Pensar sociologicamente: contribuições de Z. Bauman e T. May
Por Cristiano das Neves Bodart
O livro “Aprendendo a Pensar com a Sociologia”, de Zygmunt Bauman e Tim May (originalmente publicado em 2001 e traduzido no Brasil em 2010), é daqueles que enquadro entre as leituras obrigatórias de alguém que deseja estudar a perspectiva sociológica, independente da área de interesse dentro dessa ciência. Trata-se de uma obra introdutória à análise dos fenômenos sociais.
“Dissemos que a sociologia pensa de forma relacional para nos situar em redes de relações sociais. Faz, assim, uma apologia do indivíduo, mas não do individualismo. Nesse sentido, pensar sociologicamente significa entender de um modo um pouco mais completo quem nos cerca, tanto em suas esperanças e desejos quanto em suas inquietações e preocupações” (BAUMAN; MAY, 2010, p.26).
“[…] Sabemos por nossas experiências que somos ‘o autor’ de nossas ações, e que o que fazemos é efeito de nossas intenções, muito embora os resultados possam não corresponder ao que pretendíamos. […] a única maneira que temos para conferir sentido ao mundo humano à nossa volta é sacar nossas ferramentas explicativas estritamente no interior de nossos próprios mundos da vida” (BAUMAN, MAY, 2010, p. 22).
“Tendemos a perceber tudo que acontece no mundo em geral como resultado da ação intenciona de alguém, que procuramos até encontrar, acreditando, então que nossas investigações tiveram êxito. Assumimos que a boa vontade está por trás dos eventos para os quais somos favoravelmente predispostos e que há más intenções por trás daqueles que nos desagradam. Em geral, as pessoas têm dificuldade em aceitar que uma situação não seja efeito de ações intencionais de alguém identificável” (BAUMAN; MAY, 2010, p.22-23).
“A sociologia se opõe tanto ao modelo que se funda na particularidade das visões de mundo,[…], quanto ao que usa formas inquestionáveis de compreensão, como se elas constituíssem um modo natural de explicação de eventos, como se eles pudessem ser simplesmente separados da mudança histórica ou das localidades sociais de que emergiram. […] a sociologia demonstra que a metáfora comum do indivíduo dotado de motivação como chave da compreensão do mundo humano – incluindo nossos próprios pensamentos e ações, minuciosamente pessoais e privados – não é caminho apropriado para nos entender e aos outros. Pensar sociologicamente é dar sentido à condição humana por meio de uma análise das numerosas teias de interdependência humana” (BAUMAN; MAY, 2010, p.22-23).
interdependência. Outro ponto chave apontado é a necessidade de olhar para o fenômeno em estudo com desfamiliaridade, quando for familiar e com alteridade
quando estranho ao pesquisador. Sobe esse ponto chave,
“Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação à diversidade, daí decorrendo sentidos afiados e olhos abertos para novos horizontes além das experiências imediatas, a fim de que possamos explorar condições humanas até então relativamente invisíveis” (BAUMAN; MAY, 2010, p.22-23).
que se sobrepõem aos indivíduos, indicando-os que a mudança social não é, ao contrário do que prega o senso comum, dependente exclusivamente das escolhas e
ações individuais, mas de uma mudança nas estruturas sociais. Tal percepção é uma ameaça ao status quo, por isso a Sociologia é vista pelos poderosos como uma ciência subversiva, o que explica sua ausência no currículo escolar durante regimes ditatoriais, como ocorreu no
Brasil.