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  • O que é Socialização? Texto + dica de leitura + atividades

    O que é Socialização? Texto + dica de leitura + atividades

    O que é socialização? Na sociologia, socialização é o processo pelo qual as pessoas adquirem os valores, normas e habilidades que são necessárias para serem membros ativos e bem-sucedidos da sociedade em que vivem. É através da socialização que as pessoas aprendem as expectativas sociais e os papéis que devem desempenhar em diferentes contextos sociais, como na família, na escola, no trabalho e nas relações amorosas.

    Por Henrique Fernandes Alves Neto*

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    O que é socialização? Contextualizando

    Existe uma piada que diz: “todo ser humano nasce pelado, careca e sem dente… tudo o que vem depois é lucro”. Por mais simples e inocente que seja essa especulação, ela revela um dos principais fenômenos que acompanham a vida humana: socialização. É por conta deste fenômeno que você consegue ler este texto, usar a internet, utilizar o celular, enviar mensagens no aplicativo de conversa, enfim, fazer tudo o que você é capaz de fazer hoje. Assim sendo, vamos conhecer quais são as abordagens e uma definição sociológica deste processo social.

    O que é socialização?  Conceituando socialização

    Socialização e sociologiaTodos nós, seres humanos, nascemos em uma realidade que foi criada por nossos semelhantes. Imagine você o que uma criança encontra quando nasce: linguagem, moedas, equipamentos tecnológicos, habitações, ferramentas e diversas outras formas de conhecimento humano acumulado; além disso, ela também descobre os elementos naturais, como plantas e diversos tipos de animais. Tudo isso existe, ainda fora deste novo ser humano. Como assim? Ora, este bebê deverá incorporar, aprender, se apropriar de tudo isso que lhe rodeia para daí, então, começar a participar mais ativamente da vida em sociedade. Este processo de aprendizagem, de ingresso, de início em uma vida social, é a chamada socialização.

    Neste texto, iremos discutir a definição de dois autores fundamentais, dentro de uma abordagem culturalista e funcionalista: Peter Berger e Thomas Luckmann.

    O que é socialização?  O que dizem…

    Estes autores escreveram e publicaram um livro com o título “A construção social da realidade”, em 1966. Mais à frente, vamos explicar o motivo deste nome. Por ora, vale dizer o seguinte: Berger e Luckmann consideram que a realidade que está fora de nós precisa passar para dentro. Mas como? Através de um processo de interiorização. Olha só o que eles dizem:

    No entanto, a interiorização, no sentido geral aqui empregado, está subjacente tanto à significação quanto às suas formas mais complexas. Dito de maneira mais precisa, a interiorização neste sentido geral constitui a base primeiramente da compreensão de nosso semelhantes e, em segundo lugar, da apreensão do mundo como realidade social dotada de sentido (BERGER; LUCKMANN, 1985; p. 174).

    O que é socialização?  Um Processo social…

    Os seres humanos participam de um processo social que permite com que nós, em um primeiro momento, possamos compreender nossos semelhantes, e, depois, perceber como tudo em nossa volta possui um sentido e significado. Quer um exemplo? Uma das primeiras palavras que os humanos pronunciam são “mama” ou “papa”, buscando identificar aqueles que cuidam dele(a) no início da vida. Uma vez que começam a “falar” mais, vão nomeando todas as coisas que perceber – através daquela pergunta “que é isso?” tão características de crianças pequenas: “au-au”, “binquedo”, “miau”, “mumu”, e assim por diante. Segundo Berger e Luckmann (1985), a interiorização coloca dentro de nós o mundo que está fora. Mas como isso acontece? Através do processo de socialização, viremos explicar mais à frente.

    O que é socialização?  O conceito de socialização em movimento

    Desde o início da Sociologia, lá no século XVIII, pesquisadores(as) desta área do conhecimento procuram entender como é fazer parte de um grupo social. Esta é uma das preocupações centrais da Sociologia, muito em virtude dos elementos que estruturam as explicações dela: indivíduo e sociedade. Cada intelectual que se dedique a refletir usando a Sociologia como base e orientação, deverá explicar como se dá a relação entre esses dois elementos que, ou estão em conflito, ou estão em harmonia, ou eles não existem de forma individual, ou eles não existem coletivamente, e diversas outras interpretações possíveis povoam as reflexões dos(as) sociólogos(as). Mas por que tocar neste assunto? Ora, dependendo da maneira que o pesquisador(as) entende a relação entre indivíduo e sociedade, diferente será a sua compreensão de como ocorrerá o processo de entrada de um na outra, ou vice-versa, a pressão que a sociedade incidirá sobre o indivíduo. Para mostrar essas diferentes vertentes, vamos fazer uma breve retomada do conceito de socialização.

    O que é socialização? Uma variedade…

    Como são muitos autores(as) possíveis, foram selecionados apenas aqueles(as) de uma corrente teórica cultural, funcionalista e interacionista – seguindo as explicações realizadas por Medeiro (2002) e Setton (2005).

    O primeiro desta lista é Émile Durkheim, o sociólogo conhecido por ser o “pai da sociologia” francesa. Durkheim (2011) busca compreender a socialização a partir da educação. Segundo ele, a educação constrói no ser humano um ser social, diferente do ser individual com o qual ele(a) nasceu. Para ele, a educação é um processo que tem como função criar em nós um certo conjunto de características físicas, intelectuais e morais (DURKHEIM, 2011) que possibilitem vivermos em sociedade. Nós só alcançaríamos o que temos de melhor se incorporássemos estas características impostas pela vida em sociedade.

    Max Weber (2002), outro autor clássico, só que alemão, também refletiu sobre esse processo de participar da vida em sociedade, contudo, a partir de outra perspectiva. Para ele, os indivíduos compartilham certos valores e sentidos e, por isso, partilham de uma vida em sociedade. A vida social pode ser de dois tipos: comunitária, quando há um predomínio de ações sociais tradicionais e afetivas; e societária, quando há ações sociais racionais, principalmente com relação a fins. A depender do tipo de grupo social em que o indivíduo está inserido, será realizada a sua socialização para partilhar os valores que ali são mais importantes. Um exemplo deste fenômeno foi o florescimento do capitalismo em países que assumiam a religião protestante, de vertente calvinista, como oficial. Este processo Max Weber (2004) explicou na sua famosa obra A ética protestante e o espírito do capitalismo. Este desenvolvimento ocorreria, pois os valores protestantes incentivariam um tipo de trabalho que seria exigido pelo modo de produção capitalista.

    O que é socialização? Um contemporâneo…

    Avançando um pouco no tempo, temos o sociólogo Pierre Bourdieu (1975), também francês, que discutiu e pensou sobre o fenômeno do ingresso de um indivíduo na sociedade. O conceito-chave para ele é o de habitus que, em poucas palavras, pode ser entendida como a gramática social que um ser humano recebe da sua família, ou seja, são um conjunto de princípios explicativos, regras, padrões e modelos estéticos, éticos, morais, sociais, que um indivíduo adquire e assume como seu e pela participação em uma família específica. Segundo Bourdieu (1975), o habitus irá definir a nossa trajetória na sociedade, pois irá determinar do que gostamos, que forma pensamos, como participamos da vida em sociedade. Por fim, ele afirma que o habitus tem uma ligação direta com a classe social a que a família e o ser humano pertencem.

    Enfim, veja que temos três ideias diferentes acima mencionadas. Cada uma é importante para entender como nós aprendemos a participar da sociedade. Contudo, é interessante ainda aprender mais uma definição. Voltaremos na discussão realizada por Berger e Luckmann (1985).

    O que é socialização?  O conceito de socialização e seus usos

    Se você voltar no tópico que apresentamos o conceito de Berger e Luckmann (1985), vai lembrar que terminamos ele dizendo que a interiorização acontece através do processo de socialização. Segundo os autores, a socialização acontece em duas etapas: a) socialização primária, que é a introdução do indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou setor dela; b) socialização secundária, acontece quando um indivíduo já socializado que participa de outros setores do mundo objetivo dessa sociedade. Para ficar mais claro, iremos tratar de cada etapa separadamente.

    O que é socialização?  Comecemos com a socialização primária.

    Socialização primáriaTodos nós nascemos em uma estrutura social objetiva – que é a realidade, tudo o que nos rodeia. Nesta estrutura nós vamos conhecer aqueles outros significativos (outros indivíduos) que se encarregarão da nossa socialização. Ou seja: quando nascemos, já existe uma organização social específica e nossos pais serão os responsáveis por nos socializar. Nós não escolhemos os significativos – ou seja, não escolhemos os pais, e o que eles nos apresentam como definição de algo é a realidade objetiva que conhecemos, ou melhor, o mundo social objetivo. Nós não escolhemos nossos pais, e o que eles falam é o que acreditaremos ser o mundo – o único possível!

    O mundo social objetivo é, portanto, apresentado a partir de dois filtros: a) a classe social que os pais ocupam na sociedade; b) as particularidades que cada família tem. São estes 2 filtros que moldam/controlam nossa experiência nesse mundo social. Por exemplo: uma criança de classe baixa percebe o mundo por essa posição e de acordo com o modo que os pais dela lhe apresentou. Mas a socialização primária não é só um processo cognitivo, é também emocional. É neste processo que criamos a nossa personalidade.

    A personalidade é reflexo da tomada de atitude dos significativos (aqueles que apresentam o mundo) para com o indivíduo, e este se torna o que os outros fazem dele. Imagine uma família que não lê e quer que a criança seja leitora; ou uma família em que os pais torcem para um time em específico… há grande chance das crianças dessa família torcerem para o time dos pais. Forma-se assim uma identidade: identidade é absorver os papéis e atitudes dos outros significativos, como assumir o mundo deles. Você vive igual e com eles! Uma das características do mundo social apresentado na socialização primária, entendido como “mundo doméstico” é um “tudo está bem”, pois, este mundo é o único possível, não há divergências, não há escolhas, existe somente a palavra dos significativos, ou seja, os pais.

    O que é socialização?  Vamos agora investigar a socialização secundária.

    Se a socialização primária é o processo de absorver o mundo, a secundária é a interiorização de submundos! Como assim? Agora que o indivíduo já faz parte da sociedade, desta estrutura social objetiva, ele começará a conhecer mais deste mundo social. Em sociedades complexas, existem muitos elementos que não foram apresentados pelos significativos primários, portanto, é necessário que o indivíduo participe de outros processos de socialização, com outros significativos, para conhecer mais deste mundo social.

    A socialização secundária é diferente da primária, pois desperta processos diferentes. A começar pela consciência que de o mundo que foi apresentado na socialização primária não é o único existente. Pode ocorrer uma crise, vergonha ou medo do conhecimento da amplitude do mundo social, muito maior do que aquela primeira apresentação. Para que o mundo da socialização secundária seja absorvido, por vezes, é necessário um grande choque para que o mundo da socialização primária seja destruído. Uma vez que a socialização primária soa como natural, a socialização secundária será artificial. Daí que se faz-se necessário um conjunto de técnicas pedagógicas para apresentar que o conhecimento e o submundo social apresentado também é: vívido, importante e interessante. Percebemos neste embate entre etapas da socialização que há uma distância entre: o eu total e sua realidade – criado pela socialização primária; o eu parcial e a realidade deste – criado pela socialização secundária.

    O que é socialização?  Exemplificando…

    Imagine a seguinte situação que pode ter acontecido com você: por algum motivo aleatório, você teve que mudar de escola. Aquela, na qual você tinha sido matriculado quando bebê ainda, e já estava avançando para o Ensino Médio, de repente, acabou para você. Agora, o seu Ensino Médio será em um ambiente totalmente novo, com pessoas novas, professores e professoras que você nunca viu. O que te espera são gírias, gostos, lugares, comportamentos, roupas, tudo novidade para você… e nada disso fazia parte do seu mundo social objetivo que tinha recebido daquela escola que você frequentou há tanto tempo. De uma hora para outra, um choque muito grande mostra que o mundo social objetivo pode ser muito mais amplo do que você poderia, sequer, imaginar! Dito em outras palavras, o que aconteceu aí foi um choque entre duas etapas da sua socialização: primária e secundária!

    Para além de um conflito, que acredito ter ficado claro no exemplo acima e nas definições anteriores, a socialização é um processo contínuo. Berger e Luckmann (1985) afirmam que a socialização primária ocorre, principalmente, na família, enquanto a secundária, em qualquer espaço posterior a este. Mas isso não é a palavra final. Como vimos, vários pensadores tentaram explicar como a socialização acontece e se desdobra. Inclusive, há alguns mais recentes, que escreveram em um contexto mais próximo do nosso. Se quiser investigar, busque por François Dubet (1996) e Bernard Lahire (2002), estes são novos caminhos na reflexão sobre este tão importante fenômeno social, que nos molda, nos constrói, nos direciona e nos acompanha ao longo da nossa vida humana!

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    Referências bibliográficas

    BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado da sociologia do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.

    BOURDIEU, P; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma teoria do ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

    DUBET, François. A sociologia da experiência. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.

    DURKHEIM, Émile. Educação e sociedade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

    LAHIRE, Bernard. Homem plural: os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

    MEDEIRO, Marília Salles Falci. A construção teórica dos conceitos de socialização e identidade. Revista de Ciências Sociais, v. 33, n. 1, p. 78 – 86, 2002.

    SETTON, Maria da Graça Jacintho. A particularidade do processo de socialização contemporâneo. Tempo social, v. 17, n. 2, p. 335-350, nov. 2005.

    WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

    WEBER, Max. Conceito básicos de sociologia. São Paulo: Centauro, 2002.

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    O que é socialização?  Dicas de leitura

    A ilha – Aldous Huxley. Este livro conta a história de uma jornalista que vai visitar uma ilha, chamada Pala, que tem um estilo de vida totalmente diferente do continente. O romance é interessante, pois ele conta com vários momentos de explicações de como a socialização acontece na sociedade de Pala.

    Harry Potter – J. K. Rowling. Para aqueles que não conhece essa série de 7 livros, é a história de um bruxo que foi escolhido, aos 11 anos, para estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Você irá encontrar em vários momentos dos livros o processo de socialização acontecendo.

    Punk Rock Jesus – Sean Murphy. Você já imaginou como seria a vida de Jesus se ele chegasse no mundo de hoje? Então, esta é uma HQ que tenta pensar neste fato impressionante. Não posso contar mais nenhum detalhe, contudo, a estória é sensacional e, além disso, uma aula de socialização também!

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    O que é socialização?  Dica de atividade pedagógica

    Vamos construir uma tabela para verificar a sua socialização. Para isso, pegue uma folha de papel e coloque, no topo dessa tabela, cada uma em sua coluna, as seguintes expressões: sei/gosto/faço; quem ou onde aprendi; socialização. Na coluna com a primeira expressão (sei/gosto/faço), você vai listar abaixo 5 músicas/bandas que você gosta; 5 comidas que você gosta; o time de futebol/basquete/vôlei e afins que você torce/ou não torce; 5 séries que você gosta – pode ser filme também. Feito isso, do lado de cada item que você escreveu, preencha a coluna do lado (quem ou onde aprendi) com a informação sobre com quem você aprendeu tal coisa, ou onde você aprendeu tal coisa. Por último, ao lado de cada item destes e na última coluna, preencha com SP (socialização primária) ou SC (socialização secundária). Feito isso, você terá uma pequena amostra de como aconteceu o seu processo de socialização.

     

    Notas

    * Mestre em Ciências Sociais; professor do IFPR; E-mail: [email protected]

     

     

  • Conceito de gênero: Texto, dica de leitura e atividade pedagógica.

    Conceito de gênero: Texto, dica de leitura e atividade pedagógica.

    Conceito de gênero na perspectiva da Sociologia

    Por Fabrício de Sousa Sampaio*

    Contextualizando

    GêneroNos tempos presentes, antes de nascermos, as pessoas buscam saber, através de exames médicos, não apenas nosso sexo biológico, mas também nosso gênero. Essa preocupação com a atribuição do gênero também é fundamental na maioria dos casos no que se refere às escolhas de filho (a)s durante o processo de adoção. Geralmente, as pessoas buscam adotar determinado menino ou menina, e não, um ser humano, independente de seu gênero. Nesta operação social, sexo e gênero são concebidos como marcas corporais importantes para que o bebê seja valorizado na sociedade. Depois da confirmação do sexo/gênero, alguns familiares ou responsáveis passam a elaborar planos e projeções sociais para este novo ser humano cujo nascimento se aproxima: determinadas formas de comportamentos, tipos de personalidades, futura profissão, tipos de relacionamentos amorosos e sexuais, por exemplo, são imaginados e selecionados para compor uma espécie de programação de gênero. Importante ressaltar que esta programação é construída a partir do contexto sociocultural em que estão inserido (a)s os pais e/ou as mães destes futuros habitantes da sociedade. Neste sentido, para iniciarmos a discussão sobre o conceito de gênero, precisaremos realizar os seguintes questionamentos: por que tanta preocupação social antecipada em definir o gênero do bebê? Este gênero realmente pode ser definido pelos órgãos genitais como descrevemos na situação hipotética que iniciou este texto? Qual a importância do nosso gênero na definição de quem somos e de como a sociedade e a cultura nos reconhece? Somente existem dois gêneros, o masculino e o feminino? Afinal, qual o conceito de gênero? Ou melhor, o que é identidade de gênero? Mas, antes de continuarmos a problematização sobre o gênero, explicitaremos a seguir suas principais conceituações no que se refere ao campo das Ciências Humanas e Sociais.

    Conceituando gênero

    GêneroDe forma ampliada, gênero se refere aos comportamentos, ações, pensamentos, emoções e desejos socialmente construídos a partir da diferença sexual. Ao longo das histórias das sociedades e das culturas humanas, a diferença entre os sexos funcionou como uma referência fundamental para a construção de um roteiro de gênero arbitrário para que todos os corpos humanos tivessem que assumir ao longo de suas existências sociais. O sexo biológico referendou e continua referendando um dos principais mecanismos de estruturação social: o gênero ou a identidade de gênero. A noção de gênero foi utilizada pela primeira vez, em 1955, pelo psicólogo infantil John Money como ferramenta clínica e de diagnóstico. Ele desenvolveria esta categoria como parte de um conjunto de técnicas cirúrgicas e utilização de hormônios que objetivavam modificar o corpo de bebês intersexos, preconceituosamente chamados de hermafroditas, em um passado recente. É importante destacar que o bebê é considerado intersexo se a medicina não conseguir enquadrá-lo como estritamente masculino ou feminino, quando seus órgãos genitais ou cromossomos forem analisados. Money usou a palavra gênero no sentido de uma identidade que pudesse ser conformada ao corpo humano essencialmente a partir de hormônios e técnicas pedagógicas (PRECIADO, 2018, p. 109-110). Em síntese, Money buscou dar um caráter científico a sua tentativa de acoplar identidade social ao sexo biológico.

    Mariza Correa (2004) enfatiza que John Money e o psicanalista Robert Stoller, receberam os créditos da literatura médica e de gênero por terem sido os primeiros a discutirem sobre identidade de gênero. Estes médicos estavam convencidos de que a identidade do ser humano era constituída fundamentalmente pela coincidência entre sexo e gênero. John Money, ao fazer uma leitura prejudicial da célebre frase de Simone de Beauvoir – “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” – tentou acertar a biologia com as convenções sociais de gênero (CORREA, 2004).

    O que podemos retirar destas afirmações anteriores é a ideia de que a categoria gênero, acionada primeiramente pelo discurso médico para diferenciar sexo biológico e identificação, já possuía o caráter de construção social, ou seja, a identidade de gênero estava ligada aos comportamentos sociais convencionalmente definidos em certa época histórica por determinada cultura em relação ao sexo biológico de cada ser humano.

    O conceito em movimento

    Este contexto inicial de surgimento do conceito de gênero é marcado pela matriz teórica dos estudos de gênero denominada de essencialista. De acordo com esta matriz, os gêneros – masculino e feminino – são naturalmente determinados pela biologia dos corpos. A genitália seria o definidor absoluto de nossas maneiras de perceber, comportar-se, sentir e desejar (PELÚCIO, 2014, p.99). No interior desta perspectiva, existem apenas dois gêneros opostos que são representados por duas formas biológicas distintas de corpos, representadas por duas formas opostas de genitálias: o macho e a fêmea, ou o homem e a mulher. Todo corpo que se distancie destes gêneros e de suas genitálias opostas precisariam ser ajustados ou readaptados. Essa maneira de entender os gêneros como opostos e naturais foi nomeada pela literatura especializada de binarismo de gênero.

    Em contrapartida, a matriz teórica construtivista considera os gêneros como efeitos das relações sociais historicamente determinadas. Ser homem ou ser mulher (que é questão de gênero) não é definido pelos órgãos genitais correspondentes, e sim, arbitrariamente, pela sociedade em um dado momento histórico. As formas de viver, pensar e sentir próprias e exigidas para cada identidade de gênero são definidas pela sociedade. Assim, esta compreensão de que nossa identidade de gênero é uma marca social sobre nossos corpos também necessitará de pensarmos quem elabora esta identidade e para qual finalidade política. Em síntese, por que a sociedade define o gênero como determinado pelo sexo? E por que a diversidade precisa ser silenciada, violada ou adaptada aos dois padrões de gênero opostos? Por que o masculino é o gênero superior e o feminino é sempre objeto de inferiorização, opressão e violência? Gênero, então, para além da dimensão social, precisa ser entendido em sua dimensão política e por isso deve ser relacionado a outras marcas de diferenciação social, tais como a raça/etnia, classe social, pertencimento de geração e outras (PELÚCIO, 2014, p. 99-100). Esses questionamentos exemplificam as desnaturalizações que os estudos de gênero no campo das Ciências Sociais e Humanas vêm realizando e oferecendo respostas desde o momento em que o conceito de gênero foi incorporado por esse campo tendo como principais protagonistas, os movimentos feministas. A tentativa de responder estas questões enunciadas no final do parágrafo anterior também é de crucial importância para entendermos a desigualdade de gênero e a Lgbtfobia, por exemplo.

    conceito de gêneroDe forma geral, no campo das Ciências Humanas e Sociais, o conceito de gênero foi incorporado para destacar o caráter social das diferenças sexuais: ser homem ou mulher não depende do sexo biológico, é uma fabricação ou um aprendizado que ocorre em contextos culturais (LOURO, 2011, p. 63). Através do conceito de gênero, estes campos do conhecimento objetivam se afastar de proposições essencialistas e se dirigir para a perspectiva da construção social acentuando, desta maneira, a diversidade dos projetos e das representações sociais sobre mulheres e homens. A transposição do termo gênero do contexto anglo-saxão para outros contextos culturais sofreu processos de disputa, ressignificação e apropriação. No Brasil, este conceito chega ao final dos anos 80 (LOURO, 2013, p.23). E com o objetivo de explicitar as principais conceituações sobre a identidade de gênero, acionamos uma breve descrição histórica elaborada pela socióloga Berenice Bento.

     

    Três tendências…

    Berenice Bento (2006) sugere, a partir de uma incursão histórico-teórica, três tendências explicativas dos processos de constituição das identidades de gênero. Na primeira tendência, denominada de universal em sua descrição, Bento destaca como representante típico Simone de Beauvoir, fundamentalmente em sua obra O segundo sexo. Nesta tendência, embora que aponte para a construtividade social do gênero e identifique os interesses políticos no posicionamento da mulher como ser humano inferior, há um reforço da essencialização dos gêneros ao cristalizar a identidade em posições fixas. O gênero daria forma e significado ao corpo-sexo – matéria fixa – gerando assim uma identidade essencializada (BENTO, 2006, p.70- 1). Esta tendência não questiona o essencialismo, ou seja, a identidade de gênero continuaria sendo resultado social do sexo biológico.

    A segunda tendência foi denominada pela socióloga de perspectiva relacional cujo trabalho de Joan Scott (1995) foi fundamental. Para essa autora, que utilizará das análises do filósofo Michel Foucault a respeito do poder e do processo de desconstrução apresentado pelo filósofo Jacques Derrida, o gênero é um “elemento constitutivo das relações sociais nas diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primária de dar significados às relações de poder” (BENTO, 2006, p.76). Nesta tendência, o gênero é construído no interior de relações sociais de poder que se estabelecem tendo como pressuposto as diferenças sexuais. A mulher seria inferior porque representaria um gênero frágil e o homem deveria assumir o controle e a tutela sobre todas as mulheres porque representaria o gênero forte ou mais poderoso. O gênero passa a ser a justificativa para construir relações de poder na sociedade localizando o masculino como polo superior. Berenice Bento (2006), na sua crítica a esta perspectiva, ressalta que, ao se cristalizar o conceito de gênero no referente binário – homem ou mulher – há um reforço dessa mesma estrutura binária e, desta forma, do discurso das diferenças sexuais. Assim, a distinção entre sexo masculino e sexo feminino, funcionaria como uma base indiscutível sobre a identidade de gênero, uma espécie de pré-discursivo [aquilo que existiria antes da linguagem, ou dos discursos, sobre o qual construiríamos denominações ou nomeações para representar a existência daquilo que estamos nos referindo]. Neste caso, sexo existira antes mesmo da cultura nomeá-lo e, por isso, seria uma base indiscutível para determinar a identidade oposicional do gênero. Berenice Bento enfatiza que, nestas duas perspectivas – universal e relacional – o gênero, a sexualidade e a subjetividade não foram considerados fora do binarismo de gênero. Neste sentido, a autora enfatiza os estudos queer[1] que revelariam o “heterossexismo” das teorias feministas e destacariam as fissuras nas normas de gênero feitas pelas performances (BENTO, 2006, p.78). Em outras palavras, as teorias queer destacarão de que maneira as perspectivas de gênero não problematizariam a diversidade de gênero e de sexualidade. Além disso, em muitas perspectivas de gênero, a heterossexualidade seria considerada como a única sexualidade possível e normal e, neste contexto, os mecanismos sociais que aterrorizariam as pessoas a serem obrigatoriamente heterossexuais [o heteroterrorismo] não eram criticados. Berenice Bento denominou assim a terceira perspectiva sobre a explicitação da constituição da identidade de gênero de plural, tendo como principal referência teórica o livro Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade, da filósofa Judith Butler.

    Atualmente, a perspectiva de gênero de Judith Butler é considerada de fundamental importância para entendermos as razões pelos quais existe o binarismo de gênero e de que maneira este binarismo é utilizado socialmente como justificativa para sustentar a violência contra a diversidade de gênero e sexual.

    Gênero, sexo e inscrição cultural

    O gênero não é uma inscrição cultural sobre um sexo que naturalmente existe nos corpos. Ele não é uma substância e nem uma identidade preexistente que os sujeitos põem em circulação ou apenas passam a executar como consequência dos seus hormônios ou da especificidade de sua genitália. Gênero ou a identidade de gênero é um feito ou um conjunto de atos repetidos regulados por uma relação binária a serviço da “heterossexualidade compulsória”. O gênero é fabricado todos os dias pelas pessoas através de atos repetitivos que servem para ocultar o caráter normativo das normas e para construir a ilusão de que gênero está embutido no sexo biológico (BUTLER, 2010). Vale ressaltar que a “heterossexualidade compulsória” é um conceito que surge por volta de 1980 com Adrienne Rich em seu artigo Heterossexualidade compulsória e a existência lésbica para se referir à heterossexualidade como uma “única forma considerada normal de vivência da sexualidade” (COLLING, 2015, p.24). Judith Butler trabalha com um conceito de “gêneros inteligíveis”. Estes gêneros sustentariam uma continuidade e uma coerência entre sexo, gênero, prática sexual e desejo. Neste esquema hegemônico, o sexo exigiria um gênero que, por sua vez, exigiria um desejo em um contexto de heterossexualidade estável e oposicional (BUTLER, 2013). Em outras palavras, o homem padrão “verdadeiro” possuiria os devidos órgãos masculinos, representados fundamentalmente pelo pênis e naturalmente seria heterossexual, desejando e mantendo relações sexuais com mulheres. Em oposição, a mulher padrão “verdadeira” possuiria os respectivos órgãos femininos, representados principalmente pela vagina e naturalmente seria heterossexual, desejando e exercendo relações sexuais com homens. Neste esquema social de “gênero inteligível” tanto o binarismo de gênero quanto a heterossexualidade como norma hegemônica são mantidas performaticamente pelos corpos humanos. E, qualquer pessoa que subverta este esquema será considerada doente, impura, incrédula, sub-humana ou até mesmo uma ameaça para a ordem e o futuro da sociedade. Sendo consideradas como ameaças ou não humanas, estas pessoas diferentes precisam ser eliminadas e esta eliminação poderá ser considerada como uma defesa social da moral e dos bons costumes, por exemplo. Estas reflexões talvez nos ajudem a compreender por que o Brasil é um dos países do mundo que mais mata a população LGBTQIA+[2].

    LGBT violência

    O conceito de gênero e seus usos.

    Como salientamos anteriormente, gênero é um conceito que desde a sua origem demonstra que os comportamentos, pensamentos, emoções e desejos das pessoas são construídos por determinada sociedade partindo da diferença sexual para organizar, controlar e legitimar normas historicamente definidas. As pessoas e os grupos sociais que falam de uma “ideologia de gênero” objetivam desqualificar o caráter científico do gênero e, para tanto, colam o adjetivo ideologia no termo gênero para gerar a seguinte confusão nas pessoas que ainda não conhecem as perspectivas de gênero: em última instância, eles ou elas querem incutir a falácia de que todas as conceituações de gênero, fundamentalmente a perspectiva plural, não passam de ideias destrutivas dos “inimigos” da família tradicional, da ordem heterossexual e dos bons costumes. Em outras palavras, esta retórica reacionária busca inviabilizar e desqualificar todas as outras perspectivas de gênero que, inclusive, desocultaram o caráter performativo da identidade de gênero e desconstruíram o lugar privilegiado e natural que a heterossexualidade tinha há muito tempo.

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    Referências bibliográficas

    BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de janeiro: Garamond, 2006.

    BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. 3. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

    _____________. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, Guacira Lopes (org). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, p. 151-172, 2013.

    CORREA, Mariza. Não se nasce homem. Encontros Arrábida. Trabalho apresentado no Encontro “Masculinidades/Feminilidades”. Portugal, 2004. Disponível em: http://www.clam.org.br/bibliotecadigital/uploads/publicacoes/942_926_naosenascehomem.pdf. Acesso em 05 jul. 2020.

    COLLING, Leandro. O que perdemos com os preconceitos. In: Revista cult: dossiê- ditadura heteronormativa, São Paulo-SP, Editora Briantine, n.202, ano 18, p.22-25, junho/2015.

    LOURO, Guacira Lopes. Educação e docência: diversidade, gênero e sexualidade. Form. Doc., Belo Horizonte, v. 03, n. 04, p. 62-70, jan./jul. 2011. Disponível em http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br . Acesso em 22 mai. 2016.

    _________________. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Rev. Estud. Fem. , Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 541-553, 2001. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2001000200012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 06 de julho de 2020. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200012 .

    PRECIADO, Paul Beatriz. Testo Yonqui: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: n-1 edições, 2018.

    PELÚCIO, Larissa. Desfazendo gênero. In: MISKOLCI, Richard; JÚNIOR, Jorge Leite (orgs.). Diferenças na educação: outros aprendizados. São Carlos: EdUFSCar, 2014.

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    Dicas de leitura

    BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. 3. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

    BEAUVOIR, Simone. O segundo Sexo. Tradução de Sérgio Milliet. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

    BODART, Cristiano das Neves; ALVES, Carlos Jordan Lapa. As mulheres no mundo dos homens: análise de uma biografada. Enfoque, v.15, p. 7-22. dez. 2016.

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    Dica de atividade pedagógica

    Oficina: Sexo x Identidade de Gênero

    Tempo aproximado: 120 minutos

    Divida a sala de aula em duplas, de maneira aleatória, com a preocupação de não formar duplas compostas apenas dos gêneros opostos, masculino e feminino. O (a)s participantes devem ficam em dois círculos concêntricos onde ambos componentes das duplas se posicionem frente a frente em uma distância mais ou menos de um metro. A distância entre as duplas pode seguir também essa medida, mas dependerá do tamanho da sala e da quantidade de participantes. Aos estudantes do círculo de dentro, solicite que observem seu/sua parceiro (a) e identifiquem o sexo e o gênero dele ou dela. No tocante ao gênero, solicite que descrevam-no (a) a partir de características ou marcas que consideram determinantes para a identidade de gênero que ele(a)s observam. Concomitantemente, o educador divide a lousa em duas colunas, uma com o título de sexo e a outra com o título de identidade de gênero e vai inserindo as respostas de cada dupla. Em seguida, aquele estudante que foi marcado com sexo e gênero de seu/sua parceiro (a) de dupla, fará também a marcação de seu/sua parceiro(a). O educador continua inserindo as respostas na lousa. Vale destacar que, durante a marcação do sexo e do gênero, nem o(a) estudante que está recebendo a marcação e nem aquele(a)s outros estudantes observadore (a)s podem questionar as marcações realizadas. Tempo aproximado desta etapa: 20 minutos. Quando todas as marcações de todos e todas tiverem sido finalizadas, as duplas se desfazem, bem como os círculos e os estudantes devem retornar às suas carteiras ou se preferível, sentarem em uma grande roda de conversa.

    Para iniciar a discussão, alguns questionamentos podem ser realizados: destas definições coletadas por seus discursos, quais podemos destacar concernentes ao que aprendemos sobre o que é sexo e o que é gênero? O debate pode se realizar por um tempo aproximado de 10 minutos. O objetivo deste primeiro momento é avaliar a aprendizagem acerca dos conceitos ensinados e se possível analisar os deslizes ideológicos e religiosos que impediram a aceitação do conceito científico de gênero. O segundo comando para a discussão pode ser as seguintes perguntas: todos concordaram com o sexo que lhe foi atribuído? Tiveram alguma dificuldade? Quem concordou ou discordou com a identidade de gênero que lhe foi conferida e por quê? A sugestão é ouvir cada intervenção em um período de 20 minutos e utilizar uma espécie de bastão da palavra para que cada estudante tenha seu tempo de fala respeitado pelo(a)s demais. Depois que ouvirmos as considerações do(a)s estudantes, poderemos refletir sobre cada enunciado tanto no sentido de classificarmos nas perspectivas essencialistas, construtivistas ou desconstrutivistas de gênero quanto no sentido de problematizar a construção da identidade de gênero e como a interpretação desta construção pode justificar ou não o controle e a eliminação de corpos diferentes. Neste espaço, ou em outro momento formativo, poderemos aproveitar para consolidar a conceituação de gênero e suas perspectivas, bem como ressaltarmos que, a conscientização crítica acerca deste conceito, permite a subversão das normas sociais excludentes que limitam a existência generificada dos seres humanos em uma tentativa de construir uma sociedade que reconheça e valorize as diversidades de gênero.

    Tempo aproximado: 20 a 30 minutos.

     

    Notas

    * Doutor em Ciências Sociais; Instituto Federal do Maranhão- IFMA/Campus Araioses; E-mail: [email protected].

    [1] O termo queer significa estranho, talvez ridículo, raro, excêntrico ou extraordinário. Geralmente, o(a)s teórico(a)s queer problematizam as noções clássicas do sujeito, identidade, agência e identificação. Eles/elas criticam a oposição binária hetero/homossexual presente nos discursos a serviço da heterossexualidade obrigatória e engendra uma perspectiva desconstrutivista – um desfazer dos binarismos tais como homem e mulher (LOURO, 2001).

    [2] Sigla atualmente disseminada pelos movimentos sociais e ativistas na luta pela diversidade de gênero e de orientação sexual que significa na ordem que aparecem: Lésbicas; Gays; Bissexuais; T- transgêneros, transexuais e travestis; Queer; Intersexo; Assexual; e o sinal + representa todas as possibilidades de identidade de gênero e de orientação sexual que existem.

     

     

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  • Família tradicional ocidental é apenas um dos muitos tipos de família

    Família tradicional ocidental é apenas um dos muitos tipos de família

    A ideia de família tradicional é uma ideia socialmente construída

     
    Família tradicional ocidental e a criação de seus filhos: quando a ideia de família se amplia

    Por Cristiano das Neves Bodart
    [email protected]

    É muito comum a discussão se o modelo tradicional e ocidental de família é a mais adequada para a criação de filhos. Quando entra em cena os casais homoafetivos, pais separados, avós, etc, essa discussão torna-se ainda mais acalorada e divide opiniões. Não tenho a pretensão de impor uma opinião valorativa a respeito, antes, apresentar algumas reflexões iniciais, e em construção, em torno do tema.

    A fim de iniciar as reflexões pretendidas acredito que seja importante pensarmos o que seria uma família nos moldes ocidentais tradicionais. Os mais apressados diria que é um casal, composto por pai e mãe e seu(s) filho(s). Essa definição não está errada, mas creio ser insuficiente para o objetivo aqui proposto. O conceito de família ocidental que temos está ligada a origem romana da palavra de raiz osca “fam”, que no latim é “famel”, que significa ao “pé da letra” escrava. Tal origem remete a ideia de que família está associada aos domésticos, na época incluía-se aí os escravos, os quais vivem em um lar. Temos, então, dois outros conceitos envolvidos: doméstico e lar.

    A palavra doméstico estar associada à ideia de domesticar (da mesma raiz), de impor controle, sanções e a “poda” da liberdade individual em detrimento as regras estabelecidas pelo chefe da família, outrora senhor. Os domésticos de hoje não são os escravos de ontem, porém a domesticação é praticada via “educação familiar”.

    A palavra “lar” também tem origem romana. “Lares eram os deuses da família […]. Os Lares de uma família eram as almas dos antepassados, que velavam por seus descendentes” (BULFINCH, 2001). Nota-se que existe na expressão um sentido claro reacionário, onde os antepassados estão sempre presente. Em contrapartida, os romanos acreditavam que os Lares estavam presentes no local onde se acendia o fogo para cozinhar e aquecer a família, daí o temo “lareira”. A lareira era o local de união dos membros do lar, onde se conversava, se aquecia, se contava histórias, transmitia-se ensinamentos, etc.

    Exposto rapidamente e de forma simplória tais termos que cercam o conceito de família resta-nos levantar algumas questões como ponto de partida para uma reflexão: i) uma criança deve ser criada (outra palavra que está ligada ao servo ou ao escravo) em uma família ou em um lar? O que deve ser analisado é a capacidade de domesticar ou de agregar em torno de uma lareira? Ou seja, o que importa mais seria a existência de um modelo ocidental onde existe a figura do pai e da mãe ou o que importa é a existência de momentos de “agrupamento”, de conversas, de contar histórias, transmitia-se ensinamentos, etc. ii) Toda família tradicional é um lar? Iii) existe lares, onde há “calor” sem que exista a figura do pai ou da mãe ou dos dois?

    Peço licença para expor uma breve opinião pessoal. Tenho visto casa que não são lares. Famílias compostas por senhor e servos. Por outro lado, avós que aquecem a “alma” de seus netos, ainda que inexistentes a figura do pai e/ou da mãe. O que deve estar em jogo é o modelo de família ou a sua qualidade e capacidade em dar a criança um LAR? Casais homoafetivos, pais separados, avós, tios… o que importa é de fato, em minha opinião, se tal grupo ou indivíduos possuem “lareira” a ofertar, ou seja, um local de união de seus membros, onde se conversa, se conta histórias, transmitia-se ensinamentos, onde olha-se nos olhos, rir-se juntos, sofre-se juntos, em fim, busca-se aquecer o “coração” um do outro. Crianças precisam disso…

     

    ReferênciaBULFINCH, Thomas. O Livro de ouro da Mitologia: história de Deuses e Heróis. Trad. David Jardim Junior. 13ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

    Publicado originalmente em 29 de set de 2014 às 05:19

  • O que é ser pai e / ou mãe?*

    O que é ser pai e / ou mãe?*

    O que é ser pai ou ser mãe? No universo sociológico ser pai e/ou mãe são status, ou seja, posições que você ocupa como membro de um dado grupo social, neste caso, o grupo social família. Tem-se família aqui como “laços de descendência por consanguinidade ou por afinidade” (OLIVEIRA, 2003; DURHAM ,1983;ABREU, 1982; …), ou seja, não importa se seja ou não descendentes biológicos, podem ser adotivos, ou adotados por afinidade, todos são família.
    Por Marcia Adriana Lima de Oliveira
    E, quando pensamos em pai/ mãe, geralmente, associamos estas posições as pessoas que os ocupam, ou seja, os genitores, os seres biológicos que com a ajuda de seu óvulo ou espermatozóide contribuiu para que as crianças viessem a este mundo. Contudo, cada posição possui um papel social, ou seja “um conjunto de expectativas acerca do que o indivíduo que ocupa a posição deve fazer”. Logo, ao ocupar a posição de pai, o que é experado que quem a ocupe faça? E da de mãe? O que uma mãe deve fazer?
    Assim, pai, mãe e filhos são posições que vão sendo preenchidas conforme a cultura, ou seja, valores, crenças acerca do que cada pessoa ao ocupá-las fará… Porém, em decorrência da diversidade cultural, do fato de sermos mais que sujeitos sociais, mas sim indivíduos, com vivências, experiências, subjetividades… Cada um de nós irá dar o seu toque a interpretação aos papéis, acrescentando falas e outras expectativas que antes, não existiam, ampliando o papel.
    E, nestas ampliações do papel social correspondente ao ser pai ou mãe, tem-se que qualquer pessoa independente do sexo, pode na família, ora ocupar a posição do pai (prover, dar segurança, proteger), ora a da mãe (acolher, cuidar, proteger, dar as direções, …) ou a do (a) filho (a) ( quer carinho, proteção, cuidados).
    Logo, pode-se dizer que na família estamos constantemente dialogando com as várias posições (mãe/ pai/ filho (a)). E, ao ocupá-las os papeis corresponentes devem ser desempenhados a contento. E, neste momento, percebe-se como é difícil ser pai, ser mãe e ser filho (a), envolto em “n” expectativas, acerca do que se deve fazer, do como se portar, … Uma sobrecarga, as vezes enorme, principalmente para quem é mãe solteira ou pai solteiro (entenda-se que aqui entram todos aqueles que cuidam dos filhos, independente de serem estes pais biológicos ou adotivos ).
    Deseja-se o melhor para o (a) filho (a), mas deve-se aprender a ouvi-los acerca deste melhor… Dialogar, conversar, observar, participar da vida, enfim, quantos ensinamentos e aprendizagens… E, na escola, observar o crescimento, as dificuldades, tentar sanar as dificuldades, intervir, conversar… Professoras que são apenas professoras co-repetidoras e não educadoras, que ao serem interpeladas acerca do que fazer para melhorar o aprendizado, sentem-se acuadas e terminam “marcando” os (as) filhos (as) que estão em processo de formação (Ensino Fundamental) e veem -se diante de um obstaculo que é maior que o físico, mas é psiquico, o readquirir a auto-estima, sentir-se capaz de realizar a atividade, convivendo com este tipo de exemplo de professor, que ao meu ver, deveria desistir da docencia, pois, realmente, não acrescenta e nem faz jus a profissão… E, nós pais, apreensivos, com uma sobrecarga de status (temos trabalho, casa, escola, filhos,….) aumenta a ansiedade, a preocupação, o nervosismo, que acaba mais dificultando que ajudando…
    Rever posturas, valores, atitudes, enfim, rever a própria vida, é uma grande grande arte. A arte da humildade, frente ao fato de que ninguém nasce pai ou mãe, ou até mesmo filho (a), vamos aprendendo a ser num continuo processo do aprender, a cada etapa da vida.
    E o que me encanta mais, apesar das angústias neste processo é o olhar para um ser, pequeno, mas grande, aparentemente fragil, mas que é forte, e, vê-lo se aproximando, abrir um sorriso e dizer com todas as letras: “Mãe, eu te amo, vamos conseguir vencer juntos!!” É isso aí!! Vencer juntos sempre!! Aprender, crescer, amadurecer, sofrer, ser feliz, conquistar, vencer!!! Altos e baixos que chegam para sacudir a vida e nos fazer redimensionar quem somos, o que somos, o que queremos ser, e como faremos para chegar lá!! Eu quero ser uma maravilhosa mãe e dar ao meu filho, como venho dando o meu melhor para que ele cresça!! É fácil? Como disse anteriormente, não é, mas vale a pena, pois, ser Pai / Mãe é, antes de tudo, doação, responsabilidade, ser duro quando é preciso, ser molinho nos momentos certos, sermos humanos, mostrarmos que somos seres que erramos e que acertamos, mas que ao errarmos reconhecemos nossos erros, nos desculpamos e modificamos, e amamos muito incondicionalmente a pessoa que nos proporciona ocuparmos esta posição privilegiada de Pai/ Mãe que são os (as) filhos (as).
    Feliz dia dos PAIS!! DAS MÃES – PAIS!!! DOS AVÔS/ TIOS- AMIGOS PAIS!!!
    Referência
    OLIVEIRA, Marcia Adriana L. de. Separações e Divórcios: elementos que fazem parte da dinâmica familiar ou elementos de desestruturação desta? In: Revista CEUT, v.3, nº3. Teresina-Pi: CEUT, 2003
    *Originalmente publicado no blog Universo Sócio-Antropológico, administrado pela autora desse texto.
  • Genocídio: o que é e quais características

    Genocídio: o que é e quais características

    Genocídio: Breves apontamentos sobre o significado sociológico e jurídico

    Por Roniel Sampaio Silva

    A palavra genocídio remete à prática de extermínio deliberadamente intencional por ação ou omissão de determinados grupos a partir de motivações  que remetam à origem das vítimas. Tal origem pode ser cultural, religiosa, política, racial, nacional etc. No sentido mais popular do termo, é entendido pela população como prática de extermínio de grande contingente de pessoas, porém, no sentido jurídico está relacionado a uma transgressão do direito internacional que compromete à vida ou a integridade de determinados grupos. Neste texto, discorremos brevemente sobre o significado deste termo e buscaremos conectar com algumas contribuições da Sociologia.

    Sentido jurídico

    A história da humanidade torna invisível as práticas de violência desde cenários mais restritos como bem mais amplos como em casos de crime genocida. Durante séculos a Europa explorou, escravizou outros povos por meio de práticas colonialistas. Apenas quando o genocídio instalou-se em território Europeu, com os terríveis episódios do holocausto do judeu houve uma discussão em torno da tipificação penal do genocídio junto ao direito internacional, fato que aconteceu em 1948, final da Segunda Guerra mundial no âmbito da “Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio“.

    Principais características do genocídio:

    • Intencionalmente direcionada às minorias;
    • Tem sido amplamente naturalizada pela humanidade;
    • Foi tipificada penalmente apenas em 1948;
    • Os danos ao grupo vão desde grave agressão à morte;

    Sentido sociológico

    No Brasil a questão do genocídio segue uma lógica ainda mais grave, sobretudo porque é velado e naturalizado em nossas relações sociais . O genocídio segue essa mesma lógica, se fizermos um recorte específico para o Brasil para tratar deste tema veremos que toda nossa colonização foi apoiada em práticas genocidas que vitimaram índios, negros e outras minorias. Cabe destacar que minoria no Sentido sociológico é diferente de minoria no sentido matemático. Tal forma de violência foi tão naturalizada e enraizada em nossas relações sociais que o brasileiro têm muita dificuldade de perceber as práticas genocidas por parte das políticas de Estado orientadas por ideologias conservadoras.

    Nosso país, apesar de seguir uma orientação internacional de também tipificar o crime de genocídio pela Lei Nº 2.889, de 1 de outubro de 1956 até hoje mantém políticas cujo resultado intensifica o quadro que pode ser caracterizado por genocídio. A exemplo disso, os dados do Atlas da Violência de 2019 mostram que 75,5% das vítimas de homicídio no Brasil são negras.

    Atividade:

    A partir do conceito estudado, as mortes que aconteceram durante a pandemia podem ser entendidas como crime de genocídio? Justifique sua resposta.

  • O que é ideologia?

    O que é ideologia?

    O que é ideologia?

    Por Walace Ferreira* e Stella de Sousa Martins**

    Contextualizando

    Ideologia

    Outras indagações…

    Muitas questões, certo… então, vamos lá!

    Conceituando

    A resposta por trás das reflexões acima é que, em sociedade, somos guiados o tempo todo por uma série de ideologias. Bom, o que, então, seria uma ideologia, essa bandeira abstrata que seguimos sem nem sabermos ao certo o que é?

    ideologia como bandeira

    Segundo a filósofa Marilena Chauí, ideologia é:

    “[…] um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo, de representações e práticas (normas, regras e preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador” (1980, p.113).

    Nesse sentido, ideologia tem a ver com um conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas ou visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações em sociedade. O fato é que os homens costumeiramente procuram representações em torno das quais procuram explicar e compreender sua própria vida individual, social, suas relações com a natureza e com o sobrenatural.

    As ideologias geralmente são criadas no ambiente político, em que as decisões e ações precisam ser sustentadas por argumentos fortes e consistentes; e na vida econômica, já que vivemos no capitalismo, sistema que valoriza a economia em última instância. Mas não são apenas políticos e membros da classe econômica dominante (burguesia) que criam as ideologias. Como este conceito se refere a elaborações explicativas sobre a realidade, podem ser criadas também por pensadores e intelectuais da sociedade, como sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas, dentre outros.

    É impossível pensar as relações sociais sem esse direcionamento abstrato chamado ideologia. Todo grupo envolve-se com alguma ou algumas, como representação (ões) daquilo que se faz e que será seguido. Mas a aceitação delas não ocorre de forma igualitária por todos os indivíduos, haja vista as sociedades estarem em constante transformação. As ideologias podem ser aceitas, e normalmente o são pela maioria das pessoas que compõem um grupo, ou podem ser rejeitadas, de modo que novas ideologias podem ser criadas.

    Isso fica claro na famosa música de Cazuza, “Ideologia”, lançada em 1988. O contexto era de um país recém-saído da ditadura militar (que acabou em 1985) e que, apesar do retorno à democracia e às liberdades civis, vivia uma séria crise econômica agravada pela concentração de renda, pobreza extrema, fome, hiperinflação e fortes vestígios de autoritarismo. Na canção, Cazuza diz “Ideologia! Eu quero uma para viver”, numa indicação crítica ao contexto do país. O clássico de Cazuza, portanto, questionava ideologias como “capitalismo”, “autoritarismo”, “conservadorismo”, “moralismo”, “religiões”, insistindo na reflexão e na esperança de novos tempos.

    Seguindo essa perspectiva, dizemos que as ideologias podem ser conflituosas ou não, no que dependerá do teor dos seus princípios e do contexto social em que elas se encontrarem. Geralmente, as ideologias religiosas são muito conflituosas, pois cada crença acredita ser a “dona da verdade” com os seus dogmas, negando o que as outras doutrinas pregam. No Brasil, chamamos atenção para ações de intolerância contra membros de religiões de matriz africana, bem como em relação a seus templos. Infelizmente parte desses gestos decorre de visões equivocadas e distorcidas sobre a Umbanda e o Candomblé apregoadas por outras vertentes religiosas.

    O conceito de Ideologia em movimento

    O conceito foi inventado pelo filósofo francês chamado Destutt de Tracy, no livro “Elementos da Ideologia” (1801). No entanto, ganhou diferentes abordagens com o passar tempo.

    Na Sociologia, os pensadores que utilizam o termo sob uma concepção crítica defendem que a ideologia é um instrumento de dominação que age por meio do convencimento (persuasão), alienando a consciência humana. O alemão Karl Marx (1818-1883), junto de Friedrich Engels (1820-1895), foi quem trabalhou o conceito da maneira mais importante em uma série de manuscritos de 1846 que foi intitulado de “A ideologia alemã”.

    Segundo a visão de Marx, a ideologia está associada aos seguintes processos:

    1. I) Ocultar e dissimular as divisões sociais, políticas e econômicas de uma sociedade, fazendo parecer natural uma divisão construída socialmente. Levam-nos a crer, por exemplo, que somos todos iguais porque participamos da percepção de “humanidade” ou da ideia de “nação”, mas na realidade a distribuição de riqueza material e de poder político-social é desigual. Somos levados a crer que as desigualdades são decorrentes das diferenças individuais, das capacidades, da inteligência, da força de vontade, quando, na verdade, as desigualdades são resultantes de uma estrutura capitalista individualista, separada por classes sociais desiguais e perpetuada ao longo da história moderna.
    2. II) Gerar ilusões a respeito do consumo. Pensamos em produtos de marcas famosas ou vamos aos shoppings justifys porque nos ligamos a valores de luxo e fama, confirmados pela moda e pelo marketing. Chegamos a pensar ser impossível a vida sem smartphones, smarts tvs, internet e outras tecnologias recentes sem percebermos que estão ligados ao ciclo de reinvenção produtiva capitalista, que conta, ainda, com a obsolescência programada. Essa é a ideologia do consumismo, que descarta a sustentabilidade da natureza e a capacidade de ambientação do ser humano frente a tantas inovações, mas sem o qual o capitalismo não se sustenta.
    3. III) Ocasionar na falsa consciência, ou seja, as ideologias geram uma visão da sociedade incompleta e acrítica. Significa que temos uma falsa consciência da realidade, vendo-a de forma incompleta conforme a ideologia que seguimos. Achamos que a sociedade se restringe àquilo que curtimos, reduzindo-se a nossa bolha, quando na verdade ela é muito mais abrangente. Exemplo claro acontece quando defendemos nossa posição política negando quase integralmente o que vem de outras correntes político-partidárias.

    Para Marx a sociedade se divide em duas esferas conectadas por uma dinâmica dialética: infraestrutura e superestrutura. A infraestrutura é a esfera da produção material responsável pela produção dos bens que satisfazem as necessidades materiais dos indivíduos, ou seja, é a economia de uma sociedade. Por outro lado, a superestrutura representa o conjunto de ideias, das leis, das religiões, a moral e das organizações políticas e jurídicas, correspondendo ao espaço em que se encontram as ideologias de uma sociedade. A superestrutura consiste num universo simbólico que garante a manutenção de uma ordem econômica e social controlada pelas classes dominantes. A pirâmide a seguir ajuda-nos a entender essa relação:

    marx superestrutura e infraestrutura

    Do conceito de ideologia, segundo Marx, resulta o conceito de alienação, na medida em que leva as pessoas à falsa percepção de que as formas de dominação são naturais. No caso do trabalho, a título de exemplo, o pensador alemão entende que, ao invés de realizar o homem, o trabalho teria o papel de exploração e não de humanização. Aqui encontra-se a alienação, concepção que leva o indivíduo a ser explorado sem perceber. Em Marx, portanto, vivemos alienados ao mundo que estamos inseridos, pois somos levados a agir não conforme a “essência” humana, mas por uma “aparência” que é construída pelo contexto histórico-econômico. Na atualidade, o capitalismo é uma ideologia presente na infraestrutura da sociedade moderna, relacionando-se a todas as ideologias que estão na superestrutura (consumismo, moda, valorização da propriedade privada, ideia de humanização pelo trabalho, etc). Estas, por sua vez, dão sentido às relações de produção estabelecidas pelos indivíduos na base material da sociedade.

    Portanto, se Marx respondesse aquelas questões colocadas no início do texto, ele diria que todas as nossas certezas são o resultado do estado de alienação em que nos encontramos em relação ao capitalismo e à modernidade.

    Outros pensadores também abordaram o conceito de ideologia, seguindo e readaptando as ideias de Marx. É o caso do filósofo e político italiano Antonio Gramsci (1891-1937), para quem ideologia consiste numa visão de mundo produzida pelas diferentes classes sociais que se materializam nas práticas sociais, ao mesmo tempo em que são influenciadas por elas, formando um sistema de valores culturais. Como Gramsci observava nas ideologias expressões de classes sociais vinculadas às práticas culturais, ele conclui que as classes dominantes tentam expandir suas visões de mundo para as classes dominadas, influenciando-as de modo a criar uma situação de hegemonia. Entretanto, as classes dominadas não necessariamente ficariam presas a um papel passivo nesse processo, podendo desenvolver uma visão própria de mundo, com novas ideologias, numa ação de contra-hegemonia (SILVA et al, 2016).

    Por fim, partindo de uma concepção marxista de ideologia, mas não se limitando a ela, o sociólogo Karl Mannheim (1893-1947), no livro “Ideologia e utopia” (1929), apresentou uma distinção entre ideologia e utopia. Ideologia seria um conjunto de concepções, ideias e teorias que orientam os indivíduos para estabilizar, legitimar ou reproduzir a ordem das relações sociais. Utopia, por outro lado, consistiria em concepções e teorias que visam a construção de outra realidade social, geralmente sendo pensadas pelas classes oprimidas. Assim sendo, as ideologias seriam conservadoras, pois expressam as posições das classes dominantes defensoras da ordem estabelecida (OLIVEIRA; COSTA, 2016).

    O conceito de Ideologia e seus usos

    No século XX, expressivas ideologias se destacaram, tais como as citadas abaixo:

    Ideologia nazista: Surgida na Alemanha e disseminada por Adolf Hitler, principalmente, nas décadas de 1930 e 1940. Caracterizava-se por um caráter autoritário, expansionista e militarista, defendendo que a raça ariana era superior às demais, e que os judeus deviam ser exterminados. Hoje em dia, infelizmente, ainda existem grupos de ideologia neonazista com ideias extremistas de cunho racial.

    – Ideologia comunista: É defendida por Marx na obra “Manifesto Comunista” (1848) e depois por outros pensadores e políticos. Tinha como pressupostos a abolição da propriedade privada, a extinção das classes sociais, o fim das religiões, a comunização dos meios de produção e, numa etapa avançada, seria marcada pelo fim do Estado. Embora a China seja governada pelo Partido Comunista Chinês (PCC) desde 1949 e se diga que a União Soviética (1922-1991) foi comunista/socialista, o projeto comunista original nunca ocorreu na prática. Vale frisar que, teoricamente, o socialismo consistiria na etapa de passagem para o comunismo, possuindo algumas diferenças como o controle da economia pelo Estado e o esforço de socialização dos meios de produção.

    – Ideologia democrática: Surgiu, ainda que de forma restritiva, na Grécia Antiga (séc. V a.C), tendo como ideário a participação dos cidadãos na vida política. Na modernidade, é marcada pela democracia participativa, na qual elegemos nossos representantes por meio do voto, pela liberdade de expressão e por amplos direitos universais. É o sistema político da maior parte dos países atuais.

    – Ideologia capitalista: Em seu modelo comercial desenvolveu-se na Europa durante o Renascimento Comercial e Urbano (séc. XV). No século XVIII é desenvolvida em sua vertente industrial graças à Revolução Industrial Inglesa. Para chegar ao formato que conhecemos hoje, ainda foi acrescido do chamado capitalismo financeiro em fins do século XIX. Ligada ao desenvolvimento da burguesia, visa o lucro e a acumulação de riquezas, ao mesmo tempo em que tem gerado concentração de renda e desigualdades sociais.

    – Ideologia nacionalista: Exaltação e valorização da cultura do próprio país, valendo-se de símbolos nacionais (bandeira, hino, idioma, etc) que estabelecem elos de pertencimento entre os indivíduos desta nação.

    – Ideologias religiosas: Toda religião pode ser considerada uma ideologia, na medida em que traz consigo uma doutrina que deve ser seguida pelos seus membros. Destacam-se as ideologias cristã, judaica, islâmica, budista, hindu, animista e as de matriz africana.

    A seguir ilustrações dessas ideologias:

    símbolos de democracia

     

     

    Referências bibliográficas

    BOMENY, Helena; MEDEIROS. Bianca Freire; EMERIQUE, Raquel Emerique; O’DONNELL, Julia. Tempos Modernos, tempos de sociologia. 2.ed. São Paulo: Ed. do Brasil, 2013.

    CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980. (Coleção Primeiros Passos).

    GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 7.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.

    MANNHEIM, Karl. Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.

    MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

    MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Martin Claret, 2002.

    OLIVEIRA, Luiz Fernando de.; COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens do século XXI. 4.ed. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016.

    SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2016.

    TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

    Dicas de leitura

    ATWOOD, Margareth. O conto da aia. Rio de Janeiro: Rocco, 2019.

    BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 17.ed. São Paulo: Ática, [s.d.]. (Série Bom Livro).

    CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.

    NICCOL, Andrew. O show de Truman: O Show da vida. São Paulo: Editora Manole, 1994.

    ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

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    Dica de atividade pedagógica:

    A atividade sugerida deve ser desenvolvida em 3 etapas:

    1) Vejam o filme “A Onda” (2008), produção alemã dirigida por Dennis Gansel, que aborda o funcionamento da Alemanha nazista a partir da construção de uma ideologia autoritária e indaga se seria possível a reprodução de um modelo de poder autocrático nos dias atuais. O filme pode ser passado pelo (a) professor (a) em sala de aula ou recomendado que os (as) alunos (as) o assistam em casa;

    2) Formem grupos e estabeleçam a correlação entre o que foi estudado sobre “Ideologia” e o conteúdo do filme, com cada grupo escolhendo uma das seguintes questões:

    2.1. Como se desenvolve ideologicamente uma corrente autoritária?

    2.2. É possível as massas do século XXI deixarem-se convencer por uma ideologia autocrática? Se sim, como?

    2.3. Que relações podem ser encontradas entre os discursos autocráticos mostrados no filme e o crescimento do populismo de extrema-direita dos últimos anos em vários lugares do mundo, especialmente no Brasil?

    3) Cada grupo deverá apresentar, em sala de aula, suas conclusões em formato de seminário, seguido de um debate que estabeleça reflexões sobre o assunto estudado.

     

     

     

     

    Como citar este material:

    FERREIRA, Walace; MARTINS, Stella de Sousa. O que é ideologia? Blog Café com Sociologia. jul. 2020.

     

     

    * Doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ; Professor adjunto de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected].

    ** Graduanda em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected].

     

    Veja também:

    A formação de professores e as disputas ideológicas em manuais escolares de Sociologia da Educação (1930-1950).

  • O que é Ditadura do Proletariado?

    O que é Ditadura do Proletariado?

    Ditadura do Proletariado

    No vídeo desta semana do Dialogando que é canal do YouTube que professor de Sociologia encontra material didático para suas aulas. Será apresentado pelo professor Artur Bispo dos Santos Neto o conceito ditadura do proletariado que foi desenvolvido pelo Karl Marx.

    O que você vai ver no vídeo:

    1- A definição do conceito?

    2- Como acontecerá o processo revolucionário que levará a ditadura do proletariado?

    3- Por que o professor considera esse conceito problemático?

    Conheça o participante do vídeo

    Artur Bispo dos Santos Neto

    Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas (1993), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (2000), doutorado em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (2007) e realiza pós-doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atua como professor Associado III na Universidade Federal de Alagoas, nos cursos de Filosofia e Serviço Social. É Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas. Participa do Grupo de Pesquisa em Reprodução Social e do Grupo de Pesquisa Estado, Direito e Capitalismo Dependente. Suas pesquisas estão relacionadas aos temas: capital e trabalho, estética e ética materialista, formação histórica do Brasil. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase nas filosofias de Hegel, Marx, Lukács e Benjamin, atuando principalmente nos temas: estética, dialética, ontologia, história e trabalho. Coordena o PIBID/Subárea Filosofia, na UFAL.

    SAIBA MAIS SOBRE O PARTICIPANTE:

    Lattes: http://lattes.cnpq.br/3979204224090102

    Conheça mais o Dialogando:

    O Dialogando é um canal do YouTube gerenciado por Caio dos Santos Tavares, Graduado em Ciências Sociais (ICS-UFAL) e mestrando em Sociologia (ICS-UFAL). Surgiu de uma necessidade de construir um material didático que teria a utilidade do cumprimento da carga horário do Programa de Residência Pedagógica que visa a imersão dos licenciandos no ambiente escolar contribuindo significativamente com o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura.

    Aos poucos o projeto foi ganhando forma e apoio de inúmeros alunxs e professorxs da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), especialmente do Instituto de Ciências Sociais (ICS). Nossa ideia foi a construir um dicionário de conceitos das Ciências Sociais (Ciência Política, Antropologia e Sociologia) e entrevista sobre teorias e temas que norteiam as preocupações dos cientistas sociais. Todo conteúdo áudio visual produzido pelo Dialogando teve com princípio trazer tais assuntos de uma forma clara e objetiva. Ao todo o projeto contou com a participação de 40 pessoas que se disponibilizaram a compartilhar conhecimentos das Ciências Sociais que possam contribuir com as aulas de Sociologia.

    Objetivos do canal

    Nosso canal oferece a oportunidade de uma aproximação entre a corpo docente e os discentes do ICS-UFAL com a Educação Básica. Portanto, sair dos muros da universidade e procurar transmitir o conteúdo das Ciências Sociais a sociedade civil. Assim, reforçando a importância do conhecimento das ciências sociais e eventualmente apresentando esse olhar de interpretar os fenômenos sociais a um público que não teve acesso em sua formação básica.

    Em cada vídeo é buscado, em uma forma rápida e dinâmica, apresentar conceitos e teorias fundamentais das Ciências Sociais. Esse recurso didático tem a finalidade de atingir o público do ensino médio (alunxs e professorxs).

    O Dialogando surge em um contexto de fortes ataques a permanência da Sociologia no ensino médio. Portanto, acreditamos que nossa iniciativa, mesmo que seja singela, possa de alguma maneira contribuir na resolução dos problemas que afligem cotidianamente a permanência da disciplina na educação básica.

    Não esqueça, semanalmente são disponibilizados vídeos no nosso canal no You Tube, por tanto, não deixe de segui-lo.

    O projeto conta com o apoio da Universidade Federal de Alagoas e do Blog Café com Sociologia.

    Contatos:

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  • Utopia: o que significa e o que representa essa palavra?

    Utopia: o que significa e o que representa essa palavra?

    Utopia é uma palavra grega formada pelos termos “U”+”topos”, cujo significado de “u” remete à ideia de negação, enquanto a palavra “topos” remete a ideia de lugar. A mescla desses termos remete à ideia de um lugar que não existe, idealizado, com vistas à ser construído no futuro.  É um termo comumente usado para descrever uma realidade idealizada a que se busca alcançar, porém não se sabe ao certo quais serão os resultados alcançados.

    Por Roniel Sampaio Silva

    O termo foi criado pelo humanista renascentista inglês Thomas Moore em um livro escrito em latim em 1516 o qual levou no título o termo inventado pelo escritor. Nesta obra de filosofia política, o autor faz críticas à estrutura social inglesa que pauperizada a população em favor de uma minoria que gozava de bens, status e posses. Neste sentido, Moore teorizou por meio de sua literatura uma outra sociedade:

    Thomas Morus, depois de ter na “Utopia” feito uma sátira a todas as instituições da época, edifica uma sociedade imaginária, ideal, sem propriedade privada, com absoluta comunidade de bens e do solo, sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos supérfluos e luxos excessivos, com o Estado como órgão administrador da produção, etc.  (Morus,2006, p.3 )

    Moore ou Morus (nome latinizado) é o fundador do que se conhece como socialismo utópico que foi a base de pensamento para a luta por ideias mais progressistas de sociedade, influenciou diversos pensadores e imortalizou no seu termo o desejo humano de se criar uma sociedade mais livre, justa e igualitária.

     

    MORE, Thomas. Utopia In: NASCIMENTO, Aires. (trad.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2006. Disponível em < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000070.pdf>

     

    Utopia por Eduardo Galeano

    O vídeo que se segue é rico em poesia, em sonho, em ideal…. em vida. Alguns chamam isso de utópico. Prefiro chamar de “força promotora de felicidade”.

    “Para que serve a utopia? Para caminharmos!” – Eduardo Galeano

    Utopia por Silvio Tendler

    Era das Utopias’ é uma minissérie de seis episódios divididos em três temas: ‘Utopia Socialista’, ‘Utopia Capitalista’ e ‘Novas Utopias’.
    ‘Qual sua utopia?’ é a pergunta que vai guiar a nova minissérie da TV Brasil, dirigida pelo cineasta Silvio Tendler.

  • [Vídeo] O que é Sociabilidade?

    [Vídeo] O que é Sociabilidade?

    O QUE É SOCIABILIDADE!

    Nós últimos meses devido a pandemia do coronavírus fomos privados do contato com amigos e familiares. Assim, deixamos de vivenciar momentos como idas ao cinema, praia, shopping, shows, parques etc. Agora, esses momentos de lazer e prazer ao lado de pessoas queridas fazem parte de nossas lembranças. Aquela interação social lúdica que faz com que nos desvencilharmos dos nossos problemas cotidianos fazem parte do passado.
    Mas, afinal qual é a relação desse momento de isolamento social que estamos vivendo com o conceito sociabilidade desenvolvido por Simmel?

    Como veremos no vídeo dessa semana a sociabilidade é uma interação social lúdica que tem a finalidade de entreter aqueles que estão praticando. Portanto, devido o isolamento social tivemos que realizar a sociabilidade virtualmente através por exemplo de vídeo chamada. Nesse sentido, com a restrição exercida para evitar o contágio fez com que a sociedade Reinventar-se para desfrutar mesmo a distância formas de comunicação lúdica.
    O vídeo desta semana apresentará o que é sociabilidade e nos deixará com aquele gostinho de saudade em lembra de momentos de sociabilidade que vivenciamos no passado.

    Conheça o participante do vídeo

    Caio dos Santos Tavares – Mestrando em Sociologia (UFAL). Atualmente desenvolve a sua dissertação que tem o intuito de compreender o senso prático sociológico de Fernando de Azevedo que o levou a produzir relevantes compêndios de Sociologia, mesmo não sendo formado em Ciências Sociais ou em Sociologia. Graduado em Ciências Sociais Licenciatura Plena (UFAL). Tem experiência na área de Educação e novas tecnologias, com ênfase em Ensino de Sociologia e Redes Sociais. Integra o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Ciências Sociais do Instituto de Ciências Sociais (XINGÓ/NEPECS) e o Grupo de Pesquisa sobre o ensino de conhecimentos das Ciências Sociais (Consciências-Sociais).
    Saiba mais: http://lattes.cnpq.br/5013409226410089

    Conheça mais o Dialogando:

    O Dialogando é um canal do YouTube gerenciado por Caio dos Santos Tavares, Graduado em Ciências Sociais (ICS-UFAL) e mestrando em Sociologia (ICS-UFAL). Surgiu de uma necessidade de construir um material didático que teria a utilidade do cumprimento da carga horário do Programa de Residência Pedagógica que visa a imersão dos licenciandos no ambiente escolar contribuindo significativamente com o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura.

    Aos poucos o projeto foi ganhando forma e apoio de inúmeros alunxs e professorxs da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), especialmente do Instituto de Ciências Sociais (ICS). Nossa ideia foi a construir um dicionário de conceitos das Ciências Sociais (Ciência Política, Antropologia e Sociologia) e entrevista sobre teorias e temas que norteiam as preocupações dos cientistas sociais. Todo conteúdo áudio visual produzido pelo Dialogando teve com princípio trazer tais assuntos de uma forma clara e objetiva. Ao todo o projeto contou com a participação de 40 pessoas que se disponibilizaram a compartilhar conhecimentos das Ciências Sociais que possam contribuir com as aulas de Sociologia.

    Objetivos do canal

    Nosso canal oferece a oportunidade de uma aproximação entre a corpo docente e os discentes do ICS-UFAL com a Educação Básica. Portanto, sair dos muros da universidade e procurar transmitir o conteúdo das Ciências Sociais a sociedade civil. Assim, reforçando a importância do conhecimento das ciências sociais e eventualmente apresentando esse olhar de interpretar os fenômenos sociais a um público que não teve acesso em sua formação básica.

    Em cada vídeo é buscado, em uma forma rápida e dinâmica, apresentar conceitos e teorias fundamentais das Ciências Sociais. Esse recurso didático tem a finalidade de atingir o público do ensino médio (alunxs e professorxs).

    O Dialogando surge em um contexto de fortes ataques a permanência da Sociologia no ensino médio. Portanto, acreditamos que nossa iniciativa, mesmo que seja singela, possa de alguma maneira contribuir na resolução dos problemas que afligem cotidianamente a permanência da disciplina na educação básica.

    Não esqueça, semanalmente são disponibilizados vídeos no nosso canal no You Tube, por tanto, não deixe de segui-lo.

    O projeto conta com o apoio da Universidade Federal de Alagoas e do Blog Café com Sociologia.

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    VEJA TAMBÉM:

    O que é sociação em Simmel
    https://cafecomsociologia.com/video-o-que-e-sociacao-em-simmel/

  • Plataformas educacionais: ferramentas para gerenciar turmas em aulas remotas

    Plataformas educacionais: ferramentas para gerenciar turmas em aulas remotas

    Plataformas educacionais: cinco opções

    Por Roniel Sampaio Silva

     

    Preparamos esse post com algumas das principais plataformas educacionais que podem ajudar professores a organizarem melhor as atividades didáticas de forma remota ou até, em alguns casos, auxiliar em aulas presenciais. Trouxemos detalhes gerais que podem te ajudar a definir qual a plataforma ideal para você trabalhar com seus alunos, a partir da sua realidade e necessidade.

    • Edmodo

    Esta ferramenta está muito mais próxima de uma rede social do que de uma AVA (Ambiente virtual de aprendizagem). O Edmodo tem uma aparência limpa e que lembra uma das mais conhecidas redes sociais, o facebook.

    Com ela é possível configurar turmas e salas de aula rapidamente e de forma intuitiva. Assim como o Google sala de aula, para acrescentar os alunos nas turmas basta compartilhar um link ou um código de acesso.

    No Edmodo é possível enviar mensagens aos pais e também aos estudantes, além de ser possível criar pequenos sub-grupos dentro das turmas, a fim de direcionar para objetivos de trabalho em equipe seccionado.

    Link da plataforma

    • ClassDojo

    Este aplicativo faz da sala de aula uma comunidade online. Ele tem seu próprio sistema de troca de mensagens segura com pais e responsáveis. É um aplicativo voltado interação não apenas com estudantes, mas também com os pais que podem receber atualizações, informes vídeos e fotos, tudo a partir do celular.

    Criada a turma com o aplicativo, o professor poderá a usar a ferramenta toolkit. Com ela é possível ter acesso a um gerenciador de grupos, medidores de ruídos, ou player de música. Você pode exibir perguntas dos estudantes ou adicionar orientações e atividades para os estudantes. Tudo isso gerenciado de forma centralizada pelo docente que gerancia atividades e planejamentos que podem ser individualizados.

    Link da plataforma

    • Google Classroom (Google Sala de Aula)

    O Google sala de aula é uma das ferramentas mais utilizadas ultimamente, possui uma aparência limpa e intuitiva, tem muitas semelhanças com o Edmodo, embora não tenha o aspecto de rede social. O Google Sala de aula tem como carro chefe os recursos do próprio Google, como Google formulários para criação de avaliações e questionários; Google docs para escrita colaborativa e em grupo; além de ser possível compartilhar documentos entre professores e estudantes por meio do Google drive.

    É possível criar e gerenciar turmas por meio de links e códigos de acesso, assim como é possível criar avaliações, atividades e discussões na própria plataforma.

    Link da plataforma

    Mais detalhes de como usar essa plataforma aqui

    • Scoola

    Scoola é uma plataforma educacional  brasileira direcionada para personalização de aprendizagem desde a educação infantil até o Ensino Fundamental. Por meio dela o docente pode criar e receber sugestões de atividades e tarefas direcionas às necessidades e particularidade de cada um dos seus estudantes. Nela é possível trabalhar individualmente ou coletivamente.

    Link da plataforma

    • Seesaw: O Diário De Aprendizagem

    Infelizmente esse aplicativo é em inglês, porém ele é um dos mais usados no mundo e possui recursos incríveis. Ele é uma ótima maneira de planejar atividade de qualquer área temática e é direcionado para qualquer idade.

    No aplicativo é possível consultar atividades pré-configuradas ou até mesmo criar as próprias atividades. Assim, se for da sua preferência é possível compartilhar tais atividades com outras pessoas.

    No gangorra (Seesaw) é possível também trocar mensagens com alunos e seus respectivos responsáveis. A plataforma disponibiliza um relatório das atividades e progressos conquistados pelos alunos.

    Link da plataforma

    Essas foram algumas das plataformas educacionais. A forma como o docente vai utilizar e as condições e realidade da turma vão definir o sucesso da plataforma.