia é conceito recorrentemente usado. Contudo, nem todos sabem ao certo o seu significado. Um exemplo do desconhecimento do termo observamos na tentativa de Michelle Bolsonaro, esposa de Jair Bolsonaro, defender seu marido. Vejamos:

“Ele é taxado como misógino, né! E ele é casado com quem? Com uma filha de cearense” (Michelle Bolsonaro, 29 de out. 2018).

Nota-se que, para Michelle Bolsonaro, seu marido não poderia ser misógino uma vez que é casado com uma filha de cearense, como se houvesse alguma relação entre misoginia e preconceito aos nordestinos. Erro crasso detectado!

Misoginia envolve preconceito, contudo não aos nordestinos. Trata-se de repulsa, desprezo, ódio ou preconceito contra as mulheres. Etimologicamente, tal palavra” é derivada do grego misogynia​. Trata-se da união de miseó, que significa “ódio”, e gyné, que se traduz para “mulher”. No Cambridge Dictionary misoginia assim está definido:  […] crença de que os homens são muito melhores que as mulheres (Cambridge Dictionary Online, 2018).

Alguém que defende que as mulheres são inferiores moralmente ou intelectualmente aos homens é considerado misógino. A misoginia pode manifestar-se de várias maneiras, incluindo a violência (física e psicológica), a discriminação sexual, difamação motivada pelo gênero e objetificação sexual das mulheres. Os elevados índices de feminicídio tem relação direta com a misoginia. 

É importante destacar duas coisas: i) a misoginia é mais antiga do que a roda, embora o conceito tivesse aparecido pela primeira vez em 1656, no Oxford English Dictionary e; ii) as formas de manifestação da misoginia se transformaram, à medida que as sociedades humanas evoluíram, tornaram-se mais refinadas, sutis, o que não significa que são menos inadmissíveis. 

Um belo trabalho para entendermos como as mulheres são subjugadas na nossa sociedade é o livro “A dominação Masculina“, de Pierre Bourdieu. Nele o autor demonstra como a dominação dos homens sobre as mulheres se manifesta tanto de forma explicita, como sutil, muitas vezes imperceptível aos homens e às mulheres.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

6 Comments

  1. Sim, há textos e aforismos da Grécia antiga e de vários autores, escritores, dramaturgos, filósofos e até de poetas extremamente misóginos. Nossa cultura patriarcal é a fina pérola da misoginia, do falocentrismo e da cultura heteronormativa. Muito triste!!! É necessário detectar e desconstruir isto, para chegarmos a uma sociedade minimamente civilizada.

  2. Desde muito cedo eu aprendi que a mulher da pré-história detinha os mais variados conhecimentos e com eles ela orientava os homens para a caça; para o plantio e para a colheita. Aprendeu a preservar os alimentos e a usar ervas e pós como remédios. Pelos sintomas do seu próprio corpo, conheceu rudimentos da astronomia. Fases da Lua; estações do ano; posição do Sol etc, tudo para orientar seus guerreiros. Ela adorava a Deusa. Não havia um deus. Havia a Deusa e outros deuses subalternos à Deusa. Aí, veio um brutamontes e tirou tudo isso da mulher, criando um deus. Deu no que está aí. São poucas as crenças religiosas que admitem a mulher como igual ao homem. Temos que começar essa boa luta nas religiões. Gostaria de ver uma mulher no lugar de um padre; ou um bispo e, talvez como Papisa.

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