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A quarentena e o erro de atacar o ensino de Sociologia

ensino de sociologia

Por Cristiano das Neves Bodart

A quarentena tornou latente questões apresentadas nas aulas de Sociologia do ensino médio, sobretudo os temas “sociabilidade”, “solidariedade social”, “relações sociais” e “controle social”. Nessa circunstância, a explicação do(a) professor(a) de que as relações sociais são fundamentais para o funcionamento de todo o sistema social torna-se facilmente observável no cotidiano; as discussões políticas entre isolamento social e impactos sobre a economia é exemplar.

 professor de sociologiaA sociabilidade, que é um dos primeiros conteúdos ensinados nas aulas de Sociologia, tornou-se tema central das discussões travadas na esfera pública, seja tratando do impacto da falta de sociabilidade sobre a saúde psíquica, ou sobre o comércio, a produção industrial, ou sobre o sistema de transporte etc.

Nesse momento os alunos, se atentos ao cotidiano, estão enxergando a materialização de diversas frases ditas pelos professores de Sociologia, tais como:

“[…] a sociedade é resultado da ação social dos indivíduos.”

“[…] a sociedade depende da solidariedade social para funcionar.”

“[…] as relações sociais são fundamentais para a sustentação do sistema de trocas.”

“[…] o controle social não depende exclusivamente do Estado, antes é também resultante de incorporações de parâmetros previsíveis pelos sujeitos ao longo de sua socialização”.

As dinâmicas das relações sociais sob a quarentena, assim como a correlação entre contatos sociais e a geografia da pandemia, são questões relacionadas diretamente aos assuntos cotidianamente tratados nas aulas, os quais ajudam aos jovens e demais estudantes a entenderem um pouco melhor o cenário atual de sociabilidade e a [não]atuação do Estado no controle social como forma de conter o coronavirus.

Outras questões ensinadas nas aulas de Sociologia vêm à tona nesse momento. É possível listar temas que circundam as conversas nas redes sociais e nos meios de comunicação institucionais.

 

A lista presente no quadro dá conta de evidenciar a importância do ensino de Sociologia para a compressão do mundo contemporâneo, inclusive no contexto da pandemia do coronavirus. Tal lista poderia ser estendida até a última página do livro, o que não fizemos por julgar suficiente para demonstrar ser um grande erro os ataques à Sociologia escolar, haja visto que não podemos privar os estudantes de conhecer o mundo social ao qual estão inseridos.

A Sociologia escolar, como rapidamente demonstrado aqui, é fundamental para orientar nossos estudantes na compressão dos fenômenos sociais, ainda que sejam estes inicialmente motivados por fatores naturais.

A resposta à pergunta “para quê estudar Sociologia” salta aos olhos em tempo de isolamento social. O fato é que a quarentena evidencia o erro que é o ataque ao ensino de Sociologia e nossos representantes do legislativo e do executivo, ministro da Educação e secretários de Educação precisam defender a manutenção e a qualificação da Sociologia no currículo escolar brasileiro. Tal defesa é advogar pelo direito de entender o mundo e a si mesmo.

 

 

 

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Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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