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Texto para reflexão

Estes textos oferecem uma visão diferenciada e interessante sobre vários acontecimentos cuja análise pode ser feita por meio da sociologia.

A reflexão é um importante instrumento intelectual para fazer com que o indivíduo consiga perceber a relação entre as estruturas sociais e as biografias individuais.

Na Sociologia sempre esteve presente a discussão entre indivíduo e sociedade (agencia vs. estrutura), chegando ao ponto de estudiosos mais radicais, principalmente nas primeiras décadas do século XX, ignorar os estudos que tinham seu foco no
indivíduo. Simmel, por exemplo, foi um sociólogo renegado por anos por esse motivo.  Bauman e May nos ajudam a entender em quais condições o indivíduo é objeto da Sociologia. Para esses autores “atores individuais tornam-se objeto das observações de estudos sociológicos à medida que são considerados participantes de uma rede de interdependência .

Desse modo os textos para reflexão ensejam uma análise de como nós nos relacionamos com nossa estrutura e proporcionam um contraponto discurso do discurso dominante.

  • Aceite inimigos no Facebook

    Aceite inimigos no Facebook

    facebook2

    Buscando o que ler na net me deparei com um texto cujo assunto tenho estudado nos últimos dias. Gostei da forma que o escritor Luís Antônio Giron (da Revista Época) descreveu a questão da aceitação de “amigos” no facebook.

    Reproduzo aqui parte do texto disponível em:
    https://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI243008-15230,00.html
    […] Por sua própria natureza, o Facebook se tornou um terreno eticamente esterilizado e seguro. Nunca mais o sujeito vai ficar só. Essa perspectiva pode
    ser tão consoladora como horrorosa. Alguém já tentou meditar no total isolamento dentro da rede social? Juro que até tentei, mas a operação quase transformou meus amigos reais em criaturas abelhudas. Comecei a eliminar gente de minha lista, e me tornei antipático para mim mesmo. Desisti de iniciar discussões pela rede – e reincorporei os eliminados. O Facebook et alii não permite desavenças, confrontos nem discussões. Quem figura na lista de “amigos” do dono da conta está ali por alguma afinidade eletiva, ou uma situação nova: a afinidade concedida. A prática da discordância é evitada, quase como um tabu. É vedado exasperar-se com alguém. Não são possíveis as opções “aceite” ou “rejeite” um inimigo. Ou você diz sim ou então bloqueia, e a pessoa ficará sabendo. Ora, isso gera a pior das coerções: a da autocensura. O usuário pensa: “Não posso parecer crítico, furioso ou antissocial em público.” E aceita todos que fizeram a solicitação. Ser seletivo também se torna impraticável: quando o usuário se inscreve já é capturado pelas relações que mantém com a família, com os amigos, os conhecidos e os desconhecidos íntimos, que, no caso do jornalista, conhecem-no por leitura ou referência. Nesse sentido, o Facebook dá lições de tolerância e contenção. Mas também se revela um ambiente artificial. Não é um espelho do mundo, e sim uma distorção positiva do mundo. O Facebook é o sorriso da sociedade, não o esgar ou o ódio. 
    […] Nesse nada admirável porém espantoso mundo novo, o inimigo não ataca mais de frente. Ele se insinua como um vírus, às ocultas, até que a presa perca os parâmetros do que é certo ou errado. A contrapartida é que agora todos podemos nos transformar em vermes virtuais. Viramos seres impalpáveis, que transitam ao redor do mundo sempre à espera de uma resposta imediata, sem sentir as consequências de nossos atos. Os gestos que realizamos se afiguram a um só tempo inextensos e eficientes, numa corrente imprevisível de hiperinformação. No livro 44 cartas do mundo líquido moderno (Editora Zahar, 228 páginas, R$ 24,00), o polonês Zygmunt Bauman, talvez o mais arguto analista da vida contemporânea, afirma que a humanidade trocou de pesadelos: o de nossos pais era o da informação insuficiente; o nosso é o “pesadelo ainda mais terrível da enxurrada de informações que ameaça nos afogar, nos impede de nadar ou mergulhar”. Daí a necessidade de sermos seletivos em relação ao que absorvemos pelas redes.
    […] tornou-se impossível fugir da solidão neste outro universo. E, já que nele não podemos mais ficar sós, precisamos nos acostumar a viver mal acompanhados”.  

  • A NOVA LEI 12403

    “Art. 322.  A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos”. 
    (aqui cabem o Homicídio culposo, aborto provocado pela gestante, violência doméstica, maus-tratos, abandono de incapaz, seqüestro e cárcere privado, furto, dano qualificado, etc. Foi feito um pacote fechado. Talvez, o maior problema esteja

    aqui).

    Parágrafo único.  Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.” (NR) 
    “Art. 323.  Não será concedida fiança: 
    I – nos crimes de racismo; 
    II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; 
    III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; 
    (o que já previa a Constituição Federal de 1988)

    “Art. 325.  O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes limites: 
    I – de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; 
    II – de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 (quatro) anos. 
    § 1o  Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: 
    I – dispensada, na forma do art. 350 deste Código; 
    II – reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou 
    III – aumentada em até 1.000 (mil) vezes. 
    (Comparativamente, houve um aumento considerável do valor da fiança em relação aos valores anteriores, O menor valor da fiança será de R$ 181,66. Já o maior valor será de R$ 54.500.000,00 para penas privativas de liberdade não superior a quatro anos e de R$ 109.000.000,00 para penas privativas de liberdade superior a quatro anos).
    “Art. 334.  A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória.” (NR) 
    “Art. 335.  Recusando ou retardando a autoridade policial a concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.” (NR) 
    Um problema é que ficar ou não preso (por penas de até 4 anos) será uma questão financeira. Agora sim que as penitenciárias estarão mais homogenias: quase todos pobres!
    Lembrando que condenações por desvio de verbas públicas praticadas por “políticos” entrará nesse “pacote fechado”. Por isso, talvez, muitos “políticos” se esforçaram para aprovar as alterações!
    Me parece que a frase “o crime não compensa” começa a perder o sentido. Imaginem um indivíduo pobre e desempregado. Ele começa a furtar carros. Até ser preso (se for) já terá furtado alguns carros. Se ganhar 5 mil em cada carro, terá uma poupança suficiente para pagar a fiança (que por ser pobre e desempregado será um valor baixo) e curtir o restante da grana. Se não for por questões morais e éticas e dependermos
    apenas das leis, estamos em apuros!


    Algumas natérias encontradas na net que nos ajuda a repensar a nova Lei:


    NOVA LEI EM VIGOR: FOI PEGO ARMADO, NÃO É PRESO MAIS! – https://www.dignow.org/post/nova-lei-em-vigor-foi-pego-armado-n%C3%A3o-%C3%A9-preso-mais-2419889-55983.html

     

    Veja um texto contrário a nova lei em:
    ou ainda: 

    Nova Lei Vai Tornar a Prisão Praticamente Inaplicavel – 

    https://www.gamevicio.com.br/i/noticias/81/81002-nova-lei-vai-tornar-a-prisao-praticamente-inaplicavel/index.html

  • O Planejamento Regional como ação democrática

    Por Cristiano Bodart

    Com o desenvolvimento das políticas Neoliberais, após a crise do Estado keynesiano, o planejamento regional passou por um período de crise e logo em seguida por adequações das tendências dos anos 90: um planejamento de marketing dos espaços urbanos, onde este, em muitos casos, passou a ser visto como um “produto que deve ser vendido”. O caminho tomado pelo planejamento regional foi rumo aos interesses de mercado.
    Dentro desse contexto, a favela deixa de ser vista como um problema social urbano, para ser enquadrar a um problema meramente paisagístico. A cidade deve, acima de tudo, vender a imagem de ser um bom espaço de investimentos externos. Exemplificando esse fenômeno, podemos mencionar a visita do presidente dos Estados Unidos da América ao Brasil. Nessa ocasião entrou em cena a ação da prefeitura de melhorar a paisagem, retirando os barracos existentes nos lugares onde o referido presidente possivelmente poderia passar.
    A tal ação da prefeitura de São Paulo é reflexo da atual tendência de planejamento regional. Torna-se necessário retomarmos a um planejamento regional que tem como finalidade a melhoria da qualidade de vida da população. Romper com a visão elitista, deixando de servir aos investidores e atender a toda a população.
    Embora o contexto atual seja predominantemente marcado por um planejamento nos moldes neoliberais, a própria globalização ampliou e difundiu os ideais democráticos pelo mundo ocidental e isso tem possibilitado o despertamento da população, onde esta tem buscado uma participação mais ativa nas questões sociais. O planejamento regional, ao contrário do que afirmam os neoliberais, é um ato político que deve ter como ponto central a melhoria de vida da população, portanto, compreendemos de forma clara que é inerente as questões sociais. A participação popular é sem dúvida um avanço as políticas de planejamento. Os planejadores devem ouvir os anseios de todas as classes, a partir daí atuar de forma mais eficiente na busca por um espaço de melhor vivência, minimizando os embates sociais.
    Planejar o espaço, antes de tudo, deve ser um ato político nos moldes democrático e nunca um ato em prol de uma única classe como querem os neoliberais. 
  • Por um Crescimento Regional Endógeno

    Por Cristiano Bodart
    O novo PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) apresenta avanços significativos para a questão do planejamento nacional. Seu objetivo, embora tenha a mesma finalidade dos PND anteriores (desenvolvimento do interior do país), está relacionado a um desenvolvimento homogêneo e endógeno. Esse aspecto é justamente a sua principal diferença dos modelos de desenvolvimento regional.
    Os modelos desenvolvimentistas de outrora baseava–se na industrialização da região, acreditando que a indústria proporcionaria os impactos esperados. A busca de uma descentralização urbana era, nas décadas passadas, a solução para a falta de desenvolvimento das regiões mais distantes do coração econômico do Brasil. Essa busca proporcionou grandes despesas, o que se converteu na ampliação da dívida pública, principalmente na dívida externa, pois o cenário era propício para a oferta de empréstimos (principalmente após a crise se 73 e o plano de Marcha forçada do desenvolvimento nacional). Os governos dos militares viam o desenvolvimento do interior como uma forma de reafirmar o espaço nacional. Muitos projetos foram realizados e outros pararam pelo caminho. A criação de superintendências de desenvolvimento talvez tenha sido o ponto máximo daquela política de desenvolvimento urbano. Dois PND foram desenvolvidos com as bases aqui apresentadas e seus resultados não se ampliaram às classes mais pobres. Aprendemos que a indústria de outrora não proporcionou emprego para a população local, pois essa não era apta para as tarefas exigidas; habitualmente os impostos eram minimizados, como forma de incentivos.
    O presente PNDR (Plano Nacional de Desenvolvimento Regional) apresenta traços novos: busca-se um desenvolvimento baseado na potencialização das atividades tipicamente regionais, aquelas a qual parte da população já está inserida, porém apresentando baixo rendimento (devido a diversos fatores como, a dificuldade de escoamento da produção, a falta de incentivos fiscais, programas de créditos). Sua maximização proporciona o aumento dos rendimentos da PEA e amplia a margem de oferta de emprego local. O foco é a capacitação profissional e promover uma organização produtiva dos membros das comunidades menos desenvolvidas.
    O novo PNDR tem como foco as áreas mais pobres ou que apresentam uma estagnação econômica. Desta forma, os recursos são canalizados aos epicentros problemáticos de desenvolvimento. Maximiza-se o desenvolvimento, minimizando (comparado aos planos passados), os gastos. Minimizar não no sentido de um Estado mínimo, como querem os neoliberais, mas trabalhando com prioridades, diminuindo gastos desnecessários. Busca-se agora um crescimento endógeno e inclusivo, o inverso do verificado nos planos de outrora. Resta saber se o novo PNDR sairá do papel ou ficará emPACado como outros projetos.
  • Compras pela internet

    Compras pela internet

    venda online
    Imagem: https://www.blogbrasil.com.br

    Hoje recebi um e-mail de um leitora do blog, a  Karina, me fazendo uma pergunta muito interessante: De que maneira essa nova forma de compra (compra pela internet) afeta a sociedade?
    Embora não seja meu campo de estudo venho por meio do blog levantar algumas questões iniciais para que aqueles que se sentirem a vontade colaborarem por meio de comentários.
    Primeiro gostaria de dizer que trata-se de um tema muito interessante.
    Segundo, acredito que deveria delimitar melhor a dimensão dos impactos sobre a sociedade, pois de outra forma fica muito amplo e consequentemente sujeito a muitas análises e ao mesmo tempo corre o risco de deixar outras questões passarem desapercebidas.
    Mas tentarei delimitar alguma coisa.
    Aspectos culturais:
    O acesso a produtos anunciados pela rede mundial de computadores colabora, juntamente com

    outros fatores do processo de globalização, tem contribuído para a (re)criação uma cenário cultural marcado por maiores trocas culturais. Produtos de várias regiões do globo são espalhados com maior facilidade. Tal realidade cria três situações aparentemente antagônicas: i) a homogeneização da cultura, via os produtos destinados a massa (uma vez que produtos vendidos em esfera planetária tendem a ser produzido em massa, propagandeado, vendido e consumido); ii) a possibilidade de reafirmação das identidades locais, ao buscarem projetar seus produtos tipicamente locais sobre o restante do mundo; iii) a criação de novas características culturais (novas configurações identitárias) propiciadas pela fusão de culturas (contatos culturais).

    Aspectos econômicos:
    Os impactos econômicos sobre a sociedade se manifestam de diversas formas (maior dificuldade de fiscalização referente aos impostos, origem dos produtos, etc.). Dentre elas gostaria de citar uma em particular: há uma redução nos preços (final) dos produtos ofertados os consumidores. A Internet possibilita reduzir custos com o setor de vendas, propicia uma maior oferta de produtos e reduz os custos de acesso (transporte e tempo) para aqueles que não têm oferta desses produtos próximos a suas casas.
    Um aspectos negativo é a ampliação de desrespeito aos direitos dos consumidores (produtos de qualidade inferior aquela propagandiada, a não entrega dos produtos, etc.).
    Aspectos de sociabilidade:
    Há uma redução nas relações sociais. A prática de sair ao mercado e (re)encontrar pessoas ou até passear com a família se esvazia. A relação passa a ser reduzida a homem e máquina.
    Migração da confiança. O vendedor ao não ter contato direto com o comprador avalia-o com base em seu cartão de crédito: a confiança na pessoa é reduzida nesse contexto 
    Aspectos Políticos:
    O comércio é um ato político. De um lado o vendedor buscando maximizar seus ganhos e do outro o consumidor buscando reduzir seus custos. 
    No comércio online não existe a possibilidade da disputa política intrínseca ao modelo tradicional de comércio. O preço é fixo, não havendo a possibilidade de negociação.
    Aos leitores deixo alguns breves apotamentos… quais suas colaborações a essa discussão (comente se desejar).
  • Brasil, corrupção e postura ética

    Belo poema abordando a postura ética e a corrupção generalizada que tem marcado o Brasil.
    Só de Sacanagem

    Composição : Elisa Lucinda
    Na voz de Ana Carolina

    Meu coração está aos pulos!
    Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
    Por quantas provas terá ela que passar?

    Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
    Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
    Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
    Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
    É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
    Meu coração tá no escuro.
    A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
    ” – Não roubarás!”
    ” – Devolva o lápis do coleguinha!”
    ” – Esse apontador não é seu, minha filha!”
    Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
    Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
    Dirão:
    ” – Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”
    E eu vou dizer:
    “- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
    Dirão:
    ” – É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
    E eu direi:
    ” – Não admito! Minha esperança é imortal!”
    E eu repito, ouviram?
    IMORTAL!!!
    Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

  • Fundamentalismo Religioso

    Fundamentalismo Religioso

    Fundamentalismo religioso: reflexões necessárias

    fundamentalismo

    Por Cristiano das Neves Bodart
    O termo fundamentalismo religioso vem sendo empregado, especialmente pela mídia televisiva, de forma pejorativa (geralmente limitado ao islã). Nesta mídia não vemos o termo associado a boas ações, pelo contrário, a ataques terroristas e outros atos de violência. Nós, cientistas sociais, não podemos colaborar para a solidificação de uma inverdade como esta, principalmente quando temos o monopólio da palavra: em sala de aula.
     
    Tratar de tal conceito sem ir à raiz de suas origens é correr o risco de reproduzir o que a grande mídia “criou”: um monstro que deve ser eliminado.
     
    O termo fundamentalismo religioso foi criado por parte de um grupo religioso, os quais, no início de século XX, nos Estados Unidos, se reuniram para discutir e formular caminhos doutrinários de combate as influências dos movimentos modernistas (na teologia, o Modernismo é uma corrente heterogênea de pensamento que, basicamente, defende a evolução  – e modificação ou transformação – do dogma e “uma reinterpretação da religião à luz do pensamento científico do século XIX”).
     
    Fundamentalismo é um movimento que tem por objetiva voltar aos princípios fundamentais, ou vigentes na fundação do grupo religioso. É preservar as bases doutrinárias, é não permitir que os “modismos” entrem em suas religiões.
     
    Ao contrário, os modernistas cristão, por exemplo, defendiam (ainda defendem) que a bíblia não possui inspiração divina e que a mesma não pode ser seguida em todas as situações, apenas em questões que coincida com os costumes atuais. Defendem que as celebrações devem se adequar aos gostos culturais atuais. Para os fundamentalistas isso seria levar o mundo e suas coisas mundanas para dentro da igreja.
     
    Hoje, se fala muito em respeito. O que buscam os fundamentalistas? Respeito à suas bases religiosas, aos fundamentos de sua religião. Aqui está o motivo de muitos dos conflitos que envolvem grupos religiosos fundamentalistas, especialmente os grupos não ocidentais: a invasão de costumes, hábitos e valores ocidentais em tais grupos.
     
    Não busco defender o fundamentalismo religioso, apenas acredito que respeito deve ser uma ação mutua. Por que, por exemplo, querer criar leis que obrigue os padres e pastores brasileiros a casarem homossexuais (já passou algo assim pelo Congresso Nacional)? Os homossexuais ao buscarem aceitação em outros grupos sociais acabam, mesmo sem desejar, ferindo preceitos fundamentais desses grupos. Por que, por exemplo, querer criar leis que obrigue os templos serem usados como salas de aula durante o dia (também já passou algo assim pelo Congresso Nacional)? Como buscar respeito desrespeitando? Será que a nossa história de etnocídio cultural (o caso de nossos índios) nada nos ensinou? Quantos índios fundamentalistas forma mortos por cruzes afiadas? (lembram da expressão “entre a cruz e a espada”?).
     
    Se agarrar aos preceitos do mundo moderno (globalizado) e não se abrir ao respeito à grupos étnicos e religiosos não seria uma defesa tão legítima quanto daqueles que querem preservar suas fundações? Por que as práticas modernas devem ser aceitas? Ou melhor, impostas? 
     
    A crítica não deve se voltar a prática fundamentalista, mas aos fundamentos que são realmente nocivos a sociedade/humanidade. O desafio maior é definir um parâmetro para tal juízo de valor. Estaria a modernidade (impregnada de concepções capitalistas, individualistas, egocêntricas e mercadológica) habilitada a julgar os fundamentos de grupos minoritários?
  • Como vencer a pobreza e a desigualdade

    Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre ‘Como vencer a pobreza e a desigualdade’
    A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.
    pobreza e desigualdade social
    Cartunista CASSO

     

    Abaixo a redação e alguns comentários:
    Tema:’Como vencer a pobreza e a desigualdade’
    Por Clarice Zeitel Vianna Silva
    UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ
    ‘PÁTRIA MADRASTA VIL’
    Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência. .. Exagero de escassez… Contraditórios? ? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
    Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
    O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada – e friamente sistematizada – de contradições.
    Há quem diga que ‘dos filhos deste solo és mãe gentil.’, mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
    A minha mãe não ‘tapa o sol com a peneira’. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
    E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra… Sem nenhuma contradição!
    É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
    A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
    Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta – tão confortavelmente situadas na pirâmide social – terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)… Mas estão elas preparadas para isso?
    Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
    Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
    Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
    Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente… Ou como bicho?
    …………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
    Alguns comentários:
    Gostaria de tecer algumas críticas a texto de Clarice Zeitel Vianna Silva. Trata-se de um belo texto (digno da premiação), mas com alguns exageros e enganos (talvés, fruto do senso comum). Vejamos:

    Ao afirmar que existe no Brasil uma “abundância de inexistência de solidariedade” ela acaba criando uma ideia que não observamos na prática. Bastamos ver a solidariedade dos brasileiros frente as catástrofes nos últimos anos ocorridas em Santa Catarina, no Nordeste e na região serrana do Rio de Janeiro. Bastamos assistir TV e notarmos o quanto programas como o “Criança Esperança”, por exemplo, arrecadam. Na verdade, o brasileiro chega ser até ser invejado por outros povos.

    A Clarice escreveu:

    “Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta – tão confortavelmente situadas na pirâmide social – terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)… Mas estão elas preparadas para isso?”

    Ao falar de participação ela acaba não dizendo muita coisa. Participação em que? Onde?
    Ela afirma que as classes média e alta devem fazer mais do que reclamar. Reclamar do que? É justamente a elas que interessa a taual situação do país. Vemos tais classes reclamar apenas de coisas que lhes afetam, como temos visto no caso da criminalidade no Rio, que desceu das favelas e estão no asfalto.

    A Clarice escreveu:
    “Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil”.

    Falar em revolução estrutuaral sem definir que tipo de revolução é muito vazio. Gostaria de lembrar que existem revoluções que conduz a estados piores.

    Por fim, ela, em meio a uma indagação, acaba realizando uma afirmação:
    “Afinal, de que serve um governo que não administra?”

    Dizer que o governo não administra é inocência. A pergunta seria, administra para quem?

    Embora aponto tais críticas ao texto de Clarice, acredito que teremos em breve uma advogada e tanto! O Brasil precisa.
    Clarice, Parabéns!!!

    por Cristiano Bodart

  • As mulheres não são homens

    Usar um dia do ano para comemorar o dia da mulher é sintomático de uma sociedade ainda machista. Agora que tal data só desapareceu no horizonte e as mulheres voltaram (infelizmente) para seus lugares… posto um texto do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Segue abaixo:
    “A cultura patriarcal tem uma dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas. Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres” (Boaventura de Sousa Santos).
    No passado dia 8 de março celebrou-se o Dia Internacional da Mulher…
    Os dias ou anos internacionais não são, em geral, celebrações. São, pelo contrário, modos de assinalar que há pouco para celebrar e muito para denunciar e transformar. Não há natureza humana assexuada;
    há homens e mulheres. Falar de natureza humana sem falar na diferença sexual é ocultar que a “metade” das mulheres vale menos que a dos homens. Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as mulheres têm sido consideradas como seres cuja humanidade é problemática (mais perigosa ou menos capaz) quando comparada com a dos homens. À dominação sexual que este preconceito gera chamamos patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura patriarcal.
    A persistência histórica desta cultura é tão forte que mesmo nas regiões do mundo em que ela foi oficialmente superada pela consagração constitucional da igualdade sexual, as práticas quotidianasdas instituições e das relações sociais continuam a reproduzir o preconceito e a desigualdade. Ser feminista hoje significa reconhecer que tal discriminação existe e é injusta e desejar activamente que ela seja eliminada. Nas actuais condições históricas, falar de natureza humana como se ela fosse sexualmente indiferente, seja no plano filosófico seja no plano político, é pactuar com o patriarcado.
    A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas africanas, indígenas e islâmicas. Para Aristóteles, a mulher é um homem mutilado e para São Tomás de Aquino, sendo o homem o elemento activo da procriação, o nascimento de uma mulher é sinal da debilidade do procriador. Esta cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corão), tem estado sempre ao serviço da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o colonialismo. Em Three Guineas (1938), em resposta a um pedido de apoio financeiro para o esforço de guerra, Virginia Woolf recusa, lembrando a secundarização das mulheres na nação, e afirma provocatoriamente: “Como mulher, não tenho país. Como mulher, não quero ter país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro”.
    Durante a ditadura portuguesa, as Novas Cartas Portuguesas publicadas em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, denunciavam o patriarcado como parte da estrutura fascista que sustentava a guerra colonial em África. “Angola é nossa” era o correlato de”as mulheres são nossas (de nós, homens)” e no sexo delas se defendia a honra deles. O livro foi imediatamente apreendido porque justamente percebido como um libelo contra a guerra colonial e as autoras só não foram julgadas porque entretanto ocorreu a Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974.
    (…)
    Mas a cultura patriarcal tem, em certos contextos, uma outra dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas. Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres. É assim que se ignora o papel fundamental das mulheres na revolução do Egipto ou na luta contra a pilhagem da terra na Índia; a acção política das mulheres que lideram os municípios em tantas pequenas cidades africanas e a sua luta contra o machismo dos lideres partidários que bloqueiam o acesso das mulheres ao poder político nacional; a luta incessante e cheia de riscos pela punição dos criminosos levada a cabo pelas mães das jovens assassinadas em Cidade Juarez; as conquistas das mulheres indígenas e islâmicas na luta pela igualdade e pelo respeito da diferença, transformando por dentro as culturas a que pertencem; as práticas inovadoras de defesa da agricultura familiar e das sementes tradicionais das mulheres do Quénia e de tantos outros países de África; a resposta
    das mulheres palestinianas quando perguntadas por auto-convencidas feministas europeias sobre o uso de contraceptivos: “na Palestina, ter filhos é lutar contra a limpeza étnica que Israel impõe ao nosso povo”.
    Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
    Fonte: Carta Maior. Foto:portalserradacapivara.com.br
  • Condições de trabalho no Campo: reflexão de um trabalhador rural

    Condições de trabalho no Campo: reflexão de um trabalhador rural

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    Uma boa sugestão para provocar o debate em torno da temática “condições de trabalho no campo” é a carta que recebi hoje do Miguel, produtor rural em Goiás.

    Segue abaixo, na íntegra, a carta:

    “Pessoal, sou produtor rural no interior do Goiás, nos municípios de Itapirapuã ede Jussara, desde 1983, sempre tivemos algmas dificuldades co nossas estradas, geralmente muito mal cuidadas pelo poder público, aliás, quase sempre que há algum “retoque” é feito, é feito por nós mesmos, em forma de mutirões. Neste ano, muita chuva, TRANSIÇÃO E GOVERNOS ESTADUAL, a coisa está insuportável, não temos mais o direito de IR, VIR e nem VER, não temos Helicópteros e nem lamparinas…

    Para se pensar as condições de trabalho no Campo, só neste ano de 2011, incrivelmente, tive que jogar fora mais de 5.000 litros de leite (ontem, 20/03) foram jogados mis 462 litros, parte por NÃO TER ESTRADA, parte por NÃO TER ENERGIA ELÉTRICA, ou ambos. A Centrias Elétrica de Goiás CELG) está falida, tempos atrás venderam a parte lucrativa e sabe-se lá onde colocaram o dinheiro obtido pela venda.

    Estou pensando em abandonar totalmente a atividade rural ou pelo menos a atividade leiteira, pois produzimos, não temos apoio algum e ainda mais, somos HUMILHADOS a todo instante. Participo de uma Associação,a qual é atuante, porém impotente perante aos orgãos “competentes”. O que acham?

    Pode estar parecendo um dsespero, mas não duvidem, é isso mesmo!

    Obs.: Estou enviando novamente a mensagem com pequenas modificações, as modificações foram em razão da mensagens de incentvos que recebi de muitos vocês, para os quais meus sinceros agradecimentos.

    Abraço a todos,

    Miguel”