Por que exigir duas aulas por semana de Sociologia e Filosofia?
Professores e professoras de Sociologia e Filosofia têm se mobilizado para garantir algo muito simples: duas aulas semanais para essas disciplinas no Ensino Médio. À primeira vista, pode parecer apenas uma questão burocrática de carga horária, mas na realidade trata-se de uma disputa sobre o próprio sentido de educação e sobre o tipo de sociedade que queremos construir.
Sociologia e Filosofia não trabalham com memorização. São disciplinas que exigem leitura, reflexão, debate e interpretação de fenômenos sociais. Elas lidam com perguntas que não têm respostas prontas, que demandam tempo para amadurecer: por que as desigualdades existem? Quem se beneficia delas? Como nossas opiniões são formadas? Como pensar eticamente nossas ações? É impossível desenvolver autonomia intelectual e capacidade de argumentação em encontros episódicos e apressados. Com apenas uma aula por semana, muitos(as) professores(as) são obrigados(as) a transformar aquilo que deveria ser reflexão em exposição acelerada, sem espaço para diálogos, dúvidas ou aprofundamento.
Há ainda um efeito silenciado, mas igualmente grave. Uma única aula semanal força professores(as) a assumirem um grande número de turmas para completar sua carga horária. O resultado é exaustão, pouco tempo para planejar boas aulas, dificuldade para acompanhar os estudantes e perda de vínculo pedagógico. Quando o tempo diminui, a qualidade do que é ensinado também diminui. E sem qualidade, não há pensamento crítico: há apenas reprodução de conteúdos.
Quando existe ao menos duas aulas na semana, o cenário é outro. As discussões podem continuar de um encontro para outro, o estudante tem tempo para refletir, o(a) professor(a) pode orientar pesquisas, comparar autores, apresentar dados e conectar teoria e realidade. Duas aulas não são um privilégio, são o mínimo necessário para que o processo formativo aconteça.
Nunca a escola precisou tanto ensinar Sociologia e Filosofia. Em tempos de inteligência artificial, o pensamento reflexivo deixou de ser uma opção e se tornou uma urgência. As máquinas podem processar dados; apenas pessoas podem compreender o mundo e transformá-lo. Se a escola não garantir tempo para pensar, espaço para indagar e condições para refletir, o que restará aos estudantes será apenas decorar informações; e decorar não é compreender.
Planejar exige tempo. Ensinar exige tempo. Pensar exige tempo. O que os(as) professores(as) estão reivindicando é simples e profundamente justo: poder oferecer uma formação com sentido, densidade e qualidade. Defender duas aulas semanais é defender uma educação que não forma apenas trabalhadores(as), mas cidadãos(ãs) capazes de interpretar a realidade e participar ativamente da vida democrática. Humanizar o currículo é humanizar a sociedade.


