julgamento

Dica de simulação de julgamento em sala de aula

janeiro 22, 2011

Julgamento: Quando a sala de aula vira tribunal

tribunal
Abaixo um texto para fundamentar a situação e as orientações do andamento da aula
Texto: O Animal
Era uma maternidade pública daquelas em que as mulheres chegam, sabe Deus como ou de onde, sem nenhum preparo; sem pré-natal, sem condições sem dinheiro, sem saúde, sem alento, sem perspectivas. Até os médicos e enfermeiras tornaram-se desalentados. Afinal conviver diariamente com a miséria é suficiente para tornar a vida amarga.
Mas, quis o destino que assim fosse: nasceram juntos, nessa mesma maternidade. Um porque a mãe não tinha onde cair morta, o outro porque se a mãe não fosse rapidamente socorrida cairia morta. E nasceram os dois de cesárea. E ainda assim, nasceram saudáveis, chorando forte, corados. Foram amamentados, pesados, medidos, esmiuçados e então devolvidos as respectivas mães. Foram amamentados, acarinhados, embalados e depois, um ficou na própria maternidade e o outro, assim que possível, transferido para casa de saúde particular.
Um sozinho com a mãe solteira, o outro no seio de uma família agora aliviada das circunstâncias do nascimento em local tão impróprio.
– Um acidente – diziam todos – Um acidente – dizia também a mãe solteira com o pequeno nos seios agarrado.
Dois dias depois, cada qual seguiu seu destino, um, a favela; o outro o apartamento de frente para o mar. E ambos cresceram hígidos enquanto amamentados. Bonitos, saudáveis, risonhos. Depois, um já recebia outros alimentos que até sobravam, e o outro quando as tetas da mãe já não sustentavam, nem as sobras tinha para alimentar-se. E enquanto na casa de um os avós o disputavam, na favela a mãe desesperada não tinha mais com quem deixá-lo. E assim, num orfanato, acabou sendo abandonado.
Cresceram, os anos passaram, um no seio da família, o outro no meio de estranhos e a ele ninguém se vinculava. Um superestimado, abençoado, o outro perdido, abandonado.
Aos 6 anos, um matriculava-se no primeiro grau, o outro fugia com três pouco mais velhos para nunca mais voltar. Assim, enquanto um fazia da escola o caminho da sua vida, o outro fazia da vida na rua a sua escola. Um cada vez mais forte, saudável, o outro magrelo, perebento, desdentado. Enquanto um aprendia para alargar seus horizontes, o outro roubava estreitando cada vez mais o seu final.
Os anos passavam e enquanto um ia galgando as escolas mais diferenciadas, o outro galgava os presídios mais apinhados. A seu modo cada qual recebia, dia a dia, mais e mais conhecimentos. Em pouco tempo, um usava a palavra como arma, e outro usava a arma como palavra. E, no exato dia em que se formava advogado, o outro empreendia mais uma fuga numa rebelião de presidiários. E ambos se tornaram notórios, um como defensor incondicional da pena de morte, o outro usando a morte como forma incondicional de sobreviver. O inimigo público número um, o mais procurado. Um tornou-se juiz de direito, o outro, terrível juiz das vitimas das ruas escuras e desertas. Ambos com o destino dos outros nas mãos, um com o código de lei da sociedade, o outro com a lei da sociedade sem código.
Até que certo dia se encontraram. Um bateu o martelo condenando, ao mesmo tempo que lamentava não haver pena de morte para imputar a tamanho animal. O outro, o animal, acuado, algemado, lamentando a vida que teria de novo na penitenciária.

E ninguém nunca soube que, naquela maternidade pública, trinta anos atrás, eles haviam sido trocados.

Atividade:

O texto acima, deixa subtendido, que o rapaz denominado “animal”, recebeu do Juiz a prisão perpétua, já que não há pena de morte. Refaremos o julgamento do réu, para confirmar ou mudar a sentença dada:
– Defesa: Elaborar um texto de defesa para o caso e estipular uma nova pena.
– Acusação: Elaborar um texto de acusação para o caso e confirmar a pena ou estipular outra.
– Júri: Elaborar por escrito três questões para serem feitas a defesa e três para a acusação, com a finalidade de esclarecer os fatos e depois que todos forem ouvidos, estipular a sentença.

Desenvolvimento:

Os grupos elaboram seus textos, depois a Acusação começa falando, o Júri faz suas perguntas, fala a Defesa, Júri faz as perguntas, a Acusação faz sua réplica , a Defesa faz a tréplica e logo após o Júri se reúne e decide a sentença.

Fonte: Grupo profsdefilosofiaesociologia · Profs. Filosofia e Sociologia DE Santos

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

7 Comments Deixe um comentário

  1. Muito bom seu blog. sou docente do curso de pedagogia e tenho utilizado o material disponobillizado no seu blog para melhorar minhas aulas. CONTINUE ESTE TRABALHO;

  2. olá professor acabei de entrar seu blog e quero que saiba que gostei muito. Sou professora de FIlosofia e História espero fazer o mesmo que vc, compartilhar minhas experiências em sala com outros colegas.
    meu blog é rejanehistoriablogspot.com

  3. Otimo trabalho para quem leciona sociologia ja que os nossos representantes de ensino inclui disciplina na grade curricular mas não se digna de oferecer material para o professor trabalhar.

  4. Gostei muito das dinâmicas que vocês disponibilizaram no site. Ajuda muito no enriquecimento das aulas. Se eu fizer ou encontrar um material bacana, publicarei aqui no site e peço a quem tiver para também divulgar, assim teremos uma fonte mais rica de material.

  5. TEXTO EXCELENTE!!! GOSTARIA DE SABER SE ESTA HISTÓRIA É VERÍDICA OU FICTÍCIA. PRETENDO TRABALHAR COM MEUS ALUNOS COMO TEXTO BASE PARA JÚRI SIMULADO.

Deixe uma resposta

Categorias

História do Café com Sociologia

O blog foi criado por Cristiano Bodart em 27 de fevereiro de 2009. Inicialmente tratava-se de uma espécie de “espaço virtual” para guardar materiais de suas aulas. Na ocasião lecionava em uma escola de ensino público no Estado do Espírito Santo. Em 2012 o Roniel Sampaio Silva, na ocasião do seu ingresso no Instituto Federal, tornou-se administrador do blog e desde então o projeto é mantido pela dupla.

O blog é uma das referências na temática de ensino de Sociologia, sendo acessado também por leitores de outras áreas. Há vários materiais didáticos disponíveis: textos, provas, dinâmicas, podcasts, vídeos, dicas de filme e muito mais.

Em 2019 o blog já havia alcançado a marca de 9 milhões de acessos.

O trabalho do blog foi premiado e reconhecido na 7º Edição do Prêmio Professores do Brasil e conta atualmente com milhares de seguidores nas redes sociais e leitores assíduos.

Seguimos no objetivo de apresentar aos leitores um conteúdo qualificado, tornando os conhecimentos das Ciências Sociais mais acessíveis.

Direitos autorais

Atribuição-SemDerivações
CC BY-ND
Você pode reproduzir nossos textos de forma não-comercial desde que sejam citados os créditos.
® Café com Sociologia é nossa marca registrada no INPI. Não utilize sem autorização dos editores.

Previous Story

Dinâmica julgamento para aula de Sociologia ou Filosofia

sociologia classica
Next Story

Sociologia Clássica

Latest from Apoio Didático

O que é Uberização do Trabalho?

O que é Uberização do Trabalho?

Por Agenor FlorêncioContentsContextualizandoConceituandoO conceito em movimentoO conceito e seus usosReferênciasDicas de leituraDicas de filmesDicas de músicasDica de atividadeQuestão no Padrão ENEMComo citar este texto:
Go toTop

Don't Miss